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Felicidade clandestina


Tomo emprestado um título de Clarice Lispector para escrever sobre estímulos que temos para buscar uma felicidade sempre distante. Nossa felicidade tem vivido na clandestinidade! Uma das características mais cruéis dos tempos atuais é a capacidade de estimular em nós fantasias que, por sua vez, instigam nossa profunda acomodação. Acomodamo-nos na irrealidade cotidiana e vivemos em uma perspectiva de mundo que impede de vermos o óbvio. Um exemplo, leitor, para continuarmos essa conversa: trabalhamos muito para manter alguns símbolos de poder e status. Pagamos o carro novo em 48 vezes. Acabamos (nem sempre) as parcelas e, imediatamente, somos impelidos a mudar novamente de carro e a assumir outro financiamento. Portanto, é como se alugássemos um carro. - “Como está o Fulano?” - “O Fulano está muito bem. Tem um carro bom, o salário dele é ótimo...” - “Será que é feliz?” A felicidade vive clandestinamente entre os carros, roupas de grife, boletos bancários a vencer ou cheque especial no vermelho. A partir dessas divagações diárias, pensemos: 1. Criamos uma realidade baseada no consumo. Os objetos são reis e nós somos mais consumidores do que humanos. Dinheiro para um cineminha com os filhos? Nem pensar quando temos que pagar o novo brinquedo consumista Made in China. 2. Enxergamos todo dia uma nova “necessidade”, estamos sempre “precisando” de algo que no fundo é inútil. O que compramos torna-se velho logo depois e já não é mais novidade. Mas na vitrine mais próxima tem outro objeto que vou desejar. Celulares, calças, camisas ou carros... tudo é “necessário” aos nossos olhos. 3. Numa sociedade em que a imagem pública é tudo, a “felicidade” tem que estar à mostra e isso é o que revelamos nas redes fakes sociais. Postamos estilos de vida artificiais para, logo em seguida, reclamar (nos encontros ao vivo) das dívidas, doenças ou vida apressada (afinal, de perto todo mundo quer parecer ter uma vida difícil para não causar inveja alheia). Tudo é vendido, inclusive receitas de felicidade em livros de auto-ajuda. O fato é que a sociedade de consumo vende “felicidade”. Você conseguiu comprar uma parte dela? Ou anda procurando-a em cada objeto novo que seu bolso pode pagar? Se há algo visível o sinal vermelho está ligado. Estamos adoecendo para encher bolsos capitalistas. Aos poucos somos levados a exterminar da vida o que nos faria mais suaves: a simplicidade (das pequenas coisas, dos pequenos gestos e das situações). Rico é quem consegue utilizar o que possui. Você é rico? Ou mais um consumista? A tua felicidade merece sair da clandestinidade. Fica a dica: O documentário “Surplus” (2003) do diretor sueco Erik Gandini que viajou pelo mundo para retratar como o excesso de consumismo está presente e pode ser nocivo para diversas sociedades.


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