Colunas


Vamos explicar a Alê Garcia o que ele tem a ver com isso


O jornalista Alexandre Garcia, da GloboNews, quer saber o que ele tem a ver com a declaração da atriz Jane Fonda que em entrevista recente disse ter sido abusada sexualmente quando jovem. Diante da notícia, o âncora reagiu no Twitter: “E eu com isso?”.

Para o caso de ele realmente querer saber o que tem a ver com isso, a gente explica. Qualquer mulher abusada sexualmente é um ser humano que foi privado de sua humanidade, a pior forma de violência que pode existir.

Não faz diferença se a vítima mora no Alasca, no Paquistão, na Sibéria ou em Sidney. Não importa se é rica, pobre, negra, branca, católica, judia, muçulmana, ateia. Não importa se foi abusada hoje, há três meses ou há 50 anos.

Qualquer mulher abusada é vítima indefesa de um sistema covarde chamado Patriarcado, que influenciadores como você, ao fazerem uso de comentários violentos e desprovidos de humanidade, tratam de perpetuar e de banalizar.

E pior do que ignorar o abuso é banalizá-lo. Muito pior. Porque a banalização do crime é a segunda violência que recai sobre todas nós.

Não conheço mulher que não tenha sido abusada – e aqui é sempre bom enfatizar que o abuso não envolve necessariamente sexo forçado, mas qualquer forma de se impor sexualmente sobre uma mulher.

O abuso sofrido por Fonda é um problema seu na medida em que você é um ser humano, assim como a violência cometida sobre qualquer homem ou mulher é um problema de todos nós.

Mas o abuso sofrido por ela é um problema muito mais seu agora, porque ao banalizar de forma vulgar o crime por ela sofrido você abusou de todas nós, e de todos aqueles seres humanos capazes de manifestar o mais nobre dos sentimentos, a empatia.

Violência precisa ser entendida e definida para muito além da delinquência, para muito além do classismo que nos faz acreditar que violento é apenas o rapaz que furta nosso celular no sinal ou aqueles que invadem nossas casas.

Violência é qualquer forma de desumanizar outros seres-humanos, é qualquer violação física ou psicológica feita contra a natureza de um homem ou de uma mulher, e um comentário como o que você fez é uma tremenda forma de violência.

Você tem a ver com isso porque, como jornalista e agente formador de opinião, precisa saber que a mais nobre das batalhas é a de nos ajudar a se livrar de todos os elementos de repressão e opressão, de todos os elementos de coerção e destruição que existem em nossa sociedade – e um comentário como “e eu com isso?” diante de um crime sexual faz exatamente o oposto: reforça opressão, repressão, coerção e destruição.

O abuso sofrido por Fonda é também um problema seu porque, como declarou Albert Einstein, a separação entre todos nós é uma forma de ilusão de ótica da consciência:

“Um ser humano é parte de um todo chamado por nós de Universo, uma parte limitada no tempo e no espaço. Ele experimenta a si mesmo, seus pensamentos e sentimentos como alguma coisa separada do resto – uma espécie de ilusão de ótica da consciência. Essa ilusão é uma forma de prisão, restringindo-nos aos nossos desejos a afeição por poucas pessoas próximas. Nossa tarefa deve ser a de nos libertarmos dessa prisão alargando nosso ciclo de compaixão para envolver todas as criaturas vivas e toda a natureza em sua beleza”.

Ou, como sugeriu um certo filósofo há muitas décadas, é apenas através dos outros que podemos nos reconhecer plenos, e apenas através da plenitude do outro que podemos alcançar a nossa própria Liberdade. Para esse filósofo, o livre desenvolvimento de cada um de nós é a condição para o livre desenvolvimento de todos nós.

Quem sugeriu esse revolucionário conceito para definir o amor foi Karl Marx.

Por fim, você tem a ver com isso porque, ao ter espaço em uma rede de TV de alcance nacional numa época em que a maior parte dos âncoras das grandes corporações de mídia se dedicam a propagar o ódio às diferenças a única transgressão possível é o amor.

E a maior manifestação de amor em tempos de cólera se chama compaixão: olhar o outro a partir de um lugar de empatia e não de julgamento.

Então, se você quiser nos ajudar a construir uma sociedade mais justa, menos machista, menos opressora, menos repressora, mais humana e igualitária você tem tudo a ver com o abuso sofrido por Fonda – e por qualquer uma de nós, em qualquer lugar do mundo, em qualquer época da história.


Conteúdo Patrocinado


Comentários:

Deixe um comentário:

Somente usuários cadastrados podem postar comentários.

Para fazer seu cadastro, clique aqui.

Se você já é cadastrado, faça login para comentar.

ENQUETE

O que você acha da regulamentação dos ciclomotores?



Hoje nas bancas

Confira a capa de hoje
Folheie o jornal aqui ❯


Especiais

Executar suspeitos com ‘tiro nas costas’ é ‘legítima defesa preventiva’, diz MPF

Varginha

Executar suspeitos com ‘tiro nas costas’ é ‘legítima defesa preventiva’, diz MPF

Companheiros são maioria entre agressores de mulheres indígenas no MA

“Macho para quem?”

Companheiros são maioria entre agressores de mulheres indígenas no MA

Nova via de Belém que não nasceu com COP30

Avenida Liberdade

Nova via de Belém que não nasceu com COP30

Canal de youtuber foragido do 8 de janeiro passa na TV aberta no Brasil

8 DE JANEIRO

Canal de youtuber foragido do 8 de janeiro passa na TV aberta no Brasil

Congresso pode reduzir ainda mais espaço para mulheres na política

MULHERES NA POLÍTICA

Congresso pode reduzir ainda mais espaço para mulheres na política



Colunistas

Prestígio do Ratinho

JotaCê

Prestígio do Ratinho

Reviravolta na CPMI

Coluna Esplanada

Reviravolta na CPMI

Voto impresso e auditável

Coluna Acontece SC

Voto impresso e auditável

Traficantes influencers" presos com 200 kg de drogas se livram da prisão

Charge do Dia

Traficantes influencers" presos com 200 kg de drogas se livram da prisão

O impacto dos tributos na pequena e média empresa: desafios e soluções

De Olho no Fisco

O impacto dos tributos na pequena e média empresa: desafios e soluções




Blogs

Santacosta inaugura

Blog da Jackie

Santacosta inaugura

Bastidores quentes

Blog do JC

Bastidores quentes






Jornal Diarinho ©2025 - Todos os direitos reservados.