Nossa Senhora e Iemanjá

Cultos à rainha do mar marcam a quinta

Dia de festa no mar: caminhada para Iemanjá acontece em Cabeçudas; Festa de Nossa Senhora ocorre em Navegantes

Atalaia e Cabeçudas fazem festa para a rainha do mar quinta à noite
(foto: Arquivo)
Atalaia e Cabeçudas fazem festa para a rainha do mar quinta à noite (foto: Arquivo)
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A data é dedicada à Nossa Senhora dos Navegantes e Iemanjá. São diferentes nomes e cultos à padroeira dos marinheiros, pescadores e jangadeiros e protetora das tempestades e perigos do mar, mas que são a mesma divindade dentro do sincretismo religioso. Só que a primeira no catolicismo e a segunda na umbanda e no candomblé.

Na região não é apenas o rio que separa os dois municípios com sua foz, mas também as comemorações: enquanto Navegantes está em forte ebulição com a 127ª edição da festa de sua santa padroeira, em Itajaí, os frequentadores dos mais de 80 terreiros espalhados pela cidade da umbanda e do candomblé e simpatizantes de Iemanjá se preparam para agradecer e pedir proteção à entidade, “mãe de todos os orixás”.

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A fé e a devoção à Nossa Senhora dos Navegantes teve início no século 15 e tomou fôlego no período das grandes navegações europeias. Também foram os navegadores portugueses que introduziram o culto à santa no Brasil. Em Navegantes a devoção chegou com uma imagem da santa trazida do Rio de Janeiro pelo morador e devoto Manoel dos Santos Gaya, em 1898, e segue em procissões fluviais e terrestres até hoje.

A professora e pesquisadora Vilma Mafra conta que a intenção da população de Navegantes era que a sua primeira capela fosse edificada em homenagem a Santo Amaro e São Sebastião. No entanto, o Bispado de Curitiba, ao qual Itajaí era vinculado na época, determinou que, além dos dois santos, a capela deveria ser dedicada à Nossa Senhora dos Navegantes, porque a maioria dos moradores da vila eram marítimos: carpinteiros navais, pescadores, navegadores, entre outras atividades ligadas ao mar e ao rio.

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Já os cultos a Iemanjá em Itajaí remontam à primeira metade do século 20. O historiador Edison D’Ávila conta que os primeiros registros da prática da umbanda datam da segunda metade da década de 1940, com a mãe de santo Maria Cartola. No entanto, como os cultos às religiões africanas eram reprimidos pela polícia na época, existe a possibilidade de que já houvesse alguns terreiros na cidade. As homenagens a Iemanjá nas praias do Atalaia e Cabeçudas também remontam a essa época, segundo o babalorixá Luiz Carlos Ramos, Luiz de Oxalá.

Homenagens a Iemanjá devem colorir as praias

Milhares de pessoas devem ir para as praias da Atalaia e Cabeçudas na noite desta quinta-feira para festas e giras, que é o nome dado na umbanda a cultos constituídos por orações, cânticos e pela invocação de entidades. A Caminhada de Iemanjá está em sua oitava edição e é hoje a principal festa em homenagem à orixá. O cortejo parte do Templo de Ogum Beira-Mar rumo à orla de Cabeçudas, às 19h, e a organização é do pai de santo André Trindade, radicado há mais de 10 anos na praia.

No pontal norte de Cabeçudas, conhecido também como canto de Iemanjá, os devotos poderão entregar presentes, fazer pedidos e receberem o axé e patuá da mãe Iemanjá. Também estão programadas apresentações do Grupo Cores de Aidê, a Dança dos Orixás e Curimba (do Templo de Ogum Beira Mar) e o Maracatu Nova Lua. A entrega do barco com a imagem de Iemanjá deve ocorrer às 21h30. Trindade destaca que esse será um evento festivo. A gira para a orixá aconteceu na noite de quarta-feira no terreiro.

Na praia da Atalaia as homenagens a Iemanjá devem iniciar por volta das 20h, entre o Molhe e o Bico do Papagaio. A expectativa é de que pais e filhos de santo de vários terreiros de Itajaí realizem cultos e oferendas à rainha do mar. O pai Luiz de Oxalá conta que a Sociedade Espiritualista Nosso Senhor do Bonfim, de Itajaí, deve levar mais de 300 pessoas para a praia nesta quinta-feira. “Somos apenas um dos muitos terreiros que participam das homenagens que também reúnem simpatizantes de outras religiões”, diz o babalorixá.

 

Procissão no rio é o ponto alto na festa de Nossa Senhora

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Procissão pelo rio será no domingo a partir 16h30 (foto: Mimi Fotografias/ Divulgação)

Procissão pelo rio será no domingo a partir 16h30

 

Embora o dia de Nossa Senhora dos Navegantes seja 2 de fevereiro, a tradicional festa da paróquia homônima iniciou na última sexta-feira com ampla programação religiosa e festiva. São celebrações, missas, novenas, shows musicais e gastronomia.

Para a noite desta quinta-feira está programada uma procissão terrestre com a condução da imagem por ruas do centro da cidade e o maior manto de Nossa Senhora do mundo.

No entanto, o ponto alto é a tradicional procissão fluvial pela foz do rio Itajaí-Açu. A expectativa é reunir cerca de 50 embarcações e milhares de pessoas a bordo de barcos de diversos portes e também às margens do rio, em Navegantes e em Itajaí. “A festa de Nossa Senhora de Navegantes leva a cada um de seus devotos e romeiros o encontro com seu filho Jesus e mostra também a nossa cultura, o turismo religioso e a devoção do povo navegantino”, fala o pároco Eduardo Bastos.

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Essa estreita ligação do morador da cidade com a santa é claramente vista nos milhares de fiéis que evocam diariamente a proteção da santa no seu dia a dia. “Essa devoção também vem da cultura e tradições portuguesas, raízes da nossa colonização”, acrescenta a pesquisadora Vilma Mafra.

O superintendente da Fundação Cultural de Navegantes, Marcos Montagna, diz que a tradição da festa é um símbolo de fé e está ligada ao fato de a cidade estar alicerçada em bases econômicas relacionadas às atividades no rio e no mar como a pesca, construção naval e a marinha mercante. Desde agosto do ano passado a festa de Nossa Senhora dos Navegantes é reconhecida como Patrimônio Imaterial de Santa Catarina.

 

Nascidos na umbanda

Pai Luiz de Oxalá, de 65 anos, entrou na umbanda ainda criança, aos 10 anos. “Sofremos perseguição policial, fomos considerados pessoas do mal pela sociedade e vivemos [ou estamos vivendo] a maior intolerância religiosa de todos os tempos por pessoas de religiões que se acham donas de Deus e da verdade, mas tenho fé que agora tudo vai mudar”, fala.

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A babalorixá Roseli Laudelina da Graça, mãe Lica, nasceu e cresceu na umbanda. Filha de sangue e de santo do pai Fabriciano, lembra dos tempos em que os cultos e homenagens aos orixás precisavam ser feitos de forma muito velada devido à intolerância religiosa.

Nem André Trindade, bem mais jovem e pertencente a uma nova geração de umbandistas, é poupado da intolerância. Ele conta que sentiu o peso do conservadorismo da comunidade de Cabeçudas logo que instalou o terreiro lá. Viu com muita dor a destruição de uma imagem de Iemanjá colocada sobre as pedras do pontal. Ele relatou, ainda perplexo, todas as dificuldades que teve junto à prefeitura neste ano para obter a liberação para a realização da festa de Iemanjá.

 

Saiba mais

Caminhada de Iemanjá

Local: praia de Cabeçudas

Quando: quinta-feira, a partir das 19h

Entrega das oferendas: 21h30

 

Homenagem na Atalaia

Caminhada de Iemanjá

Local: praia de Atalaia

Quando: quinta-feira, a partir das 19h, entre o Molhe e o Bico do Papagaio

Entrega das oferendas: 20h

 

Nossa Senhora dos Navegantes

Local: em frente ao Santuário Nossa Senhora dos Navegantes

Quando: quinta-feira

10h30: santa missa

12h: almoço

19h30: Dom Manoel João, após procissão com  o maior manto do mundo

21h30: Show com Garotos de Ouro






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