MOBILIZAÇÃO
Mães Pela Diversidade querem audiência com o governador
Criação de setor pra tratar das demandas do movimento LGBTQIA+ no governo foi negada
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]



O movimento Mães Pela Diversidade de Santa Catarina vai pedir nesta semana uma audiência com o governador Carlos Moisés (sem partido) para tratar da posição do governo de não prever a criação de uma estrutura no estado pra atendimento da população LGBTQIA+. O parecer do governo está em uma resposta da secretaria de Estado do Desenvolvimento Social dada para a deputada estadual Ana Paula da Silva, a Paulinha (sem partido), gerando reações na Alesc e de movimentos sociais.
Uma indicação da deputada à secretaria questionava sobre a criação de uma subgerência na pasta para assuntos ligados ao movimento LGBTQIA+. A resposta ao pedido, dada no final do ano passado pela consultoria jurídica da secretaria, foi que a criação da estrutura não “teria cabimento”, em Santa Catarina.
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Paulinha, tradicionalmente alinhada aos projetos do governador Carlos Moisés (sem partido), criticou a negativa, defendendo na Alesc a instalação da estrutura. “A SDS tem secretaria do idoso, da igualdade racial, imigrantes, indígenas, mulheres, crianças e adolescentes, mas não temos uma linha que discuta a política LGBTQIA+”, frisou.
Ela lembra que Santa Catarina é um dos três estados brasileiros, junto com Mato Grosso e Roraima, que não oferece uma política pública efetiva e clara voltada para a população LGBTQIA+. De acordo com a subcoordenadora estadual do grupo Mães Pela Diversidade, Telma Cristina Issa de Freitas, a ideia da audiência é mostrar o posicionamento da entidade e defender as políticas públicas na área da diversidade.
“Não daremos trégua e estaremos atuando onde os direitos da comunidade LGBTQI+ forem desrespeitados. Não podemos deixar que vereadores, prefeitos e governadores excluam nossos filhos das políticas públicas”, destaca Telma, que é mãe de mulher trans.
O grupo Mães Pela Diversidade também quer tratar com o governador sobre leis municipais que buscam proibir o uso de linguagem neutra nas escolas. A mobilização da entidade já deu resultado na justiça catarinense, após uma ação junto ao ministério Público que fez com que o tribunal de Justiça derrubasse uma lei aprovada em Criciúma. O entendimento é que essas propostas são inconstitucionais e ferem a lei de diretrizes e bases da educação.
A decisão em Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) é a primeira do tipo no estado. Outras três ações estão em andamento contra leis semelhantes aprovadas no ano passado em Chapecó e Itapema, e contra um projeto de mesmo teor ainda em tramitação na câmara de Balneário Camboriú.
Linguagem neutra no alvo de “onda de intolerância”
O advogado da associação Mães Pela Diversidade, Fernando Coelho Correia, lembra que já há jurisprudência no Supremo Tribunal Federal (STF) pela inconstitucionalidade de leis contra a proibição de linguagem neutra. O STF está com um caso de Rondônia, que só não teve o mérito julgado ainda porque o ministro Nunes Marques pediu vista.
“Toda jurisprudência firmada é no sentido da inconstitucionalidade dessas leis porque está na Constituição Federal a competência privativa da União em estabelecer as diretrizes de base da educação nacional”, destaca. Ele observa que a constituição também define princípios de autonomia das escolas, que não poderiam ser desrespeitados por leis locais.
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“Essa decisão em Criciúma é um importante precedente no sentido de derrubar outras leis. Há grande tendência que as três demais Adins sejam julgadas inconstitucionais, pelo entendimento que o tribunal de Justiça já teve em matérias semelhantes e também em plena sintonia com o que foi estabelecido pela jurisprudência do STF”, comenta Fernando.
As leis contra a linguagem neutra nas escolas têm por base o argumento de que as expressões sem gênero, como “todes”, “alunes” e “amigues”, comprometem o aprendizado da norma culta a língua. Se essa fosse a real justificativa, Fernando defende que não se poderia nem usar gírias e expressões regionais, mas ele considera que o preconceito e uma política de retrocesso estão no fundo da proposta.
“É uma questão de preconceito muito grande e de uma onda conservadora de ataques à população LGBTQIA+ que está ecoando de uma maneira muito agressiva”, disse. “As pessoas que tem uma orientação sexual que não seja a tradicional, elas são agredidas, humilhadas, sofrem bullying...”, completa, ressaltando que esses ataques precisam ser combatidos.
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Políticas públicas são descumpridas
A posição do Estado em não criar a subgerência da diversidade desagradou também Otávio Zini, ativista LGBTQIA+ do grupo Amigos e Tribos em Balneário Camboriú. Segundo ele, “é frontalmente inconstitucional, e o Estado já está na mira do Ministério Público Federal por conta disso”.
Zini, que é presidente do conselho municipal de saúde, observou ao DIARINHO que uma conferência estadual da saúde, há três anos, já havia aprovado a adoção destas políticas públicas, e houve o encaminhamento de Santa Catarina a um cadastramento nacional visando o atendimento da população transexual catarinense, por exemplo.
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“Nos alinhamos ao posicionamento da Paulinha e demais deputados, porque a posição ideológica do governo contra os homossexuais está explícita”, critica. Na visão do ativista, a ação agora deve ser “basicamente nas esferas jurídica e parlamentar”, porque a pressão dos movimentos sociais ainda está tímida devido à pandemia.
Em Balneário, o município já foi cadastrado e já era para ocorrer atendimento ao segmento LGBTQIA+ desde 2020. “Algo mais concreto deve sair este ano”, acredita Zini, com ações junto ao SUS.
Redação DIARINHO
Reportagens produzidas de forma colaborativa pela equipe de jornalistas do DIARINHO, com apuração interna e acompanhamento editorial da redação do jornal.