IFood bugado
Frases de ódio roubaram nomes de restaurantes em aplicativo de comida
Bug foi na noite do feriado. Usuários do aplicativo de Itajaí e região se depararam com frases estranhas
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]



Vários estabelecimentos de gastronomia de Itajaí e região surpreenderam a galera na noite de terça-feira ao sofrer um possível ataque de hackers. A hackeada rolou no aplicativo Ifood, de pedido de comida, e era possível ver estabelecimentos locais como o Brava Sushi, o China Inbox, exibindo, ao invés do nome do comércio, frases como “Amo Trans”, “Bolsonaro 2022”, “Lula Ladrão”, “Vacina Mata”, “Vereadora Mairielle peineirada”.
E ainda, a conveniência “Disk Gole”, de Itajaí, apresentou a frase “Vacina Mata”, assim como outros estabelecimentos como a Pastelaria Dr. Albino, Adega Maringá e Burguer In The Box. Outro ataque foi registrado ao Bar Thy Restaurante e Pizzaria, da rua Lauro Müller, também em Itajaí. Não há uma contabilidade total de empreendimentos atacados, mas houve ainda frases como “Petista Comunista” e apoio ao assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), que apareceu em vários aplicativos com a frase “Vereadora Marielle Peneirada”. Ainda na terça-feira, o aplicativo retornou à normalidade.
Continua depois da publicidade
O DIARINHO apurou, entretanto, que o cyberataque não rolou apenas com estabelecimentos comerciais de Itajaí. Outras partes do Brasil também registraram as invasões. Na internet, algumas teses buscavam explicar o bug – que poderia induzir que esse ou aquele estabelecimento apoiaria racismo, partidos, negacionismo vacinal ou até mesmo homicídios. A princípio, uma delas apontava que milícias digitais teriam invadido principalmente o IFOOD, após ele ter cancelado o contrato com o comunicador Monark, apresentador de um programa na internet chamado “Flow Podcast”.
Monark recentemente defendeu o racismo “como liberdade de expressão” e também o presidente Bolsonaro após o mandatário postar fake news sobre vacinação e Aids. Tanto o iFood como uma escola de programação Trybe, parceiros do Flow, retiraram o patrocínio do programa após as manifestações.
Continua depois da publicidade
A própria rede de aplicativos de entrega de comida confirmou que rolou mesmo mudança de nomes de restaurantes, mas não se trataria de ataque hacker de grande proporção, mas um caso isolado. Em informação repassada ao site TecMundo, especializado em notícias de internet e tecnologia, a bagunça foi explicais por um funcionário “como privilégios para trocar o nome dos restaurantes”.
De acordo com o iFood, os dados de clientes e entregadores não foram comprometidos durante o ataque feito pelo funcionário vacilão. Os nomes de restaurantes já estão sendo corrigidos e os APPs já operam normalmente. Aproximadamente 6% dos estabelecimentos ligados ao iFood foram afetados no Brasil. A empresa diz que tomou medidas imediatas para sanar o problema e proteger os dados de restaurantes, consumidores e entregadores. A empresa não informou se irá punir o funcionário hacker.
Sociólogo: “ataques de ódio devem gerar reflexão”
Para o sociólogo Elias Moraes, ouvido pelo DIARINHO, apesar de reprováveis, esses ataques de ódio na internet tendem a gerar reflexão. “De 2017 pra cá nós temos visto que segmentos do movimento conservador são capazes de recorrer até mesmo à apologia da morte, da tortura, quando não ao próprio assassinato a pretexto de defender sua pauta ideológica”, avaliou. “Isso pode nos ajudar a amadurecer como sociedade; possibilita uma reflexão coletiva a respeito de quais valores que a maioria de nós, comunidade humana, pretende que prevaleça”.
Na visão de Elias, a sociedade, complexa, os valores civilizatórios considerados progressistas, como igualdade social, pluralismo, diversidade, democracia, conseguiram ampliar o seu espaço ao longo do século 20, mas isso gerou um movimento de reação do chamado conservadorismo.
“Neste momento tem ficado claro que o movimento conservador é muito mais propenso a fazer uso da força, das armas, da violência e da manipulação midiática, as fake news, e de outros meios nada éticos para se fazer prevalecer ante as demais correntes”, pontua. E nesse contexto estão também os ataques virtuais. “Com o tempo as instituições que defendem a democracia, os direitos de todos, uma maior igualdade e justiça social, tendem a prevalecer, com certeza”, acredita.