Otão famoso “kit gay”, supostamente distribuído para crianças de escolas públicas do Brasil, não passa de uma farsa. Foi o que atestou o ministro Carlos Horbach, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que determinou ao candidato Jair Bolsonaro (PSL) que não use mais a fake news em sua campanha e que retire do ar seis vídeos publicados no Facebook e no Youtube. Bolsonaro usava o livro “Aparelho Sexual e Cia.” para dizer que se tratava de parte de um kit que incentivava as crianças a terem relações homossexuais. Ainda afirmava que o livro foi comprado pelo governo quando o adversário, Fernando Haddad (PT), era ministro da Educação e que a publicação foi entregue para crianças do ensino fundamental. Fernando Haddad entrou com uma ação no TSE, solicitando a retirada dos vídeos.“A difusão da informação equivocada de que o livro em questão teria sido distribuído pelo MEC gera desinformação no período eleitoral, com prejuízo ao debate político, o que recomenda a remoção dos conteúdos com tal teor”, avaliou o ministro Carlos Horbach na decisão. Além da retirada dos vídeos, o ministro também determinou a identificação do número de IP (endereço virtual do computador) da conexão utilizada no cadastro inicial dos perfis responsáveis pelas postagens, dos dados cadastrais dos responsáveis e bem como registros de acesso à aplicação de internet. Se identificados, os autores podem responder a um processo. Bolsonaro chegou a apresentar o livro quando foi sabatinado por Willian Bonner, da Rede Globo, reafirmando que se tratava de parte do “kit gay de Haddad”. Num dos vídeos retirados do ar, Bolsonaro afirma: “Todo ele é uma coletânea de absurdos que estimula precocemente as crianças a se interessarem por sexo e no meu entender, isso é uma porta aberta para a pedofilia também”. Nas redes sociais, Fernando Haddad comemorou a decisão da justiça e criticou o adversário por espalhar a mentira. “O candidato que se coloca como o guardião da ‘ética e da moral’ deveria se dar ao respeito e se retratar com a sociedade e com seu eleitorado. Jair Bolsonaro, o deputado da mentira”, afirmou no Facebook. Livro é francês O livro “Aparelho Sexual e Cia.”, exibido pelo candidato do PSL para fazer a fake news contra Haddad, foi publicado pela primeira vez na França em 1992. De autoria de Phillipe Chappuis, que usa o codinome de Zep, a obra tem um menino de 10 anos como personagem principal, que expõe dúvidas comuns de crianças sobre as mudanças que seu corpo passa e sobre sexualidade. Publicado em vários países, já foram vendidos 1,5 milhão de exemplares. Em 2007, a editora brasileira Companhia das Letras publicou o livro no Brasil e, aproveitando a polêmica da eleição, relançou agora em setembro o livro, ao preço de R$ 39. A Companhia das Letras afirma que nunca vendeu o livro para o governo federal.