Itajaí
Valdir Cechinel
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]



Reitor da Univali Há poucos dias o doutor em química Valdir Cechinel Filho assumiu o comando da maior universidade paga de Santa Catarina. E, pelo visto, vai precisar de uma fórmula mágica para descascar os pepinos que encontrou. A começar com a herança de uma dívida de aproximadamente R$ 20 milhões. Mas os problemas vão além dos financeiros. Reaproximar a Univali das comunidades e botar abaixo os muros da universidade (falando literal e metaforicamente) é outra tarefa que o novo reitor afirma estar empenhado. Nesta entrevista ao jornalista Sandro Silva, Valdir Cechinel diz o que tem encontrado nas contas da Univali, relata o que já mudou nesses poucos dias de nova gestão e lista as promessas de transformação da instituição. Os cliques são de Lenon César. DIARINHO – Qual foi seu primeiro ato significativo ao ser empossado reitor da Univali? Valdir Cechinel – Eu posso dizer que um ato importante foi dar posse à equipe da estrutura organizacional. Esse trabalho de nomear, escolher, foi bastante prazeroso. Porque a universidade tem em seus quadros não apenas professores, mas funcionários altamente capacitados e isso até ocasionou uma certa dificuldade em relação a alguns nomes. Mas a nomeação da equipe, a posse, que aconteceu um dia após a posse da reitoria, foi o ato importante para a gente começar a trabalhar, começar o nosso trabalho de gestão 2018-2022. [São todos funcionários da instituição?] Exato. Nós aproveitamos o quadro institucional. Então todas as pessoas que compõem a estrutura organizacional são da própria estrutura, que já integram a nominata dos professores e funcionários vigentes. DIARINHO – Falando em staff, quem saiu e quem reforça seu time de gestores da Univali? Já ocorreu alguma mudança nas pró-reitorias ou na direção de centros, por exemplo? Quais? Valdir Cechinel – Nós fizemos uma significativa mudança na estrutura organizacional. Por exemplo, nós mantivemos três vice-reitorias. Só que nós extinguimos uma que era a vice-reitoria de planejamento e desenvolvimento institucional. Parte dela foi absorvida pela vice-reitoria de graduação, que então foi denominada como vice-reitoria de graduação e desenvolvimento institucional. A parte de planejamento foi então atrelada à secretaria executiva, que teve criada duas diretorias, a de planejamento e orçamento e também uma diretoria de assuntos administrativos, a diretoria administrativa. Vinculadas, então, ao secretário executivo. Também foi uma mudança significativa. Nós criamos a vice-reitoria de extensão e assuntos comunitários. Nós desmembramos, então, a antiga vice-reitoria que eu estava à frente, que era a vice-reitoria de pós-graduação, pesquisa, extensão e cultura. Ela foi desmembrada. Na realidade nós criamos essa vice-reitoria de extensão e assuntos comunitários visando fortalecer a nossa relação com a comunidade e também consolidando a nossa natureza, a natureza comunitária da Univali. E era uma meta já de há muito tempo que nós tínhamos discutido e que, felizmente, foi possível agora colocar em prática. E a vice-reitoria que eu estava à frente incorporou a inovação. Então nós temos hoje a vice-reitoria de pesquisa, pós-graduação e inovação. Inovação que é a palavra de ordem da nossa gestão, que praticamente estará atrelada a todas as nossas atividades e que agora faz parte de uma vice-reitoria como forma de fortalecer toda a inovação da nossa instituição. Então nós temos três vice-reitorias praticamente diferentes. Como mudanças nós criamos duas diretorias que foi a diretoria de assuntos institucionais, que é uma diretoria que visa essa aproximação principalmente com o poder público em geral. Era uma crítica sofrida há muito tempo em relação à nossa instituição da ausência de um canal de comunicação direto com prefeituras, câmaras de vereadores, secretarias municipais, secretarias estaduais etc. Também nós criamos uma diretoria de assuntos internacionais. Já existia uma coordenação e agora nós demos um status de direção. Justamente porque uma de nossas metas é fortalecer a internacionalização, que já era bem forte. Estava bem encaminhada na pós-graduação, stricto censu, mas que na graduação ainda precisa avançar e agora nós já estamos com algumas propostas de avanço na parte de graduação também. Teremos também uma direção de educação vinculada a essa vice-reitoria de graduação e desenvolvimento institucional. E uma outra mudança significativa foi extinguir os centros. Nós tínhamos centros de conhecimento e transformamos em escolas de conhecimento. [O que é que isso muda na prática?] Por exemplo, nós tínhamos o centro de ciências da saúde. Hoje nós temos a escola de conhecimento de saúde. Com isso nós também voltamos a uma estrutura antiga que era termos os diretores de campus. As diretorias de campus foram extintas e nós retomamos, principalmente em Balneário Camboriú e Tijucas, sob a gestão de uma pessoa e a Grande Florianópolis sob a gestão de uma outra pessoa como diretor. E essas escolhas de conhecimento se diferenciam dos centros, considerando o que nós pretendemos hoje é dar uma melhor e mais completa formação para os nossos alunos de graduação e com isso nós estamos criando mecanismos para que tenham uma maior interação junto à sociedade, que tenham uma maior vinculação com a própria pós-graduação, fazendo com que eles tenham mais maturidade em relação à formação profissional. Também estaremos criando espaços diferenciados, inovadores de educação, de ensino para esses alunos. Então a transformação de centros em escolas de conhecimento tem esse viés. E fortalecer a formação profissional dos nossos alunos de graduação. DIARINHO – Comenta-se que o ex-reitor José Provesi estará no seu staff. Isso é verdade? Se for, que cargo assumirá? Valdir Cechinel – Sim, verdade! O professor Provesi foi um baluarte dentro da nossa instituição. Assumiu [a reitoria da Univali] em 2002 com um grande desafio de recuperar a credibilidade da nossa instituição, que naquele momento, em função de várias crises, encontrava-se numa dificuldade muito grande. Ele então teve uma história muito significativa. Apoiou a minha candidatura e eu não podia prescindir da participação dele, de seu conhecimento e de sua expertise na minha equipe. Hoje ele faz parte do staff, do primeiro escalão, como chefe de gabinete de gestão integrada. Além disso é o vice-presidente da fundação Univali. Estou muito feliz em poder contar com o professor Provesi na gestão em função do que ele representou e representa para a instituição. DIARINHO – E na diretoria que vai dialogar com os poderes públicos e outras instituições, quem vai estar à frente? Valdir Cechinel – Nesse primeiro momento nós vislumbramos como pessoa adequada para fazer esse trabalho o professor Telmo Mezadri, que foi diretor do centro de ciências da saúde por muito tempo. Ele tem um ampla experiência na questão dos contatos institucionais e já começou o trabalho fazendo esse diálogo permanente com os setores públicos. Nós estamos trabalhando. DIARINHO – Certamente, como gestor, o senhor já iniciou um diagnóstico da situação da instituição. O que já foi possível apurar nesse levantamento? Quais as prioridades? Valdir Cechinel – Estou há menos de uma semana na gestão e evidentemente é muito difícil de nós termos um diagnóstico completo. Até porque a universidade é muito grande e esse sistema multi campi é muito complexo. Diria que precisarei ainda de um tempo. O que eu tenho hoje são informações que foram disponibilizadas nas reuniões dos conselhos superiores, o conselho de administração superior e o conselho universitário, e algumas informações que têm me chegado por parte da nossa equipe, a equipe de transição e a equipe que agora está à frente da gestão. Eu diria que o diagnóstico é de certa forma preocupante em termos econômicos-financeiros, mas em termos acadêmicos não tanto. A gente vislumbra muitas possibilidades de mudanças positivas para nossa comunidade, para nossa Univali. Nós vemos com muita perspectiva o crescimento e o desenvolvimento com qualidade. [Dá para dar ideia de alguma novidade ou mudança?] Uma mudança positiva é a criação, por exemplo, de alguns programas específicos que estamos vislumbrando no sentido de captação de recursos. Então nós estamos aí já trabalhando na criação de um programa que eu apresento no nosso plano de gestão que é o programa Conectar e Inovar, que foi difundido durante o processo eleitoral. Nós estamos trabalhando com perspectivas no sentido de captar recursos, porque é muito importante que tenhamos fontes adicionais de receitas e uma delas é implantar um programa de doação de fundos. Esse programa é um programa que no Brasil ainda é muito preliminar, ocorre de forma muito pequena. Em outros países, como nos estados, são programas que suportam todo o trabalho de pesquisas, bolsas de alunos etc. Hoje, se nós tivermos uma pessoa, uma empresa que queira doar recursos para o desenvolvimento de pesquisa para determinada área, por exemplo, na cura do câncer, pessoas que têm recursos, que têm alguma afinidade com a cidade, com a região, nós não temos um mecanismo adequado para que possamos absorver esses recursos. Pessoas que eventualmente queiram viabilizar recursos para ajudar alunos carentes, com bolsas, nós não temos como absorver essa ajuda. Que queiram ajudar o hospital Pequeno Anjo e assim sucessivamente. Esse é um programa que nós vamos implantar com maior brevidade. Estamos também na parte da implantação, trabalhando na implantação do hub de inovação que é um ambiente que nós pretendemos concentrar aqueles resultados de pesquisa que têm viés de inovação para o desenvolvimento de produtos e processos para uma maior interação com as empresas, né? Também algo para a gente colocar em prática. [Isso como produto a ser oferecido para a comunidade ou como um instrumento de gestão interna?] Na realidade é para empresas num primeiro momento. A universidade gera subsídios para inovação mas quem aplica, quem faz a aplicação dos produtos, são as empresas, as indústrias. E aí nós teremos, para complementar essa questão, um setor que nós já estamos criando específico para a relação com o mercado, para oferta desses produtos desenvolvidos. Produtos que já são consolidados em nossa instituição, além dos cursos de graduação, da educação básica, de pós-graduação, também teremos esse suporte de um setor específico para a divulgação desses produtos desenvolvidos na universidade. Nós temos hoje um setor específico, que nós mudamos a denominação, que era chamado de central de prestação de serviços, para escritório de projetos, que tem esse viés de fazer o acompanhamento, a supervisão dos serviços prestados a empresas públicas, privadas. Como, por exemplo, os projetos com a Petrobras, a própria Fatma etc. São várias iniciativas que nós estamos implementando. DIARINHO – Mesmo a partir dessas informações preliminares de diagnósticos, dá para ter ideia da real situação econômico-financeira da Univali? De quanto é o passivo da universidade e quais as primeiras medidas para sanar as dívidas da instituição? É possível já ter esse quadro? Valdir Cechinel – Como te falei, nós ainda estamos em processo inicial de gestão. Estamos fazendo esse levantamento. O que tenho hoje é aquilo que foi viabilizado pelos conselhos: um balanço de 2017 com um déficit de aproximadamente R$ 20 milhões. [São déficits ou são dívidas gerenciáveis?] Não, são déficits. A universidade gerou um déficit de R$ 20 milhões em 2017. Deu aquela polêmica com aquele empréstimo, em 2017 também, mas que foi por questões de alongamento de dívidas e tal. Enfim, a situação é bastante delicada. Recebo uma herança muito negativa, muito além daquilo que nós imaginávamos pelos primeiros resultados. Mas há uma equipe trabalhando nesse diagnóstico para depois nós podermos até socializar com a equipe e até com os conselhos para que saibam a real situação que a universidade se encontra. Obviamente que nós não queríamos estar nessa situação. Queríamos estar com a situação econômico-financeira equilibrada, mas a realidade não é essa. A realidade é que a universidade, infelizmente, por irresponsabilidades de alguns gestores da gestão anterior, acabou sendo levada a um colapso financeiro, onde nós teremos que ter um trabalho hercúleo no sentido de reerguer, de sanar todas essas dificuldades econômico-financeiras. DIARINHO – Numa entrevista dada ao DIARINHO, quando era candidato a reitor, o senhor se referiu a vagas ociosas e cursos com baixa demanda quando falou sobre seus planos de adequar o valor das mensalidades à realidade dos alunos. Na prática como é que o senhor pretende que isso aconteça? Valdir Cechinel – Essa é uma meta que eu realmente difundia durante a campanha e que vamos colocar em prática. Nós vamos verificar aqueles cursos com mais baixa demanda, vamos criar critérios para as bolsas. A nossa ideia é viabilizar uma espécie de processo seletivo social, destinado aos alunos da nossa região. Um primeiro momento àqueles que habitam as nossas cidades onde temos campi e depois as outras regiões. Diferente do ProUni, que é um programa que estamos inseridos, mas que aceita alunos de todas as partes do Brasil. E esse então nós vamos focar na nossa região, onde temos a base instalada. Esses critérios ainda estão em fase de estudos. As vagas, as quantidades e os cursos. Mas eu estou bastante feliz com essa perspectiva e com certeza nós vamos atender a uma expectativa muito grande da nossa comunidade de continuar podendo realizar o sonho da vida, poder continuar estudando, fazendo ensino superior. DIARINHO – O senhor já teve acesso aos supostos super salários de docentes e outros funcionários da Univali? Qual é a maior remuneração paga a um funcionário, seja professor ou não? Valdir Cechinel – Eu ainda, sinceramente, como te falei, estou com menos de uma semana de gestão e então ainda não pude me dedicar a essa gestão. Faremos nos próximos dias. Mas como já tive oportunidade de falar, até em uma entrevista ao DIARINHO, aqueles casos de salários acima do normal possivelmente se caracterizaram em função de algumas vantagens adquiridas ao longo da carreira. Preciso agora me debruçar com a equipe e avaliar todas essas questões e trabalhar em mecanismos que possibilitem minimizar esses impactos junto à nossa fundação. Então eu tenho, sim, o intuito de estar elaborando um plano, um programa de aposentadoria incentivada e ou demissão incentivada. A gente precisa trabalhar sob essa ótica. Só que hoje não posso te afirmar nada nesse sentido porque o tempo foi muito curto e nós temos praticamente 3000 funcionários e professores. Não chega a tanto mas tá próximo. São 2600, 2700 diretos. Fora os indiretos. A gente vai ter ainda um tempo para poder analisar todos esses números e ter realmente um diagnóstico mais completo. DIARINHO – Uma crítica comum à gestão de seu antecessor era o isolamento da universidade, que é comunitária, em relação ao cotidiano das comunidades. E há um exemplo muito próximo da Univali, que é o loteamento Nossa Senhora das Graças, ao lado do campus. É comum ver crianças brincando na minúscula praça, próxima a tóneis de lixo, sem ter a possibilidade de acesso aos espaços da universidade. No começo desta entrevista o senhor falou que criou a reitoria de extensão e assuntos comunitários. O que na prática vai mudar para a comunidade que não estuda na Univali, mas que poderia usufruir a universidade? Valdir Cechinel – O intuito agora é justamente fazer esse diagnóstico por meio dessa vice-reitoria para conhecer as necessidades do entorno de todos os campi. Ver a necessidade real, concreta, para depois estudarmos possibilidades. Aqui em Itajaí, um projeto que nós conseguimos viabilizar os recursos externamente, é o de utilizar aquele nosso terreno que temos aqui ao lado do clube Atiradores, onde nós estamos propondo a criação de um horto medicinal. Então um horto que possibilitará a participação da nossa comunidade de entorno, que poderá vir conhecer, participar e até mesmo produzir material. Um projeto semelhante ao que a USP [Universidade de São Paulo] desenvolve, trazendo a comunidade para dentro da sua instituição. É só um exemplo, porque isso já estava no nosso planejamento enquanto vice-reitoria. Já estava à frente desse projeto e agora nós vamos consolidar. Até mesmo porque já temos os recursos garantidos para colocar em prática. Como esse, vamos buscar outros espaços, outras oportunidades para minimizar essa questão social que a gente vem vivenciando no dia a dia e, com isso, consolidar cada vez mais a nossa universidade com a sua natureza comunitária. DIARINHO – A Univali deve abrir os portões e muros, como era antigamente, ou não é essa a intenção? Valdir Cechinel – Eu te diria com todas as letras, com toda a segurança e com toda a tranquilidade: a Univali voltará a ser a universidade do passado, a “universidade sem muros”. Fisicamente os muros estarão, sim. Mas a academia não pode ficar fechada. Nós temos que estar junto à comunidade e assim faremos. Toda a equipe que foi escolhida para dar suporte a esta gestão tem essa diretriz, essa, digamos, questão já assimilada. Todos já entenderam e concordam que nós devemos estar cada vez mais próximos de nossa comunidade. Até porque nós somos uma universidade comunitária. Claro que não somos uma universidade pública, que tem um orçamento definido. Dependemos de recursos como mensalidade, prestação de serviços. Mas nossa ideia é justamente abrir esses canais de comunicação e termos recursos adicionais para poder realmente minimizar a questão social que tanto aflige a nossa população. Nome completo: Valdir Cechinel Filho Idade: 55 anos Nascido em: Urussanga/SC Estado civil: Casado Filhos (as): Duas Formação: Graduação, mestrado e doutorado em química Experiências profissionais e de gestão: Professor universitário, foi pró-reitor de Pesquisa, Extensão e Cultura da Univali e vice reitor de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Cultura da mesma instituição. coordenador internacional da Rede Iberoamericana de Estudo e Aproveitamento Sustentável da Biodiversidade Regional de Interesse Farmacêutico (Ribiofar) e da Rede Iberoamericana de Investigação em Câncer (Ribecancer). Autor de 35 livros e mais de 350 artigos científicos. Foi agraciado com o prêmio Caspar Stemmer de Inovação, na categoria Protagonista de Inovação, da fundação de Amparo à Pesquisa e à Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e foi finalista em 2013 do Prêmio Santander-Guia do estudante, pelo projeto desenvolvido em parceria com a Indústria Farmacêutica Eurofarma e, em 2015, foi indicado como finalista na categoria Ciência e Inovação, com o projeto intitulado “Busca de novos e efetivos agentes anticâncer a partir da biodiversidade brasileira”.
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Redação DIARINHO
Reportagens produzidas de forma colaborativa pela equipe de jornalistas do DIARINHO, com apuração interna e acompanhamento editorial da redação do jornal.