Se vestir bonitinho, atender bem o cliente e fazer cursos de reciclagem estão entre as novas obrigações da classe
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DIARINHO Esta semana foi aprovada a lei, pelo senado Federal, que regulamenta a profissão de taxista. Como o senhor vê esta questão? Veio tarde?
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Lico - Até que pra nós chegou tarde. Porque a gente não tinha uma certeza de como isso ia funcionar [Aqui ele fala do direito de herança da exploração do ponto de táxi]. Porque o Ministério Público sempre nos questionou com essa questão de passar a concessão de táxi para algum familiar. Porque quando o taxista morria, este direito voltava para a prefeitura. Mas a lei veio em boa hora. É bem-vinda. Essa lei reconhece o direito de herança da família. [É um avanço?] Sim. [A nova lei também reconhece o direito do funcionário, o bacurau, de receber um salário acertado entre o sindicato dos trabalhadores e dos taxistas]. Todos os bacuraus que trabalham - e cada taxista pode ter dois -, desde a lei de 74, recebem 30% sobre o valor feito durante as oito horas de trabalho deles. [E como é que fica o recolhimento do INSS para o bacurau?] Todos têm e se não tiver é por falta de interesse do INPS, quer dizer, do INSS. [Quantos taxistas têm hoje em Itajaí?] São 80. [E quantos bacuraus?] Aí triplica, né!? É dois por um. Dá uns 320, entre proprietários e auxiliares. [Mas cada proprietário tem dois auxiliares?] Em geral, sim.
DIARINHO - Se anda menos ou mais de táxi hoje do que há 10 anos?
Lico O táxi parece que é dia. Ou a necessidade. Cada dia é diferente um do outro. É como se fosse a saúde. A gente hoje, vamos supor, faz R$ 100, amanhã pode fazer R$ 200, depois de amanhã pode fazer R$ 300 ou R$ 500. [Não tem um padrão do dia da semana em que mais se anda de táxi?] Era pra ser no fim de semana. Mas o que tem pra fazer em Itajaí no fim de semana? O que é que tem em Itajaí de bom? Então não tem como andar de táxi. E vai pra Balneário, com uma Praiana [Empresa de ônibus que faz a linha Itajaí Balneário Camboriú] e companhia limitada, ou de carona, não sei, e deixa o táxi [Então há 10 anos se anda tanto de táxi quanto se anda hoje?] Eu, quando comecei, nós pagávamos o que hoje equivale a R$ 1 como daqui na Fazenda até lá no ginásio de esporte. Hoje deve pagar uns R$ 13. Eu vejo que o táxi não é que é caro. É a pessoa que não deposita confiança. Trazer um carro pra cidade, ainda mais nesse caos de estacionamento, não sabe se quando chegar de volta ele vai tá ali. Certo? Analise bem: perder um bem teu, que algumas vezes ainda tá pagando a prestação, por causa de R$ 13? Então eu acho que o povo é mal acostumado. Se você vê São Paulo, se você vê Curitiba, se você vê Florianópolis ou Blumenau, o mais difícil se chama Itajaí.
DIARINHO Em Porto Alegre, por exemplo, onde se anda muito de táxi e é considerado barato, o início da bandeirada é R$ 3,78 e depois vira a cada um minuto e 40 segundos. Quanto é a bandeirada aqui?
Lico Hoje é R$ 4 em Itajaí. Aqui no sul de Santa Catarina, em todo lugar, praticamente, é R$ 4. [Mas se comparar Itajaí com Porto Alegre, que é uma capital de estado, aqui não deveria ser mais barato?] Mas quem anda menos? Onde pode ser barato é onde se anda mais. [Então, se a população andasse mais de táxi...] Se tornaria mais barato e sem comparação, sem comparação. Essa é a conta.
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DIARINHO - Quem é o principal concorrente do táxi em Itajaí? O mototaxista, o ônibus, taxistas de outras cidades?
Lico - Taxistas de outras cidades até não é tanto. Balneário Camboriú não aceita a gente lá. Eles têm uma lei que tem que entrar na cidade já com o taxímetro ligado e que diga no taxímetro o valor e que você saiu de Itajaí pra Balneário Camboriú. [E existe essa lei em Itajaí?] É pra ter e valer aqui também. E isso inibe o pescador, como a gente diz, que são os de fora. Mas, pra nós, os mototaxistas tiraram de 30 a 40% dos clientes. Queira ou não queira, tiraram. Mas você analisa bem uma coisa. Hoje você tem uma bandeirada de R$ 4 no táxi e o mototáxi a corrida mínima já é R$ 8, R$ 10. E veja a segurança que tem um mototáxi... Não tô falando mal do mototáxi. Mas tô dizendo assim em comparação com o táxi, que tem seguro total do carro. E custa caro. Eu pago do meu carro R$ 3 mil pra ter esse seguro total. Se você sofrer um acidente você vai ter sua indenização, como nós também. Mas e o mototáxi? [Então os taxistas e o senhor como presidente são a favor ou contra a regulamentação do mototaxista em Itajaí?) Não, não somos contra porque eu acho que nem todos têm a boa situação de andar com táxi. Isso é uma verdade e eu acho que o mototáxi veio pra periferia, pros menos favorecidos, vamos dizer assim. Então, eles não têm a situação de pagar uma corrida de táxi de 25 reais. Então se a moto cobra 15, é menos 10. Se cobrar 10, é menos 15. Então nós não temos atrito com o mototáxi. Nós queríamos é que o mototáxi fosse regulamentado como o táxi, que tem que cumprir regra. Porque hoje o que é que acontece? A maioria chega em casa, pega um capacete, bota na moto e vai trabalhar. E tão tirando o pão de cada dia de outro que paga os direitos que tem pra pagar, que é a padronização da moto, a touca e essas coisas. Então, isso é que dificulta. Tinha que fazer uma fiscalização. Porque lei sai muito, fiscalizar é que é difícil. Nós tiramos pelo táxi. Nós temos a maior dificuldade em fiscalização. Eu jamais gostaria de ver um táxi amassado, em espécie alguma, ou com pneu careca. Porque táxi tinha que estar como? Impecável. Porque você tá aqui, mas você poderia pegar uma viagem para Curitiba ou pra São Paulo, não sei aonde. Você tem que tá com o carro inteiro. Por isso agora que saiu uma lei pros taxistas, vai ter que ter a inspeção veicular e então todo mundo vai tá com seus pneuzinhos normais. [Mas hoje não existe essa inspeção veicular?]. Não, pro taxista não. Existe para quem tem o carro a gás.
DIARINHO - A frota de Itajaí é segura?
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Lico - Sim... Não... Segura em termos. Dos carros, sim. Mas de segurança nós estamos ruim. Você veja bem uma coisa, quantos policiais nós temos em Itajaí? Uns cento e poucos policiais. [Ah, o senhor fala da segurança para o taxista]. É claro, porque à noite você não vê gente no ponto, não é verdade? Porque falta segurança. Esse é um problema pra nós.
DIARINHO Há um mês, quando aquele taxista de Balneário foi assaltado aqui em Itajaí, o senhor falou que já tinha várias vezes pedido pro comando da PM pra que tomasse uma posição e agisse em relação aos ataques a taxistas. Qual a proposta de vocês?
Lico - A nossa proposta é que eles abordassem o táxi que roda na periferia. [Quantos pedidos o senhor fez?] Oh, dá até pra esquecer. [E para o comandante atual da PM?] Não, essa eu ainda não fiz, mas vou fazer e vou fazer também pro doutor Rui [Rui Garcia, delegado regional de Polícia]. Eu acho que o doutor Rui tem uma indolezinha até pro lado melhor. Ele é um cara que conhece bem e eu acho que vai nos dar resposta. [E teve resposta das autoridades policiais?] Até agora não, porque também não cobrei, né!? A realidade é essa. Eu vou cobrar e mais tarde nós vamos ver se teve retorno. [O senhor não tem medo que essa proposta de vocês, de a polícia revistar o táxi, os passageiros, acabe afastando esse cliente de vocês?] Amigo, eu digo o seguinte: à noite não tem que perder tempo. Se você tá indo pra sua casa, tudo bem, não é confortável, não é, mas é uma garantia que você também tem. Certo? Se você chegar na frente de sua casa e você vê uma pessoa parada, o que que você vai fazer? Vai chamar a polícia, não é verdade? Se for abordado e o cidadão for de bem, é coisa de minuto. Porque eles [policiais] também conhecem. Então eu acho que nós deveríamos ser abordados pra ter um pouco mais de garantia e inibir os que não nos favorecem. Que isso não favorece a nós.
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DIARINHO - Quantos ataques a taxistas costumam acontecer por mês?
Lico - Agora até que deu uma paradinha. Deu uma parada em Itajaí, graças a Deus. Deus é pai e é nisso que nós cremos. Se não tem como agarrar com ele, não tem mais com quem agarrar. Mas eu temo é verão, quando vem gente de fora. [Muita coisa acontece?] É mais no verão. [Chega a quantos por semana?] Ah, isso varia de uma cidade pra outra. É um, dois, três por semana.
DIARINHO - Há uma história antiga, de cerca de 30 anos, que marcou Itajaí e teve os taxistas como personagens principais. Foi o linchamento de três homens que haviam assaltado e matado um motorista de praça. E senhor estava lá. Conte pra gente o que aconteceu naquele dia. O senhor lembra dessa história?
Lico - Vou te contar de fonte segura. Daquilo ali eu não quero ver mais. Isso de fazer o julgamento com as próprias mãos. Eu acompanhei o linchamento. Eu assisti. Eu cheguei a botar a mão em cima da cabeça de um meliante daquele, mas não tive coragem. Quando eu ia botar a mão ele já tava no chão. Nós não devemos fazer, mas chega num momento que nós temos o direito de tomar uma atitude, porque se ninguém tomar, na hora vai desandar tudo. [O que levou os taxistas a fazerem aquilo?] O que levou foi assim... eles mataram dois, um em Balneário Camboriú e outro em Joinville. Tu vê que a maldade era tão grande, que esse de Balneário Camboriú não queria morrer de espécie alguma. Dizia pra que levassem dinheiro, levassem carro, amarrassem ele ou deixassem sem roupa, que fizessem o que fizessem, não teria problema. Mas tirar uma vida, olha, vamos botar a consciência no lugar. Hoje pra tirar a vida de uma pessoa a pessoa tem que ser muito ruim. [O senhor lembra o ano em que foi, seu Lico?] 84, 86, por aí. [Era muito comum assalto a taxista naquela época?] Não. E esses três eram daqui de Itajaí, eram três primos. Foi uma infelicidade deles, tudo bem, mas não quero acompanhar mais uma coisa dessas, de espécie alguma. [Como é que os taxistas se organizaram naquela época?] Olha, quando eu vi, não passava mais ninguém na BR-101. Tava tudo fechado e os caras no chão e o povo em cima. Não era só caminhoneiro, não era só taxista. [Quantas pessoas tinham?] Era incalculável. Pessoas à beça. [A polícia estava transportando eles pra Balneário Camboriú?]. Exatamente, porque ali foi o primeiro delito. E não deu pra chegar lá. Foram cercados por caminhoneiros, por taxistas e ali foi feita a chacina. [O que foi usado?] Tudo o que você imagina. Eu não sei de onde saía tanta coisa. Ferro, madeira, marreta, roda e chave de fenda, tênis... tudo enfiado no meio. Foi uma coisa horrorosa, super horrorosa. [O senhor acredita que este tipo de ação assustou os criminosos?] Baixou bem, quase a zero.
DIARINHO - O DIARINHO já fez algumas matérias em que taxistas de Itajaí reclamam que os colegas de Balneário Camboriú vinham pra cá pegar clientes quando os navios atracavam. Isso ainda tem acontecido?
Lico - Diminuiu muito. Porque isso não foi lei minha. Eu não queria isso. Mas você sabe que sempre arruma um atrito. Somos uma classe só, mas dividida em duas cidades. Uma cidade tem o seu jeito e outra cidade tem outro. O que é que eu disse pro presidente de lá. Eu disse pro presidente: Nós vamos deixar isso como tá, se vier aqui procura amenizar, botar fiscalização em cima e impedir, mas verbal. Mas não. Fizeram uma lei que proíbe o táxi porque você não tem autorização e nem permissão pra trabalhar em Balneário Camboriú, que é uma realidade. Uma vez que aconteceu isso lá, aqui também é recíproco. [Vocês também depois que fizeram em Balneário pressionaram o governo a fazer aqui?] É. Nós fomos obrigados a pressionar para que eles sejam tratados aqui do mesmo modo que nós somos tratados lá. [Quem rouba mais clientes: o taxista de Itajaí ou o de Balneário?] Olha, assim... todos que vão daqui pra lá, a tendência é que levam e vão querer trazer. Mas eu acho que o sol nasceu pra todos. Se leva, então tá bom. Oras, você vai levar, mas o outro vai trazer, como funcionou no congresso da Quadrangular [encontro realizado no mês passado].
DIARINHO - Temos quantos carros na frota de táxi em Itajaí?
Lico - 80. [O número é suficiente?] É suficiente. Itajaí tem muito carro. Você imagina Itajaí quando chove. Já viu quando chove como é que tá? Onde que eu digo, se as pessoas usassem mais táxi pra elas seria muito melhor. Não teria arranhão no carro. Hoje um arranhão é no mínimo 150 contos pra arrumar. E o estacionamento no centro você tem que pagar e além de pagar não é seguro. Não é verdade? Você pode ter seu carro roubado a qualquer momento. Então eu acho que o povo de Itajaí está mal acostumado e não usa táxi. Porque não é medo. Tá ali, o preço no vidro traseiro de um lado e do outro. O tempo da bandeira um, o tempo da bandeira dois. Na frente do painel tem o preço da bandeira um e da bandeira dois. É só olhar no taxímetro. Ele nunca vai ser lesado.
DIARINHO - Todos os carros de praça aqui em Itajaí realmente atuam na atividade ou o motorista pega licença e acaba não usando o carro no ponto? Existe isso por aqui?
Lico - Não. Eu até sou meio contra. Sou meio radical nisso aí. [Contra o que o senhor é?]. De eles tirarem o carro pra usar pro pessoal, pra uso próprio. Por isso tá saindo uma lei da prefeitura, que até então também não tinha, que dois carros têm que permanecer no ponto pelo menos oito horas por dia. [Já tá aprovada ou vocês tão debatendo com o prefeito?] Não. Vamos terminar esta semana e então levar pro prefeito assinar e vai começar a vigorar. [E é uma proposta de vocês?) É. Uma proposta nossa, exatamente. Pra todos os pontos que têm nos bairros. Porque todos os pontos nos bairros é pra servirem o pessoal do bairro. Se ele não pegar o do bairro pra vir pra cidade, então não precisava ter isso no bairro. Não precisava ter táxi a mais na cidade. Então, agora vai começar a ter ordem na casa. Então todos vão ter que ficar no seu próprio ponto. Menos à noite. Quem sou eu pra dizer pro taxista que ele tem que trabalhar à noite se eu também não trabalho? Tenho medo. Fui assaltado uma vez só, uma tentativa de assalto. [Em todos esses anos foi uma só?] Em todos esses anos. Então, quer dizer, cada um tem um jeito de trabalhar. [Então existe gente que pega o táxi e acaba não atuando na cidade?) Itajaí não tem. Eu fiscalizo isso. Porque aquilo ali foi dado pra você ter usofruto. Você ganhar o pão de cada dia. E já é um desconto muito bom no preço do carro. É 29%, 28%, 30% pra compra do produto. Então você vê que tem um desconto bom. Não é ? Então, se vai comprar, tem que trabalhar.
DIARINHO - E o senhor sabe de alguma história engraçada que alguém tenha contado no táxi, de algum amigo que o senhor lembra?
Lico - Olha, são tantas histórias. Uma que nos chamou atenção foi aquele cara que tava dormindo, dormindo no ponto ali da praça Vidal Ramos. [O taxista?] É, ele tava dormindo no ponto [Risos]. O motorista garante que um cara abriu a porta, fechou e disse: Me leva em Balneário. Aí quando ele já tava quase em Balneário, olhou pra trás e não tinha ninguém dentro do carro. Parou o carro e saltou. Foi lá, abriu as duas portas e não tinha ninguém. Então quer dizer, você vê o que faz o sono. [Ele sonhou?] Não, ele não sonhou. Ele escutou bater a porta e o cara disse que era pra ir pra Balneário Camboriú. [Não era o cliente de um outro táxi...] Não, não era cliente de outro táxi. [E o taxista atua na atividade ainda?] Não, hoje já faleceu.
DIARINHO - Como é que um taxista dribla o sono na madrugada num ponto de pouca corrida? O taxista também apela pro rebite, como é o caso do caminhoneiro? Precisa disso?
Lico - Não. Eu acho assim, você pode chegar e estar deitado no banco. Aí é que é perigoso. Porque enquanto você tiver atento, você tá vendo de onde vêm e como vêm as pessoas. Se vêm em turma, se vem em um só pra depois pegar os outros. Então, se é pra dormir à noite, é preferível não estar no ponto.
DIARINHO - Qual o ponto mais perigoso da cidade? Qual o horário mais perigoso para o motorista de praça?
Lico - Olha, o ponto mais perigoso são todos. Não tem especificação não. Porque já deram uma pauladinha na minha cabeça quando eu dei aquela entrevista sobre o taxista assaltado. Gente, então não tem ponto mais perigoso. Todos são perigosos porque o meliante anda em todo e qualquer lugar. Ah! Anda só lá no bairro.... Não, ele anda no centro também. [E quanto ao horário, é à noite?] Sempre é na madrugada. Provavelmente, da uma hora em diante. Por aí. E aí o cara vem de um lugar, gasta tudo e pega um táxi. Aquele que só pega e sai correndo, tá tudo certo. O motorista ainda se salva. [É comum isso?] Ô, é um atrás do outro.
DIARINHO - Seu Lico, em Itajaí existem dois táxis que têm aquela bolha, aquela cabine de proteção contra assalto. Primeiro, a bolha funciona? Segundo, essa é uma tendência pros táxis de Itajaí?
Lico -Eu acho que futuramente. Eu vejo assim, cada um é dono de si, claro. Pois se eu digo pra não botar, ninguém vai botar. Aquilo ali é um investimento. Três mil reais cada. E você, na hora de trocar o carro, você é obrigado a trocar pelo mesmo modelo. [Senão tem que comprar uma outra bolha?] Ou ir lá pra fazer uma adequação. Você vê, são mil quilômetros até Caxias do Sul [Cidade do Rio Grande do Sul]. Mas eu vejo que até agora não provou nada, assalto ou coisa alguma coisa que viesse mesmo garantir que aquilo ali funciona. Eu acho desconfortável, entende. Acho desconfortável porque assim, imagina você chegar numa cidade. Você vê tudo encabinado, o que é que você vai pensar que aquela cidade é? Perigosa. E nós recebemos aí turistas, que é outro problema. Toda pessoa que vem de fora vai reparar que só tem cabine no táxi e vai pensar que só tem bandido aqui. Eu vejo assim, né!? Se eu chegasse, eu faria isso. Pensaria assim. Até que ela me prove o contrário, vamos deixando assim mesmo. Só tem dois. [E o senhor acha que os taxistas de Itajaí têm essa tendência de querer comprar? Como é que o senhor tá vendo isso?] Eles tão com um pé atrás e outro na frente. Um fala: Ah! Vamos colocar. Mas o investimento é muito grande e por isso aí é cada um por si e Deus por todos.
DIARINHO - Como vocês estão vendo a Regata Volvo?
Lico - Eu acho que em Itajaí nós temos que mudar a cabeça desse povo. Você vê que às vezes a cabeça do povo de Itajaí é meio ruim, de 1930, eu acho, porque nada funciona aqui. Você, pra abrir uma danceteria aqui no centro, é complicado. Quer abrir um barzinho, o pessoal reclama, cria abaixo-assinado. Então não se cria nada. Essa cidade tem que mudar. Olha, uma cidade dessa, que recebe 40, 50 mil passageiros de navios, então ela já tá sendo divulgada. Então com essa regata, isso aí é uma divulgação fora de série. O único lugar no Brasil que vai passar é em Itajaí. [E os taxistas, eles já estão preparados? Uma boa parte deles já sabe falar inglês pra lidar com esse pessoal de fora?] O inglês nunca veio aqui e não deixou de ser conduzido pra lugar nenhum. A gente acha um jeito pra saber o que ele quer. Claro, a gente fica meio perdido. Seria bom ter um curso, porque eu acho que seria de direito. Eu já bati em cima disso aí, pra prefeitura fazer um convênio com o sindicato ou o sindicato fazer um convênio com a prefeitura, pra nós fazermos em um ano, pelo menos, o básico de inglês. Mas é difícil porque ninguém quer perder uma hora. [É difícil por parte do poder público ou dos taxistas?] O poder público também nunca nos convidou, fez uma vez, uns dois meses, mas também dois meses não alivia nada. Mas quando o poder público obriga, aí já é outra coisa. Nós, taxistas de Itajaí, atendemos navios de passageiros e então nós temos que fazer um ano disso, isso e aquilo. [Inglês, curso de recepção?] É, o curso de recepção de vez em quando eles fazem.
DIARINHO - Existem em várias cidades turísticas os ônibus que levam as pessoas pra passear e conhecer os pontos turísticos. O senhor acha que se isso acontecesse em Itajaí com os navios de passageiros, tiraria a clientela dos táxis?
Lico - Não sei se é puxando sardinha pro nosso lado, mas eu vejo assim: você já vem de dentro de um navio, ainda vão te enfiar dentro de um ônibus? Que é que você acha? É meio ruim, né? No táxi, ele tá à vontade pra que pare aqui ou ali e se num ônibus um só quiser, aí o ônibus não para. Com o táxi você dá uma parada, bate uma foto, isso e aquilo. É bem mais benéfico. Eu não sou a favor do ônibus. Claro que hoje tem pela CVC [Operadora de turismo que atua com os navios de cruzeiros] aqueles ônibus que já são fretados e para você ter um ideia são mais caros que os táxis pra levar. Por exemplo, pra ir ali no Beto Carrero, se fosse de ônibus, você ia gastar uns R$ 70 e o táxi custa isso, R$ 60, e você vai sozinho, à vontade. Então é difícil você ver família pegando o ônibus.
DIARINHO - O senhor citou isso em vários pontos da entrevista e a gente vai voltar a cutucar. Muitos turistas e até moradores de Itajaí dizem que a cidade não é preparada para o turismo. O senhor concorda com isso?
Lico Por que não é? Porque o povo de Itajaí acha que não tá preparado, mas também não se deixa preparar. [Como assim?] Você já viu alguém falando que é favorável aos navios pararem aqui? Não tem nada e por que não tem? Porque o povo de Itajaí não deixa. [E porque o povo de Itajaí não deixaria?) Porque é outra mentalidade, uma cidade pacata, uma cidadezinha que eles querem pra dormir, querem sossego e com os eventos não vai dar esse sossego. Balneário é assim também. Eu já morei em Balneário em 72. Lá todo mundo quando ouvia um barulho era uma confusão. Porque todo mundo dorme hoje, que é de noite? Precisava pra Itajaí peso, peso. [Peso, como?] Tu já viu os hotéis de Itajaí? São fracos. Qual é o hotel três estrelas que nós temos? [Então, na verdade, falta estrutura?] Você vê que em Balneário Camboriú até 2014 serão 178 hotéis a mais. Então o que que é? É turismo. Tem cidade mais cara do que essa aqui? Eu sou itajaiense, eu vim pra cá pequeno, eu morro de amor por esta cidade. Só que o povo tinha que ser mais maleável, pra que nós pudéssemos ter boate, pra que mais atrativos viessem para Itajaí. Não tem nada em Itajaí. Quando não arruma estacionamento, é o barulho, quando não é o barulho é porque tem muita gente na rua. Não dá pra entender.
DIARINHO - Seu Lico, pra gente concluir as nossas perguntas: os taxistas tão fazendo a sua parte nesse atendimento aos turistas e aos próprios passageiros daqui? Eles investem nos carros, compram ar-condicionado, motor melhor?
Lico - É, nós até temos uma potência, tá. [Mínima?]. Acho que é 120 cavalos. Independente disso, eu, como presidente do sindicato, eu me canso de dizer que quanto melhor nós atendermos, mais retorno nós teremos. Se você vai na Argentina você vê. Compara os táxis da Argentina com os de Santa Catarina. [Os nossos táxis são melhores?] Meu Deus, dão de 10 a zero. Hoje a gente tem o prazer de estar com os turistas porque ele também me traz ideias novas. Certo? Você não dá ideia nova, mas ele lhe traz ideia nova. Então você fica querendo saber onde ele teve. Você tá aprendendo coisas de fora que você não sabia. O problema é que nós precisamos ter um receptivo cada vez melhor. Deixar o turista descer aqui na praça. Deixar ele à vontade. Não ir lá, chegar e já ir porta a fora. Eu evito isso aí. A minha briga com a secretaria de Turismo toda vida foi essa. O turista sai do navio e já tá a van em cima: A van! A van! A van!... Você não vê o táxi fazer isso. Por que é que eu não quero isso? Eu quero que ele venha pra praça, a praça é bem ampla. Melhorar a praça pra isso. Você vê, tinha aquelas casinhas e já deu uma modificada. O que é que acontecia? Eles vinham, paravam ali, faziam um lanche e coisa e pegavam um táxi. Daí alguém vinha e falava: Ó, vai lá em Cabeçudas, é bonito. Vai lá na praia Brava, é bonito. Entende? Eu acho que o navio nos traz muitas divisas. Pô, são 50 mil que vêm de todo o país. Não é só de São Paulo. Quantos navios vêm de fora? Então, é isso que nós queremos. Pra nós é benéfico. Eu quero que a nossa classe seja cada dia melhor. Eu tô trabalhando pra isso. [O que estaria faltando hoje, então?] Hoje o que falta é da própria secretaria de Turismo. [O que exatamente?] Falta um secretário de Turismo que conheça tudo e tenha como trazer pra esse centrozinho de baixo, aqui, a praça Vidal Ramos, atrativos. Porque o turista só fica se tiver atrativo. Por que é que os turistas querem conhecer só Balneário Camboriú e não querem conhecer Cabeçudas? Porque Balneário já tem outro secretário de Turismo que faz. Diz o que tem e o que não tem. E é o que falta em Itajaí.
RAIO-X
Nome: Orli Antônio Pacheco, o Lico
Idade: 65 anos
Naturalidade: Rio do Sul / SC
Estado civil: Casado
Filhos: Cinco
Formação: 5ª série
Carreira profissional: Taxista, metalúrgico e caminhoneiro
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