Itajaí
Fayal pede para alunos virem vestidos de “favelados do Rio”
Pais se indignaram com a ação da escola e a revolta se espalhou pela internet em todo o Brasil
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]





Dayane Bazzo geral@diarinho.com.br Um bilhete enviado aos pais pelo colégio Fayal, de Itajaí, pedindo que os alunos do 4º ano se fantasiassem de “favelados do Rio de Janeiro”, causou polêmica e debate nas redes sociais. O caso foi postado na internet pelos pais de um aluno, que ficaram revoltados e entenderam que a escola foi preconceituosa. A direção do Fayal admitiu o erro, mas afirmou que não agiu com preconceito ou reforçou estereótipos. A foto com o bilhete enviado aos pais foi postada nas redes sociais pela jornalista Elaine Mafra, 35 anos, pelo marido, o design gráfico Willian Domingues, 34 anos, e pelo professor de judô das crianças, que teve acesso ao aviso da escola e também ficou indignado. Em pouco tempo as postagens causram revolta entre os internautas. A maioria achou a instituição preconceituosa. “É triste perceber que esse tipo de preconceito, que eu tanto abomino, está sendo ensinado para nossos filhos dentro da escola. São preconceitos como esse que geram os estereótipos, que por sua vez causam a discriminação e arruínam a vida de tantas pessoas”, diz a postagem feita pela jornalista. Elaine conta que o filho de nove anos, aluno do Fayal, não quis participar do evento promovido pela escola e que vai acontecer no sábado. Por isso, ela não recebeu o bilhete, mas ficou sabendo do pedido através de uma postagem em um grupo de WhatsApp. Grupo dos pobres e dos ricos “O figurino para a nossa apresentação na Festa da Integração será: Você virá caracterizado de FAVELADO DO RIO DE JANEIRO”, pedem as professoras. Segundo Elaine, a turma foi dividida em dois grupos. Um deles teria que ir de bermuda, chinelo, óculos escuros e boné, representando os favelados. O outro vestido de médico, advogado e empresário, para representar a outra parte da cidade. A mãe do aluno ficou pasma. “Eu fiquei revoltada e decepcionada com o colégio. Uma favela é um universo e tem milhares de pessoas diferentes. Há esse estereótipo que favelado é bandido e eles estão fortalecendo isso. Não foi só o termo usado, mas a forma como eles estão tratando o tema”, avalia Elaine. A indignação do pai pelo Facebook “Desde quando FAVELADO é fantasia? Eu nasci em uma favela, cresci na periferia de São Paulo e ainda assim não sei que traje é esse de “favelado”. Sempre ensinamos os nossos filhos a não terem nenhum tipo de preconceito e não julgar as pessoas pelo que elas vestem ou tem, mas sim pelo caráter. Fazemos o impossível, trabalhamos duro para colocá-los em uma escola particular, para que tenham um ensino melhor do que o que o governo oferece e aí chega um bilhete desse na agenda? Meu filho explicou que a turma do 4o ano foi dividida em duas classes sociais para a festa de integração da escola, de um lado os favelados do Rio de Janeiro, que é pra irem de bermuda, chinelo, óculos escuros e boné (*pasmem, eu me visto assim) e a outra metade vestida de médicos, advogado e empresários, para representar a outra parte da cidade. Conheço muitos moradores de favela, amigos meus, que são trabalhadores, empreendedores, professores, advogados, policiais, bombeiros e por aí vai! Lamentável e não podemos aceitar tamanha falta de respeito. Orgulho do meu filho, que optou por não participar da festinha! #vergonha.” (*Willian Domingues, designer gráfico, pai de aluno do Fayal, morador do Cidade Nova e nascido em periferia) Virou polêmica nas redes sociais Nas redes sociais, as opiniões se dividem. Muita gente ficou revoltada com a atitude da escola. Por outro lado, há quem achou a indignação dos pais exagerada. “E sério isso? Morei no Rio por oito anos e lá andam vestidos como aqui, pobres como pobres e ricos como ricos. Agora me admira um colégio fazer esse tipo de colocação e depois falar em inclusão, só se for inclusão de preconceito”, comentou a internauta Helena Vargas, . Já Viviana dos Santos não viu problemas na fantasia de favelado. “Se pediram para se vestirem como a favela do Rio é porque eles têm um jeito de se vestir. E se pedissem para virem com bombacha ofenderia os gaúchos. Esse povo que se ofende por qualquer coisa, tem que procurar o que fazer”, postou. Até gente famosa respondeu à postagem de Elaine. O rapper MV Bill comentou no Instagram: “Lamentável isso numa instituição de ‘ensino’”. Fayal admite erro, mas nega preconceito A direção do colégio se manifestou e pediu desculpas nas redes sociais. Diz que a atividade foi baseada na interpretação da música “Alagados”, da banda Paralamas do Sucesso, que, entre outras, cita a favela da Maré, no Rio de Janeiro. Os alunos terão que se apresentar caracterizados de acordo com a música. “Não viemos criar muros e sim trabalhar e expor estes movimentos de cidadania e inclusão”, diz a nota. A diretora Fabiana Almeida afirma que a atividade proposta é de caráter inclusivo e social, mas admite que foi um erro o que tá escrito no bilhete. “Houve um sério equívoco no bilhete enviado às famílias e que separado do contexto a que pertencia tornou-se inaceitável”, disse. No esclarecimento, a direção reforça que a instituição não aceita racismo, xenofobia, homofobia ou qualquer intolerância. “Nossos 55 anos de história atestam esta postura”. Para antropóloga, ação do Fayal foi preconceito, sim A antropóloga Micheline Ramos de Oliveira, do curso de mestrado da Univali, também avalia que o Fayal errou ao propor que os alunos se fantasiassem de “favelados”. Para Micheline, a escola está reforçando o preconceito e os estereótipos. “Escola é um local de educação e ela se legitima quando lida com as diferenças e andamos de mãos dadas com os direitos. Mas quando você fala que tem que se fantasiar, ela está supondo a maneira de se vestir da favela”, diz. Esta não é a primeira vez que uma escola reforça preconceitos no país. No início deste mês, o colégio da fundação Evangélica de Novo Hamburgo/RS, promoveu um recreio com o tema “Se nada der certo!”. Os alunos foram incentivados a vir vestidos de profissões pouco rentáveis para simbolizar sua situação caso não passassem no vestibular. Atendente de lanchonete, faxineira, babás, estavam entre as “fantasias” que os alunos vestiram. O recreio temático provocou revolta na internet e um debate sobre o preconceito social no Brasil.