Que a facção primeiro Grupo Catarinense (PGC) tá tentando dominar o submundo do crime na região, ninguém duvida. Prova disso os agentes da divisão de Investigações Criminais (DIC) do Balneário Camboriú encontraram ontem: recolheram uma carta manuscrita que seria o estatuto da organização. A apreensão do material rolou durante o cumprimento de dois mandados de busca e apreensão feitos na vizinha Camboriú. Em uma das residências havia vários uniformes de presidiário e uma carteira de identidade falsa. Em outra casa a polícia encontrou uma pistola israelense de 9 milímetros, que é de uso restrito das forças de segurança. Robson Amauri Gulchinski, 22 anos, foi preso em flagrante pelo porte ilegal de arma e agora tá sendo investigado como membro do PGC.
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As investigações que levaram até as casas que ficam nas ruas Monte Fuji e Monte Caracol, no loteamento Conde Vila Verde, no bairro Monte Alegre, começaram a partir da prisão de três traficantes ...
As investigações que levaram até as casas que ficam nas ruas Monte Fuji e Monte Caracol, no loteamento Conde Vila Verde, no bairro Monte Alegre, começaram a partir da prisão de três traficantes em 9 de maio, em Itajaí. Naquela operação também foram encontrados três quilos de maconha. A partir daí, os tiras da DIC conseguiram dois mandados de busca e apreensão nas casas de gente ligada à quadrilha dos traficantes e supostamente ligada ao PGC.
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E não deu outra. Na casa de Giovani Farias Pereira, na rua Monte Caracol, a polícia encontrou o estatuto do PGC, uma identidade falsa e os uniformes de presidiários, que são aqueles pijamas de cor laranja. Giovani não foi encontrado durante as buscas, mas deve ser indiciado por tráfico e formação de quadrilha por conta do documento do PGC. O delegado Osnei Valdir, da DIC, informou que o cara saiu do presídio há pouco tempo, onde cumpria pena também por tráfico. A polícia tenta descobrir, agora, o que ele iria fazer com os uniformes de presidiários.
Robson foi preso em casa, na rua Monte Fuji. Ele vai responder pelos crimes de porte ilegal de arma e receptação por conta da pistola. Mas os crimes de Robson não param por aí. De acordo com o delegado, ele seria um dos mandantes de um homicídio ocorrido este ano em Cambu. O bandido também já foi preso em 2010 por porte de arma.
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O PGC é uma organização séria, agindo sempre discretamente. É o que diz o estatuto da facção
O manuscrito encontrado pelos tiras da DIC e que tá sendo chamado de Estatuto do PGC é um verdadeiro código de leis próprias da bandidagem. Além de definir a forma de organização da facção, o documento também contém regras que devem ser seguidas pela bandidagem. A pena pros integrantes da organização que não seguirem tais leis é a morte.
A polícia não quis divulgar o teor completo do documento, mas o DIARINHO teve acesso a alguns trechos do estatuto. Foi assim que descobriu, por exemplo, que os filiados à organização são obrigados a pagar um dízimo - que hoje seria de R$ 100 por mês.
O documento é escrito à caneta em quatro folhas de caderno universitário frente e verso. Nele, constam desde a forma de ingresso na organização, sempre feita através de um padrinho, passando pela estrutura organizacional, até o desligamento do PGC, que só é permitido se o filiado largar definitivamente o mundo do crime. Caso contrário, só sai da facção morto.
A estrutura tem seis instâncias. O comando é formado por duas delas. O primeiro ministério, é de membros vitalícios, formados principalmente pelos fundadores da organização. O segundo ministério, é também formados por chefões do PGC. A maioria, afirmou um tira, foram enviados em março pra presídios federais fora do estado. Uma terceira instância é o conselho. É formado por 20 membros (10 eleitos entre os membros do primeiro ministério e outros 10 entre os que integram o segundo ministério. É o conselho que repassa as ordens de comando e decide quem vive e quem morre.
Ainda no PGC há os chamados sintonias. É quem faz a ligação com os chefões e as cobranças. Na ponta debaixo estão os filiados ou soldados, todos homens que já puxaram cana e dão o principal suporte financeiro pra organização. São também os autores dos atentados e assassinatos ordenados pelo conselho.
O estatuto é entregue a todo novo membro, que além de pagar o dízimo ainda deve dar 10% do fruto do roubo ou tráfico, caso tenha usado alguma estrutura da organização. Veja a esquerda, alguns trechos da primeira página do estatuto.
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