Itajaí

“Eu devia dar porrada na mesa, mas não é o meu jeito. Mas lá na frente o resultado é positivo”

À medida que a cidade cresce, aumentam também os problemas. Todas as questões ligadas à infraestrutura, planejamento, saneamento, saúde pública e educação recaem diretamente sobre os gestores públicos, que precisam conciliar os diversos interesses da sociedade com a ânsia dos aliados políticos para conseguir cargos e poder. Com 15 partidos fazendo parte da base do governo, a prefeitura de Itajaí volta e meia tem que apagar incêndios e acaba trocando farpas nos bastidores. No Entrevistão desta semana, o DIARINHO conversou com o homem que está no centro disso tudo. No quarto mandato como prefeito, Jandir Bellini (PP) faz uma autoavaliação de seu governo até aqui e fala das expectativas para a metade final do mandato. O alcaide garante que não vai mais disputar cargo público, por isso quer tocar a administração, a partir de agora, sem as amarras políticas com as quais sempre conviveu. Em entrevista concedida aos jornalistas Dayane Bazzo e Victor Miranda, Jandir revela que pretende lavar as mãos nesse processo eleitoral e garante que não vai apoiar ou fazer campanha pra ninguém nessas eleições. As fotos são de Lucas Correia.

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“Hoje o Jandir não tem partido, não tem candidato, não sabe em quem vai votar, não orienta e não aconselha ninguém”

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“Hoje o Jandir não tem partido, não tem candidato, não sabe em quem vai votar, não orienta e não aconselha ninguém”

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“O município de Itajaí com 12 vereadores não ficou devendo nada à sociedade de Itajaí. Então, essa história de querer acomodar mais é sempre um custo maior para a sociedade”

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“Eu não tenho vínculo e não vou ficar subordinado em momento algum à pressão do legislativo”

“Eu assumo a responsabilidade e essa é uma das decepções que eu tenho: não ter criado o instituto [de Planejamento]”

“Eu não tenho vínculo e não vou ficar subordinado em momento algum à pressão do legislativo”

Raio X

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Nome: Jandir Bellini

Naturalidade: Ponte Serrada/ SC

Idade: 66 anos

Estado Civil: casado

Filhos: quatro

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Formação escolar: 2º grau

Experiência profissional: empresário

Experiência política/administrativa: vereador (em Chapecó), dois mandatos como deputado estadual e, atualmente, em seu quarto mandato como prefeito de Itajaí

DIARINHO – O senhor tem pouco mais de dois anos para terminar o quarto mandato frente à prefeitura de Itajaí e muitos projetos que foram anunciados, em algum momento, como prioridade, jamais chegaram a sair do papel. Um deles é o da via Expressa Portuária. Todos sabem da morosidade e burocracia inerentes à realização de obras públicas, mas não há uma parcela de culpa também do seu próprio governo?

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Jandir – É bom deixar claro que as obras da via Expressa Portuária são do governo federal. Cabe ao município a responsabilidade de decretar e avaliar áreas para a desapropriação. O pagamento dos custos das desapropriações também é do governo federal. Os atrasos se devem, sem dúvida nenhuma, às ações do DNIT [departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte], que definiu o contrato, ficou de licitar as outras etapas, marcou tantas datas e até agora não aconteceu. Embora tenhamos cobrado muitas vezes, e não somente a prefeitura, mas as lideranças políticas de todos os partidos também. O próprio Décio Lima [deputado federal pelo PT] por diversas vezes tem nos acompanhado, tem se empenhado e, infelizmente, por questões burocráticas e mudança também na direção do DNIT, e agora mais uma vez no ministério dos Transportes, as obras estão aí estagnadas. É uma obra de suma importância pro município de Itajaí, mas que foge da decisão do poder municipal. [Então, o senhor acredita que a parte do município, no que diz respeito à cobrança, articulação e avaliação para as desapropriações está sendo feita?] Tem sido feita essa cobrança, e o engenheiro Amarildo Madeira foi designado para acompanhar esse processo. Ele é um funcionário de carreira do município. Tem conhecimento de todos os detalhes, e essa questão tem sido cobrada religiosamente.

DIARINHO – No início do seu atual governo, o senhor anunciou que este seria seu último mandato na vida pública e que, por isso, atuaria de forma mais enérgica e pouco preocupada com as questões políticas. Isso, contudo, até agora não se demonstrou. Seu secretariado foi fatiado entre os partidos da base aliada e carece de técnicos, inclusive em pastas tidas como estratégicas. Por que o senhor optou que as secretarias fossem tocadas por aliados políticos e não por técnicos?

Jandir – Quando nós fizemos o nosso planejamento para as eleições de 2012, nós fizemos um acordo político com os partidos. Cada partido teria a sua participação no governo, e nós tivemos que cumprir. Esta participação política sempre vai ter, mas dentro de critérios técnicos. Os cargos ocupados hoje no governo são ocupados por pessoas técnicas. Boa parte do governo está sendo ocupada por profissionais de carreira do município. Se nós olharmos as secretarias da Fazenda, secretaria de Desenvolvimento Urbano, secretaria da Administração, Coordenadoria de Planejamento e Orçamento, Coordenadoria de Engenharia, inúmeras diretorias técnicas são comandadas por profissionais de carreira do município. E também nas demais áreas eu não vejo, assim, nenhuma área que não tenha, pelo menos no comando da secretaria, diretor, gerência, que não tenha no comando pessoas qualificadas. Esse compromisso foi atendido, e a partir de agora, o governo será conduzido de uma forma produtiva. Quem não produzir, quem não trouxer resultado dentro dessa minha proposta de que será meu último governo, minha última participação política e com o compromisso somente com o povo de Itajaí e mais ninguém, nós vamos tirar do governo.

DIARINHO – Em entrevista concedida ao DIARINHO no ano passado, o senhor dizia que a maior dificuldade era a própria composição do governo, por ter que agradar aos anseios dos 15 partidos que compuseram a sua coligação e ainda os 17 vereadores que fazem parte da base aliada. É possível fazer um bom governo com tantas amarras políticas e grupos ansiosos por cargos na prefeitura?

Jandir – Eu reconheço que nós demoramos muito pra fecharmos essa questão política, mas chegou o momento de dizer que cumprimos o compromisso político assumido em 2012. Os partidos foram atendidos, o governo está formado, quero concluir o mandato com a equipe que aí está, com resultados. Mais uma vez, me refiro com resultado à comunidade e se assim não for, a questão política não vai me prender. E vamos tocar o governo dessa maneira.

DIARINHO – A partir do aumento do número de cadeiras no legislativo de Itajaí, o trabalho entre a câmara e a prefeitura ficou melhor ou pior?

Jandir – Eu estou no meu quarto mandato. Eu já administrei Itajaí com 21 vereadores e com 12 vereadores. O relacionamento do meu governo com o legislativo sempre foi de independência. Embora se diga que o governo encaminha pra lá, que leva o legislativo, eu, em nenhum dos quatro mandatos, eu nunca me dirigi ao legislativo pedindo que votasse a favor ou contra um projeto que encaminhei. Eu sempre dei toda a liberdade. Nunca pedi a um vereador da situação ou da oposição que na composição da mesa votasse neste ou naquele candidato. Eu nunca interferi no legislativo e nunca vou interferir. [Nem mesmo nos bastidores, conversando com os vereadores da base?] Nem mesmo nos bastidores. O Pissetti [Luiz Carlos Pissetti], ex-presidente da câmara de Vereadores e hoje secretário municipal, é meu amigo pessoal, assim como o Gern [Osvaldo Gern, atual presidente do legislativo], também é meu amigo pessoal. Houve a eleição, mas eu nunca interferi na eleição pra presidente da câmara, como agora não interferi na eleição do Gern. E não vou interferir no final deste ano, quando terá a nova eleição para o próximo exercício. Porém, eu entendo que o legislativo tem a responsabilidade de analisar os projetos que são de interesse da sociedade. E aquilo que é bom pra sociedade é aprovado, e aquilo que não é bom é rejeitado. Cabe ao executivo mandar para lá somente os projetos que vão ao encontro do interesse da sociedade. Quando esse projeto for de interesse pessoal do governo ou de um partido do governo, eles têm o dever e a obrigação de rejeitar. É dessa maneira que eu vou conduzir. Então, eu não tenho vínculo e não vou ficar subordinado à pressão do legislativo. Eles agem da maneira como entendem melhor. [Como relação a esse aumento do número de vereadores, de 12 para 21 vereadores, os próprios vereadores já se manifestaram dizendo que é um número muito grande de parlamentares na câmara. Por isso, chegaram até a criar uma comissão interna pra estudar a possibilidade de diminuir esse número. Não é muito vereador para uma cidade com o porte de Itajaí?] Eu não falo do número de vereadores. Eu falo de um modo geral, em todos os legislativos. O legislativo custa muito caro para a sociedade. O municipal, o estadual e o federal. Eu acho que ele poderia ser mais enxuto. Como o executivo também deveria também ser mais enxuto. Eu não quero me isentar dessa questão. Eu acho que quanto mais leve o poder, mais resultado, mais fácil de conduzir. Nós temos um governo, de modo geral, e aí inclui todos os poderes, muito pesados. Eu sou a favor da redução de modo geral. O município de Itajaí com 12 vereadores não ficou devendo nada à sociedade de Itajaí. Então, essa história de querer acomodar mais é sempre um custo maior para a sociedade.

DIARINHO – Muitas críticas recebidas pelo governo têm como pano de fundo a questão do planejamento urbano ou o que seria a ausência completa dele em Itajaí. Mobilidade urbana, transporte coletivo, carência de ciclovias, obras questionáveis, são alguns dos exemplos. O senhor chegou a cogitar a criação de um instituto que seria responsável por pensar e planejar o crescimento de Itajaí, através de estudos e projetos promovidos por técnicos, independentemente dos interesses políticos de algumas secretarias. Essa experiência deu certo em algumas cidades grandes, como Curitiba, por exemplo. Por que foi arquivado o projeto de um instituto de planejamento urbano em Itajaí?

Jandir – Concordo! Eu sempre sonhei com a criação de um instituto independente, apolítico, e um instituto que não fosse de um governo, mas sim do município, que fosse uma coisa perene. Como nós conseguimos implantar agora, por exemplo, a defesa Civil. Mas foi muito difícil. Nós estudamos, reunimos técnicos, houve proposta daqui e dali. O que acontece no nosso país é que cada governo pensa apenas no seu governo. E aí, quando você começa a planejar, vêm os interesses pessoais e os interesses da própria sociedade. Quando você planeja uma cidade, vamos falar da nossa, e você diz que a rua Heitor Liberato tem que se tornar uma avenida. Há a necessidade de desapropriar um dos lados da Heitor Liberato. Aí, você faz a pergunta: Qual lado? O esquerdo ou o direito? Os proprietários dos imóveis do lado esquerdo dizem que tem que ser do lado direito, e os do lado direito dizem que tem que ser do lado esquerdo. E quando vai ser desapropriado? Aí, você impede que ali se construa. Eu estou falando da Heitor Liberato porque eu vejo que seria, assim, um dos acessos ao centro de Itajaí que seria uma continuação da Adolfo Konder. Seria um espetáculo. Você sai da BR-101 diretamente para o centro de Itajaí. Então, este é o grande problema do Planejamento. Nós planejamos e executamos agora o projeto executivo da perimetral oeste. Com recursos assegurados, entre aspas, resultado de uma compensação, da resolução 13 do senado, o governo do estado bancaria a obra, o município contratou a empresa, fizemos um projeto executivo que viria alimentar a via expressa. Com essa obra, nós tiraríamos totalmente o tráfego pesado das ruas de Itajaí, porque através dela nós alimentaríamos a região norte e alimentação da região sul até a via portuária. O recurso não vem, é uma das minhas decepções. Hoje pela manhã [a entrevista com o prefeito foi realizada no dia 9 de julho], eu ainda recebi o proprietário de um dos imóveis, que tem um projeto pra construir e nós não desapropriamos o imóvel, porque não temos o recurso, e não liberamos o imóvel pra que ele possa construir. E aí vem a questão. Tu tiras o direito de propriedade desse senhor, desse proprietário. Então, o que precisaria era que o poder público tivesse esses recursos e dissesse: “Nós vamos fazer da Heitor Liberato uma avenida. Então, tá aqui o recurso, indeniza, cada proprietário pega o seu dinheiro e vai fazer aquilo que bem entender. Mas, infelizmente, a nossa realidade é outra. Eu recebo aqui cidadãos que vêm com o mapa e dizem: abre uma avenida aqui. E aí eu pergunto: “E o dinheiro pra indenizar”? Se nós não temos nem recursos pra abrir a Alberto Werner pra sair na rua Brusque? Se nós não temos recursos pra fazer a continuação da Uruguai, pra ligar com a Alfredo Trompowski? Que já aliviaria ali uns pontos. Precisamos, ainda, desapropriar pra ligar ali a Franklin Pereira com a Getúlio Vargas e a Contorno Sul, que também aliviaria o tráfego. [Mas, prefeito, essa ideia de criar um instituto de Planejamento, onde parou? Por que essa conversa não prosseguiu?] Olha, eu não consegui bater o martelo a favor dessa ou daquela corrente técnica. Eu reuni uma comissão técnica de engenheiros e arquitetos, que envolveu o Crea e arquitetos da iniciativa privada, arquitetos tradicionais de Itajaí com a área técnica da prefeitura, que tem engenheiros e arquitetos de carreira. E vieram na minha mesa diversas propostas. Mas uns diziam que seria mais um instituto, sem ação, sem resultado, mais no sentido de que iria criar cargos comissionados e que não teria poder nenhum. Outros diziam que seria, assim, um elefante branco também. E o tempo passou e eu não tomei a decisão. E olha, fomos buscar projetos de Curitiba, de Joinville, de Florianópolis, e eu não sei mais de onde que os nossos técnicos foram buscar. E está aí, pelas gavetas, e não saiu. Eu assumo a responsabilidade, e essa é uma das decepções que eu tenho... Não ter criado o instituto, que já tinha até nome: instituto Municipal de Planejamento Urbano Lito [Carlos de Paula] Seara. Queria homenagear o nosso ex-prefeito, mas não foi possível. Mas, quem sabe, o nosso próximo prefeito ainda possa realizar isso, que eu acho importante para a cidade de Itajaí.

DIARINHO – Muito se falou na criação de um distrito de Inovação em Itajaí, que seria um distrito industrial construído para abrigar empresas tecnológicas e estratégicas e que seria instalado na Itaipava. O projeto parece não ter deslanchado ainda. O que está acontecendo nos bastidores?

Jandir – Então, isso já tem dois anos. Agora, nós licitamos a sede da Inova, que vai abrigar o banco BRDE, o Badesc e a sede da Inova. Houve a participação de duas empresas. Uma delas foi desclassificada, porque apresentou documentação vencida, e a outra apresentou valor. Aí, vem a questão da burocracia, apresentou valor de 80 mil reais acima do valor limite do edital. E a empresa não reduziu, e aí houve uma recomendação no tribunal de Contas pra anular a licitação e fazer uma nova. Já foi lançado um novo edital, e vão mais 90 dias pra ter esse resultado. E isso tudo deixa a gente cansado. Dá vontade de desistir de tudo e fazer daquela área um outro tipo de empreendimento. Mas eu ainda acho que o Inova sai do papel e inicia, porque é um bom projeto pra Itajaí. Nós já temos empresas interessadas em fazer os investimentos. [Mas o senhor acredita que até o final do seu mandato o Inova saia do papel?] Se agora essa licitação der certo, sim. E o que me chama muito a atenção é que esse projeto, que é uma obra de 3600 metros quadrados, é um projeto que foi elaborado não só pra Itajaí. São oito projetos idênticos pro estado; foi feito pelo governo do estado por uma empresa espanhola, muito bem feito, com detalhes do projeto, memorial descritivo em 3D, poxa, é super detalhado o projeto todo, e assim mesmo teve problema da licitação. O edital foi supervisionado pelo tribunal de Contas, elaborado pelo estado, nós simplesmente publicamos e tivemos problemas. Então, você imagina aqueles projetos paisagísticos. Eu espero que agora possa dar certo e que essa obra possa ter início ainda este ano. Iniciando a obra, aí as coisas começam a andar mais rapidamente, porque daí foge, sai da decisão do poder público e passa para a decisão da iniciativa privada. E quando vai para a iniciativa privada, a coisa vai mais rápido.

DIARINHO – O senhor tentou unir a base do governo em torno de um único candidato a deputado estadual nessas eleições. Defendeu isso até bem pouco tempo atrás. O discurso mudou quando a vice-prefeita Dalva Rhenius (PSB) foi a melhor colocada numa pesquisa que sondou as intenções de voto. O senhor ficou com receio de se indispor com outros aliados que queriam fazer parte da disputa eleitoral? Foi o senhor que pediu a Dalva que abrisse mão da candidatura?

Jandir – Essa candidatura fazia parte de um acordo político firmado em 2012 e o processo seria este, não seria uma escolha do prefeito ou de um partido político, seria uma escolha através de uma consulta à comunidade, e a Dalva foi a escolhida. Porém, no andar da carruagem houve, da própria Dalva, uma incerteza quanto à candidatura, mudanças de siglas partidárias, incertezas quanto ao processo político a nível estadual, que criou todas essas diferenças e manifestações de lideranças daqui e dali, e a Dalva tomou uma decisão e eu também decidi. Nesse contexto todo, eu observei uma coisa que me chamou atenção e que eu estaria cometendo um grande erro. Um erro que talvez tenha sido cometido lá no passado, com uma liderança política do município de Itajaí; tudo se decidia em torno dela, pelo menos por parte dos partidos que compunham o governo, em função daquilo que o prefeito queria. Estava acontecendo isso agora também, ou seja, as pessoas diriam “eu sou candidato se o Jandir me apoiar. Eu deixo de ser candidato se o Jandir me pedir. Se o Jandir botar a mão no ombro, eu me elejo. Eu sou leal ao Jandir”. Tem depoimentos assim que me deixaram feliz pela lealdade das pessoas, porém, essa responsabilidade estava recaindo sobre meus ombros e, com isso, estava se deixando de criar novas lideranças. Ficava tudo em torno da liderança do prefeito, e eu analisei e achei por bem me retirar de todo o processo, me isentar desse processo todo e deixar que cada um possa fluir de acordo com a própria vontade, ou seja, que possa andar com suas próprias pernas, mostrar a sua liderança dentro da sua potencialidade, mostrar o seu projeto político e buscar o seu espaço. Então, hoje o Jandir não tem partido, não tem candidato, não sabe em quem vai votar, não orienta e não aconselha ninguém, nem permite que envolvam o governo. Quando essas pessoas estão em atividade funcional, que falem em política, ou que usem o cargo pra fazer política, não importa pra quem. [Então, o senhor está lavando as mãos com relação a este processo eleitoral?] Eu diria que este é o termo. Depois das 18 horas, se eles [pessoas com cargo na prefeitura] quiserem ir bandeirar na esquina, podem ir. Lá, ele é o cidadão fulano de tal, com o partido que ele quiser. Não é por isso que ele vai sair do governo, perder o cargo ou coisa assim. Agora, se durante o trabalho ele der uma canetada em função de um voto a favor de A, de B ou de C, aí ele sai do governo. Então, esta é a posição do Jandir. Eu diria assim, que o Jandir tem um partido, um partido que me acolheu há 20 anos e que me deu muito carinho, que me recebeu, que me deu quatro mandatos de prefeito, que me deu dois mandatos de deputado e que eu quero permanecer fiel a ele até meu último dia de governo, que é o partido de Itajaí. Este é meu compromisso até 31 de dezembro de 2016.

DIARINHO – As eleições estaduais apresentam um quadro muito tenso e complexo. O senhor, a princípio, tem uma boa relação com o governador Raimundo Colombo, mas o seu partido, o PP, fechou de última hora com a coligação de Paulo Bauer (PSDB) e Paulinho Bornhausen (PSB). Quem são os seus candidatos para o governo do estado, governo federal e para o senado? O senhor pretende fazer campanha abertamente para os seus escolhidos?

Jandir – Se eu tô declarando que eu não tenho partido, não tenho candidato e que o meu papel é um só, que é Itajaí, eu não vou me manifestar. E quero deixar claro: não é por decepção, não é por revanche. [Não existe uma decepção do senhor nesse processo?] Não, não existe, não tenho nada, até porque a minha posição foi tomada antes da decisão política das coligações do estado. Eu diria que ela devia ter sido tomada bem antes, mas eu ainda tomei oito dias antes, no sábado que antecedeu. É uma decisão pessoal até pra que cada um possa seguir o próprio caminho.

DIARINHO – No mês de maio, uma sobrinha do senhor se casou com um filho do ex-prefeito e deputado estadual Volnei Morastoni (PT). Essa união das famílias Bellini e Morastoni pode refletir no campo político também?

Jandir – Não fui eu que casei [Risos]. Foram dois jovens que se encontraram, se gostaram e que se casaram. [Mas as famílias são adversárias históricas de 20 anos...] Adversários políticos sim, mas eu nunca fui inimigo do Volnei e acredito que ele também nunca foi meu inimigo. Fomos adversários políticos, mas sempre conversamos. Aliás, eu não tenho inimigos: eu tenho adversários políticos. Eu nunca falei das pessoas, nem na época em que fui adversário do prefeito Arnaldo Schmidt, nunca falei da pessoa do Arnaldo Schmidt; nós falamos de propostas. Ninguém tem um depoimento meu pessoal de que o fulano não presta ou o fulano é isso, o sicrano é aquilo. Essa questão do casamento da minha sobrinha [Keity Bellini] com o Lucas [Morastoni], tenho pelo Lucas uma grande admiração, como diz o caboclo: “é um baita cara”. Então, não interfere em nada politicamente, isso não separa e também não aproxima, isso é independente.

DIARINHO – Recentemente, um servidor foi punido administrativamente, com afastamento de um mês, por manter um blog onde ele faz críticas à sua administração. Essa iniciativa partiu do senhor?

Jandir – Primeiro, eu não leio blog de ninguém. Segundo, eu não ligo pra isso. Eu só tomei conhecimento quando esse fato veio pra imprensa. Isso foi uma decisão da própria administração, da procuradoria que, dentro da ética, dentro daquilo que cabe à administração, fez uma sindicância. Não me pergunte quem fez parte da sindicância, eu não procurei saber, até porque eu não dou bola pra essas coisas. Isso é a vontade de cada um. Se falam ou não falam, tanta coisa o povo fala de mim aí, que eu nem tenho conhecimento, que eu nem dou bola. [A grande crítica a esse processo é o fato de que o servidor público se manifestava fora do horário de trabalho no blog e foi punido administrativamente. O senhor acredita que esta decisão foi acertada?] Eu não sei o motivo, só sei que houve essa decisão aí. Tem lá a justificativa, não vou me manifestar a respeito disso porque, primeiro, precisava conhecer o assunto e não procurei saber, até porque eu sou contra esse tipo de coisa. Eu nunca deixei de atender uma pessoa aqui porque é desse ou daquele partido, nunca procurei saber, nunca deixei de dar um cargo pra A ou pra B por causa de partido político.

DIARINHO – Olhando de fora, parece que alguns secretários do seu governo têm mais força política do que outros, pois gozariam de carta branca do senhor. Dentro da sua equipe, há os que “se mandam”?

Jandir – Não. Aí, cabe a cada um. Liderança é liderança. Há aqueles que demonstram mais resultados, que vão em busca, que tomam iniciativa. Dentro de uma administração, às vezes na própria família, nós somos marido e mulher, dois ou três filhos e tem um filho que se sobressai sobre o outro. Então, tu imaginas dentro de uma administração pública. Um secretário se sobressai mais do que outro. Um se sobressai mais no falar, na mídia, o outro se sobressai mais na ação, no trabalho, no dia a dia, lá junto com o cidadão. E o outro fica com medo de tomar a decisão, mas não é porque ele tem menos poderes, pois cada um tem o seu orçamento, tem a sua atividade. Todos têm o mesmo acesso, encontro na rua, falo, não deixo de receber ninguém, meu telefone fica 24 horas ligado. Aliás, eu tenho que aprender a desligar um pouco também pra poder descansar.

DIARINHO – O senhor tem um estilo conciliador que o tornou muito carismático e, de certa forma, possibilitou que vencesse as várias eleições que disputou. Mas há quem critique que o seu jeito diplomático o impediria de comprar algumas “brigas necessárias”. O senhor tem dificuldades para mandar?

Jandir – Sou uma pessoa que busco sempre o entendimento. Eu acho que o melhor resultado é sempre o diálogo. O bom entendimento é a maneira de perder menos. Isso tem me tomado muito tempo, às vezes tem me deixado até um pouquinho irritado, porque há nas pessoas um desejo de poder, de individualismo, de procurar prejudicar os outros. E no serviço público, isso está muito presente, por questões políticas, às vezes por coisinhas insignificantes. É ruim, o resultado é negativo pra sociedade, isso corrói as pessoas. A pessoa que trabalha olhando pra um colega do outro lado da mesa com ódio acaba prejudicando a própria saúde, não produz, não se sente bem. Então, poxa, joga isso pra fora, deixa as coisas pra lá, vai lá, abraça, sorri, cria aquele ambiente agradável e não um ambiente tenso, fala de amor e não de maldade. [O senhor tem dificuldades de lidar com essas situações dentro da administração?] Eu tenho sido muito juiz de paz aqui e tenho tido dificuldade comigo mesmo... Como diz o outro, eu devia dar porrada na mesa, mas eu não consigo, porque é o meu jeito, mas lá na frente o resultado acaba sendo positivo por não ter dado a porrada na mesa. É o meu jeito, cada um de nós tem a maneira própria de ser.

DIARINHO – Vamos citar duas questões polêmicas sobre as quais o prefeito ainda não emitiu opinião publicamente. A primeira: o que o senhor acha da ocupação da praça do museu histórico pelos camelôs, mesmo depois da recomendação do MP para que saiam dali?

Jandir – Primeiro, a ocupação de um espaço público e, principalmente, de uma praça, traz prejuízo à sociedade. Mas no caso do comércio do camelô, que está ali há 30 anos, a coisa foi passando, o ministério Público já vem há muitos anos se manifestando, agora o MP nos deu um prazo, esse prazo já foi adiado por diversas vezes e os camelôs, a grande maioria, são pessoas relacionadas com a gente, até com amizade, e eu entendo que o prazo pode ser dilatado mais uma vez, mas eles vão ter que sair. O MP pode abrir um processo de improbidade administrativa. Se não sair no governo do Jandir, no próximo governo sai, tem que sair; pode preparar o advogado. [A prefeitura tem um plano pra que eles possam se instalar em outro lugar?] Acontece o seguinte: eu respondo, inclusive, uma ação mais ou menos nesse sentido. O MP vê que tudo o que o poder público faz tem que fazer dentro do princípio de que todos são iguais. Então, se o poder público der um espaço pro camelô, ele tem que dar pra sociedade de um modo geral. Por que nós respondemos um processo junto à Justiça? Porque nós, no final do ano, dávamos um brinde pros servidores, vocês lembram? Falavam do peru do Jandir, aquela coisa toda. Nós estamos respondendo um processo, eu, o prefeito Volnei Morastoni, todos os prefeitos que doaram. Por quê? Porque se o poder público, com o dinheiro público, dava pra um funcionário público esse brinde, o MP entende que tinha que dar pra todos os cidadãos, pois todos têm o mesmo direito perante a lei. É o caso do camelódromo, é o caso do mercado do Peixe, é o caso do táxi, é o caso do mototáxi e tantos outros, como lanchonetes e outros estabelecimentos que estão em praças. É claro que tudo isso não se resolve de uma hora pra outra, então tem que analisar, mas hoje o assunto é o camelódromo. E aí vem a questão: o que o poder público pode fazer pra facilitar a retirada? O município pode comprar uma área, elaborar um projeto, o município pode fazer a infraestrutura? Agora, comprar uma área, a não ser que o legislativo, porque o legislativo tem o poder também, o município possa adquirir e através de um projeto de lei, o município autorizar a desapropriação para doação. [A história ainda é mais complexa, porque algumas bancas do camelô são alugadas, gente ganhando aluguel de uma área pública...] Agrava ainda mais, porque há uma exploração em cima de um bem público, terceirizando o negócio. Quer dizer, não é a ocupação do bem público pra sobrevivência, mas sim pra explorar financeiramente com o trabalho de terceiros. Mas tá na procuradoria, tem uma ação, tem um prazo, eu cumpri a recomendação do ministério Público, foi dado um prazo, tá havendo uma negociação, o advogado que a associação contratou tá conversando, vamos ver se a gente chega num entendimento para que não haja uso da força e que todos da sociedade possam ganhar; eles também.

DIARINHO - A segunda pergunta: Balneário Camboriú está há várias décadas despejando o lixo em Itajaí sem oferecer qualquer compensação à cidade. O que seu governo fará depois do fracasso do acordo que chegou a ser ensaiado entre as duas cidades?

Jandir - Já abrimos uma ação. O município já entrou com uma ação dando um prazo pra que Balneário Camboriú apresente uma solução e que apresente uma proposta de uma compensação financeira. [O senhor chegou a conversar algumas vezes com o prefeito Periquito sobre isso...] Nós conversamos aqui diversas vezes, estamos buscando uma solução. O aterro de Itajaí hoje tá dentro do que a legislação ambiental recomenda, já estamos gerando energia elétrica através do aterro, e o que Balneário Camboriú também tá propondo é que se faça um projeto conjunto, os dois municípios, e que isso possa atender a região depois. Mas ainda tá na fase de proposta. O prefeito Periquito nos convidou pra fazer uma viagem aos Estados Unidos e ao Canadá para visitarmos lá o sistema de tratamento de lixo, tanto na área de reciclagem quanto no lixo orgânico, mas esse sistema que tá sendo feito aqui também já atende. Está sendo estudada uma forma para atender, e eu acho que se houver um consórcio dos 11 municípios da Amfri, todos eles vão ganhar, porque vai baixar o custo operacional e também ambiental. Vai ter um resultado financeiro e ambiental com relação a essa questão do lixo, que não deve parar só nisso, deve ir pra tratamento de esgoto, pro sistema d’água, deve ir pro transporte coletivo, uma série de atividades que podem ser consorciadas e, com isso, distribuir os custos de uma maneira mais favorável a todos.

DIARINHO – Uma das marcas da sua administração foi a redescoberta da vocação náutica de Itajaí. Desde a Volvo Ocean Race, Itajaí passou a sediar vários eventos de vela ou ligados ao mundo náutico. O que esperar da nova etapa que Itajaí vai abrigar ano que vem?

Jandir – Nós temos por obrigação fazer melhor do que a primeira. A primeira nós não sabíamos nem o que era, o que que isso representava em termos de benefícios pra cidade e até de projeção da cidade a nível mundial. Hoje, nós já temos conhecimento. Eu me lembro sempre de uma frase da prefeita de Alicante [na Espanha], quando ela nos disse que o sucesso da etapa da Volvo em Itajaí estava muito ligado ao envolvimento da comunidade, que se nós não conseguíssemos envolver a comunidade, o povo de Itajaí, provavelmente o evento seria um fracasso, e lá em Alicante o sucesso tinha sido em função disso. Alicante abraçou o evento e acabou, na etapa seguinte, se tornando a sede da Volvo. Por isso que nós nos empenhamos, procuramos envolver a mídia, pois a mídia tem papel fundamental nessa questão de formar uma opinião junto à comunidade. E eu não tenho dúvida de que o sucesso do evento se deve a esse envolvimento da comunidade. E depois já veio a Jaques Vabre, que também foi um outro sucesso justamente por isso. Oxalá que nós possamos repetir em 2015 mais uma vez esse evento, com sucesso ainda maior. 




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"Eles sonham com a minha vaga. Eu não cometi nenhum crime, eu não fiz nada de errado "

Diz aí, Jorge Seif Júnior!

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Senador Jorge Seif participa do “Diz aí!” desta segunda-feira

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"A ideia é que o parque também tenha acesso pela Praia Brava”

Diz aí, Maria Heloisa!

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