Cheiro de mar, jeito de mato, peixe fresco na bancada e uma profusão de temperos mágicos e pitadas de bom gosto. É neste ambiente que vive o chef internacional Luiz Carlos Serafim, 58 anos, gastrônomo e especialista em enogastronomia que acaba de inaugurar um novo espaço na ponta da praia de São Miguel, em Penha. O Serafims abriu as portas em 13 de junho e é o que se pode chamar de ambiente exclusivo tem apenas cinco mesas e atende somente às sextas-feiras e aos sábados, das 11h30 às 22h30. A vista com angulação de 180 graus de mar aberto nem é o prato principal preparado pelo chef. Ele sabe fazer de uma refeição um tempo sem hora para o mais legítimo deleite de seus comensais.
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Nascido em Brusque e criado em Itajaí, Serafim serviu o exército em Brasília nos anos 1970. Foi lá no planalto Central que misturou os primeiros temperos na cozinha dos oficiais, como auxiliar. ...
Nascido em Brusque e criado em Itajaí, Serafim serviu o exército em Brasília nos anos 1970. Foi lá no planalto Central que misturou os primeiros temperos na cozinha dos oficiais, como auxiliar. Depois disso, fez curso técnico e passou no concurso da Embratel, onde trabalhou por 22 anos como operador de rádio, sediado em Navegantes. Nesse tempo que considera precioso, conversou e aprendeu muito com pescadores, mestres e especialistas em frutos do mar. Me ensinaram bastante, e esse aprendizado foi de grande valia pra eu abrir meu primeiro restaurante, em 1999, conta.
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O Serafims é um ambiente simples na abordagem, se é que se pode chamar assim um lugar onde cada detalhe é pensado, das florezinhas da escadaria à madeira de lei das mesas; da vela derretida nos castiçais à máquina de sorvete recém-comprada; as adegas, as almofadas coloridas, o bambu, o vime. Sofisticação na essência do simples fica melhor. O homem que põe suas digitais no polvo que ocupa quase o menu inteiro, compra a matéria-prima nos barcos dos pescadores ou no mercado de peixe de Itajaí, o maior porto pesqueiro do Brasil.
Ninguém corta meu peixe, ninguém cozinha também. Pra mim, preparar a comida é sagrado. Tenho o maior respeito com o alimento, diz. Salmão e atum frescos sempre tem, sem falar do polvo, claro, pois o carro-chefe é justamente polvo grelhado com batatas coradas e tomates gratinados.
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Sobre as entradas e sobremesas, não adianta querer saber, porque nem o chef sabe o que vai fazer. No dia em que recebeu o DIARINHO, Serafim contou que pegou uns mexilhões ali na frente e fez um sorvete de mel de sobremesa. Também tinha comprado um belo atum e revelou que tem o maior prazer em servir seus clientes com as surpresas que inventa antes do prato principal. Ele [o cliente] se senta e eu vou mandando as entradas. Vai saindo assim, com o movimento da minha alma, conta.
Sobre o futuro, ele acredita que é preciso viver com tranquilidade. Quero viver bem o resto do tempo que me resta. Minha cesta de peras tá terminando, constata o chef, que não pretende parar de trabalhar-cozinhar. Água parada só cria bicho, ensina ele, que viaja todos os anos em busca de novidades.
Pro futuro, só desejo saúde. Do resto, eu dou conta, decreta Serafim, com cara de pessoa feliz. Queria ter estudado mais, acho que não sei nada. Aliás, agora, com essa idade, sei que não sei nada ou sei só de mim, um pouquinho, afirma.