Os fiscais da Cidasc estiveram na empresa por volta das nove horas da matina, juntamente com a polícia Militar. Cerca de 10 funcionários trampavam normalmente. Localizada na rua 963, em pleno centro da Maravilha do Atlântico, a distribuidora Carol Alimentos Ltda atuava com nome fantasia de Cambofrio.
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A distribuidora comprava carne suína e bovina, linguiças, salsichas, hambúrgueres, queijos e iogurtes de firmas da região e revendia para churrascarias, padarias e hotéis da Maravilha do Atlântico. Só que antes de repassar os alimentos, a empresa tirava os produtos da embalagem original e os manipulava, sem autorização, colocando-os em recipientes e saquinhos sem identificação, data de validade ou selo de inspeção.
Muitas carnes e embutidos apreendidos estavam com validade vencida desde março, outros não tinham validade ou qualquer informação sobre o produto e muitos estavam armazenados de forma incorreta. Os hambúrgueres distribuídos pela empresa tinham apenas o selo de inspeção de Itajaí e só poderiam ser comercializados na city peixeira.
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De acordo com a fiscal da Cidasc, Giliane Basco Rizzoli, até o local onde funcionava a distribuidora estava em péssimas condições de higiene. Era um ambiente inadequado para armazenar os produtos, informa. Como se não bastasse a venda de produtos vencidos, a empresa não possuía o selo de inspeção. Ela só tinha um alvará da vigilância Sanitária da prefa que permitia o funcionamento como distribuidora, mas o selo também estava vencido.
De acordo com o gerente da Cidasc da regional de Itajaí, João Carlos Batista dos Santos, o proprietário da Cambofrio, Valério Bordignon, tentou justificar as irregularidades e ainda riu da apreensão. O dono acabou preso. Crime contra a saúde do povão é inafiançável. Só um juiz pode determinar o valor da fiança ou a soltura do cara. Um boletim de ocorrência foi registrado na depê da rua Inglaterra, e o caso será encaminhado ao ministério Público, que deve indiciar as empresas que mantinham negócios com a distribuidora irregular.
As empresas que compram sabem, pois as mercadorias não tem a identificação nos produtos, afirma João Carlos. Ele não soube informar quantos estabelecimentos estão envolvidos na falcatrua, mas falou que pelo menos 20 padarias e churrascarias de renome compraram comida velha.
Segundo João Carlos, a treta era impossível de ser descoberta pelo povão. A padaria compra esses produtos, faz o sanduíche e vende pro consumidor. O consumidor não tem como saber o que tá comendo, alerta. Nestes casos, um simples sanduíche de queijo e presunto pode fazer um estrago e tanto pra saúde. Os alimentos vencidos viram criadouros de micróbios que causam sérios danos à flora intestinal.
Amostras de todos os alimentos apreendidos foram recolhidas e serão encaminhadas para análise em um laboratório biológico de Florianópolis. Os 624 quilos de comida estragada foram para o aterro sanitário da Canhanduba, em Itajaí.
Interditada duas vezes
Depois da apreensão feita pela Cidasc, a vigilância Sanitária de Balneário Camboriú foi comunicada. A distribuidora foi interditada às 10h50. Porém, por volta das 15h, a reportagem do DIARINHO foi até o local e viu que tudo funcionava normalmente. Um caminhão entrava para o carregamento e uma moto deixava o local para mais um serviço, como se nada tivesse acontecido.
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O fiscal a Danilo Dumps Santos confirma que a empresa, mesmo com o dono atrás das grades, estava em pleno funcionamento no período da tarde. Ele teve que autuar novamente o estabelecimento, agora pelo descumprimento da primeira interdição.
Segunda apreensão no mês de agosto
A primeira apreensão de alimentos vencidos rolou no dia 7 deste mês. A empresa Tião Comércios de Produtos Alimentícios, que funcionava na rua Uganda, bairro das Nações, foi fechada e mais de uma tonelada de comida foi apreendida. Queijo, presunto, linguiça e outros frios eram comprados com o prazo de validade vencido. A embalagem era trocada e revendida por uma mixaria para supermercados, restaurantes, hotéis e até hospitais.
Na época, a lista de clientes da distribuidora Tião reunia mais de 100 estabelecimentos da Maravilha do Atlântico, Camboriú, Itajaí, Itapema e Porto Belo.
Sindicato vai puxar a orelha
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O presidente do sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Balneário Camboriú e Região (Sindisol), Alessandro Fondini, informa que vai dar uma puxada na orelha dos donos dos estabelecimentos. Segundo ele, o sindicato não tem condições de fiscalizar os locais e cabe a cada proprietário se atentar ao selo de qualidade e à procedência dos alimentos. O sindicato não tem o dever de fiscal. A gente alerta para que se faça tudo dentro do que é certo, pra não ter problema depois, diz. Ele ainda promete que vai mandar um e-mail para os associados alertando sobre os riscos de comprar alimentos vencidos. Vamos avisar, pois isso é muito perigoso pra saúde. Mas isso vai da cabeça de cada dono, em comprar com o selo de inspeção, afirma.