Itajaí
Vereadora Anna Carolina
Ele [o prefeito] foi omisso. O que acontece na construção civil é de conhecimento público. Ele sabia e nada fez
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Jovem, bonita e bocuda. Anna Carolina Martins [PSDB] chegou à Câmara de Vereadores de Itajaí para fazer oposição e incorporou seu papel. Não deu sossego ao prefeito Jandir Bellini [PP], se destacou e chegou à mesa diretora da câmara. Itajaiense, moradora do bairro São João, construiu com voz forte e seu discurso agressivo o nome na política local e, mesmo com uma breve trajetória na vida pública, já se apresenta como um nome forte a corrida eleitoral: quer ser prefeita de Itajaí. Se a pré-candidata for eleita pelo povo, será a primeira mulher a governar Itajaí. Nesta entrevista à jornalista Franciele Marcon, Anna falou sobre a mudança de partido que lhe possibilitou concorrer à cadeira mais alta do executivo, os problemas que enfrentou na câmara, a saia justa de estar no mesmo parlamento onde há tantos vereadores denunciados pela justiça, o apoio e as negativas que têm recebido dos partidos e sobre o desejo de reconstruir a cidade. As fotos são de Douglas Schinato.
Continua depois da publicidade
A pessoa que acha que vai liderar uma cidade sozinha, já começou errado
Continua depois da publicidade
O vereador é o interlocutor do povo para o prefeito
Raio X
NOME: Anna Carolina Cristofolini Martins
NATURALIDADE: Itajaí
IDADE: 35 anos
ESTADO: solteira
FILHOS: sem filhos
Continua depois da publicidade
FORMAÇÃO: formada em Direito e pós graduada em Gestão de Cidade
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL: advogada há 11 anos, trabalhando na área conflitos de família, relação de consumo e relacionamento familiar; fez parte do Grêmio Estudantil do Salesiano; concorreu a vereadora em 2008, mas não foi eleita; concorreu a deputada estadual em 2010 e não foi eleita; eleita vereadora em 2012 e atualmente é vice-presidente da Câmara de Vereadores de Itajaí
DIARINHO Houve um ensaio para a candidatura de Orlando Ferreira e de Deodato, mas você, recém-chegada ao partido, foi a escolhida como pré-candidata para disputar a cadeira mais concorrida de Itajaí. Como foi essa decisão dentro do partido?
Anna Carolina Não houve uma disputa entre nós três. A minha primeira intenção na política era me manter vereadora, tentar concorrer, ganhar, e depois, quem sabe, uma possibilidade era me candidatar a deputada estadual. Eu fui para o PSDB sabendo da grande representação que o Deodato Casas tinha lá. Eu fui para apoiá-lo. O doutor Deodato teve que optar, em um certo momento, entre a profissão dele, que é médico, ou a política. Nesse momento ele optou pela profissão dele. Por conta disso, abriu essa vaga e as pesquisas me levaram hoje à condição de pré-candidata à prefeitura de Itajaí. [Com o Orlando teve alguma conversa?] Eu que procurei o Orlando. Ele deixou o nome à disposição e, inclusive, se for de interesse do partido, ele pode estar na vice-liderança e concorrer, estamos trabalhando juntos.
Continua depois da publicidade
DIARINHO Uma das críticas de seus opositores é que a senhora não tem experiência executiva. Em tese, Orlando e Deodato teriam essa experiência na vida profissional deles. A senhora se acha capacitada para gerir o município de Itajaí? Como pretende lidar com as críticas?
Anna A pessoa que acha que vai liderar uma cidade sozinha, já começou errado. Não é um prefeito que administra a cidade, é um grupo que está em torno do prefeito. Eu estou muito bem relacionada. Procurei por mestres, formadores de opinião, arquitetos, engenheiros. Eu tenho bons profissionais e eles vão me dar a estrutura necessária. Não estou fazendo isso sozinha. Qual o tipo de experiência que essas outras pessoas têm? Eu não quero ter a experiência de colocar profissionais que, depois de dois ou três meses, saem presos. Não é o tipo de experiência que eu quero. Eu me sinto bem tranquila porque eu não vou fazer sozinha. É o meu grupo! O grupo que a gente formou tem um ideal de reconstruir essa cidade e todo mundo está com o coração aberto para fazer isso da melhor forma possível.
DIARINHO Toda semana um partido divulga apoio a sua pré-candidatura. Caso seja eleita, como pretende atender os interesses desses partidos? Vai distribuir secretarias como fez o prefeito Jandir Bellini?
Anna Não. As pessoas que estão próximas a mim, esses partidos, me deram apoio sem nada em troca. Ai, Anna, isso não é comum. Mas está acontecendo! Essas pessoas estão me acompanhando porque elas foram avaliadas e têm critérios. As pessoas que estão ali vão ajudar a compor, mas porque elas têm alguma capacitação para isso, formação para isso. Ninguém está loteando secretarias. Se a gente tiver esse sucesso, não vai acontecer, em um futuro governo, o que aconteceu no governo Jandir Bellini. O secretário de Educação tem a a ver com educação. O secretário de Saúde tem a ver com saúde. O último secretário de Saúde do senhor prefeito trabalhava na Celesc, depois foi vereador... As pessoas que estão conosco são para ajudar na formação. Não existe loteamento de cargos.
DIARINHO Qual foi o projeto que marcou a sua legislatura como vereadora?
Continua depois da publicidade
Anna Eu gosto muito dele, e por conta do apoio que eu tive da comunidade, eu precisei dela, precisei do apoio da imprensa para passar esse projeto, que é a alteração da lei orgânica que dá à opção para o prefeito de ter duas empresas de transporte coletivo em Itajaí. Essa foi a que mais polemizou. [Foi difícil de ser aprovada, diante do monopólio que temos há anos na cidade?] Como ela tem uma tramitação especial, é preciso coletar várias assinaturas antes de propor o projeto, depois tem que passar por duas comissões e, quando ela vai à votação, em duas votações, ela também tem uma votação especial que tem que ser um número mais expressivo de vereadores, eu tive um tempo para trabalhar isso. E eu fiz isso com a comunidade. Os vereadores se sentiram pressionados por essa situação. O projeto passou, existe essa possibilidade, cabe ao prefeito aceitar isso ou não.
DIARINHO Como é conviver num parlamento onde vários colegas respondem a denúncias e processos de corrupção? Não fica difícil explicar para a população que um vereador é o fiscalizador das leis e dos atos dos gestores municipais se há os que andam fora da linha?
Anna Sim, fica difícil. A situação ali é bastante desconfortável. Eu tenho que dizer, e ser sincera, que já era desconfortável para mim antes. Alguns já tinham essa postura reconhecida. Outros, as pessoas ainda não se atentaram, mas não é o fato de não terem sido encarcerados que garante que não tenham cometido outros desvios de finalidade, para não ser muito agressiva, já que ninguém foi julgado. Não foi o que eu esperava quando eu fui para a câmara de vereadores. Eu gostaria de ter debatido a minha cidade, mas tudo que eu encontrei foram portas fechadas. Os meus requerimentos não passavam, cansei de fazer uso da palavra e ter cerceado esse direito. Algumas vezes fui fazer uso da tribuna e eles se levantavam em forma de repúdio a minha pessoa. Fui denunciada para a comissão de ética porque a primeira vez que eu usei a tribuna, eu disse que os vereadores faziam a vontade do senhor prefeito. Realmente, não era o que eu esperava. E não é o tipo de tratamento que eu quero dar aos vereadores, caso eu obtenha sucesso nessa corrida eleitoral. O vereador é o interlocutor do povo para o prefeito. Ele tem que ser bem tratado, porque o que ele está falando é a voz das ruas, deveria ser a voz das ruas. Estamos em um momento político muito delicado. As pessoas acham que o político, qualquer político, é corrupto. Quando, na verdade, quem deveria estar preenchendo esses cargos são pessoas de bem. A gente tem conversado bastante para incentivar as pessoas que têm experiência, ou vontade, ou garra de fazer essa transformação, de participarem da política. [Essa postura de repúdio mudou quando você virou a vice-presidente da câmara de vereadores?] Totalmente. Eu acho muito engraçado, porque na imprensa dizia que eu estava sempre isolada. Eu cansei de ouvir eles [vereadores] fazerem uso da palavra e falar que pessoas como eu não ganham eleição, mas eles votaram em mim para a mesa diretora sem eu fazer qualquer movimento político, ficando no meu espaço. E, hoje, alguns que falaram isso, que eu não ganharia eleição, estiveram encarcerados e eu sou a pré-candidata do meu partido. Quando eu estava na câmara de vereadores, eu estava para fazer política e não para fazer amigos. [É difícil para um político não se corromper?] Pra mim não foi. Ninguém chegou para mim e ofereceu propina, em nenhuma oportunidade. Eu acho que a gente tem que estabelecer postura. As pessoas sabem que eu não ia aceitar, e isso ficou claro. Se chegasse para mim, teria algum tipo de repercussão porque eu não ia deixar dessa forma. Eu tenho 35 anos, sou nova, mas a minha formação não permite esse tipo de coisa. Por ser advogada, a gente aprende muito sobre ética, a gente dá muito valor à justiça, às causas sociais, as quais eu gosto muito. Eu não poderia ter recebido o voto do povo, ter visto o que estava acontecendo e ter ficado em silêncio. Não foi a educação que me deram.
DIARINHO A agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) determinou ao porto de Itajaí que revise o contrato de arrendamento da área do Saco da Fazenda para a Marina de Itajaí, que pode ter que devolver mais de R$ 3 milhões ao município, que investiu em favor de um empreendimento privado. O porto formou uma comissão para estudar o caso e jogou a solução do problema pra daqui vários meses. Deve sobrar para a próxima administração descascar esse pepino. Você, que é parlamentar e advogada, considera essa postura legal?
Anna Como advogada e parlamentar eu não faria o contrato da forma que foi feito. Eles deram para a marina muitos privilégios, privilégios que quase ninguém tem. Eles estão ocupando um espaço público e nós vamos pagar pela dragagem, não faz sentido algum. Nesse contrato, inclusive, diz que é o governo municipal, o governo estadual ou o federal que vão pagar por isso. É óbvio demais e eu via muito na câmara de vereadores projetos que feriam a Constituição Federal, e eu dizia que não podia ser dessa forma. Anna, tu achas que um procurador geral ia fazer errado?. Eu dizia acho! E eles riam de mim. No final o procurador foi preso, depois veio outro procurador e foi preso também. Se o contrato da Marina precisa ser revisto? Precisa! No meu caso, se eu conseguir o que eu almejo, ser prefeita, eu terei que fazer uma análise mais profunda. Eu tenho que dizer que os contratos vão ser cumpridos. Os que estão de forma ilegal, obviamente, vão ter que ser analisados.
DIARINHO Quem assumir a prefeitura vai herdar uma administração manchada por grandes escândalos de corrupção, como as operações chamadas Parada Obrigatória e Dupla Face, que resultaram na prisão de vários secretários e outros cargos de confiança. Como avalia a posição do prefeito ao montar essa equipe envolvida nesses casos de corrupção?
Anna Pra mim é de forma bastante óbvia: eu quero te dizer que eu fui conversar com o senhor prefeito e disse assim: senhor prefeito, está acontecendo isso, isso e isso... O senhor tem que fazer alguma coisa. Esse secretário está lesando os cofres públicos. Ele mandou para o Ministério Público e disse que não acreditava. Em nenhum momento ele pediu para ver os contratos, pediu mais algum tipo de informação. Ele foi omisso. O que acontece na construção civil é de conhecimento público. Ele sabia e nada fez. No meu caso, de forma alguma, vou passar a mão na cabeça de bandido. No nosso caso, no projeto que a gente está construindo, a gente não senta com partido que tem esse tipo de mancha. Não faz sentido algum. Foi uma das determinantes para eu sair como pré-candidata pelo PSDB. A gente vai sentar com pessoas idôneas, pessoas com formação e pessoas com caráter. E se acontecer? Por que a gente não pode dizer que não pode acontecer, mas se acontecer, com certeza, que vai ser uma pessoa que vai responder pelo lado de fora, porque ela não vai mais compor o quadro da administração pública. Tem um vereador que foi preso, depois foi solto e, enquanto solto foi conversar com o senhor prefeito, e indicou cargos comissionados na prefeitura. Eu não quero ter isso. Não quero dever nada para ninguém. Eu não tenho amarras políticas para isso. Eu posso fazer política com tranquilidade e posso escolher. Eu posso escolher minha equipe. Os partidos que quiseram sentar comigo, porque alguns também não quiseram. [Quem não quis?] Bom, vamos deixar isso para lá. Houve partidos que não quiseram conversar comigo. Eu nunca sentei para conversar com o PSD, por exemplo. O PSD da Eliane Rebello, Douglas Cristino e do Clayton Bastchauer. Eles não sentaram comigo, não quiseram conhecer o nosso projeto, eles já estão alinhados com o projeto do governo e não tem problema algum. O que eu quero é que as pessoas acreditem no nosso projeto. O PSDB, junto com os outros partidos, por exemplo, a REDE, agregou ao nosso partido, inclusive já trazendo um programa. Isso me deixa feliz. Eu quero que as pessoas votem no programa. Nós vamos ter metas e as essas metas estão pré-estabelecidas e vão ser cumpridas. A gente está vendo uma política de forma diferenciada. Todos esses critérios anteriores vão colaborar para não termos pessoas corruptas dentro do governo.
DIARINHO A senhora era do PRB, um partido pequeno. Mas resolveu ir para o PSDB que, apesar de grande, tem suspeitas de envolvimentos com grandes esquemas de corrupção, como o mensalão tucano, a suposta fraude de licitações de trens em São Paulo, o desvio de R$ 7 milhões na saúde de Minas Gerais apontado pelo TCE e outros mais que respingaram na Lava Jato. Isso não é um contrassenso para quem ocupou várias vezes a tribuna da Câmara de Vereadores cobrando mais ética e moralidade tanto dos colegas parlamentares quanto de representantes da prefeitura?
Anna Eu não acho e vou te dizer por quê. Eu sou obrigada a pensar localmente. A cartilha do PSDB não me prejudica aqui na cidade. Eu era oposição no PRB e continuo oposição no PSDB. O grupo que trabalha no PSDB local é todo idôneo. Eles não têm cargo na administração pública. Eles estão procurando espaço da forma correta e justa. Por mais que o PSDB a nível federal esteja sofrendo investigações, eu quero dizer que com um único telefonema eu trouxe um senador do PSDB para conhecer a situação do Marieta. Também com outros dois telefonemas, outros dois senadores vieram para falar sobre o Porto e para falar sobre a pesca, junto com o Ministério. O PSDB pode ter os problemas dele, mas politicamente ele não abandonou Itajaí. Inclusive, deputados estaduais e federais, com a influência politica que eu preciso, em uma ligação de telefone eu resolvo. Se tem problema lá, tudo bem, mas aqui em Itajaí não tem interferência nenhuma.
DIARINHO Quem a senhora considera o principal opositor nesta disputa à prefeitura? Qual o candidato que vai deixar a sua vida mais difícil nessas eleições? O candidato a sucessor do prefeito Bellini ou alguém que também tenha um discurso de oposição?
Anna Quem está vindo de oposição? Eu vou tentar ser franca contigo: eu quero que as pessoas olhem as pessoas que estão em volta, só isso. Olhando neste ponto, eu acredito que o melhor grupo político encontra-se comigo. Gente sem vício, gente que consegue reconhecer os problemas locais, traz proposições para a gente resolver, claro que, em um entrevista como essa, em época de lei eleitoral, a gente não pode fazer divulgação do que a gente está querendo fazer, está acreditando... O grande adversário do nosso projeto somos nós mesmos. A gente tem trabalhado bastante, mas acredito que vai ter que trabalhar mais. Só vamos ter 45 dias de campanha, isso é difícil para cobrir toda a cidade. Mas temos um grupo bom, uma militância que acredita no projeto e acho que é possível, sim, fazer essa mudança. Sem medo! [Se for eleita, será a primeira prefeita de Itajaí...] Será um marco na história e mais do que isso, nós vamos transformar Itajaí.