Além dos estragos em calçadas, ruas, avenidas e construções ao longo da orla, os efeitos da super maré sobre carros e casas também podem resultar em prejuízo para os proprietários.

Veículos e residências expostos à agua salgada ou salobra ou ainda que sofreram a influência da areia da praia precisam passar uma boa limpeza para evitar problemas maiores. É o que indicam especialistas ouvidos pelo DIARINHO.

O doutor em química Roberto Dalla Vecchia, professor da Univali, explica que a água do mar acelera o processo corrosivo dos metais, especialmente do ferro, que por si só já é atacado pela ferrugem ao longo do tempo. “A água do mar é uma solução bastante corrosiva”, frisa. Segundo ele, é justamente a concentração de cloreto de sódio (sal) na água que provoca esse efeito.

De acordo com o professor, a lavação com água doce e aplicação de produtos anticorrosivos são cuidados básicos a serem adotados para brecar a ferrugem em caso de metais que foram expostos à super maré.

Em peças menores, a aplicação deve ser feita com spray, sem deixar de lado a lubrificação das engrenagens. Para quem mora em áreas litorâneas, só a influência da maresia já justificaria esses cuidados, lembra.

Agiliza a faxina

Roberto ainda explica que esses cuidados precisam ser rápidos quando o contato for direto com a água salgada. Isso porque, na medida em que a água evapora e o sal tende a se solidificar em cima de peças, torna a remoção mais difícil. Isso, sem falar que pode danificar a própria peça.

Em alguns casos, ressalta, a água pode atingir locais mais sensíveis, com o sal se acumulando em peças menores e dentro de espaços fechados.

Para quem transitou em ruas com areia, o problema são os grãos provocarem atrito com peças que entram em movimento, como engrenagens. A presença da areia pode acelerar o desgaste e comprometer o funcionamento da peça. O professor recomenda que um mecânico seja consultado para uma avaliação mais detalhada.

É preciso lavar e polir

Na oficina Cia do Parachoque, que fica no bairro Fazenda, em Itajaí, e é especializada em lataria e pintura, já apareceram clientes preocupados em deixar o carro tinindo depois que foram atingidos pela super maré. A maioria pede limpeza e polimento pra tentar conter os efeitos da água salgada.

Clau Simardi, sócia da oficina, diz, no entanto, que antes de qualquer medida, caso o veículo tenha passado pela água ou pela areia da praia, é preciso uma boa lavação. O objetivo, explica, é tirar o sal que ficou impregnado e que favorece o aparecimento de ferrugens.

A empresária ressalta que o contato com a água do mar só aumenta a possibilidade de oxidação da lataria, por isso quanto mais rápida for feita a limpeza, melhor. “Só com a própria maresia já enferruja”, observa, destacando que os efeitos pelo contato direto da água salgada podem aparecer mais rápido caso o dono do carro não tome cuidados básicos.

Depois da lavação, cai bem o polimento e o enceramento, para deixar o veículo protegido.

Se a água do mar é o vilão das latarias, a areia pode comprometer a parte mecânica, caso as peças do motor sejam atingidas. Por isso, além da limpeza externa, vale consultar um mecânico para uma avaliação.

Como fazer para limpar as casas

Para quem teve a casa atingida pela areia ou pela água do mar, o ocenógrafo Marcel Di Ruzza Ferrari, da Fundação do Meio Ambiente de Itajaí (Famai), destaca que basta a limpeza com muita água. Segundo ele, o próprio sal já elimina possíveis elementos patógenos, ou seja, aqueles que podem causar alguma contaminação e, por consequência, doenças. “A água do mar é salgada e, por si só, mata os patógenos”, reforça.

Mas quando a residência é atingida pela água dos rios, ribeirões ou valas, como no caso das famílias do Imaruí, aí o problema é outro e o cuidado deve ser maior.

Marcel recomenda a utilização de produtos químicos, como água sanitária (Kiboa), no trabalho de limpeza da casa.

O oceanógrafo lembra que os rios recebem os despejos do sistema de drenagem da cidade - às vezes até mesmo esgotos - e essa poluição pode parar dentro das casas com as cheias.

Outra dica importante para os moradores de regiões que costumam alagar é retirar a areia antes de jogar água em tudo. A preocupação é evitar o entupimento dos ralos da própria residência. O excesso de areia também pode prejudicar o sistema de drenagem da rua. A orientação é que a areia seja retirada e jogada de volta na praia ou nos rios.

Por que pintou a super maré

A super maré atingiu boa parte do litoral catarinense entre a tarde de sexta-feira e a tarde de ontem. Sexta e sábado foram os dias mais graves. O povo mais antigo diz que essa é a pior ressaca dos últimos 10 anos.

Segundo os meteorologistas, a super maré acontece por conta da junção de alguns fatores. Um deles é a maré alta normal, que costuma ter dois picos durante o dia na nossa região.

Some a isso, o fato de estarmos em lua nova, quando a chama prea-mar (alta) é ainda maior. É a chamada maré astronômica. É que a força da gravidade da lua, literalmente, empurra as águas dos oceanos para o outro lado do planeta. Daí, num lado do globo vai ter maré muito baixa e no outro uma maré muito alta.

Pra piorar, um ciclone na divisa do Brasil com o Uruguai provocou ondulações muito altas, que chegaram até nossa região. O vento de sudeste ajudou a deixar a coisa mais feia, já que empurrou as ondas e o mar em direção à costa.