geral@diarinho.com.br

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Amos Fértil, 26 anos, um dos dois haitianos vítimas da explosão na empresa Rode Removedora de Resíduos, de Itajaí, em julho, deixou a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Marieta Konder Bornhausen esta semana. Se recuperando num quarto de internação, ele está falando bem e tem lembranças do acidente, contaram pessoas.

O trabalhador já passou por 14 cirurgias e outras ainda podem ser feitas. Mas a perspectiva de recuperação é otimista. Isso porque Amos já teria dado alguns passos, dias atrás. A mesma sorte não teve o colega de trabalho Jonas Duveaud, 30, que morreu no hospital no dia 25 de julho, 13 dias após a tragédia, devido às complicações das queimaduras.

O tratamento de Amos tá sendo acompanhado pelos familiares, inclusive uma irmã que veio do Chile. Além disso, representantes da comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Itajaí, do centro de Defesa dos Direitos Humanos de Itajaí e voluntários da Pastoral do Migrante estão prestando assistência social e jurídica para as famílias.

Na Justiça, correm duas ações cíveis que pedem indenização à empresa. A Rode também é alvo de dois inquérito, um da Polícia Civil, que apura as causas do acidente, e outro do Ministério Público do Trabalho, que investiga as condições de trabalho na empresa.

Nesta semana, o corpo de bombeiros militar de Itajaí divulgou o laudo técnico sobre a explosão. Conforme a perícia, o incêndio ocorreu após uma faísca provocada por um martelete elétrico.

Os haitianos usavam a ferramenta para quebrar pedras de coque, um tipo de combustível derivado de carvão mineral, dentro um tambor de três metros de altura por oito de comprimento. O tanque é usado pela empresa para a reciclagem de óleo de navio.

De acordo com os bombeiros, a faísca entrou em contato com a poeira de coque, causando a explosão. Os trabalhadores fugiram pela abertura inferior, mas tiveram queimaduras graves que atingiram 90% do corpo.

O laudo pericial foi juntado ao inquérito da polícia, que corre na 2ª delegacia sob responsabilidade da delegada Flávia Rigoni Gonçalves. De acordo com a OAB de Itajaí, já foram ouvidas testemunhas, familiares das vítimas e o dono da empresa. Outros dois funcionários também foram notificados para prestar depoimento. Amos também deve ser ouvido pela polícia depois que se recuperar.

Ministério do Trabalho também investiga

O caso também é alvo do Ministério Público do Trabalho (MPT). O procurador Keilor Heverton Mignoni, da Procuradoria Regional do Trabalho, em Florianópolis, abriu um inquérito civil para apurar denúncias sobre as condições de trabalho na empresa onde os haitianos trabalhavam.

A investigação foi aberta no mesmo dia em que Jonas Duveaud morreu. Mas corre em sigilo, segundo informou a assessoria do procurador.

O DIARINHO apurou, no entanto, que esta semana, Amos já foi ouvido pelo MPT. Representantes do órgão estiveram no hospital e colheram o depoimento do trabalhador.

O relato vai ajudar a procuradoria a confirmar como eram as condições de segurança na empresa. O inquérito tem prazo de um ano pra ser concluído, mas pode ser prorrogado.

Advogado quer indenização às famílias

O advogado César Matiolo, voluntário da Pastoral do Migrante, é quem tá auxiliando as famílias nos processos contra a empresa. São duas ações cíveis, uma para cada vítima, para que a empresa possa indenizar as famílias. “Estamos pleiteando o que é de direito dos trabalhadores, buscando reparar algo que aconteceu”.

Segundo Matiolo, enquanto se aguarda um desfecho, a viúva de Jonas, Gessie Jean Baptiste, 28, está recebendo uma pensão pela morte do marido.

O benefício ajuda a pagar o aluguel da casa onde vive com a filha de apenas quatro meses no bairro São Vicente.

Já Amos está recebendo o auxílio-doença enquanto segue em recuperação.

Ontem, o DIARINHO tentou novamente falar com algum representante da empresa. O funcionário que atendeu a ligação disse que o assunto só poderia ser tratado com o dono, que já não tava mais no local para atender a reportagem. Desde o acidente, a Rode não se pronunciou oficialmente sobre o caso.