Recente feira náutica, a maior do sul do país, realizada com sucesso na cidade, destacou o potencial e a relevância da construção naval em Itajaí. Comentaristas e autoridades, na ocasião, elogiaram o potencial da indústria naval itajaiense, já que ela contempla a cadeia completa do mercado náutico: produção, entrega, venda e promoção de embarcações.
Ante tanto sucesso e merecidos elogios, é preciso dizer que essa expertise de Itajaí na construção naval não é coisa de agora e, sim, uma atividade econômica que acompanha a cidade desde o seu surgimento. Portanto, há mais de 200 anos! A história o comprova.
Aires de Casal, fundador dos estudos geográficos brasileiros, em sua obra Corografia Brasílica, antes mesmo que surgisse a cidade de Itajaí, em 1817 escrevera que nas margens do rio Itajaí-açu havia muita madeira própria para a construção de barcos e que aqui se praticava a carpintaria da ribeira, como antigamente era chamada a construção naval, ofício de grande perícia e responsabilidade, exclusivamente artesanal e manual à época.
Em 1846, no município de Porto Belo, a que pertencia a então freguesia de Itajaí, existiam 50 carpinteiros da ribeira e 30 calafates. A maior parte desses profissionais era moradora das margens do rio Itajaí-açu. Esses construtores de barcos vieram em maioria do litoral de São Paulo e do Paraná. O local mesmo em que se construiu em 1824 a primitiva capela do Santíssimo Sacramento, que deu origem à cidade de Itajaí, na atual praça Vidal Ramos, era identificado como “o lugar Estaleiro”.
O primeiro construtor naval, dono de estaleiro e com muitos empregados, cujo nome pôde ser apurado, foi Agostinho Alves Ramos, principal responsável pelo surgimento de Itajaí. Ele era também mestre do risco, que desenhava a embarcação a ser construída. O estaleiro ficava em frente à sua casa, na esquina da praça Vidal Ramos com a rua Lauro Müller, na beira do rio, e se compunha de um comprido rancho coberto de telhas, aberto nos lados, e uma carreira para fazer subir e descer embarcações.
Dois outros carpinteiros da ribeira se fizeram conhecidos: Bento Malaquias da Silva, originário de Guaratuba/PR e José Ignácio da Silva, chamado de Mestre Zé, que veio de Cananeia/SP. O primeiro fora agregado de Agostinho Alves Ramos, que lhe ensinou a arte da carpintaria naval, tendo feito significativa fortuna com seu ofício, e Mestre Zé, patriarca de uma família de conhecidos construtores navais que até hoje ainda se envolve com essa atividade econômica (Estaleiro Felipe).
Os estaleiros, os engenhos de serra e as olarias foram as mais antigas indústrias de Itajaí. A atual expertise itajaiense na construção naval, pois, tão elogiada, deriva de uma experiência mais que bicentenária, do somatório de saberes acumulados, avanços tecnológicos e da competência da mão-de-obra que tanto se apurou nesses dois séculos.