ITAJAÍ
Farmácia do Otto fechará as portas após 66 anos de funcionamento
Quinta-feira será o último dia de atendimento da primeira unidade do bairro Cordeiros
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]











Quando a farmacêutica Marinei Quintino fechar as portas da Farmácia do Otto, na avenida Reinaldo Schmithausen, em frente à Liquigás, às 20h desta quinta-feira, se encerra a atividade da mais antiga farmácia em funcionamento de Itajaí. Passados 66 anos de sua fundação, a matriz da rede de Farmácia do Otto deixará de existir. A decisão de fechar foi planejada pela filha do falecido Otto, Marinei.
Continua depois da publicidade
Nei, de 55 anos, como é conhecida, trabalha no local há mais de 40 anos. “Eu me dedico o dia inteiro aqui, me preocupo com as pessoas, me envolvo. Agora eu quero um tempinho para mim. Tem coisas que eu não consigo conciliar. Eu vou precisar fazer isso, me aposentar. Fechar esse ciclo com carinho e muito amor. Estou chorando, estou emocionada, mas estou feliz”, explicou Nei, com dificuldades em falar dpelas lágrimas que derramou durante a entrevista ao DIARINHO.
O casal Otto Luiz Quintino e Maria Hilda teve cinco filhos – quatro mulheres e um homem. Nei, assim como o irmão mais novo, cursou Farmácia na Universidade Federal de Santa Catarina, e escolheu ajudar o pai na lida. “Eu me preocupava com o meu pai, me preocupava como seria se ninguém seguisse adiante, e decidi fazer o curso para manter a farmácia”, conta.
Continua depois da publicidade
Nei guarda do pai, que faleceu em 2010 aos 84 anos, o amor e o carinho que ele tinha pela clientela. “A gente vive escutando as histórias, alguém sempre vem falar sobre ele... São sempre coisas boas”, narra. A esposa de Otto, Maria Hilda, de 84 anos, mora atrás da farmácia com a filha, mas há mais de 20 anos não trabalha no estabelecimento.

Hilda lembra com clareza o início da farmácia em 1957. “A farmácia era do lado do rio, de madeira, do lado do David Gregório, também na avenida Reinaldo Schmithausen”, conta. “Eu trabalhei a vida toda com ele, era corridinho, não tinha muito tempo. A farmácia tinha muito movimento, não tinha muito tempo de estar com os filhos... Ficam as boas lembranças e as saudades”, opina.
Lembranças que ficam na memória dos clientes como Alcides Miranda, de 71 anos, que frequenta a farmácia desde pequeno e é categórico: “não pode fechar!”. Alcides lembra que sua mãe, já falecida, comprava com o seu Otto e ele mantém a tradição. Mesmo tendo outras farmácias mais próximas de casa, Alcides prefere caminhar da Murta até o local, para comprar o que precisa ou simplesmente para conversar com as filhas do seu Otto.

Seu Alcides aproveitou as promoções
Estoque em liquidação
Continua depois da publicidade
Para marcar o fechamento e os últimos dias de funcionamento da farmácia, Nei colocou todo o estoque de remédidos e perfumaria em promoção. Não tem um percentual fixo de desconto, mas todos os produtos estão sendo vendidos mais baratos, alguns, a preço de custo.
Até quinta-feira, dia 31 de agosto, a farmácia segue atendendo das 8h às 12h e das 13h30 às 20h. Depois a sala comercial estará disponível para locação. Nei e a família agradecem os clientes e amigos pelas décadas de parceria e amizade.

Dona Hilda com as filhas Magali e Nei e o filho Otto
Continua depois da publicidade
Filiais seguem abertas no bairro Cordeiros
Embora a matriz da farmácia do Otto feche as portas em definitivo na próxima quinta-feira, outras três filiais da rede seguirão funcionando e levando adiante o legado do seu Otto. As unidades ficam na Murta, Jardim Esperança e perto do Banco do Brasil, também na avenida Reinaldo Schmithausen.
Uma delas é tocada por Otto Luiz Quintino Júnior, que é vereador em Itajaí. “Ele sempre foi apaixonado pela farmácia, viveu a farmácia e os filhos deram continuidade... Meu pai fez história aqui, mas chega um momento de fechar o ciclo. Eu vou continuar com a história dele na filial 01, atendendo os clientes no bairro Cordeiros, onde aconteceu essa bonita história”, destaca.
Otto lembra que, quando o pai montou a farmácia, eram outros tempos, sem grandes redes farmacêuticas, sem postos de saúde em todos os bairros e também com o bairro Cordeiros tendo uma população bem menor, onde todos se conheciam.
Continua depois da publicidade
A avenida Reinaldo Schmithausen, onde a farmácia está encravada, também não tinha o trânsito pesado de hoje. “Esta farmácia, de alvenaria, ele inaugurou em 1970, no ano em que eu nasci. Como ela está aqui tem 52 anos de histórias. Histórias que os clientes contam para a gente. Eles chegam aqui e contam ‘teu pai salvou minha vida’. Na época não tinha posto de saúde, não tinha o SUS fortalecido... Muitas vezes, eles contaram que tiraram o meu filho desenganado do hospital e o pai salvou. São histórias que os antigos contam”, relembra.