MEIO AMBIENTE
Predadores de pragas, gambás comem carrapatos e ainda ajudam no reflorestamento
Apesar da importância pro equilíbrio ecológico, animais são discriminados e alvos de agressões
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]



Em tempos de preocupação com doenças que têm os insetos, pragas urbanas e carrapatos no ciclo de transmissão, os discretos gambás são aliados na saúde pública pelo importante papel no equilíbrio biológico onde vivem. Marsupiais como os cangurus e coalas, os gambás comem de tudo, com insetos, escorpiões, ratos, cobras e carrapatos na diversificada dieta. De quebra, ainda ajudam no reflorestamento, pois são ótimos dispersores de sementes.
O biólogo Fabrício Ulber explica que o Brasil tem quatro espécies de gambás, duas delas encontradas em Santa Catarina: gambá-de-orelha-branca e gambá-de-orelha-preta. O primeiro tem porte médio, caracterizado pela cabeça grande com três listras pretas e orelhas também grandes, rosadas e com pelagem branca. É a espécie mais adaptada e encontrada com mais frequência no ambiente urbano no estado.
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Fabrício comenta que, embora sejam animais silvestres, a crescente fragmentação das matas nos arredores das cidades e a diminuição dos predadores naturais, os gambás tendem a se aproximar cada vez mais das áreas urbanas. Nas cidades, eles encontram alimentos em lixos mal acondicionados, hortas e pomares e restos de alimento em comedouros de animais domésticos.
“Eles possuem dieta generalista, consumindo desde frutos, sementes, insetos, aracnídeos, caranguejos, moluscos, ovos e pequenos vertebrados, como roedores, rãs, serpentes e aves”, destaca o biólogo.
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Seres noturnos
Solitários e de hábitos noturnos, os gambás não costumam ser vistos durante o dia, quando se abrigam em ocos de árvores, tocas abandonadas e troncos caídos.
As adaptações nos pés, mãos e cauda os tornam hábeis escaladores que, nas matas, facilitam a subida em árvores, troncos e rochas. “Na cidade, escalam facilmente cercas, muros, janelas, sobem em fios, postes e se abrigam em ranchos, garagens, nos forros das casas, chaminés sem uso e outros lugares onde se sentem seguros”, frisa Fabrício.
A reprodução dos gambás ocorre na primavera, sendo a gestação em torno de 14 dias. As ninhadas podem ter de 8 a 12 filhotes. Nos meses seguintes, Fabrício informa que é comum encontrar fêmeas com filhotes no marsúpio, uma bolsa de pele junto ao corpo, ou carregando os filhotes agarrados na pelagem das costas.
Gambás são “de boa” e só reagem quando ameaçados
Na época de reprodução, são comuns ocorrências de ninhadas inteiras serem encontradas no interior de casas, onde os animais buscam abrigo. Mas eles podem aparecer em outras ocasiões, em busca de alimentos. Fabrício ressalta, porém, que os gambás são “bem de boa” e não costumam atacar, reagindo só quando se sentem ameaçados, seja por pessoa ou outro animal.
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“Quando atacados, abrem a boca expondo os dentes e rosnam para tentar intimidar o adversário. Quando muito irritado ou atingido, exalam um cheiro desagradável muito forte, proveniente de glândulas da região perianal. Em certas ocasiões, podem se fingir de morto para enganar um predador”, relata.
A estratégia de defesa é usada na natureza contra predadores como gatos e cachorros do mato. No meio urbano, o gambá pode usar da malandragem durante ataques de cachorros e outros animais domésticos. A orientação aos moradores é que evitem mexer com o animal, que pode se sentir acuado e reagir com agressividade, como numa tentativa de captura.
“Nesse momento ele pode morder e vai usar de todas as estratégias que têm, e o cheiro é uma das principais. Para muitos animais, o cheiro é insuportável”, observa Fabrício. Para eventual necessidade de captura, devem ser chamados bombeiros, guardas ou órgãos ambientais, que usam equipamentos adequados no resgate.
Na semana passada, a Guarda Municipal de Itajaí resgatou um gambá que estava sendo ameaçado por cachorros numa casa na Praia Brava. O bicho foi encontrado pela guarnição numa árvore, onde estava preso e acuado pela presença de dois cães. Sem ferimentos visíveis, o gambá foi retirado do local pela equipe e solto no parque da Atalaia.
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Discriminação e agressões
O biólogo destaca que os gambás são extremamente eficientes no combate a pragas urbanas, consumindo grandes quantidades de baratas, aranhas, escorpiões e carrapatos. Como outros animais silvestres, eles são protegidos pela lei federal 9.605/1998, que considera crime ambiental matar, perseguir, caçar ou maltratar esses bichos.
Apesar disso, Fabrício aponta que nas cidades os gambás são vítimas de discriminação, agressões e mortes. “Os gambás são frequentemente agredidos, atropelados e mortos devido a um certo preconceito com relação a esses animais. A falta de informações e orientações contribuem para que esses lamentáveis hábitos permaneçam na população humana, que discrimina uma espécie tão importante”, critica.
O apelo do biólogo é que os gambás devem ser preservados e protegidos para que possam continuar a cumprir seu papel ecológico. A importância dos animais vai além da eliminação de pragas urbanas. Eles também ajudam na dispersão de sementes, recuperação de matas e previnem o aparecimento de doenças.
“Os gambás percorrem grandes distâncias pelas matas e frequentemente são parasitados por carrapatos. Esses parasitas são removidos e ingeridos um a um, pois os gambás gostam de manter o corpo limpo. Esse hábito ajuda a eliminar uma possível fonte de infecção para seres humanos”, explica Fabrício.
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Ratazanas dormem na Beira-rio
Problema já denunciado por moradores e comerciantes, as ratazanas seguem tomando conta da avenida Beira-rio, onde são atraídas por restos de comida e lixo. No trecho perto da Associação Náutica de Itajaí, onde há grandes contentores de lixo, os roedores viraram parte da paisagem, especialmente à noite, dividindo espaço com as capivaras.
A situação também é crítica nos molhes da Atalaia, onde as ratazanas circulam livremente perto do estacionamento e às margens do rio Itajaí-açu. Mesmo com pessoas por perto, os bichos não se intimidam e vivem nos gramados em busca de restos de comida deixados por visitantes e food trucks.
A prefeitura diz que fiscaliza constantemente o comércio ambulante. Uma das obrigações é que os carrinhos não podem permanecer estacionados na rua quando não há atendimento. A promessa é que as medidas de fiscalização seriam reforçadas, além de orientações ao armazenamento correto dos resíduos e boas práticas na preparação de alimentos.