Moradora ilustre
Aos 89 anos, dona Tibéria é “muito prosa” e já benzeu todo mundo nas redondezas
Benzedeira herdou a missão há 32 anos
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

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Dona Tibéria Espindola Gardini comemorou seu 89º aniversário em 2 de abril, poucos dias antes do aniversário de Camboriú. Ela nasceu na localidade de Braço, no interior do município, e vive lá até hoje, onde é conhecida por todos. Ela é definida pela própria família como “muito prosa”, de grande coração, extrema bondade e grande fé em Deus e Jesus Cristo. Talvez tenha sido por essas características que ela foi incumbida de exercer a missão de benzedeira há 32 anos.
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A “prosa” senhorinha assumiu tarde a missão divina. Foi dona Ema, uma das mais conhecidas parteiras e benzedeiras que Camboriú teve na primeira metade do século 20, que trouxe Tibéria ao mundo e 67 anos depois a incumbiu de dar continuidade ao seu legado. Já com idade avançada, dona Ema foi morar com as filhas em Brusque, onde continuou fazendo suas rezas. No entanto, pouco antes de sua morte, pediu para que a filha Otília entregasse a Tibéria seus cadernos com as rezas e benzeduras, para que ela desse continuidade ao seu trabalho espiritual.
A simpática Tibéria ri quando perguntam se ela também faz partos e diz: “ui, isso não é comigo”. Em contrapartida, se enche de orgulho ao contar que não há morador das redondezas que ela não tenha benzido de espinhela (ou arca) caída, ventre virado, cobreiro, carne rasgada, quebranto, ou de bicha, que é a benzedura para combater as “lombrigas” em crianças.
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“Não quero me prosear, mas na localidade onde eu moro sou estimada por todos. É moço, moça, homem casado, homem novo, velho, mulheres de toda idade. Se as pessoas gostam de mim, é porque estou cumprindo muito bem a missão que Deus, que dona Ema passou pra mim”, conta. Inclusive, segundo ela, vem gente do centro de Camboriú, Balneário, Itajaí, Brusque e até de bem mais longe para receber suas benzeduras. “Quando saio por uns dias, eles sentem falta de mim”, acrescenta. Tibéria está passando uns dias na casa de uma filha em Areias, mas garante que logo estará de volta a sua casa.
“Fé em Deus e bondade”
Dona Tibéria é viúva há mais de 20 anos e perdeu recentemente uma filha e um filho para o câncer. Foi na fé que ela encontrou consolo e sabedoria para superar suas perdas. “É difícil para uma mãe perder um filho, dói muito, mas filhos são criaturas de Deus e ele sabe a hora de colocar eles na nossa vida e também a hora de tirar. Precisamos aceitar e continuar tementes”, ensina.
Ao mesmo tempo, ela diz que não sabe o que seria dela se não tivesse recebido a missão e o dom de benzer ou perdido sua fé. “Continuo olhando muito para as pessoas e buscando cumprir minha missão aqui na terra”, diz. Até os 67 anos de idade, quando começou a benzer, ela jamais havia se aventurado a fazer qualquer coisa parecida.
Até então sua vida se resumia aos afazeres domésticos e trabalhos na roça. Além da agricultura para a subsistência, a família plantava fumo. Mas isso não quer dizer que ela ainda não cuide de sua horta e de suas folhagens.
Outra coisa que ela ama é vir para a “cidade”, o que era uma missão quase impossível na sua juventude, quando tinha que caminhar 18 km a pé por estradas de barro. “Naquele tempo a gente não tinha nem carroça e precisava carregar as compras a pé. Hoje tem carro e fica fácil vir no centro”, conta Tibéria. Ela acrescenta que a localidade de Braço de Camboriú “já é quase uma cidade”, mas que o centro tem seu valor.
E quando se pergunta a receita para chegar aos 89 anos com tanta energia e disposição, ela diz: “fé em Deus e bondade no coração.”
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"Não quero me prosear, mas na localidade onde eu moro sou estimada por todos. É moço, moça, homem casado, homem novo, velho, mulher de toda idade.
Dona Tibéria Espindola Gardini