A parada teve concentração inicial na esquina da avenida Atlântica com a rua 2000, de onde os participantes seguiram rumo ao Pontal Norte, puxados por dois trios elétricos e shows com as drags queens mais famosas do Brasil, como Aretuza Lovi e Tchaka, apresentadora da parada em São Paulo (SP). O coletivo Floridrags, de Floripa, marcou presença com Viola Colin, Kandy Cooper e Stella Puzzle Pride entre as atrações.
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Durante o trajeto, agentes de trânsito, guardas municipais e policiais militares acompanharam a caminhada. O evento encerrou fazendo referência ao Dia da Consciência Negra, neste 20 de novembro. O hino nacional foi cantado por Amora Alves, artista negra e bissexual, unindo as causas do movimento negro e da comunidade LGBTQIAP+.
“A gente junta essas duas datas e consegue atingir esses dois públicos e mostrar a importância desses movimentos. Mostrar que somos todos iguais mas que, infelizmente, a gente ainda precisa ter dias pontuais pra conscientizar as pessoas e pedir por respeito”, comentou a empresária Jocineia de Jesus, organizadora da parada e integrante do Movimento Mães pela Diversidade.
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O evento neste ano deste ano teve como madrinha a cantora catarinense Karinah, a “Rainha do Pagode”, e trouxe como tema “Vidas que transcendem, amor que transborda”, numa homenagem à artista de rua Nina Buah, de Balneário Camboriú, que faleceu em junho, aos 40 anos.
O convite para a festa contou com apoio de famosos e celebridades, como a cantora Preta Gil, as atrizes Adriana Bombom, Cristiana Oliveira e Mônica Martelli e os apresentadores Xuxa Meneghel e David Brazil, que postaram vídeos para o público. A modelo Carol Trentini também deixou recado, destacando o evento. “É uma causa que eu acredito muito. Acredito muito na necessidade de dividir isso e falar sobre as causas LGBTQIA+”, comentou.
Projeto pra 100 mil pessoas em 2023
Néia destacou que a Parada da Diversidade é um momento de luta, de ocupar espaço e de alegria que o público estava aguardando muito, por isso a expectativa de participantes recorde. “É um evento que volta com força total, com uma visão de fora pra dentro. Pessoas de outros estados tiveram que abraçar a causa pra que a gente pudesse voltar pra avenida de uma forma mais bonita e mais grandiosa”, ressaltou.
A organizadora comentou que a divulgação feita por famosos foi iniciativa de pessoas que entenderam que em Balneário ainda existe muita resistência pra se fazer a festa e que resolveram manifestar apoio. Com maior visibilidade e repercussão, Néia adianta que o evento vai crescer mais ainda, com um plano “audacioso” pra 2023.
“É uma semente que a gente planta esse ano, porque no ano que vem a nossa meta é de, no mínimo, 100 mil pessoas na avenida Atlântica”, afirma. Madrinha do evento, a cantora Karinah mobilizou artistas pelo país em prol da festa. Ainda na concentração da parada, ela fez um discurso contra a homofobia, pela igualdade e tolerância.
“Balneário Camboriú não pode ser uma cidade homofóbica. Balneário Camboriú é uma cidade de amor, com uma estrutura pra receber tantas pessoas, turistas e outras pessoas que vem usufruir da nossa natureza. É uma cidade acolhedora, sim, porque nós nascemos iguais”, disse. “É só o amor que transcende, que transborda e que transforma o coração das pessoas”, destacou.
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Evento atraiu turistas e chamou atenção de moradores
O evento movimentou a cidade durante o fim de semana. O analista de marketing Gabriel Meireles, de 22 anos, de Gaspar, participou da festa com os amigos Eduardo Rosa, 21, e Maurício de Souza, 32, ambos de Blumenau. Eles comentaram sobre a importância da parada numa região onde a comunidade LGBTQIAP+ ainda enfrenta muito preconceito.
“É muito importante esse evento estar voltando. Eu espero que seja muito público e que a gente possa mostrar quem a gente é, que a gente está aqui e a gente quer lutar por muito mais reconhecimento”, disse Gabriel. Já Eduardo pontuou que a festa serve como lugar de pertencimento para quem não consegue mostrar quem realmente é dentro de casa.
“Estando aqui cultivando o amor, comemorando toda forma de amor, é um pouco libertador. A pessoa sente que não está sozinha”, frisou. A empreendedora Maria Luiza Wagner, 22, de Florianópolis, e a professora Ana Luiza Costa, 19, de Tubarão, curtiram juntas a parada. “Acho importante trazer essa visibilidade, ainda mais no momento atual, numa cidade que acho que todo mundo é travado pra falar sobre o assunto”, comentou Maria Luiza.
Quem acompanhou a parada na faixa de areia também gostou do movimento. O educador sexual Arthur Ciorille, 30, tava com o filho Mahatma, de quatro anos, e viu a parada pela 1ª vez. Para ele, Balneário é uma cidade onde a diversidade tem mais aceitação. “Já andei em vários países e eu escolhi ficar em Balneário porque aqui é o único lugar que consegue ter toda essa diversidade”, opina.
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Para o aposentado Rui Gil, de 77 anos, morador de Balneário há 16 anos, o evento “nem cheira, nem fede”. Ele disse que o importante é cada um viver a sua vida e ser feliz. “Cada um tem o seu direito. Não enchendo o saco de ninguém, não incomodando, não perturbando, tá ótimo. Eu só não concordo muito com imposição, quando se quer impor, empurrar goela abaixo”, observa.
Marco para a cidade
Apresentadora da Parada de São Paulo, a drag queen Tchaka, vivida pelo ator Valder Bastos, participou pela 3ª vez do evento em Balneário Camboriú. Tchaka disse que vê um crescimento da festa e que hoje a programação é um marco, que torna a cidade a Capital da Diversidade em Santa Catarina.
Ela relatou que as restrições da pandemia, que interrompeu o evento, lembraram a situação de exclusão e isolamento que as travestis já vivem desde sempre. Para Tchaka, assim como a conscientização coletiva foi importante no combate à covid, a luta contra a LGBTfobia é diária e coletiva. “Não é só da bolha LGBT. Essa luta é de toda a sociedade, independentemente da orientação sexual que você tenha”, afirma.
A artista ressaltou a importância de as pessoas que foram colocadas à margem da sociedade ocuparem espaços em diversas áreas. Nesse sentido, o coordenador da parada, Gustavo Ribeiro, filho de Jocinéia, apontou o caráter político do evento. “Estar aqui é um direito nosso. Isso aqui é um ato político pra lembrar à sociedade que a gente pode e vai estar aqui ocupando esses espaços”, reforçou. O evento também foi patrocinado pela casa noturna de Balneário Camboriú, a The Grand. "A casa noturna patrocinou os trios, as camisetas e o show de Aretuza Lovi," informou Pedro Inácio Leoni que é, também, idealizador da parada 2022.
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