Itajaí

Vida espiritual plena e batalha na costura

Paranaense que se criou em Itajaí é exemplo de mulher guerreira: chefe da família, mãe-de-santo, esposa e mãe

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

A intolerância religiosa, muito presente na sociedade, é a dificuldade de respeitar as diferenças ou crenças das outras pessoas. Miriam de Lima Barbosa Barreto é mãe-de-santo da umbanda e do candomblé. Já ouviu xingamentos de “macumbeira”. Mas garante que isso não a atinge. Em uma sala onde faz seus atendimentos de búzios e limpeza espiritual, a mãe-de-santo representa o papel de mulher, religiosa, mãe, esposa e empresária. “Minha história é de luta, viu? Porque estar inserida dentro de uma religião e ser mãe, empresária, conselheira, é bem complicado”, contou. Miriam nasceu em 1968, em Curitiba, no Paraná. Com a separação dos pais, aos 11 anos já estava residindo na cidade que construiria a vida e onde a família de sua mãe já estava enraizada: Itajaí. A transição não foi difícil. Nunca mais voltou e o trajeto Itajaí a Curitiba só acontece para fazer visita aos familiares. Antes de iniciar na religião, Miriam frequentou igreja evangélica, católica, seicho-no-Ie e kardecismo. Só se encontrou na umbanda e no candomblé. O marido é pai-de-santo e a filha iniciada no candomblé. Apenas o filho mais novo que ainda não escolheu qual caminho seguir. Casada há 30 anos, teve um casal de filhos. O marido Monteiro Barbosa Barreto, 55 anos, era policial militar e encerrou a carreira porque teve um sonho que ia morrer vítima de dois tiros. Namorou, noivou e casou em quatro meses. E o que chamou a atenção em seu parceiro de vida foi justamente o fato de ele ser PM. Aos cinco anos foi batizada na umbanda, religião que a mãe já era frequentadora. As duas estiveram afastadas por um tempo, quando chegaram em Itajaí, e não conheciam muitos terreiros. A mãe nunca voltou, foi para o espiritismo kardecista, e hoje é benzedeira e faz trabalho com ervas. Miriam voltou para a umbanda e descobriu a paixão também pelo candomblé. Razão para viver Aos 17 anos foi apresentada novamente à religião, quando conheceu Altamiro, o pai-de-santo mais velho da região naquela época, hoje já falecido. Ele ofereceu que ela desenvolvesse a mediunidade, e na semana seguinte já estava de roupa branca. De lá em diante foi uma luta para encontrar a felicidade interior. Miriam não acredita que a religião resolve todos os problemas, pelo contrário, ela ajuda as pessoas a encontrar o conhecimento pra resolvê-los. A mãe-de-santo sempre sentiu um vazio interior. Tinha família e tudo para ser feliz. E foi aos 32 anos que a oportunidade de sentir-se completa apareceu: foi apresentada ao candomblé. É um segmento mais completo. Uma filosofia de vida, a qual precisou mudar muitos hábitos da sua vida. Nas sextas-feiras, por exemplo, a única cor de roupas usada é a branca. Estar na umbanda e no candomblé foi difícil. Para conseguir conciliar a vida espiritual ela tem um zelador do candomblé e um da umbanda. Miriam divide as 24 horas do seu dia entre atendimentos religiosos, venda de artigos religiosos e a costura, que é a maior parte da sua renda. Como costureira, uniu a profissão na confecção de roupas coloridas e cheias de significado; Levou sete anos para que realizasse a conquista de ser mãe-de-santo do candomblé, mas nesse período ficou sem poder trabalhar com caboclo (uma linha de trabalho de entidades de umbanda). Quando voltou, virou mãe-de-santo também na umbanda. A religião acordou Miriam das suas frustrações e seus choros, que não sabiam de onde vinha. Hoje compreende o mundo e o seu papel: cuidar e aconselhar pessoas com seu trabalho espiritual. Já perdeu móveis de dentro de casa nas duas enchentes que tiveram em Itajaí: em 2008 e 2011. Agora, a casa e o quarto dos santos fica no andar de cima. A loja, seu espaço de costura e o terreiro ficam no primeiro andar. Aprendeu sozinha Antes de virar empresária e costureira, a mãe-de-santo já trabalhou de empregada doméstica, secretária e balconista em lanchonete. Em sua vida, tudo está ligado à religião. Na época em que começou a frequentar, não tinha como fazer as suas roupas brancas. A primeira vez que passou por uma discriminação religiosa foi no dia que levou uma saia branca para ajustar. A costureira recusou seu pedido e disse que era obra do satanás. Foi aí que começou o sentimento de investir na profissão de costureira. Com o desemprego do marido e as dificuldades financeiras, Miriam decidiu investir na costura, apesar de nunca ter costurado antes. A primeira experiência que teve como costureira foi desmanchar uma camiseta do marido e refazer. A ideia de montar a lojinha foi uma sugestão dos clientes.“Por que você não vende artigos, Miriam? Quando a gente vier buscar as roupas já compramos as suas coisinhas”, sugeriram. Há sete anos investiu R$ 5 mil na lojinha. Hoje, a renda da família é da loja e da costura, e também do auxílio doença que o marido recebe pelos problemas na coluna. Feminista, sim senhor A mãe-de-santo se intitula feminista. Para ela, a umbanda e o Candomblé cuidam muito da mulher. Com a rotina agitada, de acordar às 8h, jogo de búzios agendados para o período da manhã e da noite, costuras e vendas na lojinha, falta tempo para ser dona de casa. É o marido quem cuida da rotina em casa. Quando era criança já foi hostilizada por usar uma chuteira. E já houve um tempo em que se incomodou no casamento por conta do machismo. “Mas eu não aceito o machismo, nem do meu marido, nem do meu filho e nem de homem nenhum. Quando existe machismo, até dos meus clientes, eu vou em cima. Se a mulher estivesse hoje mais inserida na política, o mundo seria diferente. Ser mulher é ser parte do mundo com toda a sua beleza”, ensina. Com 51 anos, Miriam vai conquistar um sonho estee ano: fazer a carteira de motorista. Ela sempre aconselha as mulheres que conhece: “primeiro você, segundo você, terceiro você”. Depois qualquer outra coisa na face da terra. “Eu dependo de mim mesma, não dependo do meu marido, de um amor, do meu filho. E o que vim deles eu tenho que agregar. Eu sou completa”, completa Miriam.




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