Itajaí
Acordo pra redução do uso do plástico está longe de virar realidade
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]







Itajaí foi a primeira cidade do Brasil a assinar o acordo Mares Limpos da Organização das Nações Unidas (ONU), que prevê ações para inibir o vilão da poluição dos oceanos: o plástico. Mas no dia a dia, não há qualquer ação do poder público para educar ou brecar o uso do poluente. Os exemplos são muitos: das sacolinhas plásticas do comércio e supermercados, da lei que proibe o uso de canudinhos plásticos que não recebeu regulamentação e não pode ser fiscalizada, da dificuldade de se encontrar água mineral à venda em embalagens não descartáveis. O DIARINHO visitou três supermercados de Itajaí na última quarta-feira, o Bistek, Angeloni e Comper. Todos utilizam sacolas plásticas e vendem na seção de água mineral dezenas de marcas que produzem garrafinhas e copinhos exclusivamente descartáveis e plásticos. A venda de água em embalagem de vidro é escassa e cara. Dentre os supermercados, o Comper não tinha água à venda em embalagem de vidro, o Bistek oferecia poucas opções e apenas o Angeloni possuía uma variedade maior de marcas, mas em todos os casos, com preços muito elevados e opções de marcas de “grife”. Enquanto as garrafinhas de plástico, com 510 ml, das marcas Santa Rita, Crystal e Imperatriz custam entre R$ 1,50 e R$ 1,70, as de vidro custam cerca de R$ 5 para apenas 300 ml de água. Os preços variam de acordo com as marcas, mas em geral são produtos caros e selecionados. A marca Voss produz água em vidro e plástico. As garrafas de vidro, com 800 ml, custam R$ 42,99, e a mesma quantidade em garrafa de plástico da marca custa a metade do preço: R$ 21,99. As garrafas de vidro são caras, mais difíceis de chegar ao comércio e menos procuradas pela população. Pelo preço, é mais viável a compra de garrafinhas descartáveis, plásticas e poluentes. Na prática, mesmo com o acordo internacional firmado por Itajaí, ainda faltam iniciativas educativas para reduzir o uso de plástico pela população, já que as poucas ações propostas não possuem dispositivos de fiscalização e não têm funcionado como deveriam. De acordo com o secretário de Turismo, Evandro Neiva, a cada edição da regata Ocean Race a secretaria se empenha mais com a questão de sustentabilidade em Itajaí. Mas para ele existe uma diferença entre a execução e a conscientização dessas práticas. “O plástico é utilizado para tudo. O supermercado não tem como eliminar isso de forma rápida. Os fornecedores não estão preparados. Hoje, a solução para a eliminação do plástico ainda é muito cara”, diz. Pro secretário, medidas eficientes em favor da redução do plástico deveriam ser iniciativas do governo do Estado e da União. Isso porque a indústria continua fornecendo plástico descartável barato para as embalagens dos produtos. Fim das sacolas plásticas não acontecerá em curto prazo A maioria dos supermercados catarinenses oferece aos consumidores, gratuitamente, sacolas plásticas. Para reduzir o seu uso alguns oferecem caixas de papelão e a venda de sacolas sustentáveis. Mas essas alternativas passam quase despercebidas diante das inúmeras sacolas plásticas fornecidas nos caixas. As empresas não parecem se importar e inexistem políticas de reeducação de hábitos para o consumo consciente da população. O presidente da Associação Catarinense de Supermercados, Paulo César, afirma que neste momento não há planos para acabar com as sacolinhas plásticas em Santa Catarina. “Não pode dizer para o consumidor que não vai vender determinado produto, porque produtos com embalagens plásticas facilitam a vida das pessoas. Alguns optam por questões de consciência ambiental, e a nossa parte é colocar essas opções à disposição nas prateleiras. As pessoas deveriam se autoconscientizar, mas sabemos que é um trabalho que leva um tempo e que a maioria dos usuários não ficaria satisfeita com o corte das sacolinhas,” conclui. No estado de São Paulo o uso de sacolas plásticas em supermercados já é proibido. O gerente Vitor Hugo, do Supermercado Bistek, em Itajaí, informa que a rede comercializa sacolas retornáveis e promove campanhas para conscientizar o consumidor. “Muitos clientes utilizam a sacola plástica para embalar o lixo de suas casas. Então, eu creio que é uma situação que se não for colocada como obrigatoriedade aos supermercados, não vai adiantar,” defende. A consumidora Cátia Magalhães confirma que sentiria desconforto se fosse ao supermercado e não tivesse sacolas plásticas para as compras, mas acredita que mudanças envolvem uma questão de revisão de hábito em toda a população brasileira. “Acho que seria uma questão de se reorganizar. E acho que essa mudança deveria partir das empresas”, disse. Cátia também acha útil a disponibilização de caixas de papelão nos supermercados, pois é uma maneira sustentável e uma opção aos clientes. “Tem que existir uma norma para todos os supermercados, senão cada um terá uma forma de trabalhar e isso gera uma competição injusta no setor supermercadista. Meu cliente vai acabar migrando para o outro que tem (sacolas plásticas)”, acredita o gerente Victor Hugo. A consumidora Inaira Cardoso acredita que os supermercados poderiam oferecer incentivos para quem não optasse pelas sacolas plásticas. “Eu acho que talvez pudesse ter um desconto quando o consumidor realizasse sua compra utilizando a sacola retornável. Ou cobrança pela sacolas. Mas acredito que isso cabe às empresas decidir”, aponta. O bom exemplo do banimento do plástico A maior festa do pescado do Brasil, a Marejada, em sua última edição cumpriu um dos compromissos firmados com a campanha da ONU. No evento não foram comercializadas garrafas de água descartáveis e o plástico também foi eliminado na parte da gastronomia. A distribuição de água filtrada no evento aconteceu graças à parceria com a Filtros Europa e o Serviço Municipal de Água, Saneamento Básico e Infraestrutura (Semasa). Para o secretário de Turismo, Evandro Neiva, foi um avanço muito grande a festa acontecer sem a presença do plástico descartável, o inimigo dos oceanos. Por outro lado, são iniciativas pequenas diante de um problema maior. Basta ir aos supermercados para percebermos que a maior parte de produtos líquidos ainda é fornecida em plástico descartável. O gerente Vitor Hugo garante que há garrafas de água retornáveis sendo comercializadas no supermercado Bistek, mas confirma que a procura é baixa. Já a distribuidora Água Mineral Imperatriz de Itajaí, que atende a cidade, Brusque e Ilhota, distribui dois tipos de galões retornáveis, mas só com 10 ou 20 litros. O proprietário Vanderlei David de Souza afirma que a maior parte do seu faturamento, cerca de 65%, vem da venda dos galões retornáveis e apenas 35% dos produtos descartáveis. Mas há uma grande quantidade de plástico utilizado para a embalagem dos galões retornáveis de água. O proprietário informa que na sua distribuidora esses plásticos são prensados e vão à reciclagem. Lei dos canudinhos só existe no papel A lei municipal 6992, proposta pelo então vereador Thiago Morastoni (MDB) e sancionada pelo prefeito Volnei Morastoni (MDB) em 21 de dezembro de 2018, que obriga estabelecimentos comerciais de Itajaí a fornecerem canudos de papel biodegradável, reciclável ou reutilizável, nunca foi posta em prática. Embora sancionada há mais de um ano, não foi regulamentada. Um bom exemplo da falta de fiscalização é a experiência de Cátia Magalhães, que na última semana recebeu um canudinho plástico de um balconista. “Eu falei: Na verdade você não poderia estar me dando esse canudinho. Mas ele respondeu que ninguém cuidava disso. Precisa existir uma fiscalização da lei para que a população cultive esses novos hábitos de consumo,” conclui. O diretor de Gestão Ambiental do Instituto Itajaí Sustentável, Agnaldo Assis, explica que a cidade conta com plano de combate ao lixo do mar, e que cada secretaria municipal dispõe de um representante. Ele afirma que todas as secretarias já enviaram suas ações à Câmara, e uma delas é a revisão do plano dos canudinhos. “Hoje não tem quem fiscalize a lei dos canudinhos. Está na mão da Câmara aprovar essas ações. Nessa revisão da lei será iniciada uma fiscalização em Itajaí”, diz Agnaldo. Elas fazem a diferença Há uma mobilização na universidade que é pioneira. As oceanógrafas Camila Burigo Marin e Katia Naomi Kuroshima são responsáveis por projetos de extensão com foco no uso do plástico descartável. O projeto Água Viva da Univali, sob a coordenação da professora Camila, visa resgatar a ideia de pertencimento da água como patrimônio comum e da nossa necessidade de protegê-la para o uso de seres humanos. O projeto promove intervenções junto à comunidade como o Festival de Dança Água Viva, que envolve dança e a ciência para falar sobre a importância da água. No Projeto Oceanos, também da Univali, sob a responsabilidade da professora Katia, são realizados trabalhos com jovens do Instituto Crescer, executando projetos de sustentabilidade. Os encontros são quinzenais e visam transmitir informações sobre sustentabilidade, hábitos humanos e o cotidiano do indivíduo com questões ambientais. O projeto busca sensibilizar para provocar a mudança de hábito. A lei municipal 6992, proposta pelo então vereador Thiago Morastoni (MDB) e sancionada pelo prefeito Volnei Morastoni (MDB) em 21 de dezembro de 2018, que obriga estabelecimentos comerciais de Itajaí a fornecerem canudos de papel biodegradável, reciclável ou reutilizável, nunca foi posta em prática. Embora sancionada há mais de um ano, não foi regulamentada. Um bom exemplo da falta de fiscalização é a experiência de Cátia Magalhães, que na última semana recebeu um canudinho plástico de um balconista. “Eu falei: Na verdade você não poderia estar me dando esse canudinho. Mas ele respondeu que ninguém cuidava disso. Precisa existir uma fiscalização da lei para que a população cultive esses novos hábitos de consumo,” conclui. O diretor de Gestão Ambiental do Instituto Itajaí Sustentável, Agnaldo Assis, explica que a cidade conta com plano de combate ao lixo do mar, e que cada secretaria municipal dispõe de um representante. Ele afirma que todas as secretarias já enviaram suas ações à Câmara, e uma delas é a revisão do plano dos canudinhos. “Hoje não tem quem fiscalize a lei dos canudinhos. Está na mão da Câmara aprovar essas ações. Nessa revisão da lei será iniciada uma fiscalização em Itajaí”, diz Agnaldo. Conscientização de crianças e adolescentes Como professora, Helena Veiga percebe que é necessária a conscientização dos alunos sobre questões ambientais, e, consequentemente, a redução do consumo de plástico. Com iniciativas educativas na rede de ensino, ela acredita que os alunos seriam disseminadores da conscientização às próprias famílias. “Dentro das escolas ainda não existe muito incentivo, mesmo em escolas privadas. Às vezes parte mais dos professores do que das próprias escolas. Percebo que alguns professores é que vêm tentando utilizar materiais mais sustentáveis e influenciar os alunos ao uso do que já possuem em casa”, afirma. No último evento da regata Ocean Race, em Itajaí, aconteceu o primeiro Fórum Kids de Sustentabilidade, com apoio do ministério do Meio Ambiente, e reuniu crianças para falar sobre reciclagem e o lixo que chega ao mar. A intenção da secretaria de Turismo de Itajaí é que o Fórum Kids de Sustentabilidade esteja presente em todas as paradas da regata na cidade. O secretário Evandro também aposta nas crianças e adolescentes para implementar uma nova fase de consumo consciente, e acredita que deveria haver políticas públicas para abordar a redução de plásticos e os seus benefícios para o planeta. “A nossa geração sempre manteve velhos hábitos e foi muito ‘poluidora’, então é mais fácil começar a educar e mudar os hábitos das próximas gerações”, conclui.