O argumento da impossibilidade de deixar de usar o plástico no comércio é da presidente da câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), Eliane Colla. Na reportagem publicada na edição de ontem, intitulada “MP quer menos sacolas plásticas no comércio de Balneário”, a chefona da CDL afirmou: “Não tem no mercado sacolas alternativas pra atender a demanda”.
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Eliane ainda citou a ação judicial que tá parada no fórum da cidade justamente, segundo ela, por não haver como substituir as sacolinhas de plástico.
A professora Melina Chiba Galvão, do instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) de Itajaí, no entanto, tem outra opinião. Segundo ela, as sacolas reutilizáveis são a principal alternativa pra substituição do plástico, que está se tornando um problema ambiental global.
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A oceanóloga e mestra em Educação Ambiental diz que o modelo mais comum de sacola retornável é o de pano, barato e fácil de produzir. Mas conta que já viu pessoas fazendo sacolas de mercado até com banner usado e outros materiais reaproveitáveis, como redes de pesca.
O plástico, ressalta, não é o vilão. “O problema não é o plástico, mas o uso único. Poderia utilizar a sacola plástica, mas não uma única vez”, explica.
O descarte em grande escala de sacolas plásticas é apontado como grave problema ambiental a ser resolvido, o que faz com que as autoridades voltem os olhos ao comércio, em especial aos supermercados. “O primeiro ponto é reduzir o uso das sacolas plásticas, depois reutilizar e reciclar”, aponta a especialista.
Tem que incentivar
Além de diminuir o uso, a professora sugere incentivos pras pessoas devolverem as sacolas alternativas.
Ela sugere também que as redes criem incentivos aos clientes que utilizarem materiais alternativos. “Há uma questão tecnológica e de mercado importante também. Como não há proibição, nunca se investiu de verdade em estudos pra buscar tecnologias alternativas”, acredita.
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Alguns supermercados de Itajaí, por exemplo, vendem as chamadas ‘sacolas ecológicas’, que são reaproveitáveis. Mas o preço é um tanto salgado. Em alguns casos, chega a passar de R$ 10 cada. Na internet se encontram as chamadas ecobags, feitas de algodão cru, a partir de R$ 5.
Itajaí tem bons exemplos
Ainda que na região não haja legislação que proíba ou limite o uso de sacolas plásticas, alguns mercados já vendem sacolas reutilizáveis, feitas de tecido, ou disponibilizam caixas de papelão pro cliente levar as compras.
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Ederson Fiorese, gerente do Comper, afirma que as caixas têm boa aceitação de quem faz compras em maior volume. Mas, por outro lado, as caixas acabam sendo ignoradas por quem faz compras rápidas ou não planejadas.
O mercado que Ederson dirige deixa as caixas de papelão próximo ao caixa e ao alcance dos clientes. Segundo ele, os funcionários são orientados a incentivar o uso das caixas e reduzirem o número de sacolas.
“Tem cliente que já tem sua sacola reutilizável ou usa caixas, mas tem também quem além de levar a mercadoria em sacola, ainda leva algumas sacolas pra casa. Acho que dá pra reduzir o uso, mas não abolir”, opina.
São Paulo e Rio de Janeiro já têm leis para proibir plástico
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Em São Paulo, uma lei de 2011 proíbe a distribuição das tradicionais sacolinhas brancas. Mas ela só foi regulamentada em 2015. Depois da regulamentação, a associação Paulista de Supermercados (Apas) e fundação Procon assinaram acordo prevendo a implantação gradual da medida e formas de conscientizar a população da importância de se utilizar sacolas retornáveis.
De acordo com a associação, depois do acordo, a cidade conseguiu diminuir o descarte de plásticos no meio ambiente em 70%.
Há o incentivo pro cliente levar sua própria sacola reutilizável, enquanto os mercados disponibilizam sacolinhas biodegradáveis nas cores verde e cinza – a primeira pra ser reutilizada no descarte de material reciclável e a outra pra lixo orgânico. Cada sacolinha custa oito centavos.
A professora do IFSC de Itajaí, Melina Chiba Galvão, alerta, porém, que a sacola biodegradável não é a melhor alternativa. “A maior parte dela não é biodegradável de verdade. Ela só se transforma em micro plástico mais rápido. Pode acabar sendo pior que a comum”, afirma.
No Rio de janeiro, uma lei estadual sancionada no final de junho deste ano dá o prazo de 18 meses pras sacolas feitas com derivados de petróleo serem abolidas dos estabelecimentos comerciais. As sacolas reutilizáveis serão de 4 a 10 litros e compostas por, no mínimo, 51% de material renovável, como bioplástico feito a partir da cana-de-açúcar ou milho.