Matérias | Especial


Itajaí

Quem poderá socorrer os animais sem dono?

Entidades e poder público trabalham com limitação de recursos e espaço para acolher os bichinhos doentes em situação de abandono

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

Lizz recolheu animal na rua e não tinha onde deixá-lo


Mariângela Franco, especial para o DIARINHO Imagine a cena: um cãozinho doente, se esvaindo em vômito e diarreia com sangue, prostrado na calçada. Horrível, obviamente. Ninguém, com o mínimo de sentimento, poderia ignorar o sofrimento do animal. Pois foi exatamente o que aconteceu com Elizângela Vicente, 28 anos, no dia 6 de julho. A funcionária do setor administrativo de uma empresa no bairro Itaipava, em Itajaí, deparou-se com a triste situação do cachorro em frente ao seu local de trabalho. E ocorreu a ela a dúvida desesperada: a quem pedir socorro? Sem pensar duas vezes, Lizz, como assina em sua página no Facebook, recolheu o bichinho e levou-o para casa, apesar de já possuir cinco cães. Ela conta que o diagnóstico foi de pneumonia, provavelmente agravada pela friagem daqueles dias e noites. O veterinário receitou cálcio e antibiótico. “Apesar dos remédios e dos esforços, a debilitação parecia não dar trégua em nenhum momento, mas a necessidade de carinho e a vontade de viver no olhar dele eram quase palpáveis. Porém, conciliar tempo para o trabalho e atender as demandas de seis cachorros, e cuidar do novo cãozinho, se tornou impossível,” desabafou. A moça lembrou-se de pedir ajuda a uma ONG em Balneário Camboriú, a Viva Bicho. Colocou o doentinho no carro e dirigiu até a rua José Alves Cabral, no bairro Nova Esperança, em Balneário Camboriú, sede da associação de proteção animal. Mas aí começaram os problemas. Segundo ela, a diretora da Viva Bicho nem quis verificar a condição do cão ou oferecer qualquer ajuda. Um empregado da associação indicou a clínica que costuma tratar os animais sob a guarda da ONG. Lizz deixou o cão no local sugerido e lá ele se recuperou até receber alta para voltar pra casa da jovem, já com o nome de Baylee. Revoltada com o que considerou uma negação à missão de resgatar animais em risco de morte e maus tratos, como diz que leu no site da Viva Bicho, Lizz desabafou no Facebook da entidade, sem receber qualquer resposta até agora. Viva Bicho atende 1200 animais em Balneário Os mais de 1200 animais, entre eles 200 gatos, que ocupam o terreno emprestado por um empresário, ecoam uma sinfonia alucinada de latidos e ganidos pelo amplo espaço, quase um sítio, em Balneário Camboriú. A entidade que cuida de toda esta bicharada é presidida pela voluntária Pamela Israelson. Ela e mais 30 almas generosas dedicam seu tempo para administrar a organização não governamental (ONG) e distribuir amor e cuidado aos cães e gatos recolhidos em situação de abandono, maus tratos ou doença do município. Pamela confirma que recebe uma ajuda financeira da prefeitura de Balneário Camboriú. São R$ 20 mil mensais que mal compram a ração dos bichos e devem cobrir as castrações. “Temos que tirar do bolso para pagar a folha de salário dos oito funcionários, o veterinário que faz as castrações e atendimentos aqui, os remédios, os produtos de limpeza, as vacinas... Estamos devendo para as clínicas que fazem os atendimentos de socorro aos animais doentes ou machucados”, desabafa. A presidente conta que lá recebem os bichinhos recolhidos pela Guarda Ambiental de Balneário Camboriú, Autopista Litoral e até pelo Samu, mas não tem como tratá-los no local. Duas clínicas parceiras realizam os procedimentos de emergência. E a conta sobe. Para cobrir as necessidades, a ONG promove bazares e eventos, e recebe doações de pessoas físicas e jurídicas. Pamela diz que, por não ter sede própria, a ONG deixa de ser habilitada a receber ajuda federal. A média de novos “abrigados” é de 150 a 200 bichinhos por mês, comenta Pamela. Como são realizadas duas feiras de adoção por mês e geralmente são adotados uns 80% dos pets de cada vez, a tendência é que o número de acolhidos aumente assustadoramente, beirando ao limite de caos, desabafa. “A realidade é de precariedade”. Um ponto que Pamela reforça é que as pessoas se enganam quando querem largar seus animais na ONG por qualquer motivo. “A responsabilidade é do dono; nós não temos condições de receber mais nenhum bicho, embora haja quem pense que é nossa obrigação”. A presidente esclarece que a entidade pode ajudar conseguindo desconto de 50% na consulta numa clínica parceira, mas o proprietário do animal tem que arcar com tudo mais, de cuidados a medicamentos. Para dar conta de tantos cães e gatos, a Viva Bicho conta com os oito funcionários e cerca de 30 voluntários. Jaqueline Kistemacher é uma delas. Com a amiga Geni Gomes, ela vai toda a sexta-feira até o sítio para dar banho, massagem e carinho nos cachorros. As duas senhoras demonstram que ajudar faz bem e a retribuição é imediata, com muitos lambeijos e olhar amoroso por parte dos nem sempre bonitos bichinhos. Cada uma banha de 10 a 15 cães, num processo de limpeza e muito afeto. A Viva Bicho tem cada dia menos gente disposta a dedicar um tempinho para ajudar. Qualquer pessoa pode entrar em contato para doar-se ou doar rações, cobertores, jornais, remédios, produtos de limpeza ou mesmo dinheiro, através de débito na conta de luz ou depósito no Banco do Brasil. O telefone de contato é o (47) 3263-1020. Como funciona o resgate na região A supervisora da Guarda Ambiental de Balneário Camboriú, Tássia Carvalho, orienta que, ao encontrar um animal precisando de cuidados por qualquer motivo, o procedimento correto é telefonar para o número 153 e comunicar o fato. Um guarda operacional vai ao local e providencia resgate e socorro, desde que o bichinho realmente não tenha proprietário. Se a pessoa tomar a iniciativa de levar o animal a uma clínica, ela assume automaticamente a responsabilidade por todas as despesas, enfatiza Tássia. Balneário Camboriú conta com o Conselho Municipal de Proteção Animal (Compa/BC). A diretora Karine Gomes diz que ainda não há um número conhecido de animais com e sem dono na cidade, mas uma pesquisa foi iniciada há duas semanas para dar uma ideia da quantidade dessa população. Os agentes da secretaria de Saúde aproveitam as visitas domiciliares para computar esses dados. Karine informa ainda que, no dia 13 de setembro, os prefeitos de Balneário, Fabrício Oliveira, e de Camboriú, Elcio Kuhnen, firmaram parceria para tratar das políticas públicas de proteção animal a serem implementadas em conjunto, uma vez que os problemas e as necessidades dos municípios são comuns aos dois. A diretora Karine participou da reunião e está cheia de expectativa com as ações como cadastramento com chipagem para cães e gatos de rua, projetos de castração e doações através de contas de água e luz, entre outras. Três mil animais perambulam por Itajaí Em Itajaí, a vereadora Renata Narcizo (Solidariedade) atua na causa de proteção aos animais antes mesmo da vida política. Hoje se assume madrinha dos bichos em situação difícil. Ela estima que mais de três mil cães e gatos perambulam pela cidade, nem todos necessitados de cuidados ou resgate. “Tem aquele cão que pertence à comunidade; todo mundo alimenta, trata, protege, e ele segue lá, bem saudável”, argumenta. O município atua através da Diretoria de Defesa e Promoção dos Direitos dos Animais da Fundação Municipal do Meio Ambiente de Itajaí (Famai), que, em parceria com a secretaria de Saúde, mantém a Unidade de Acolhimento Provisório de Animais (Uapa), conhecido como canil. Itajaí não tem nenhum convênio com ONGs para cuidar dos animais abandonados, diz a protetora-vereadora. “O que a população não entende é que as ONGs não têm nada com o poder municipal. Elas ajudam quando fazem bazar, pedágio e outras ações, mas não recebem nenhum dinheiro da prefeitura”. Renata Narcizo avalia que a situação de abandono está cada vez pior, apesar de haver lei específica para penalizar o crime. Muito branda, na opinião da vereadora. “Conscientizar é um trabalho de formiguinha”, conclui. Ela conta que os lares temporários estão lotados “a dar com o pau”. Os voluntários da causa animal assumem muito mais do que podem até deixar o bichinho em condições de ser doado ou voltar para as ruas. “Deveria ter lei para auxiliar as ONGs que fazem o trabalho do poder público”, declara. A vereadora encaminhou uma indicação para que o município criasse um fundo especial para proteção e promoção do bem-estar animal, mas a proposição foi arquivada em 10 de julho de 2017. A diretora da Famai, Andrea Paula Resch, enfatiza que a Famai providencia socorro para os animais sem dono que foram atropelados ou estão em avançada situação de doença, bem como cadelas no cio ou com filhotes recém-nascidos. Ao receber a denúncia, um fiscal vai até o local, faz a vistoria e encaminha para atendimento, se for o caso. “Durante a semana atendemos os chamados pelo telefone da Famai, o 3348-8031, no horário das 8h às 12h e das 14h às 18h; nos fins de semana e feriados, o atendimento é das 8h às 12h e das 13h30 às 16h30 pelo telefone 99931-7841”, ressalta. Andréa diz que os cães e gatos recolhidos são tratados, vacinados, desverminados e castrados antes de serem encaminhados à adoção. As fêmeas no cio são castradas e devolvidas ao local do recolhimento. “A Uapa está com lotação máxima, por isto precisamos da ajuda de voluntários para as feiras de doação”. Ela ainda lembra que, durante a Marejada, haverá um estande com os animais que poderão ser levados para casa se o candidato tiver documento e comprovante de identidade. Também durante a tarde do dia 24, na inauguração do ParCão, na avenida Beira-rio, quem quiser adotar um pet poderá escolher o amigo e levá-lo para casa. Navegantes não tem abrigo para animais O cidadão navegantino que se deparar com um animal em sofrimento, fêmeas no cio ou outra situação que não possa resolver, pode ligar para o telefone 3342-4964, do Departamento de Assistência e Bem-estar Animal de Navegantes. O coordenador Paulo Crispim explica que, após a avaliação, se for o caso, o bichinho é recolhido a uma clínica conveniada, onde é tratado, castrado, recebe um microchip com numeração incluída no sistema informatizado e, após a alta médica, é devolvido à rua ou encaminhado para adoção. O coordenador diz que não tem ideia exata do número de cães que perambulam principalmente pelos bairros. Nem todos são abandonados, informa. Muitas vezes os donos os deixam sair, mas eles têm abrigo fixo. De acordo com Paulo Crispim, a única ONG legalizada do município é a Pró-Bicho, que está autorizada a recolher os animais até o setor de Defesa Animal. “Temos um local de passagem, onde eles podem ficar no máximo durante dois meses. No momento temos 12 fixos, prontos para adoção, e mais 10 flutuantes – de passagem”, comenta. Apenas os casos de urgência e emergência são atendidos, reforça o coordenador, e isto durante o horário comercial. O vereador Samuel Paganelli (PSDB), hoje presidente da Câmara, lembra que foi ele quem criou o departamento vinculado à Vigilância Sanitária de Navegantes. O projeto-piloto, segundo ele, foi tão bem elaborado com o apoio do Conselho de Medicina Veterinária que serve de modelo até hoje. Doutor Samuel, veterinário de profissão, lembra que a média de castrações em 2014 era de seis, sete por dia. Atualmente há um acordo firmado entre a prefeitura e o Ministério Público para que sejam realizadas 20 castrações diárias, o que é inviável, comenta. O atual coordenador Paulo Crispim concorda. “Temos que usar a verba que temos para fazer os resgates, tratamentos, vacinações e as castrações”, declara, citando ainda os custos de aluguel, clínicas veterinárias, alimentação e outros gastos. E acrescenta as castrações solicitadas pela população de baixa renda. Paulo comenta que em data próxima deve explicar a situação na Câmara de Vereadores para rebater as críticas que vem recebendo da ONG Pró-Bicho. “Queremos trabalhar em conjunto pelo bem-estar animal, mas seguindo a lei”, pondera.

Raio-X do atendimento a animais em situação de abandono
  ITAJAÍ BAL. CAMBORIÚ NAVEGANTES
Atendimento emergencial a animais de rua No horário comercial pelo telefone 3348-8031e plantão nos fins de semana no 99931-7841 Durante as 24 horas, pela Guarda Ambiental telefone 153 No horário comercial pelo telefone 3342-4964
Critérios para atendimento Animais feridos ou muito doentes, fêmeas no cio ou com filhotes recém-nascidos Animais recolhidos no município, desde que não tenham dono ou responsável Animais feridos ou muito doentes, fêmeas no cio ou com filhotes recém-nascidos Animais recolhidos no município, desde que não tenham dono ou responsável Animais feridos ou muito doentes, fêmeas no cio ou com filhotes recém-nascidos Animais recolhidos no município, desde que não tenham dono ou responsável
Local para recolhimento de animais de rua Canil municipal (superlotado) para animais debilitados ou a serem adotados Lares temporários lotados ONG parceira (superlotada) recebe os animais recolhidos pela Guarda Ambiental Abrigo municipal temporário por até dois meses (poucas vagas)
Convênio entre prefeitura e ONGs Nenhuma ONG recebe auxílio financeiro ONG Viva Bicho recebe R$ 20 mil para alimentação e castrações Nenhuma ONG recebe auxílio financeiro
 




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