De acordo com Guto, não há garantias de que o terreno fique completamente livre de contaminação. Ele afirma que área deve ser monitorada pra sempre, e isso impediria que se instalassem uma creche ou praça no local. Noticiaram esta semana que a construção de um shopping foi embargada em São Pauloporque estava numa área com risco de contaminação ambiental. Pelo mesmo motivo, não teria sentido a prefeitura de Itajaí correr o risco de instalar uma praça ou creche num local assim, compara.
Num documento apresentado pelo administrador à reportagem, consta o laudo de que a propria Shell contratou uma empresa de engenharia ambiental pra fazer poços pra combater a poluição da área. No entanto, ele salienta que é preciso que esses poços continuem sendo monitorados periodicamente. Não significa que hoje, se acender um fósforo lá, vai explodir tudo. Mas é uma questão de segurança permanente, afirma Guto.
Segundo o administrador, por uma questão meramente ética, ele preferiu não deixar as cópias dos laudos com o DIARINHO, já que os documentos foram solicitados pela própria Shell quando ainda estava no comando do porto. Entretanto, Guto entregou um resumo da papelada. O processo de descontaminação foi iniciado pela antiga proprietária do terreno, que promoveu a remoção de borras oleosas do solo, assim como velhos tanques subterrâneos e tubulações, justificou no documento. No entanto, nos laudos da empresa de engenharia ambiental há a recomendação pro monitoramento contínuo do solo. Temos responsabilidade de fazer isso, como compradores da área, ressalta.
De acordo com Guto, uma das exigências pra instalação do complexo portuário é a carga própria. Foi assim que a família Bellini foi convidada a entrar na sociedade. Ele conta que inicialmente um dos sócios fundadores da Trocadeiro, Osmar Amaral, tinha uma empresa de produtos agrícolas, a Nortox, o que sanava essa exigência pro funcionamento do porto. Com a saída de Osmar da sociedade, era preciso substituir por alguém com carga própria.
Foi aí que os Bellini foram convidados a entrar pro grupo, já que tinham uma empresa que exportava frango, a Frigovale. Anos depois, com a venda do abatedouro, a família do prefeito continuou na sociedade como Bellini Participações e, pra atender a exigência de carga própria, entrou pro grupo a Panimex Química Importadora. Eles [os Bellini] não tinham por que sair da sociedade, a menos que eles quisessem vender a parte deles. Mas não há motivos pra nós simplesmente pedirmos pra eles saírem, destaca Guto.
Entenda o caso
25/07/1998
Jandir Bellini decreta a desapropriação do imóvel da Shell, na avenida Reinaldo Schmitausen, no bairro Cordeiros, pra construção de uma creche e praça pública.
24/04/2001
Depois de reeleito, Jandir revoga o decreto. Nesta época, Guto Dalçoquio era o vice-prefeito de Itajaí.
04/06/2001
Augusto Dalçóquio (pai do vice-prefeito) e outros dois sócios fundam a Trocadeiro Portos e Logística no endereço que era especificado no decreto revogado 41 dias antes, aquele que determinava a desapropriação.
26/11/2003
Somente nesta data a Trocadeiro compra o imóvel da Shell mesmo já tendo fundado a empresa naquele endereço havia dois anos.
20/12/2004
O prefeito entrou pra sociedade da Bellini Participações empresa fundada pela família pra gerir participações societárias.
28/07/2010
A Bellini Participações entra pra sociedade da Trocadeiro.
O tráfico de influência é bastante visível, opina cientista político
Ao contrário dos vereadores de Itajaí que preferem não opinar sobre o caso Trocadeiro, o cientista político Eduardo Guerini não poupou o latim na análise do caso. O tráfico de influência é bastante visível. E um bem público foi colocado em segundo plano, opinaGuerini.
A denúncia que foi publicada na edição de segunda-feira do DIARINHO conta a saga de um terreno que pertencia à Shell Brasil desde o decreto de desapropriação, em 1998, à revogação, três anos depois, até a instalação do porto privado na área, que fica no bairro Cordeiros. O imóvel deveria ter abrigado uma creche e uma praça pública, mas acabou virando um porto privado. Hoje o prefeito é um dos sócios da Trocadeiro, que é administrada pelo ex-vice-prefeito Guto Dalçoquio (PSDB).
Na visão de Guerini, faltou fiscalização por parte dos vereadores da época. Ele acredita que uma decisão como a desapropriação de um terreno e, principalmente, a revogação sem justificativas deveria ter passado pela câmara. Em primeiro lugar, faltou a autorização do legislativo, que é o órgão fiscalizador. E, além do mais, envolve empresa com parentescos com gestores e também não ficou claro a finalidade da transação. Tudo isso é questionável, analisa o cientista político.
Na visão dele, a transparência foi ferida. É um caso pra ser investigado. Ficou claro o uso de um mecanismo clássico de barganha do bem público. Esses casos de tráfico de influência estão virando rotina no Brasil, acredita Guerini. O prefeito alegou problemas ambientais, mas ao beneficiar pessoas, direta ou indiretamente ligadas à empresa, confirma que é um destacado caso de tráfico de influência visando ganho futuro, conclui.