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Primeiro a dor da perda, depois a luta por justiça e, por fim, o silêncio. Há anos, Rosi preferiu se calar. Sofria quieta. Todos imaginavam o que a morte de Rafael causara ao coração da mãe, mas já não ouviam mais as queixas da boca da dona de casa, hoje com 54 anos. Raramente ela compartilhava o sentimento com os outros dois filhos ou com o marido. No entanto, com a mesma discrição com que sofria, Rosi encontrava um pequeno conforto. Feito joias preciosas, nove cartas de letras trêmulas, porém decifráveis ficam trancadas a sete chaves.
A primeira mensagem de Rafael veio em abril de 2004, poucos meses depois que ele foi sepultado. Devoradora de livros, Rosi já tinha lido muitas obras sobre a doutrina espírita mesmo antes de perder o filho. Ela concordava que o melhor de uma pessoa não apodrecia no túmulo. Existe algo além. Sempre tive essa noção do pós-morte, só não esperava que o Rafa fosse se manifestar tão rápido, conta. Ela recorda que a primeira das cartas psicografadas foi escrita em um centro espírita que ela nem conhecia. Só ficou sabendo da existência do lugar quando foi informada que tinham uma mensagem de Rafael. E, como uma mãe desesperada por um contato com o filho que partiu, Rosi correu na mesma hora. Precisava ler e, quem sabe, aliviar a saudade que a estava sufocando.
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A maior surpresa foi o conteúdo. Já na primeira carta, ele pedia que nós perdoássemos. Ele não mencionou o que sofreu naquele dia e nem o que pensou, comenta, se referindo ao dia da morte do filho. Rosi lembra que, desde a infância, Rafael tinha sensibilidade e afirmava ver espíritos. No entanto, o medo fazia com que ele tentasse driblar o dom. Justamente por saber da mediunidade, ela imaginava que ele entraria em contato com a família. Só que esperava que nas mensagens o filho explicasse como tinha se sentido no meio da confusão que acabou na morte repentina do jovem. Entretanto, esta incerteza do sentimento dele no dia em que foi assassinado vai permanecer. Em nenhuma das nove cartas, Rafael menciona a cena do crime. Ele parece ter superado.
Nas mensagens fica claro que o Rafa está mais empenhado em nos consolar do que de falar daquele dia porque, ao que parece, pra ele aquilo não teria mais importância, acredita a mãe. Às vésperas de completar oito anos da morte do filho estudante universitário que, na época, tinha 20 anos Rosi ainda se emociona ao remexer nas histórias. As fotos do filho espalhadas pela casa somente ilustram o que está escondido no coração da mãe: a presença de Rafael não enfraquece, ela lembra de cada dia das duas décadas em que conviveu com o jovem.
"O Rafa sempre bate na mesma tecla: ele não morreu, não se acabou. A vida continua!"
Como qualquer pessoa desconfiada, Rosi também foi cética no início. Para acreditar que as cartas que chegavam até ela, assinadas pelo filho, eram realmente enviadas por ele, a dona de casa comparava a letra com os cadernos antigos que ainda guarda em uma pasta de recordações. Tenho certeza que é ele. Independente do médium que escreve, a assinatura e o conteúdo são sempre iguais. O Rafa sempre bate na mesma tecla: ele não morreu, não se acabou. A vida continua!, ressalta.
Apesar de ainda sofrer e não aceitar a morte do filho, Rosi tem noção do desejo dele. Como vítima, ele aceitou e perdoou. Agora ele batalha pra que nós consigamos perdoar também, destaca. Rosi recorda que Rafael sempre contava todos os detalhes do dia, quando chegava em casa. Uma vez ele veio apavorado, porque tinha sido assaltado no banco e teve que entregar o malote da empresa. Ele estava desesperado porque apontaram uma arma. Então carrego essa angústia de querer saber como ele se sentiu naquele dia, afirma a mãe.
Mesmo desejando ouvir do filho o que ele sentiu no dia da morte, Rosi sabe que a omissão nas cartas é sinal de que, realmente, o fato já foi superado pelo espírito dele. E ela, todos os dias, também luta para superar. Uma batalha por vez. A primeira luta é constante: a superação da saudade. E as cartas psicografadas são aliadas. O contato ajudou muito. Se não tivesse recebido nenhuma mensagem, eu estaria muito pior do que estou hoje, acredita a dona de casa, já arriscando sorrisos espontâneos entre uma história e outra.
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Para quem não sabe...
O que é o espiritismo?
Também conhecido por Doutrina Espírita ou Kardecismo. Foi codificado na metade do século 19 pelo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, que adotou o pseudônimo de Allan Kardec. É uma doutrina que prega o aperfeiçoamento moral do homem e que acredita na possibilidade de comunicação com os espíritos através médiuns.
O que são médiuns?
São aquelas pessoas com capacidade para se comunicar com os espíritos. Uma das tantas formas de comunicação é a psicografia.
O que é psicografia?
É a capacidade atribuída a certos médiuns de escrever mensagens ditadas por espíritos.