Itajaí

Marcelo Brigadeiro

"Ser lutador não é só ali dentro do octógnono, é um estilo de vida"

O MMA (Artes Marciais Mistas) é um dos esportes que mais crescem, na atualidade. A cada dia, a modalidade atrai mais praticantes e admiradores em todos os lugares do mundo. E em Santa Catarina não é diferente. Com eventos globais como UFC e Bellator fazendo um sucesso absurdo, surgiu aí um novo nicho de mercado altamente promissor.

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Foi por isso que Marcelo Franco, conhecido com Marcelo Brigadeiro, largou o Rio de Janeiro e veio pra Balneário Camboriú. Aos 31 anos, o já ex-atleta de MMA é dono de academia, treinador e empresário ...

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Foi por isso que Marcelo Franco, conhecido com Marcelo Brigadeiro, largou o Rio de Janeiro e veio pra Balneário Camboriú. Aos 31 anos, o já ex-atleta de MMA é dono de academia, treinador e empresário com trânsito nos principais eventos do planeta.

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Nesta semana, Brigadeiro deu um tempo no treino com caras como Maiquel Falcão e Ricardo Tirloni (Bellator) pra conversar com os jornalistas Adriano Assis e Henrique Risse sobre o futuro do MMA no Brasil e no mundo. As fotos são de Lúcio Rila.

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DIARINHO – Quando e como começou a sua história nas artes marciais?

Marcelo Brigadeiro – Começou no dia 16 de novembro de 1995. Foi meu primeiro treino. Isso de luta livre, já tinha praticado outras modalidades. Comecei a treinar com cinco anos de idade. [Começou no quê?] Eu fiz jiu-jitsu, judô, kung fu, kicking boxe, mas não me interessava. Ficava um tempo, seis meses, um ano, e depois parava. Em 1995 eu conheci a luta livre por acaso, fui assistir uma aula e na hora eu senti que era aquilo que eu queria pro resto da minha vida.

DIARINHO – O que faz o MMA ser o esporte que mais cresce no mundo atualmente?

Marcelo Brigadeiro – Primeiro, que é um esporte imprevisível. Acho que a grande parte da fascinação do público pelo MMA é que ele é imprevisível. Numa luta de 15 minutos, o cara pode tá tomando uma surra por 14 minutos e 50 segundos e acertar um soco e ganhar a luta. Diferente do futebol, onde um time pode tomar três, quatro gols em 15 minutos e tá acabado. Terminou o jogo. No MMA não, enquanto não bater o sino tudo pode acontecer. Isso o torna um esporte muito interessante. Tem o fato também de conter uma certa agressividade. Nós, seres humanos, somos agressivos. Na Antiguidade, o Coliseu lotava pra ver briga de gladiadores, o boxe foi muito forte durante quase um século. E acharam uma coisa que mistura o show business com a agressividade que a gente gosta de ver. Isso, com a imprevisibilidade da coisa, torna ele essa potência que é hoje.

DIARINHO – Hoje, o UFC é um evento global, com edições realizadas em todos os cantos do mundo. Isso ajuda na popularização do esporte?

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Marcelo Brigadeiro – Com certeza. Positiva e negativamente. Facilita pra quem trabalha sério, porque surgem novas oportunidades e abre os olhos dos empresários pra investirem e patrocinarem eventos e atletas. Eu sou da época em que se você chegava em uma empresa e dizia que era atleta, o empresário perguntava a modalidade, tu dizia que era lutador e ouvia: “sai daqui, que tu não é atleta, é bandido”. Hoje em dia todo mundo quer ser lutador. O cara que nunca treinou quer comprar uma jaqueta do UFC e sair pela rua pagando de lutador. A coisa mudou. O ponto negativo é que nessa onda vem muito vigarista, em todas as áreas, lutador, treinador, empresário. Tudo que se torna muito popular, de massa, tem esse problema. [Você já teve problemas com picareta ou pseudo-empresário da modalidade?] Digamos que eu já tive alguns alunos envolvidos com empresários picaretas e graças a Deus conseguimos nos livrar.

DIARINHO – Por que você acha que o Brasil demorou pra entrar na onda do MMA?

Marcelo Brigadeiro - Por causa da cabeça retrógrada dos nossos empresários e políticos. É tudo uma grande hipocrisia nesse país. Ao mesmo tempo em que o pessoal comprava pay-per-view e endeusava o Mike Tyson, você chegava no meio político pra pedir apoio, pra fazer um evento na cidade, ele dizia que não tinha interesse, que o evento não seria interessante pra cidade. E essa mesma cidade destina alguns milhões de reais pro futebol e você vê briga dentro e fora do gramado. Jogadores de futebol que não são... vamos dizer assim. O maior mau caráter entre os lutadores tem mais caráter que o melhor entre os jogadores de futebol. Porque lutador não vai pra noitada, não bebe, não fuma, não usa drogas, não desrespeita. Lutador é fiel, obedece hierarquia. Aconteceu comigo algumas vezes, você ir na prefeitura e dizerem que não tinham interesse em apoiar o evento porque não iria agregar nada. Hoje a cidade de Jaraguá do Sul saiu na frente de todas as demais prefeituras do nosso estado e em uma semana toda a movimentação que o UFC gerou foi na ordem de R$ 160 milhões. Se isso não é interessante pra uma cidade, eu não sei mais o que é interessante.

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DIARINHO – Nos últimos anos, o MMA sofreu diversas modificações em suas regras. A diferença do Pride pro UFC, por exemplo, é imensa. O que você acha das novas regras?

Marcelo Brigadeiro – Foi muito benéfico pra você alcançar outros públicos. Embora, como eu falei, a gente curta algo que tem uma certa agressividade, você precisa ter uma regra pra alcançar mulheres, crianças e outros públicos. Eu concordo que você colocar um cara chutando a cabeça de outro, como tinha na época do Pride, não é uma coisa interessante pra uma criança.

DIARINHO – Qual a principal dificuldade em levar um lutador brasileiro pros maiores eventos do mundo como o UFC e o Bellator?

Marcelo Brigadeiro – Funil. Tem muito atleta de qualidade no Brasil e tem pouca vaga. Hoje a modalidade se resumiu a três grandes eventos: UFC, Bellator e World Series of Fighting. Com a popularização do esporte você tem um aumento no número de adeptos, cada vez mais talentos surgindo de todos os cantos. Só aqui na minha academia [Company Fight] eu tenho mais de 30 lutadores profissionais. Imagina quantas academias não tem espalhadas pelo Brasil? Quantos atletas tem pra entrar? Mas é um funil, não tem jeito. [E qual a função do empresário nisso tudo? Ele influencia muito ou só o talento do lutador conta?] O empresário conta demais. Seu relacionamento junto ao evento e sua credibilidade pesam muito. Já aconteceu comigo de contratarem um atleta só porque eu garanti que ele era bom. Eu tenho uma relação de confiança com esses eventos.

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DIARINHO – Tem muitos empresários que trabalham exclusivamente com lutadores? É esse um mercado promissor?

Marcelo Brigadeiro – É um mercado muito promissor se você souber trabalhar. Só que você tem que ter diversas qualificações pra trabalhar nesse setor. Não tem espaço pra aventureiros. Se tu te queimou uma vez, não trabalha mais.

DIARINHO – Você já foi lutador e atualmente atua como treinador e também empresário. Qual das funções é mais gratificante?

Marcelo Brigadeiro – Se tu me perguntasse isso na época que eu competia, eu te diria que era ser lutador. Mas hoje com certeza é ser treinador. Você auxiliar uma série de meninos a realizar o sonho deles, você se realiza várias vezes. É diferente.

DIARINHO – Quando e como você virou um empresário do MMA?

Marcelo Brigadeiro – Eu comecei a empresariar em 10 de abril de 2010. Porque eu tinha muitos amigos e companheiros de treinos que eram atletas muito bons, mas vinham sofrendo nas mãos de empresários corruptos ou ineficientes. Então, como eu já falava inglês e tinha um bom relacionamento com os eventos, pois eu comparecia como treinador, eu já tinha portas abertas e decidi me lançar. Não tinha pretensões de virar profissional, foi pra ajudar meus companheiros, e os resultados foram excelentes. Em cerca de seis meses eu comecei com dois lutadores e já tinha 16. Hoje eu tenho mais de 50. [Quais as maiores dificuldades encontradas no começo?] Dificuldade, por incrível que pareça, só encontrei no Brasil. Quando você começa a se destacar numa área, quem já tá na área se sente ameaçado e tenta te boicotar de alguma forma. Eu sofri muito com isso no começo, gente descrente, dizendo que eu queria jogar nas 11: lutar, dar aula e ser empresário, e que eu não ia conseguir fazer nada bem. Algumas vezes o cara chega a dar uma desanimada, mas graças a Deus eu me mantive perseverante, firme, e hoje eu me considero bem-sucedido no que eu faço.

DIARINHO – Maiquel Falcão, um dos principais atletas da atualidade, é da sua equipe. Há uns anos ele se envolveu em problemas com a Justiça e acabou demitido do UFC. Como fazer pra ajudar um atleta que fica nessa situação?

Marcelo Brigadeiro – Isso é uma obrigação do empresário. E é aqui que a gente separa o joio do trigo. Digo sem medo de errar que 90% dos caras que tão nesse ramo, empresariando, só estão preocupados com dinheiro. Então, no momento em que o atleta é demitido do UFC, como aconteceu com o Maiquel Falcão, ele deixa de ser interessante pro empresário. Ele direciona mais problemas e vira antônimo de dinheiro. Então o cara não quer mais o atleta ali. Acho que o que mais me ajudou a ser bem-sucedido, meu diferencial, sou empresário só há três anos, sou muito novo nisso, tô aprendendo muita coisa ainda, não conheço ninguém que tenha só 31 anos e tantos atletas como eu, mas um dos meus diferenciais é justamente o suporte que dou aos meus atletas. Quando o Maiquel foi demitido do UFC, eu recebi a notícia, liguei pra ele, era um sábado de manhã e falei que ele tinha até segunda-feira pra chorar porque segunda-feira a gente ia começar a trabalhar de novo. Aí ele ficou chorando mesmo até segunda-feira, e na segunda eu liguei pra ele e dei a notícia do Bellator, que eu tinha fechado no domingo. Eu já saí correndo atrás de alguma outra porta pra ele e negociei com o Bellator. Trouxe ele de Pelotas pra morar em Balneário Camboriú, dei todo o suporte pra ele e o resultado é que ele foi campeão do torneio do Bellator.

DIARINHO – Chegou a temer pela carreira dele em algum momento?

Marcelo Brigadeiro – Sim, lógico. Ele não é mais nenhum menino. Ele é um cara que tem 32 anos, mais de 40 lutas. Pra um cara desses se desmotivar é muito mais fácil do que um atleta de 19 anos, que tem a vida toda pela frente. Mas eu fiquei em cima dele, ligava direto. Uma das razões pra que eu trouxesse ele pra Balneário, além de eu saber que ele estaria bem treinado com a minha equipe, foi poder estar com ele, aconselhando, não deixando desanimar.

DIARINHO – É mais fácil negociar com o Bellator ou com o UFC?

Marcelo Brigadeiro – A facilidade é do momento que você negocia. Às vezes você chega com o produto que eles estão precisando. Chego com um europeu e eles estão precisando de um europeu naquele peso. A negociação se torna muito fácil. Talvez você chegue com um lutador do qual eles estão lotados e não tem nenhum interesse. Então a negociação se torna muito difícil. Então vai muito do momento. Eu diria que é muito difícil negociar com os dois.

DIARINHO – Nos últimos tempos, muitos atletas têm utilizado o Tratamento de Reposição de Testosterona. Até que ponto esse uso é legal? Ele pode aumentar o rendimento do atleta?

Marcelo Brigadeiro – Com certeza tem influência no desempenho. Não tem como negar. É que nem o pessoal que diz que o MMA não é violento, claro que é, por isso ele é interessante. A mesma coisa com o uso do TRT e esteroides, claro que dá diferença. Mas é aquele negócio, é um plus, algo a mais. Não é isso que vai te tornar um grande lutador. Se você é ruim, pode tomar o esteroide que for que isso não vai te tornar bom nem te levar pra lugar nenhum. Pra ser sincero, eu não tenho uma opinião formada sobre isso. Ok, pode ser usado por quem tenha deficiência? Ok. Mas até que ponto você pode burlar essa deficiência? Hoje você consegue burlar qualquer exame de sangue. Você consegue fazer um trabalho pra que determinado momento em seu exame de sangue você consiga apresentar um nível de testosterona baixo pra que seja liberado o TRT. São diferentes níveis de testosterona: tem o do sangue, o salivar. É um assunto muito complicado. Acho que vai demorar pra saber o que tá certo e o que tá errado nisso.

DIARINHO – Santa Catarina tem emplacado muitos lutadores em grandes eventos internacionais, em especial o Bellator e o UFC. A que se deve isso?

Marcelo Brigadeiro – Primeiro à qualidade das equipes que estão aqui. Temos equipes que são referências ao mundo inteiro. Se deve à fartura de eventos. Acho que não estou sendo leviano se disser que Santa Catarina é o estado com maior número de eventos no Brasil. Não digo qualidade, mas quantidade. Mas isso, pra você dar experiência pra um atleta novo, conta muito. Essas duas coisas são interessantes. O fato de que os políticos daqui finalmente estão abrindo o olho pro MMA, coisa que não acontece em outros estados. E o resultado é esse e a tendência é ficar cada vez melhor. Se tornar um polo cada vez maior. Acho que, junto ao Rio de Janeiro e o Paraná, Santa Catarina já seja a terceira maior potência do MMA nacional. Porque São Paulo esbarra na política. É difícil emplacar a modalidade lá, ninguém conseguiu ainda emplacar. [Teve um UFC lá.] Sim, mas não digo nem UFC, digo eventos menores. Não conheço um evento que tenha conseguido emplacar lá e ficar constante. Não tem. Já no Rio tem grandes eventos, como o Wocs, que vai ter aqui agora [rolou sexta-feira]. Santa Catarina tem grandes eventos, o Paraná tem muitas equipes boas, tem muitos atletas de talento, mas andava carente de eventos. Surgiu agora o Smash, do Pedro Cazan, é um evento de qualidade. Acho que são esses três estados que vão dar uma guinada forte no MMA daqui pra frente.

DIARINHO - No mês de março você teve uma indisposição com Thor Avelino, da Nitrix. O que aconteceu? Como é o clima da Company com a Nitrix?

Marcelo Brigadeiro - Cara, esse rapaz fez um comentário infeliz na rede social Facebook) sobre os meus alunos e eu não permito nem a ele nem ao Papa. Se o Papa fizer lá do Vaticano um comentário sobre qualquer um dos meus alunos eu vou meter o pau mesmo. E eu respondi à altura, né? Eu acho assim, pra criticar alguém a gente precisa ter histórico em uma competição, em uma modalidade, pra gente ser apto a criticar alguém. E na verdade, o que eu fiz foi só indagar o histórico que ele tinha nessa modalidade, o histórico dele dentro da luta. Porque eu nunca ouvi falar dele, nenhum dos meus meninos ouviu falar dele. Ninguém ouviu falar dele, nem a mãe dele ouviu falar dele. Então o que eu fiz foi perguntar qual era o embasamento, o histórico que ele tem na modalidade pra criticar qualquer um que seja. A meu ver, ele não tem condições de criticar ninguém. E a nossa relação com a Nitrix não existe. São equipes diferentes, temos metodologias diferentes. A Nitrix faz um bom trabalho, tem bons atletas. Tem um professor que eu respeito muito, que é o Júnior Aguiar, professor de muay thai. Tem atletas lá que eu gosto, o Ivan Pittbull, que é um garoto que eu gosto muito. Mas eu sou muito restrito, se não tá aqui todo dia treinando comigo é inimigo. Então a Nitrix, assim como toda e qualquer outra equipe que não seja a minha, eu vejo como inimiga. [Há então uma certa rivalidade...] Nada de especial. Há uma rivalidade com a Nitrix assim como com qualquer outra equipe do Brasil e do mundo. Eu vejo eles da mesma forma que vejo qualquer outra equipe.

DIARINHO – Qual a grande revelação na atualidade?

Marcelo Brigadeiro - Falando de Brasil, é o Júlio César, irmão do Morcego. Um garoto de 19 anos, com 25 lutas, invicto. Não tenho como não apontar ele como a maior revelação na modalidade. [E no mundo?] No mundo... Bom, o site Sherdog, o mais especializado, apontou ele [Júlio César] como revelação. Então eu mantenho, é ele mesmo. [E até que ponto ele pode chegar?] Vou te falar que nem o céu é o limite pra esse garoto. Ele acabou de completar 19 anos, não tem nem um mês. E o que ele conquistou com 18 anos de vida, tem cara que em 20 anos de carreira não conquista. Então pensar aonde esse garoto pode estar com 24, 25 anos que, pra modalidade, ainda é muito novo, é assustador.

DIARINHO – O lutador Ricardo Tirloni chegou até o Bellator, mas acabou perdendo sua luta por mero descuido. O Tirloni seria o grande nome do esporte hoje da região ou teríamos outro, com chance de entrar neste torneiro e em outros?

Marcelo Brigadeiro - Temos grandes nomes, sim. O Tirloni, sem dúvida, é uma das maiores referências aqui, é um excelente atleta. O fato de ter perdido não macula em nada a sua trajetória. É um atleta acima da média, que merece estar onde está. Mas temos outros nomes aqui da região, como o próprio Franklin [Jensen], que é um cara fora de série, o Morcego, que vai estrear no Bellator agora no final de julho, o irmão dele, o Allan dos Santos. Temos vários outros, o Júlio Ninja. Tem os gaúchos que agora tão radicados aqui, Maiquel Falcão, Cleiton Foguete. São tantos que fica até difícil apontar aqui um da região. Aí você desce pra Floripa e tem o Thiago Tavares, Kevin Souza, Santiago, Nazareno Malegarie. Enfim, é complicado apontar um. Eu diria que aqui em Santa Catarina a gente tá bem servido de atleta.

DIARINHO - No TUF, programa gravado e exibido pela Globo, muitos reclamavam das escolhas das lutas e também de complôs pra favorecer a equipe do Vitor Belfort. Isso de fato ocorreu?

Marcelo Brigadeiro - Cara, eu vou te falar que não tem como se basear em qualquer coisa que você veja depois de editado. Vocês sabem melhor do que eu, vocês são jornalistas. Você pega essa minha entrevista aqui agora e, dependendo de como editar, posso parecer o novo postulante à Papa ou posso parecer um anticristo total. Vai da edição. Nada do que acontece no TUF ou em qualquer outro reality show eu tiro minhas conclusões pelo que passa ali; é tudo editado. E a edição pode, e não só pode, como distorce muita coisa.

DIARINHO – Tem uma idade limite pro lutador de MMA?

Marcelo Brigadeiro - Idade limite eu não diria, mas você tem uma vida útil. Se você começa cedo, tende a parar mais cedo. Se você começa tarde, tende a parar mais tarde. O MMA é um esporte que exige muito do corpo. Eu acredito que, junto ao Triathlon, talvez esses sejam os dois esportes que mais agridem o seu corpo. Os meninos aqui fazem sete horas diárias de treino, são sete horas agredindo o corpo com coisas que ele não foi feito pra suportar. Lógico que com o avanço da medicina as coisas mudaram. A gente conta hoje com o melhor médico do esporte no sul do Brasil, que é o doutor Fábio Cardoso. Ele, sem sombra de dúvida, consegue prolongar a vida útil desses meus atletas. Mas é inevitável que, mesmo com todo suporte, aconteça igual aconteceu comigo, o corpo não aguenta mais e já era. [Como lidar com as sequelas?] É uma escolha que a gente faz. Não existe sorte e azar, a gente é refém das nossas escolhas. O cara que escolhe ser analista de sistemas pode ter um problema no pescoço, uma lesão na mão por movimento repetitivo por causa do mouse, ter um problema no quadril por ter que ficar sentado o dia inteiro. Toda profissão tem as mazelas que ela traz pro teu organismo, sejam elas físicas ou psicológicas. No MMA eu diria que são físicas. Quando você ingressa no esporte você faz essa escolha. Praticar esporte é saudável, você ser atleta não é nada saudável.

DIARINHO – A Record fez, no final do ano passado, uma matéria falando de sequelas que ficaram em lutadores gringos, alguns chegaram a ficar paraplégicos. Essa é uma realidade vivida no Brasil também?

Marcelo Brigadeiro - Olha, tudo o que é sensacionalista a Record gosta. Então ela poderia ter mostrado – realmente aconteceu que um atleta dos Estados Unidos ficou tetraplégico, mas é o único caso até hoje – mas ela poderia ter mostrado os milhares de garotos que iam morrer de fome, ou iam morrer porque iam entrar no mundo do crime, e que o MMA salvou, dando uma carreira, dando uma oportunidade de vida. É mesmo coisa que o futebol né, que por ano deve morrer uns seis ou sete por problema no coração. E a Record gosta de fazer esse tipo de sensacionalismo, ela gosta de pegar pesado com isso. É a mesma coisa que você julgar porque um cara ficou tetraplégico que o MMA não deve ser praticado, é a mesma coisa que eu falar que os evangélicos não prestam porque uma vez um bispo da Record chutou uma santa e foi desrespeitoso. E também já mostraram alguns donos da Record tomando dinheiro de todo mundo. Então acho que qualquer generalização é burra. [Isso pode ter a ver com o fato da Globo, maior concorrente da Record, ter os direitos de transmissão do UFC?] Com certeza absoluta. É uma briga por um nicho de mercado que eles têm. Da mesma forma que quando pegam essas filmagens de pastor pegando dinheiro. A Globo vai lá e mostra que eles têm não sei quantos apartamentos nos Estados Unidos e que têm mansão, e têm não sei o que, só pra prejudicar a Record. Hoje o MMA é a menina dos olhos da Globo, porque ela viu o potencial que tem como esporte e como show, aí a Record vai e mete malha. Mas é uma atitude muito imprudente, porque fazendo isso eles prejudicam todo mundo que vive disso, todo mundo que vive desse esporte. Então eu não acho que seja justa ou inteligente essa atitude da Record.

DIARINHO - Deixando de lado as grandes estrelas, dá para ficar rico lutando MMA?

Marcelo Brigadeiro - Ficar rico eu não sei se dá, não. A gente tá falando do panorama hoje, e dá pra viver dignamente. Eu aqui mesmo tenho 30 atletas profissionais e a grande maioria deles vive do MMA, e vive bem. Não são ricos, mas vivem bem. Então você consegue viver dignamente, consegue fazer o que você gosta, tem reconhecimento. Mas a gente tá falando disso hoje, há cinco anos era inimaginável pensar que você pudesse viver de luta. Então de repente você vai tá me fazendo essa pergunta daqui cinco anos e eu vou falar que é fácil ficar rico com MMA. Vamos ver como o esporte vai se desenvolver.

DIARINHO – Que dica você daria pra quem quer lutar MMA?

Marcelo Brigadeiro - Primeiro de tudo, é perguntar se você está mesmo disposto, porque não é fácil. Você precisa se convencer que não é uma coisa fácil. É como eu falei, talvez seja o esporte mais sacrificante pro corpo. Você tem que abdicar e abrir mão de muita coisa. Ser lutador não é só ali dentro do octógono, é um estilo de vida. É abrir mão de festa, é abrir mão, às vezes, até de sair com a menina pra treinar no dia seguinte. É abrir mão de comer o que você tem vontade de comer, é abrir mão de dormir tarde, é abrir mão de quase tudo em prol de ter um alto rendimento. E mesmo assim isso não é garantia que você vá chegar lá. Então o primeiro de tudo é fazer um autoquestionamento pra saber se você tá disposto a pagar o preço, depois escolher uma equipe e um mestre que realmente tenha referências e que possa te levar aonde você quer chegar.

DIARINHO – No começo do UFC, muito pela família Grace, ficou claro que o jiu-jitsu levava uma grande vantagem sobre as outras artes marciais. Hoje tem alguma arte marcial que faça diferença ou está todo mundo preparado pra tudo?

Marcelo Brigadeiro - O UFC foi feito pelos Grace e depois foi vendido pra Zuffa, que é a empresa que toca hoje em dia. Então, lógico que eles iam fazer alguma coisa que favorecesse a eles, normal. E assim foi feito. Eles botaram o Royce, que era um exímio lutador de chão, de jiu-jitsu, e botavam pra enfrentar caras que não sabiam nem que era possível você dar uma chave em alguém no chão. Tanto que depois da 3ª e da 4ª edição, quando começaram a aprender o chão, o Royce parou de lutar. E quando ele voltou mais tarde, tomou um vareio. Isso quer dizer que o esporte está em evolução. Ele iniciou muito antes do UFC, na real, mas ele teve sua notoriedade a partir daquele momento, e iniciou ali o seu processo evolutivo. Hoje, vou dizer que o teu treinador faz uma diferença muito maior do que a modalidade que você pratica. Porque hoje todo mundo sabe um pouco de tudo. O que vai fazer a diferença é o treinador e a equipe que você escolhe, não é a modalidade que você pratica, não.

“É uma escolha que a gente faz. Não existe sorte e azar, a gente é refém das nossas escolhas.”

“Você tem que abdicar e abrir mão de muita coisa. Ser lutador não é só ali dentro do octógono, é um estilo

de vida.”

“Acho que a grande parte da fascinação do público pelo MMA é que ele é imprevisível. Numa luta de 15 minutos, o cara pode tá tomando uma surra por 14 minutos e 50 segundos e acertar um soco e ganhar

a luta.”

RAIO X

Nome: Marcelo Franco da Silva

Natural: Rio de Janeiro

Idade: 31 anos

Estado Civil: Solteiro

Filhos: não

Formação: Formado em Veterinária na Universidade Federal Fluminense. Faixa preta 2º Dan em luta livre.

Trajetória: Como atleta, foi tricampeão brasileiro de luta livre, sete vezes campeão estadual, campeão mundial. Como treinador, foi o primeiro a levar a luta livre para a Inglaterra. Já deu aula em 16 países.




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