Itajaí

Jogador Schwenck

“Eu não digo que a gente é um dos grandes favoritos a campeão, mas vamos batalhar muito pra conseguir a classificação”

Cléber Schwenck Tiene é um legítimo carioca. É meio malandro, tem fala arrastada e não troca o Rio de Janeiro por nada. Só há um outro lugar que mexe com o goleador de 34 anos: Santa Catarina. As ótimas passagens por Figueirense e Criciúma marcaram o centroavante, que até já comprou um apartamento em Florianópolis. Pra passar férias, é claro. E é assim, grudado na esposa Mirian e nos filhos Davi (sete anos) e Bernardo (um ano e sete meses), que Schwenck decidiu aceitar a proposta do clube Náutico Marcílio Dias pra disputar o campeonato Catarinense. Davi é tão grudado no pai que, no meio da entrevista, desceu do quarto do hotel pra se sentar no colo do ídolo.

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Ao falar sobre o acerto com o Marinheiro, o boleiro mostra que é diferente. Ao invés do discurso pronto de que chegou ao clube pra fazer história e ficar por aqui por muitos anos – aquele blablablá ...

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Ao falar sobre o acerto com o Marinheiro, o boleiro mostra que é diferente. Ao invés do discurso pronto de que chegou ao clube pra fazer história e ficar por aqui por muitos anos – aquele blablablá cansativo – Schwenck é sincero: veio pro Marcílio Dias pra ser visto e ganhar chance na série B ou até na série A do Brasileirão.

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Segundo ele, só tem um jeito pra chegar aos seus objetivos: fazer muitos gols e levar o Marinheiro ao quadrangular semifinal do campeonato Catarinense. Em um plá descontraído com os jornalistas Henrique Risse e Adriano Assis, o jogador falou da carreira, da família, da vida em países mais exóticos e até brincou com a dificuldade de se manter sempre no peso. As fotos são de Felipe Schürmann.

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DIARINHO: Um centroavante, ainda mais um que sabe fazer gols, é sempre muito procurado pelos clubes em início de temporada. Com todas as propostas que você recebeu, por que a escolha pelo Marcílio Dias?

Schwenck: Eu tava com contrato praticamente em vigor com o ABC de Natal-RN, que disputa a série B do campeonato Brasileiro. Mas por ser um campeonato com uma visibilidade tão pequena, que é o campeonato potiguar, e pelo [Guilherme] Macuglia estar montando uma equipe que quer chegar, que tá com um projeto bom, a gente escolheu vir pra Santa Catarina. Até por já conhecer a competição, já tive a oportunidade de disputar três vezes e em uma fui campeão, na outra vice e na terceira perdi no quadrangular. Então, é um campeonato muito interessante, e espero fazer uma grande campanha. Quem sabe, depois da copa do Mundo, a gente não consegue pegar vaga em um time da série B ou até mesmo da série A. [Você se sente em casa em Santa Catarina?] Com certeza. Tanto que até já comprei um apartamento em Floripa. Então, a gente fala que aqui é a nossa segunda casa.

DIARINHO: Você jogou uma vez aqui, no Gigantão das Avenidas, pelo Figueirense. O que lembra desse jogo?

Schwenck: Foi um jogo que nós vencemos de 2 a 0 e eu marquei um gol de pênalti. Se não me engano, foi o segundo jogo do campeonato Catarinense. Então, tomara que agora eu possa marcar gols a favor, pra gente conseguir essa classificação pro quadrangular.

DIARINHO: O Schwenck artilheiro todo mundo conhece, mas como é o Cléber fora das quatro linhas?

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Schwenck: Sou um cara muito tranquilo, bem caseiro. Eu estou no hotel porque está difícil arrumar um apartamento aqui. Acho que este mês é mais complicado, janeiro é um mês de férias. Então, eu e a minha mulher estamos caçando um apartamento que fique perto do clube. A gente não quer ir pra Balneário Camboriú; queremos ficar em Itajaí mesmo pra se locomover menos. Estamos com uma certa dificuldade, mas tenho certeza de que mais pra frente a gente vai encontrar.

DIARINHO: Nos últimos anos, o Marcílio Dias sofreu muito com jogadores que estavam muito mais interessados na vida noturna de Balneário Camboriú do que nos jogos do campeonato Catarinense. Como fazer pra não deixar a vida fora dos campos atrapalhar lá dentro? E que conselho você daria pra um jovem atleta que passa mais tempo em baladas do que treinando?

Schwenck: A gente espera que quem veio pra cá tenha vindo pra trabalhar, né? Até porque a gente sabe que está um pouco atrás do Criciúma, do Figueirense, do Avaí e do Joinville. E a gente pode surpreender todos eles só com muito trabalho, dedicação nos treinamentos e comprometimento com o grupo. Acho que aquele jogador que veio pra cá pensando em sair em Balneário Camboriú, em ficar no Beto Carrero, então escolheu o time errado. O time aqui a gente até brinca que é um time de operários, pra que a gente possa conseguir os nossos objetivos lá na frente. [Essa região aqui, de Santa Catarina, chama muito a atenção, por isso acaba tentando o jogador?] É, mas o jogador tem que saber o que ele quer na vida. A bola passa muito rápido. Eu tenho exemplos aí muito grandes, a gente sabe que, se vacilar um pouquinho, o mercado vai se fechando. Então, não pode dar bobeira. A oportunidade apareceu aqui, no Marcílio Dias, e a gente tem que fazer o máximo possível.

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DIARINHO: Como você vê o movimento ‘Bom Senso FC’? Acha que ele vai conseguir mudar o futebol brasileiro?

Schwenck: Eles estão tentando, né? Acho que, no meio do ano, tivemos aquelas manifestações sobre o governo brasileiro, agora estão tendo essas manifestações sobre o futebol brasileiro através do ‘Bom Senso’, pra que possa também ajudar os caras que a gente fala que são os funcionários do futebol. Jogadores que têm um campeonato mais curto e depois ficam o resto do ano desempregados. Eu sou um cara que no dia em que o Alex [do Coritiba] e o Paulo André [do Corinthians] me chamaram pra conversar lá em São Paulo, eu bati muito na tecla da aposentadoria. No futebol, hoje, você joga praticamente 20 anos da sua vida, joga infância, adolescência e juventude fora, pra que o brasileiro possa curtir. O que é curtir? É ir domingo assistir ao jogador. Aí, quando acaba a carreira, lá pelos 36, 37 anos, muita gente que não ganhou dinheiro com o futebol não tem o que fazer da vida, porque passou todos os outros anos jogando, e não tem uma aposentadoria. Então, a gente tá batalhando pra isso, pra que o jogador que não chegou a um determinado status na carreira – como todos os grandes jogadores chegam – pelo menos tenha uma aposentadoria.

DIARINHO: Ainda falta uma aproximação dos grandes líderes do movimento com os jogadores dos clubes menores?

Schwenck: É isso que tem que pegado mesmo, como aconteceu no ano passado, quando eu joguei a série B. Porque querendo ou não, quando você joga em um time pequeno, você sofre mais. Não adianta dizer que a equipe grande joga Libertadores, copa do Brasil e tudo mais. Mas quem joga esses campeonatos ganha pra isso, e quem joga campeonatos menores ganha bem menos. Então, eu creio que os campeonatos estaduais só não acabaram por causa dos times pequenos. Porque senão todo mundo quer fazer igual a Europa, mas o Brasil não é a Europa. Lá, você tem um nível de vida muito melhor do que no Brasil. Acho, então, que a gente precisa parar e pensar no que é bom pra todo mundo, não só bom pra uma pessoa.

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DIARINHO: No último campeonato Brasileiro, jogadores como Zé Roberto, Dida, Seedorf, Alex e Paulo Baier foram alguns dos principais nomes, e todos beiram – ou já passaram – dos 40 anos. Há alguma explicação pra esse sucesso dos velhinhos?

Schwenck: É como eu falei, acho que o futebol está ficando muito profissional. Acho que todo mundo que está chegando a uma certa idade tá vendo que não tá podendo mais perder o espaço. Antigamente, um jogador passando dos 30 anos não era contratado por ninguém, e hoje essa mentalidade do brasileiro tá mudando muito. Hoje, o pessoal está optando mais por aquele jogador que tem comprometimento com o clube do que por aquele menino que é uma promessa mas que, às vezes, você não pode contar com ele. O futebol está ficando cada vez mais profissional, e isso está crescendo no Brasil.

DIARINHO: E até quantos anos você acha que vai continuar jogando?

Schwenck: Essa é uma pergunta muito difícil. Vou parar ano que vem, vou parar daqui a dois anos. Então, é muito complicado. Tenho um amigo que vocês conhecem, o Paulo Baier, que tem 39 anos e acabou de assinar um contrato de dois anos com o Criciúma. Você pode falar que poxa, o Paulo Baier é uma exceção. Mas aí você vai ver que o Ramón, outro amigo meu, que agora está trabalhando como auxiliar no Joinville, jogou até os 40 anos. Então você vê que são jogadores que têm muita qualidade e continuam jogando.

DIARINHO: O Marcílio Dias também está apostando em um grupo experiente. Além de você, ainda tem o Harison e o Márcio Careca, com boas passagens por times grandes. No que a experiência de vocês pode ajudar o Marinheiro em 2014?

Schwenck: A gente vai tentar fazer, junto com os jogadores mais jovens, um bom campeonato Catarinense. Acho que o Marcílio Dias, como você falou, vem de uns anos muito tristes, o torcedor está muito abatido. Mas a gente espera que o torcedor fique do nosso lado pra que a gente possa fazer uma grande competição. Eu não digo pra vocês que a gente é um dos grandes favoritos pra ser campeão, mas somos um time que está batalhando muito pra conseguir uma classificação.

DIARINHO: Você sempre foi artilheiro por onde passou, e imagino que também queira ser por aqui. Costuma fazer uma meta de gols?

Schwenck: Com certeza. No ano passado, pelo CRB, consegui ser vice-artilheiro do campeonato alagoano jogando sete partidas a menos que o artilheiro. Então, espero começar bem. Como estou começando a competição desde o início, espero estar brigando entre os artilheiros. É como eu te falei, quero abrir mercado. A gente vem trabalhar sério pra que a gente possa, no segundo semestre, ter um mercado cada vez melhor.

DIARINHO: Até onde este time do Marcílio Dias pode chegar no campeonato Catarinense?

Schwenck: É uma incógnita, né? Espero que a gente possa chegar longe. É tipo assim, tem contratações muito boas, mas você sabe que no futebol é sempre uma incógnita. A gente brinca que futebol não é uma ciência exata. Seria muito fácil, a gente contrata fulano, sicrano, e vai somar um mais um e vai dar dois. E às vezes não é assim. Tem lesões, cartões, suspensões, às vezes o time não encaixa. Mas a gente tá brigando muito é pelo que eu falei, pelo comprometimento, pelo trabalho, pela dedicação. O Macuglia e todo o pessoal da comissão técnica estão fazendo o máximo pra que, no final da competição, a gente possa colher os frutos. [A diretoria do clube passou alguma meta específica pra vocês?] O objetivo de todo mundo que veio aqui, pro Marcílio Dias, é classificar. São quatro vagas. Sabemos que temos adversários difíceis, mas é como eu te falei, no começo tá tudo nivelado. A gente tá trabalhando em dezembro pra começar a competição bem e, quem sabe, beliscar uma vaga.

DIARINHO: Você ficou conhecido nacionalmente nas passagens por Botafogo e Figueirense, mas também defendeu clubes conhecidos, como Cruzeiro, Criciúma, Juventude, Vitória. Quais destes marcaram mais a tua carreira e por quê?

Schwenck: Cada clube teve uma história. No Botafogo, foi por aquele gol que eu tirei o time do rebaixamento no campeonato Brasileiro de 2004. Todo mundo dava como certo o rebaixamento, e foi até o ano que o Botafogo escapou e caiu o Criciúma, que empatou com o Coritiba. Então, foi um clube que me marcou bastante. Outro que marcou bastante foi o Cruzeiro. Fui campeão mineiro com aquela turma toda lá, Alex, Cris, Evaldo. Foi um time que também me marcou muito. E o outro que marcou foi o Figueirense, né, onde, se não me engano, fomos o time da capital de Santa Catarina que ficou melhor colocado no campeonato Brasileiro; terminamos em 7º lugar no Brasileirão de 2006. Foi um ano muito bom, onde eu fui vice-artilheiro da série A. Então, foi um ano que também me marcou muito.

DIARINHO: Qual foi a receita pro trio Cícero, Soares e Schwenck ter dado tão certo?

Schwenck: Muito comprometimento. Você via que ali não tinha egoísmo, não tinha ninguém individualista. Os gols saíam naturalmente, porque a gente não tinha aquela fome de: “Ah, hoje o Schwenck tem que fazer gol, hoje é Cícero, Soares”. Não, saía naturalmente. Tanto que eu lembro que fizemos uma reportagem que, na metade da competição, nós três tínhamos mais gols que grandes clubes. Acho que aqui, no Marcílio Dias, também tem tudo pra dar certo, pois é um grupo que tá se formando, com vontade de trabalhar, onde cada um tem o seu valor.

DIARINHO: Você se arrepende de ter ido para algum clube ou saído de um determinado time?

Schwenck: Não, acho que o arrependimento no futebol você só pode ter por aquilo que não conseguiu fazer. Graças a Deus, toda vez que eu visto uma camisa ou eu vou pra outro clube, tento fazer o máximo de mim pra que eu não possa me arrepender no futuro. Eu tenho o apoio da minha família. Graças a Deus, sempre tenho estado no caminho certo. E eu tenho certeza de que se eu estou indo pro Marcílio, é porque grandes coisas vão acontecer.

DIARINHO: Hoje, o futebol catarinense tem três clubes na primeira divisão do futebol brasileiro, atrás apenas de São Paulo. O que falta para o nosso futebol se firmar como uma força de nível nacional e passar a ser presença também nas competições continentais?

Schwenck: Acho que depois de ter três times na série A, é muito difícil o campeonato Catarinense não ser bem visto; a visibilidade vai aumentar muito, até porque tem três grandes equipes. Então, acho que com os jogos sendo transmitidos, o Brasil todo vendo, lá fora o pessoal também vai estar vendo. Tenho certeza de que os clubes daqui, ou o Criciúma ou o Figueirense ou a própria Chapecoense, vão beliscar uma vaga na Libertadores. Acho que o futebol de Santa Catarina vai crescer cada vez mais.

DIARINHO: Você também jogou na Arábia Saudita, no Japão, em Israel e na Coreia do Sul. O que você guarda dessas experiências em países com uma cultura completamente diferente da nossa?

Schwenck: Acho que ali foi uma experiência de vida muito radical. Eu me lembro de uma vez que eu saí daqui, saí do Botafogo, um verão absurdo, 40 graus no Rio de Janeiro, e cheguei no Japão em janeiro com nove graus negativos e uma neve absurda. De um extremo ao outro. Mas temos que nos adaptar à cultura e aproveitar a oportunidade que a vida nos dá. Graças a Deus, eu não tenho nada a reclamar. Ele sempre foi muito bom comigo, com a minha carreira e com a minha família. É só trabalhar cada vez mais para que a gente possa ir seguindo. [Qual desses países te marcou mais ou você sentiu mais diferença?] Senti mais diferença quando cheguei em Israel, até por ter vindo do Brasil, um país com tanta liberdade. Você chega em Israel e é vigiado de tudo que é jeito. Você chega no shopping e é revistado, você vai sair de carro e antes de sair teu carro também é revistado. Então, por ter essa liberdade tão grande no Brasil você chega lá meio temente de acontecer alguma coisa contigo. Mas foi um país muito bom pra mim no futebol, eu consegui ser campeão israelense, então deu tudo certo.

DIARINHO: Tem alguma história desses lugares para contar, uma história curiosa ou engraçada?

Schwenck: Uma história curiosa foi em Israel. Tinha uma loja Louis Vuitton, por ser brasileiro, a gente viu e quis ir lá comprar alguma coisa. Paramos o carro em frente à loja e, quando voltamos, o carro não estava mais lá. Comentamos: “Como o carro foi sair daqui?”. Só depois que fomos entender que na cidade não se pode parar carro, ele só pode ficar parado no estacionamento e nós paramos em frente à loja. Lá tem uma máquina que enfia um ferro embaixo do carro, já joga em cima do caminhão e você só vai pegar no depósito. Então, foi uma história engraçada. Passei três dias para descobrir onde o carro foi parar...

DIARINHO: Como você fazia para se comunicar por lá com seus companheiros?

Schwenck: No início, era muito complicado, até porque o tradutor não tinha chegado ainda. Ele estava de férias. Então, a gente tentava arranhar um inglês. Mas depois que o tradutor chegou, ficou mais fácil. No mercado, não precisava tanto porque a gente ia, pegava as coisas e pagava. Mas para ir ao shopping, se locomover, foi mais difícil. Mas assim, a gente vai caminhando e se adaptando. [E na bola?] Ah, o linguajar da bola é difícil não entender. Ainda mais dentro de campo. Toca, passa, dá a bola... Todo mundo conhece.

DIARINHO: Com toda essa história no futebol, quais são os objetivos a curto e médio prazo?

Schwenck: Meu objetivo é classificar o Marcílio Dias. Como muita gente fala, ele é o azarão da competição, e quando você tem um desafio grande assim, se empenha mais. Você busca mais força, mais comprometimento, e é isso que eu vim fazer aqui, no Marcílio. Mais um desafio na minha carreira. Quando eu cheguei no Figueirense, quando cheguei no Criciúma, foram desafios grandes também, e espero conseguir aqui a felicidade que eu tive nesses lugares.

DIARINHO: Você pensa em seguir no futebol depois que encerrar a carreira de jogador ou você pretende sair?

Schwenck: Eu sempre mexi com futebol, minha vida toda foi isso, então é difícil você se afastar dele. Penso em me tornar um auxiliar técnico ou trabalhar no meio. A gente não sabe o que vem na frente. Vou primeiro estudar, para que a gente não possa entrar nessa área só com a experiência de dentro de campo. Acho que o futebol está muito bem desenvolvido hoje, por isso penso que a gente não pode entrar zero, tem que entrar bem estudado para que a gente não passe vergonha lá na frente.

DIARINHO – Você entrou no futebol com quantos anos?

Schwenck: Eu comecei minha carreira bem novo, com apenas 11 anos, no pré-mirim no Flamengo. Depois, eu tive várias experiências na minha vida. [Você passou por quais clubes na base?] Comecei no Flamengo, fui pro Nova Iguaçu, depois passei um pouco na base do Santos, então é uma longa carreira. [No ano passado, o Paulo André deu uma entrevista falando muito mal da estrutura da base dos times cariocas, citando até que morou com ratos. Você teve problemas parecidos?] Com certeza, hoje, poucos clubes têm uma estrutura boa para base, campos bons para treinar. Eu estava no ABC de Natal e o campo da base deles é muito ruim. No Figueirense, hoje deu uma melhorada, porque tem CT, mas antes do centro de treinamento também era muito ruim. O futebol está ficando mais moderno. Você vai jogar na primeira divisão e tem estádios com padrões europeus, cada vez mais o futebol está ficando profissional e com isso vai valorizar cada vez mais o atleta do Brasil.

DIARINHO – Está mais fácil formar jogador hoje em dia ou essas dificuldades que você conta ajudavam a formar o jogador?

Schwenck: Foi como eu te falei, o desafio era maior. Hoje, não. Hoje um atleta de 11 anos pode estar ganhando 15 mil reais. Com 13 anos eu não ganhava nada. Meu pai tinha que me dar uma passagem para eu poder ir treinar, às vezes tirava do bolso dele para eu poder ir treinar. Eu lembro que fui ganhar meu primeiro salário com 17 anos. Era metade de um salário mínimo, uma ajuda de custo para eu poder ir treinar. E hoje um moleque de 17 anos pode ganhar até 100 mil reais. Então, veja a diferença.

DIARINHO: Você chegou a passar dificuldades financeiras?

Schwenck: Graças a Deus, eu nunca passei dificuldade na minha carreira. Como meu pai só tinha eu, sou filho único, tudo era para mim. Minha mãe também sempre batalhou muito, ela vendia picolé e meu pai sempre foi da construção civil. Então, sempre deram o máximo para que eu chegasse onde eu cheguei na bola. [Alguma vez você teve que conciliar o futebol com outro trabalho?] Não. Mas eu sempre fazia aqueles bicos de fim de semana. Minha mãe fazia picolé e a gente ia lá vender, até pra poder levar a namorada pro cinema. Já que o futebol não dava dinheiro, a gente tinha que dar o nosso jeito, os nossos pulos. Mas, graças a Deus, meus pais nunca me deixaram faltar nada.

DIARINHO: Neste ano, temos a copa do Mundo no nosso país. Como é pra você, que já passou por vários países do mundo, ver esses povos vindo para cá para disputar o Mundial?

Schwenck: É uma luta muito grande organizar esta copa. Todo mundo já tá malhando muito o Brasil por isso. Você vê que já tá tendo muitos atrasos e coisas assim, mas tenho certeza de que depois que começar... É um povo que vibra muito e vive o futebol, em outros lugares eles são muito frios. Você não vê, em outros países, essa mobilização que há no Brasil. É o país que mais procurou ingressos para a copa do Mundo. [Você pretende ir a algum jogo na copa? Comprou ingresso?] Não comprei ingresso, mas se tiver oportunidade, eu vou. É um jogo diferente, um público diferente. Você sabe que não vai ter briga nem confusão, então a gente espera, quem sabe, conseguir ir e levar meus filhos. [Tem alguma seleção em especial que você gostaria de levar seus filhos para ver?] Se eu pudesse ter a oportunidade, três seleções eu gostaria de ver: Portugal do Cristiano Ronaldo, a Alemanha e a França, que eu sempre gostei de ver.

DIARINHO: Você citou que são jogos sem briga. Quando acontece uma confusão na arquibancada durante uma partida, isso mexe com o atleta dentro de campo?

Schwenck: Ah, com certeza. Por mais que o jogador esteja envolvido dentro de campo, ele não quer ver um pai tendo que proteger seu filho com brigas em volta, como a gente viu na Arena Joinville [Atlético-PR x Vasco, última rodada do Brasileirão]. Você se põe no lugar dele. Imagina você ali, com o seu filho. Eu vivi em outros países, e lá é diferente, o futebol é tratado como um programa de domingo. Tem jogo às 15h30 no estádio de Seul, na Coreia do Sul. O cara que vai assistir a essa partida chega às 13h, almoça no estádio, leva o filho para brincar no parque do estádio e depois vai ao jogo. A partida é um complemento do final de semana. Então, não tem isso de se você perder um gol não vai poder sair do estádio, seu time foi derrotado então você não pode sair de casa. Eu acho que o Brasil tá mudando para essa mentalidade, o futebol tem que ser um programa de domingo com a família. Claro que tem seu torcedor, que tem sua rivalidade, mas que isso não saia da arquibancada e vá para a rua. [Já aconteceu de você perder uma partida e um torcedor te encontrar depois do jogo e te cobrar?] Me lembro que no Botafogo a gente tava nessa fase de ameaça de rebaixamento, perdemos para o Corinthians no estádio Caio Martins [Niterói], a gente terminou de jogar às 18h e só fomos conseguir sair do estádio às 22h. Não podíamos sair do estádio, porque achavam que todo mundo era culpado. Mas são coisas do futebol, histórias que eu acredito que mais para frente serão mudadas. O futebol está se profissionalizando cada vez mais, e isso vai acabar.

DIARINHO: O que a torcida do Marcílio Dias pode esperar de você e deste time?

Schwenck: De mim, com certeza, eles podem esperar um Schwenck sempre guerreiro, como fui em todos os clubes que passei, sempre buscando todas as bolas e brigando em todos os espaços do campo em busca da vitória. E do grupo, eu tenho a certeza de que podem esperar a mesma coisa pela mentalidade que o [Guilherme] Macuglia está colocando de todo mundo se ajudar e ser um grupo muito forte dentro e fora de campo para que a gente possa começar a vencer as dificuldades, como já estamos vencendo desde agora. Às vezes não tem campo para treinar por causa da chuva, não tem um campo apropriado para fazer coletivo, então são desafios que a gente tá pegando desde o início para que quando começar a competição, a gente já esteja calejado. [Você já tá pronto para jogar?] Estamos trabalhando, falta mais uns dias para que a gente possa estar preparado para no dia 26 de janeiro [estreia no Catarinense, em casa, contra o Metrô] começar com o pé direito.

DIARINHO: O Guilherme Macuglia passou que tem um jeito de controlar os jogadores que é na balança. Alguém já está sofrendo com isso?

Schwenck: Muito. Já cortaram o lanchinho da tarde, o sorvetinho de domingo [risos], para que todo mundo fique no peso, porque a gente sabe que o diferencial vai ser dentro do campo, então se a gente puder ganhar na forma física, melhor ainda. [Você costuma ter problemas com a balança?] Rapaz, costumo sim. Até porque a gente tá comendo sempre, tá vendo uma televisão e comendo alguma coisinha, aí quando chega na hora de se pesar, está com aquele quilinho a mais e é como a gente diz: “tá com um quilo a mais, corre mais”. Então, a gente tem que ter cuidado na hora de comer, evitar o McDonald’s, evitar um sanduba de noite para que a gente possa estar bem fisicamente. [É melhor, então, fazer mais concentração com o time?] A gente brinca que na concentração a gente come até mais [risos]. Tem os horários da refeição certinhos, e em casa, como você tá ali fazendo as coisas, acompanhado da família, às vezes você acaba não fazendo uma refeição. Mas sempre é bom a gente estar ligado nisso para que a gente não esteja com um quilinho a mais e acabar perdendo num pique ou uma dividida, mas para que tudo possa ser somado e render um bom fruto no final.

RAIO X

Nome: Cléber Schwenck Tiene

Naturalidade: Rio de Janeiro

Idade: 34 anos

Estado civil: casado

Filhos: dois

Trajetória profissional: Começou nas categorias de base do Flamengo e passou por outros 18 clubes antes de chegar ao Marcílio Dias. Foi campeão no Cruzeiro, em Israel, mas as grandes histórias foram no Botafogo (livrou o time do rebaixamento em 2004) e no Figueirense (vice-artilheiro do Brasileirão 2006)

"Por mais que o jogador esteja envolvido dentro de campo, ele não quer ver um pai tendo que proteger seu filho com brigas em volta, como a gente viu na Arena Joinville. Você se põe no lugar dele. Imagina você ali com o seu filho"

"Eu vivi em outros países e lá é diferente, o futebol é tratado como um programa de domingo. Tem jogo às 15h30 no estádio de Seoul, na Coreia do Sul. O cara que vai assistir a essa partida chega às 13h, almoça no estádio, leva o filho para brincar no parque do estádio e depois vai ao jogo. A partida é um complemento do final de Semana"

"Eu me lembro de uma vez que eu saí daqui, saí do Botafogo, um baita verão, 40 graus no Rio de Janeiro, e cheguei no Japão em janeiro com nove graus negativos e uma neve absurda. De um extremo ao outro. Mas temos que nos adaptar à cultura e aproveitar a oportunidade que a vida nos dá"




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