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Uma copa do Mundo é feita de heróis e vilões. No Mineirão, neste sábado, dois jogadores comprovaram esta tese. Julio Cesar incorporou o imperador romano, pegou dois pênaltis e salvou a pátria de chuteiras, enquanto o pobre Jara meteu um gol contra o próprio patrimônio (que a Fifa creditou a David Luiz) e ainda chutou na trave a última penalidade. No fim, depois de um empate por 1 a 1 no tempo normal, o Brasil derrotou o Chile nos pênaltis por 3 a 2 e garantiu a vaga nas quartas de final.
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Pegar dois pênaltis e ser decisivo para a classificação era tudo o que Julio Cesar queria. Ninguém esquece as falhas do goleiro na derrota pra Holanda, nas quartas de final da copa de 2010. Ele, muito menos. Foi lembrando deste jogo que Julio desabou em lágrimas antes das penalidades. Do choro é fácil falar. Nunca escondi que sou emotivo, nunca deixei de ser eu mesmo. Vários jogadores chegaram para mim, falando coisas lindas, bacanas, e não consegui me segurar. E sabia que precisava estar focado naquele momento. Aproveito o espaço e agradeço a todos eles, desabafou Julio Cesar, em entrevista coletiva concedida logo após a partida.
No jogão de sábado, o camisa 12 viveu as mais variadas emoções. Depois da alegria de ver o time sair na frente do placar, a frustração por levar o gol em uma bola defensável. A raça ao pegar um chute à queima-roupa de Aranguíz, no contrapé, já no segundo tempo. O alívio ao ver o chutaço de Pinilla explodir no seu travessão, no último lance do segundo tempo da prorrogação, e o êxtase ao pegar duas cobranças e ver a de Jara, o vilão, pegar na trave e classificar o Brasil pras quartas.
Pressão inicial
A carga de um jogo eliminatório pegou o time canarinho desprevenido. As jogadas coletivas não funcionaram. Quando tudo tá ruim, bola no Neymar. O garoto tentou, correu, brigou, driblou, mas sentiu. Normal para um guri de 22 anos que carrega um país inteiro nas costas. Pois mesmo mal, o camisa 10 teve participação no primeiro gol brasileiro. Aos 18 minutos ele bateu escanteio da esquerda, Thiago Silva deu numa casquinha e Jara, pressionado por David Luiz, meteu contra: 1 a 0 Brasil. A Fifa deu o gol pro David Luiz, dizendo que ele teria sido o último a tocar na bola. Pra torcida, que já fazia barulho, a autoria do gol não importava. A galera explodiu de vez, mas o grito de o campeão voltou assustou o time. Depois disso, só deu Chile.
Os lançamentos longos para Sanchez e Vargas começaram a preocupar a defesa brazuca. O gol, porém, saiu de uma falha. Aos 32 minutos Marcelo cobrou lateral para Hulk e o atacante perdeu a bola para Vargas, na direita. O ex-gremista rolou para Alexis Sánchez chutar cruzado. Julio Cesar não alcançou e os gringos deixaram tudo igual no Mineirão: 1 a 1.
A sorte parecia mesmo estar do lado chileno. Dois minutos depois, Neymar mandou uma cabeçada com estilo, mas a bola raspou na cabeça de Silva e saiu raspando a trave. Desaparecido, Fred teve duas chances para se consagrar. Na primeira Neymar tentou a jogada pela esquerda e serviu o centroavante, que dividiu com o zagueiro e mandou por cima da meta. Na segunda, dinovo Neymar fez a jogada, Fred tentou a cabeçada e caiu de forma constrangedora.
Foi um sufoco
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O time voltou para o segundo tempo um pouco mais ligado. Fernadinho quase marcou aos quatro minutos, em chutaço de fora da área. Hulk marcou aos nove, mas o árbitro Howard Webb percebeu que ele dominou no braço e anulou o lance. Aos 19, Fred finalmente saiu, dando lugar a Jô, mas quem quase marcou foi o Chile. O volante Charles Aranguíz pegou de primeira e obrigou Julio Cesar a fazer uma defesa monumental.
Ao invés de servir de alerta, a defesa do goleiro parece ter apavorado o time brasileiro. A equipe se retraiu e deixou o Chile ficar mais com a bola. Atento, Felipão mandou Ramires pro lugar do lesionado Fernandinho, mas ficou tudo na mesma. Em jogada individual no fim, Hulk se livrou de meio time chileno e mandou uma cacetada, Bravo fez uma defesa milagrosa e evitou o gol da classificação. Vamos para a prorrogação.
O tempo extra começou como o regulamentar terminou: a torcida tentando apoiar e só Hulk jogando. Aos 13 minutos ele meteu uma paulada de fora. Bem colocado, Bravo espalmou pra longe. Com medo de perder, o Brasil passou a trocar passes para trás, irritando a torcida. O castigo quase veio. No último minuto, o atacante Pinilla se livrou de Thiago Silva e bateu forte. Quis o destino que a bola explodisse no travessão. Era a hora de decidir tudo na marca do pênalti.
Goleiro defendeu dois pênaltis
Muitos dizem que é loteria, mas não há melhor forma de analisar a capacidade de um jogador do que nas cobranças de pênalti. E, antes dos primeiros pênaltis serem batidos, a cena era preocupante. Neymar, o craque, mancava pelo campo. Thiago Silva, o capitão, chorava. E Julio Cesar, cujas mãos poderiam nos salvar, chorava mais ainda.
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Pra acabar com o marasmo de vez, Felipão mandou David Luiz para a cobrança. O jogador mais vibrante do time bateu bem o botou o Brasil na frente. Incendiou o estádio e também o goleiro Julio Cesar. Pinilla, o quase herói, bateu mal. Julio Cesar fez o que um goleiro tem de fazer, esperou a cobrança e pegou. A torcida já fazia aquela festa, quando Willian chutou pra fora. Sorte a dele, e do Brasil inteiro, que Julio Cesar esperou também a definição de Alexis Sánchez e pegou mais um.
O temperamental Marcelo cobrou bem e encaminhou a vitória. Nem o gol de Aranguíz na sequência diminuiu a empolgação. Quem fez isto foi Hulk. Ele bateu no meio do gol e Bravo pegou com a perna. Diaz teve a chance de empatar o jogo e assim o fez: 2 a 2.
Chegou a hora da verdade e a bola estava nos pés de Neymar, mas o Brasil inteiro nas costas pareceu não ter peso nenhum para o camisa 10. Ele bateu como gosta, com paradinha, e botou a seleção dinovo na frente.
Quis o destino que o mesmo Jara que meteu o gol contra, lá no 1º tempo, batesse o último. Ele chutou forte, à meia altura, procurando o canto esquerdo de Julio Cesar. O goleirão não alcançou, mas nem precisou. A bola bateu no poste esquerdo, na mesma goleira onde Pinilla carimbou o travessão no tempo extra. O Brasil está nas quartas de final. Que venha a Colômbia.
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