Há (muitas) vagas

Escassez de mão de obra preocupa

Poder público, iniciativa privada e terceiro setor se mobilizam para suprir o mercado com profissionais

Trabalhadores da construção civil, em início de carreira, têm salários entre R$ 2,5 mil e R$ 3,5 mil (Foto: Ilustrativa/ Stock)
Trabalhadores da construção civil, em início de carreira, têm salários entre R$ 2,5 mil e R$ 3,5 mil (Foto: Ilustrativa/ Stock)

No fim de março, a Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), em parceria com a prefeitura, promoveu a primeira edição do Feirão Emprega Já, em Itajaí, com o objetivo de conectar empregadores com vagas disponíveis e trabalhadores em busca de um posto no mercado de trabalho. Dezessete empresas da construção civil da região ofertaram 168 vagas. Destas, quase 30% eram para o posto de ajudante e não exigiam qualificação profissional específica. E, no entanto, apenas um currículo foi recebido. Para 36 vagas de pedreiro, apenas quatro currículos foram encaminhados. 

Os dados apontam para o grave problema de oferta de mão de obra num dos principais setores da economia regional e indicam que a solução é mais complexa do que se possa imaginar. 

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Para o vice-presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon) dos Municípios da Foz do Rio Itajaí, Gustavo Felipe Bernardi, a escassez de mão de obra é o principal desafio do setor na atualidade. “É um gargalo da nossa produção e vai ser a nossa maior dificuldade, além da economia, nos próximos cinco anos; não só da construção, mas de todos os setores da nossa região”, aponta.

Equação complexa

Para o setor, a equação é muito mais complexa e vai além da ideia comum que aponta a falta de qualificação profissional como o principal fator para a escassez da mão de obra. O vice-presidente de economia e estatística do Sinduscon de Balneário Camboriú, Leandro Ivan Pinto, acredita que antes mesmo de solucionar a questão da qualificação, é preciso dotar as cidades de infraestrutura que viabilize a atração de pessoas interessadas em trabalhar na construção civil. “Nós precisamos de mais pessoas. Mas precisamos também que haja moradias a preço acessível e também um sistema de transporte que facilite a locomoção até o posto de trabalho. Um trabalhador não quer levar uma hora e meia para ir até a obra”, explica.

Há ainda, segundo Leandro, um problema geracional, pois o setor não tem conseguido transmitir aos jovens as vantagens de ingressar em uma carreira na construção civil. “Nós oferecemos oportunidade de construir uma carreira, começando como ajudante, sem exigência de qualificação, com salário médio de R$ 2,5 a R$ 3,5 mil, podendo chegar, com a qualificação e a experiência, a postos mais avançados com salários de R$ 8 a R$ 10 mil”, detalha.

O que acontece, no entanto, é que os jovens são atraídos para outras atividades antes mesmo de ter a possibilidade de iniciar a experiência numa obra, que, de acordo com a legislação, por questão de segurança, só pode contar com maiores de 18 anos. “Aos 18 anos já perdemos, o jovem já foi trabalhar no shopping”, constata Leandro.

De ajudante a gestor

Carlos Leonardo do Carmo, 44 anos, se encantou pela construção civil fora do ambiente formal de trabalho, ainda na adolescência, ajudando o avô que era pedreiro. “Carregava material, ferramentas, ajudava a fazer massa, comecei assim”, lembra. Ele é um exemplo de que é possível construir uma carreira neste setor.

Quando se mudou de São Mateus (SP) para Camboriú em busca de oportunidade, encontrou na construção civil seu primeiro emprego de ajudante. Adquiriu experiência em diversas atividades, inclusive mudando de emprego algumas vezes. Atualmente, acumula as funções de gestor e mestre de obras na construtora em que iniciou a carreira. Esse caminho só foi possível graças à qualificação profissional.

Hoje, Carlos frequenta o curso profissionalizante de mestre de obras do Senai de Balneário Camboriú. Mas essa não é a primeira vez que ele se aproxima da instituição. Quando dava os primeiros passos na carreira, foi o curso de Técnico em Edificações que o ajudou a almejar novos desafios e melhores salários.

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Senai oferece formação profissionalizante na região

O Senai de Balneário Camboriú oferece cursos na área técnica, como o de Técnico em Edificações e outros profissionalizantes: pedreiro, drywall, acabamento, pintura, revestimento cerâmico, e também na área de gestão, como é o caso do curso de mestre de obras. Para os jovens aprendizes, há formação nas áreas de logística e desenho técnico na construção civil.

Parceria com empresas do setor e com as prefeituras da região permite que sejam oferecidos cursos básicos para aqueles trabalhadores que querem ingressar no mercado como ajudantes da construção civil. O curso de 32 horas, com teoria e prática, é oferecido na unidade do Senai ou em escolas e Centros de Referência de Assistência Social (CRAS). É um curso gratuito que também atende pessoas em situação de vulnerabilidade.

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Novas tecnologias

A mais recente oferta de formação do Senai de Balneário Camboriú é o curso de modelagem digital com o uso da plataforma BIM (Building Information Modeling). Esse sistema de gerenciamento de informações sobre o ciclo de vida de uma obra permite a visualização em formato tridimensional de todos os aspectos relacionados à construção. O sistema ainda permite o gerenciamento de dados não visíveis na obra, como por exemplo a quantidade de mão de obra necessária ou o cronograma de execução de cada etapa de construção. “É uma revolução na área de projetos. O sistema integra numa mesma visualização todos os projetos de uma obra”, explica Fabiana Cerato, coordenadora de educação do Senai.

Ascensão de carreira 

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Para os sindicatos, a solução para a crise da oferta de mão de obra passa por uma mudança de cultura que permita que os trabalhadores vislumbrem na construção civil essa possibilidade de ascensão na carreira. “A construção civil paga muito bem e tem possibilidade de crescimento rápido. Nós temos que despertar o interesse dessa nova geração em vir para a obra. Estamos trabalhando numa campanha para conseguir chegar nesse pessoal”, afirma o vice-presidente do Sinduscon da foz do Itajaí, Gustavo Felipe Bernardi.

Carlos, em seu dia a dia como mestre de obras, também acredita que é possível atrair mais trabalhadores com uma mudança de postura dentro das empresas. “Ainda tem um pouco dessa cultura do entra servente, sai servente. As empresas precisam apoiar mais essa busca por conhecimento e incentivar os trabalhadores e crescerem dentro da empresa, isso acaba atraindo mais pessoas”, afirma.

 






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