Matérias | Especial


UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Coletivo de mulheres faz novas denúncias de assédio sexual de Boaventura

Três pesquisadoras, duas delas brasileiras, relatam assédio sexual, moral e intelectual

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

Agência Pública | Por Mariama Correia

Mais mulheres se juntam às acusações de assédio contra Boaventura de Sousa Santos, diretor do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra. Depois da denúncia de assédio sexual feita pela deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL-MG), publicada em primeira mão pela Agência Pública, no dia 14 de abril, um Coletivo de Mulheres formado por pesquisadoras que trabalharam com o professor entregou uma carta à Universidade de Coimbra acusando Boaventura de assédio sexual, assédio moral e extrativismo intelectual (quando há apropriação do trabalho intelectual sem o devido reconhecimento de autoria e remuneração). 

Os relatos são de duas brasileiras e uma portuguesa, que estiveram em equipes chefiadas por Boaventura entre 2000 e 2019. Das três pesquisadoras, duas ainda mantêm vínculo com o Centro. A carta foi entregue no último dia 17, com o título “NÃO É DIFAMAÇÃO, NEM É VINGANÇA. SEMPRE FOI ASSÉDIO”. 



À Pública, o coletivo relatou duas situações de assédio sexual. De acordo com elas, em uma conversa privada, Boaventura disse a uma pesquisadora que eles poderiam “ter uma relação especial” e que, “quando olha para as pernas dela, tem desejo”. Em outro caso, elas dizem que o professor mencionou o corpo e as pernas da pesquisadora, numa comunicação por e-mail. “A pesquisadora assediada por e-mail recebeu um “forte assédio moral tendo seu trabalho desqualificado” por não ceder às investidas, informou o coletivo. 

Em entrevista à Pública, a advogada feminista e popular Daniela Félix, representante legal do coletivo de vítimas do professor Boaventura, disse que “um dossiê com provas será apresentado à Universidade de Coimbra, tão logo se estabeleça uma comissão independente de investigação”. “Temos cinco testemunhas dispostas a prestar depoimento, além das vítimas. Também temos mensagens, e-mails e documentos”, adiantou. 

O coletivo criou um canal para colher relatos de outras vítimas de Boaventura no e-mail querocontarminhahistoriaem23@gmail.com. 


“A ideia é oferecer auxílio e acolhimento para essas pessoas”, disse a advogada. Na semana passada, a Universidade de Coimbra confirmou, por nota, que vai criar uma comissão independente para averiguação das ocorrências contra o professor. Até a publicação desta reportagem, contudo, a instituição não confirmou o recebimento da carta das pesquisadoras, nem deu respostas ao coletivo. 

Na semana passada, a Direção e Presidência do Conselho Científico do Centro de Estudos Sociais informou à reportagem, em resposta aos questionamentos feitos a partir das denúncias da deputada Bella Gonçalves, que, tanto Boaventura quanto seu auxiliar, também acusado de assédio, foram “suspensos dos cargos que ocupavam”.

Por nota à reportagem, o professor disse que decidiu se “autoafastar das atividades do CES” para que a instituição possa fazer averiguações das informações “sem que haja qualquer interferência”. Sociólogo português, Boaventura de Sousa Santos é considerado um dos principais intelectuais da língua portuguesa, com livros e estudos em áreas como sociologia do Direito, sociologia política, direitos humanos, movimentos sociais, entre outros temas. 

Os relatos das pesquisadoras do coletivo ampliam a sequência de acusações de assédio sexual contra ele, que despontaram a partir de uma publicação sobre má conduta sexual no meio acadêmico, em março. Boaventura classificou as denúncias publicadas em março como “vingança” e prometeu apresentar queixa-crime contra as autoras. As integrantes do coletivo afirmam que as práticas abusivas do professor “eram de amplo conhecimento” da Universidade de Coimbra. Em 2018, pichações anônimas nos muros da instituição já chamavam atenção para os casos. Os grafites diziam: “Fora Boaventura. Todas sabemos”.  

Pichação contra Boaventura nos muros da Universidade de Coimbra
Pichação contra Boaventura nos muros da Universidade de Coimbra (Foto: reprodução)

 


“O abuso não é sempre fácil de identificar. Nos momentos em que partilhamos com outras pessoas as violências vividas, encontramos uma reiterada normalização das más práticas ou a ideia da sua inevitabilidade em relações de hierarquia entre homens e mulheres. No caso em questão, entre um homem no mais alto patamar da carreira acadêmica e mulheres em diferentes níveis de precariedade e vulnerabilidade”, diz um trecho da carta do coletivo. 

As pesquisadoras relatam que as práticas abusivas do professor, e de pessoas com autoridade legitimada por ele, atingiam homens e mulheres. “Mas as mulheres eram desproporcionalmente impactadas com a sobrecarga de trabalho, excesso de demandas, e com a frequência com que seu trabalho era depreciado. Pedidos domésticos eram dirigidos às pesquisadoras, como pedir que lhe seja servido um café ou que assegurem que ele tem bananas e água enquanto estava hospedado em viagens para alguma atividade”, narram em outro trecho da carta.

Além do trauma, as pesquisadoras relatam que os assédios e abusos tiveram sérios impactos no desenvolvimento das carreiras. “Estamos, há anos, gerindo por conta própria os danos emocionais e materiais dessa relação laboral”. O coletivo pede que a Universidade de Coimbra crie “mecanismos de recebimento de outras denúncias e materiais probatórios” contra Boaventura e “que seja dada garantia absoluta de sigilo às mulheres que queiram denunciar ou juntar provas a esse processo”. 

 





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