Cláudio tem síndrome de Asperger, de nível 1, doença que faz parte do transtorno do espectro autista. O laudo médico aponta sinais de inteligência acima da média e habilidades para comunicação, negócios e idiomas. O autor tem vários poemas escritos, que ainda pretende lançar em livro, e procura desenvolver seus potenciais na carreira profissional.
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Além de professor, Cláudio é consultor de imigração, com serviços para obtenção de vistos para o exterior. Antes de estabelecer a carreira na cidade, que serve de inspiração para os escritos dele, Cláudio enfrentou momentos dramáticos. Quando dava aulas de inglês, ele sofreu um grave acidente na avenida Osvaldo Reis, em 2019, em frente à loja Cassol.
O professor estava de moto e foi atingido por um carro, sofrendo fraturas em quatro partes do braço. Uma ambulância dos bombeiros passava pelo local e o socorreu. Para bancar a recuperação, Cláudio teve que vender a moto e o carro e deixar o apartamento onde morava, na Praia Brava, se mudando para um quartinho no São João.
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Afastado do trabalho e com princípio de osteomielite, ele foi morar com a família em Fortaleza (CE). Depois de recuperado, ele se formou em transações comerciais e decidiu voltar para Itajaí para recomeçar a vida na cidade. Mas daí veio a pandemia, no início de 2020. Ele relata que quase foi despejado do local onde vivia até conseguir se restabelecer. No ano passado, o professor ainda teve a perda do pai, de 83 anos, que faleceu vítima de câncer, na véspera do aniversário da mãe.
Inspiração
Cláudio já foi selecionado num concurso nacional em 2018, com texto publicado em antologia poética de novos autores. Dessa vez, o autor recebeu menção honrosa pelo poema “A baixada nunca abaixada de Calixto”, sobre a vida do pintor Benedito Calixto de Jesus. O professor segue o estilo parnasiano, que preza pelas rimas e métricas na versificação.
Os textos premiados no concurso serão compilados num e-book e também ganharão uma versão impressa, com lançamento previsto para dezembro. “Esse prêmio representa um recomeço em relação à minha vida. Tive que morrer umas quatro vezes”, comentou, lembrando o histórico de dramas, perdas e tragédias pelas quais passou.
O professor concilia o trabalho no escritório com a produção dos poemas. Ele tem textos inspirados em Itajaí e nas pessoas que, como ele, vieram de outros lugares tentar a vida na cidade.
Após a premiação nacional, ele conta que a inspiração “bateu forte” e fez o poema “Diarinhamente Itajaí”, que citas os bairros da cidade e faz uma homenagem ao jornal DIARINHO.
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DIARINHAMENTE ITAJAÍ…
Diariamente na palavra que vira fato
A notícia que espanta ou a que faz sorrir.
Vinda da praia, do morro ou do mato…
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Sem aviso nem recato, na multiforme Itajaí.
Do tempo que já foi, nos idos diários
Pontuais ou a extrapolar os horários
Do Cais a Fazenda, Matadouro, Pra morar logo ali!
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Cidade Nova ou velha. Compreenda me: Eis me aqui Itajaí!
Bom dia! O sol já nasceu lá na Fazendinha
E na Brava Fazenda que jamais sai de modinha.
Cabeção! Cabeçudas também vale uma passadinha.
De zica. Pra escola na chuva eu já vou terminando a oitava
Pior seria vir a pé lá de Itaipava, é a lama é a luta é a vida!
E lá se vão os espinhos vindos dos Espinheiros…
Que já nem mais afugentam os dóceis Cordeiros…
E a Murta que também já não surta nem mente.
Talvez a temer um castigo vindo lá do São Vicente.
Agora ora e torce para morar na Vila Operária
Eis aí a Itajaí que executa a sua labuta diária.
E que também é aquela bela garota que me fascina…
Quem dera ela olhar para mim minha oh Santa Regina!
E no fim do dia vossos filhos voltam Ressacados e extenuados do trabalho.
Cansados de mais um dia de dura lida, vida lida nas páginas de um diário
Orai então Itajaí com seu povo como se orasse com fé a Dom Bosco
Irá orar até um certo Marinheiro convosco, num terno e eterno DIARINHO!
Itajai, 16 horas e 33 minutos.
25 de outubro de 2022
Claudio Moreira da SIlva