A decisão, que se concretiza neste sábado, foi tomada há cerca de um ano, após a comerciante Luciene Vieira, de 54 anos, o irmão Marcelo Luiz Vieira, de 52, e os pais e fundadores da loja, Luiz de Aquino Vieira, de 80, e Ivete Fonseca Vieira, de 73, contabilizarem quatro anos com vendas insuficientes para manterem o negócio lucrativo.
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“A decisão foi essencialmente financeira: a loja não estava mais alcançando resultado para manter o negócio sustentável. Mas também houve desgaste dos sócios após tantos anos de varejo físico”, explica Luciene, que foi homenageada pelos pais com o nome da loja.
Decisão planejada
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Luciene explica que o fechamento foi planejado e compartilhado com os colaboradores e fornecedores. “Importante frisar: a loja não faliu, tampouco está inadimplente com seus colaboradores, fornecedores ou governos. Fomos conseguindo desligar os funcionários com tranquilidade durante o período de pandemia”, explica.
A decisão não foi fácil já que, segundo Luciene, não é clichê dizer que o comércio era uma grande família. “Nossa gerente tem 39 anos de casa. Nossos colaboradores atuais têm 27 anos, 12, 17 e 29 anos de trabalho em nossa empresa”, conta.
Para fechar a loja com o menor estoque possível, desde dezembro Luciene está com uma grande promoção. Do estoque original, sobraram apenas cerca de 10% das mercadorias.
E o que fica após meio século de trabalho no comércio? “Sentimento de dever cumprido e de profunda gratidão. A loja nos oportunizou conexões profundas e grande credibilidade. Participamos do crescimento da cidade e das decisões que moldaram seu futuro. Estivemos com nossos clientes em momentos felizes, como casamentos, batizados, formaturas. Com eles aprendemos que nossas singularidades são nossa maior riqueza. E que respeito e empatia são uma construção de mão dupla”, conclui, emocionada, a comerciante.
O prédio da avenida Central será alugado. A família está em negociação com uma empresa de Blumenau, varejista de material de construção, que deve assumir o ponto comercial.

“É uma cidade de praia; ninguém anda de sapatos, somente de chinelos”
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"Bom dia, senhor gerente. Meu nome é Luiz Aquino Vieira e quero investir em uma loja de sapatos aqui em Balneário Camboriú. Venho até o banco verificar a possibilidade de adquirir um empréstimo".
O homem o olhou com ar de desconfiança e uma pitada de descrédito. Em seguida, devolveu: "O senhor tem certeza? Esta é uma cidade de praia, ninguém anda de sapatos, somente de chinelos. Não vai dar certo! – sentenciou o executivo do banco Inco, onde o aspirante a comerciante buscava apoio financeiro para tirar o sonho do papel.
Luiz Aquino virou as costas e saiu banco ainda mais decidido. Abriria uma loja de sapatos, quisesse o banco ou não. A compra da primeira remessa da Loja de Calçados Popular – pioneira do segmento em Balneário Camboriú – foi em São João Batista, até hoje o principal pólo calçadista de Santa Catarina. Com pouco dinheiro no bolso, Luiz Aquino e a esposa Ivete compravam remessas pequenas. Para dar a impressão de que o estoque era maior, pediam aos clientes para que deixassem as caixas dos sapatos na loja, o que ajudava a criar o “volume” nas prateleiras.
Pouco tempo depois, o comércio mudou de nome para Luciene Calçados – homenagem à primeira filha. Em 1969, era uma das poucas lojas da avenida Central. Na mesma via, estavam uma tradicional loja de confecções, um banco, um posto de gasolina e um açougue.
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Para atrair os moradores nativos na baixa temporada, vendia-se à vista, no crediário e também com o apoio das tradicionais cadernetinhas de anotação para pagamento no final do mês. “Eram poucos moradores e clientes. Sabíamos o nome e sobrenome de todos e quase não existia calote”, lembra Luiz.
A esposa Ivete era – e ainda é – uma exímia mulher de vendas. Não havia cliente que saísse de mãos vazias, tamanho o poder de convencimento de que o produto era realmente bom e necessário. A visão empreendedora do casal refletia na equipe e na forma de gerir pessoas. A Luciene Calçados foi uma das primeiras lojas da cidade a implementar ações de incentivo às vendas, em que as melhores profissionais do ano eram premiadas com viagens e recompensas financeiras.
Alguns anos mais tarde, com a loja já firmada, o empresário e a esposa perceberam um novo mercado latente: Balneário Camboriú carecia de um lugar para comprar artigos esportivos na região, em especial itens para a pesca. Surgia um novo negócio, a Marcelo Sports, agora uma homenagem ao segundo filho. A loja foi uma das primeiras da Terceira avenida, endereço ainda pouco comercial e, até então, “longe” do centro da cidade.
A Marcelo Sports ganhou corpo e mercado no segmento, espalhando unidades em diferentes cidades do Estado e investindo forte no comércio online.
* Informações do livro “Uma Porta para o Mundo - Memórias do Comércio de BC”
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