Itajaí

“Juro por tudo o que mais sagrado que eu nunca peguei carona”

Talvez não exista uma definição mais perfeita do que chamar Janilton Ferreira de Ciclista Maluco, pois sair de Itajaí numa zica e cruzar o Brasil em estradas pra lá de inseguras e violentas é coisa típica de doido. Mas engana-se quem pensa que Janilton faz isso por pura maluquice. O que motiva o nosso ciclista é a paixão pela bicicleta e uma promessa.

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Essa tal promessa foi feita lá em 1987, quando Janilton Ferreira operou um câncer maligno. Curado, o então jardineiro e porteiro do clube Náutico Marcílio Dias prometeu que nunca mais ia ficar parado ...

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Essa tal promessa foi feita lá em 1987, quando Janilton Ferreira operou um câncer maligno. Curado, o então jardineiro e porteiro do clube Náutico Marcílio Dias prometeu que nunca mais ia ficar parado. Nem mesmo a bolsa de colostomia presa ao corpo o impede de sair pedalando por aí há 27 anos. Brigado com a ex-mulher após o vazamento de vídeos e fotos comprometedoras com outras mulheres, Janilton jura que, vivo, só retorna pra Itajaí em 2018 ou até mesmo 2019, depois de passar pela Guiana Francesa.

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De volta a Itajaí pra resolver um perrengue na dona justa, o Ciclista Maluco deu uma passada no DIARINHO para um plá com os jornalistas Henrique Risse e João Pedro Machado Pereira. Janilton conta histórias inéditas de suas viagens e revela mágoa com o boleiro Neymar e com a presidenta Dilma Rousseff. As fotos são de Elton Damasio.

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Raio X

Nome: Janilton Ferreira

Naturalidade: Itajaí

Idade: 59 anos

Estado civil: Separado

Filhos: Dois

Formação: Até o quarto ano

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Trajetória profissional: Foi jardineiro até começar a pedalar.

DIARINHO - Quando e como surgiu a ideia de sair pedalando por aí?

Janilton Ferreira - Surgiu através de um amigo meu, Nivaldo Manoel Vicente, que está sempre aqui, no DIARINHO. Ele já pedalava, tinha ido até Uruguai e Argentina, me convidou e eu topei. Como eu andava muito de bicicleta, ia a Balneário, Camboriú, Itapema e Floripa, topei. Saímos, e eu gostei tanto de conhecer os lugares, as pessoas, que não parei mais. Fomos ao Uruguai, Argentina, Paraguai. Em 2003, nós fomos até Brasília. Depois disso, ele deu mais umas voltinhas e depois parou. Mas eu continuei. [O senhor enfrentou um problema, que serviu como motivação?] Na verdade, eu estou pagando uma promessa. Operei um câncer maligno no reto e foi Deus que me curou. Deus existe! Existe milagre. Às vezes, eu até esqueço, mas tô pagando uma promessa. [Qual promessa?] Eu estive no hospital sofrendo, por 30 dias na UTI, lá em Floripa, até o médico especial, que é Deus, e o doutor Joel Bernardes, que é um grande médico... São poucos médicos daquele tipo. Ele fica no consultório conversando por meia hora, até colocaram nele o apelido de “médico da paciência”. Porque às vezes tu te sentas na frente do médico e diz: “doutor eu estou como dor aqui, no pescoço”, ele dá um remédio e te manda embora. Não leva dois minutos. Esse médico, não. Ele atende pelo INPS e na clínica São Lucas, nos dois lugares o atendimento é o mesmo. É um médico excelente. Além disso, ele ainda me ajuda. De vez em quando, trago uma lembrança pra ele. Já coloquei ele no Esporte Espetacular [programa da TV Globo]. Ele se arrepiou todo quando viu. Ontem fui lá, ele me deu uma ajuda. [Mas depois dessa promessa pra curar o câncer, o que o senhor fez?] Eu ia pedalar. Ia dizer pras pessoas que Deus existe. Eu carrego uma bolsa de colostomia, e eu não tenho problema nenhum em dizer isso. Aqui, em Itajaí, tem 80 pessoas na nossa associação. Então, às vezes, a pessoa tá com uma dorzinha de nada e já fica na cama, não tem vontade de sair. Várias pessoas que têm o mesmo problema que eu viram a minha história e também se inspiraram. Às vezes, tem pessoas com depressão, e eu também tive depressão.

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DIARINHO - Com que idade o senhor ficou doente?

Janilton - Eu tinha 36 anos. Os médicos primeiro disseram que era hemorroida, depois viram que era um câncer maligno. Um dia, me deu uma dor. Na época, eu era porteiro do Marcílio Dias, e o Curru e o seu Maneca me levaram ao hospital Marieta. Daí, fizeram exame e disseram que era hemorroida. Só depois que fizeram um exame completo e descobriram que era um câncer maligno; o doutor Brandão que viu. Me chamaram e disseram que eu não tinha muito tempo de vida. Vamos ter que operar. Aí, arrumaram o médico e me levaram até Floripa. Fiquei 30 dias pra operar lá e mais 30 dias no hospital. Saí bem, graças a Deus. Mas disseram que eu ia viver só mais uns oito anos. Hoje, eu já tô há 27 anos com esta bolsa. Quer dizer, ninguém pode limitar o quanto um paciente pode viver, só quem pode fazer isso é Deus. [Muita gente não sabe como funciona essa bolsa. O senhor faz suas necessidades através dela?] Muitas pessoas usam até duas. Conheço um amigo que usa uma de urina e outra pra fezes. A minha é pra fezes. Eu não tenho vergonha de falar, porque eu ainda estou vivo. Pior seria não usar e estar morto. Então, é por isso que toda vez que eu me levanto, toda vez que eu pedalo, agradeço a Deus por isso. E ainda vou dar muita glória pra Deus, muita lição pras pessoas. O meu problema é grande, não é nada fácil. Eu estou na estrada, num calor de 40 graus, e a bolsa começa a suar. Aí, o esparadrapo chega a soltar e ela sai inteira.

DIARINHO – O senhor já conseguiu patrocínio pra várias coisas, como alimentação e hospedagem. Quando vai sair um patrocínio pra uma bicicleta nova?

Janilton – Essa bicicleta quem me deu foi o Décio Lima [deputado federal], faz sete anos. Eu tô com ela ainda, é a Bambina, e eu quero ficar com ela mais sete anos. Porque bicicleta é assim, tu tens um quadro já está bom, mas aí tem que arrumar pneu, deixa ela bonitinha... Porém o mais importante é o quadro. Claro, a roda também é importante. A bicicleta pode durar até 30 anos. A Bambina vai ficar mais uns sete ou oito anos comigo, porque Rebeca tá no museu, lá na Penha. Então, ela vai ficar muito tempo comigo. [Quantas bicicletas o senhor já teve?] Esta é a terceira: Margarida, Rebeca e Bambina. [Como surgiu a ideia de dar nome para as bicicletas?] Eu li em uma revista que um cara tinha colocado nome na bicicleta, e eu peguei e botei também. [Ela é uma companhia?] É uma companhia, sim. A primeira é Deus, e a segunda é ela. Às vezes, eu até falo com ela, porque não tenho com quem falar, né [risos]. Eu digo “vamos lá”, e beijo o guidão. Na verdade, o quadro é da Bambina, mas o aro é da Rebeca. Às vezes, eu troco: “ô Rebeca, manda brasa”. Eu estou subindo o morro e digo “ah, Rebeca”, e ela não fala nada [risos]. Agora, ela falou que se eu não voltar pra lá até terça-feira, ela vai sozinha pro asfalto [risos].

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DIARINHO - Qual a situação mais perigosa vivida na estrada?

Janilton – Tem uma indo pra São Paulo, quando pegava aquela serra nojenta, que vai subindo, subindo. Agora ali tá bom, tem um pista bem larga, mas da primeira vez, era só uma mão. Ia e voltava. Eu tava ali, com a minha ex-mulher, e uma carreta por pouco não nos pegou. Ainda bem que eu buzinei. O caminhão vinha na contramão. Aí, ele viu que era um bicicleta e desviou. Meu Deus, naquele dia ali nós gelamos. Se eu não desvio ali rápido, ele passava por cima. [Em que ano foi isso?] Em 2005, quando a gente foi a Fortaleza. Saímos no Esporte Espetacular e tudo. A minha mulher foi comigo até Fortaleza, só no pedal. Não teve carona, não. É claro que a gente andava pouco. Com mulher, a gente tem que andar menos, uns 40, 50 quilômetros por dia. Porque quando eu estou sozinho, a média é de 80 quilômetros por dia. Saio de manhã cedo, seis horas, e vou até as 16h, 17h. Pra fazer 60 quilômetros, eu vou até as 14h. Nesta viagem, agora, eu caí muito também, porque o vácuo do caminhão derruba a gente no chão.

DIARINHO – O senhor já foi praticamente a todos os estados brasileiros. Falta ir aonde?

Janilton – Quero cruzar o Brasil de ponta a ponta. Tudo o que falta é lá para cima. Eu sei que o Macapá eu vou fazer agora. Vou atravessar a balsa de Belém pra Macapá, vou até o Oiapoque e depois vou à Guiana Francesa. [Qual foi o destino mais inusitado?] O que me chamou mais atenção foi Fortaleza, Manaus, que tem um baita de um porto. Muitas pessoas ficavam me olhando, porque poucos ciclistas passam por lá. Chegaram a aparecer três televisões de uma vez só pra me entrevistar. Acabava uma entrevista e começava outra. Globo Esporte, Record, acho até que saiu no Jornal Nacional. Fiz dois jornais também. É terrível pedalar em Manaus. Ruas estreitas, ônibus sempre passando. [Nessa ida a Manaus, o senhor passou um tempão na balsa, pegou até doença...] Foram sete dias, peguei doença, sim. Eu não estava acostumado a comer carne de búfalo. Foram 87 pessoas que pararam no hospital, e o cara disse lá que não é a primeira vez que todo mundo vai. Eu perguntei por que, então, se come carne de búfalo, e disseram que é porque um deputado tem uma fazenda de búfalos. Mas a gente tava ali no rio, e tava cheio de piranha. Podia ter um peixe, um frango. Mas comemos búfalo sete dias. O cara ia pra fila da comida, porque tinha muita gente. Eram umas 200 pessoas. Paguei R$ 177 na viagem; tenho a passagem até hoje. Tem passagens mais caras também, mas aí é na parte de cima, com televisão e piscina. Aí, naquela fila, o cara perguntava o que tinha; se era búfalo, já desistia. Quando a balsa parava, eu descia e ia comprar comida. Só nisso, gastei mais 350 contos. [Que doença o senhor pegou lá?] Dizem que foi malária, mas não foi. Pra mim, foi uma intoxicação por causa da mistura da água que a gente tomava lá no barco, com a carne de búfalo, que é muito pesada. Eu fiquei ruim, fiquei dois dias muito mal no hospital. Mas aí fizeram o tratamento e constataram que era malária. Mas eu não acredito. Se fosse malária, eu já teria morrido. Já faz uns 10 anos que eu fui pra lá. E agora tem vacina pra tudo, né. Só pra ir num lugar eu tomei três vacinas, uma aqui no braço e as outras duas por trás, na bunda. E agora, quando eu chegar em Macapá, tenho que tomar a vacina da dengue.

DIARINHO – Qual foi o lugar mais feio e violento que o senhor já visitou?

Janilton – Violento é o Rio de Janeiro, né. Agora triste foi conhecer a Serra Pelada, que nos anos 80, me parece, era o garimpo mais rico. Agora, se você for lá, e eu estou falando a verdade, é o lugar mais pobre. Porque aquilo lá não é uma cidade, é um povoado, com uns 20 mil habitantes. A cidade lá é Curinópolis, que pertence a Serra Pelada, e lá é uma pobreza danada. Não tem correio, não tem banco, não tem lotérica, não tem nada. Eu fiquei três dias por lá andando por tudo. Paguei R$ 50 pra um guia me mostrar tudo, um tal de Catarina, que é de Chapecó. Eu até já falei isso na televisão: Serra Pelada é o povoado mais pobre do Brasil. Tem cidades com três mil habitantes que têm mais estrutura. Eu fiquei admirado, porque é preciso andar 45 quilômetros até a cidade mais próxima. E não dá pra ir de bicicleta, tem que ir de ônibus. São 35 quilômetros só de barro vermelho. E na cidade também, é só barro.

DIARINHO - Como o senhor convence uma empresa a virar patrocinadora de uma viagem sua? Qual a publicidade que o senhor oferece para essas empresas?

Janilton – A gente tem uma parceria muito boa com o supermercado Provesi, em Penha. Morei uns três ou quatro anos por lá, fiz muitas amizades, e eles sempre me ajudaram. Aí, também tem os vereadores que me apoiam; o Zé da Codetran sempre manda alguma coisa. [Como você consegue a ajuda deles?] Eu digo que vai sair matéria sobre a viagem no DIARINHO, e o jornal vai me deixar agradecer quem me ajuda. Porque sai a viagem do ciclista e vai estar lá o nome do empresário que tá me ajudando na viagem. Daí, o outro vê e quer apoiar também. Agora, tem quem não cumpre. Tem um dono de restaurante que ia me ajudar com R$ 50 ou R$ 100 todo mês. Eu o procurei e ele disse que tá quebrado. Ele não me deu um real. Aí me deu 10 contos. Ah, para, isso não existe! [A sua bicicleta também tem adesivos de apoiadores?] Tinha adesivo, mas aí eu tirei fora, porque o cara parou de patrocinar e eu tirei, que era o Beto Carrero. O Alex [Murad] parou de apoiar, e eu tirei. Ele tava dando R$ 250 por mês, mas aí falou que o Beto Carrero tava mal, tava quebrado [risos]. Lá no Maranhão, uma ótica me deu óculos, camisa, boné e pagou o meu hotel também. Aí, as pessoas que fazem isso eu coloco a camisa pra dar uma ajuda, né. Mas são altos e baixos. Às vezes, você vai falar com um empresário, e ele te vira as costas. Mas eu não vou desistir. Já passei três dias sem comer. Três dias! Não foi um dia. Aí, o que é que eu faço? Sempre levo um pão dentro da bolsa, uma banana, uma maçã. Porque tem lugares que tu não comes, porque não tem restaurante. Mas água não pode faltar. Se faltar água, é terrível. Sem comida, a gente dá jeito, mas sem água não tem como.

DIARINHO – Em várias fotos vocês aparece com a bandeira de Itajaí. Você faz isso por amor à cidade ou porque os governantes te apoiam?

Janilton – Não, negativo! Eles não me apoiam! Eu até quero falar sobre isso. Eu uso a camisa de Itajaí, a bandeira de Itajaí porque eu carrego sempre comigo. Eu nasci em Itajaí e tenho orgulho de ter nascido aqui. Mas não pelo prefeito [Jandir Bellini], ou por algum assessor dele, nada disso... Eu fui recebido pelo secretário de Esporte. O prefeito nem me recebeu. Eu cheguei aqui e parece que faz só 11 dias que eu saí de Itajaí, e dia 19 de maio vai fazer um ano que eu saí. Agora, fui lá e disseram que não vão pagar o hotel. Em todas as prefeituras em que eu vou, o prefeito sempre me apoia, dá o hotel para eu ficar. Só aqui é diferente. Se não fosse o Zé da Codetran, eu estava dormindo na rua. Porque os hotéis baratos de Itajaí fecharam. Agora, só tem os hotéis caros; o mais barato custa R$ 60. O Zé me ajudou. Eram 23h30 e ele tava lá no hotel, pagando a diária. Saiu de um aniversário e pagou. Mas é assim, nas prefeituras de fora, eu sou bem recebido. Eles dizem “meu caro”, porque sou famoso, mas famoso é Jesus. Me colocam em hotel, dão dinheiro; já ganhei quinhentão de um prefeito no Mato Grosso do Sul, em Coxim. O cara tem dois hotéis lá. Pegou o telefone, ligou pro gerente e já arrumou um quarto pra mim. Fiquei uma semana lá, comendo só peixe; tava com uma saudade de comer peixe. Fui a um restaurante lá, e o dono me liberou pra comer durante uma semana de graça. Ele disse que eu podia mudar o cardápio, mas eu disse “não, eu quero é peixe”. O peixe é de água doce, mas é bem gostoso. Então, é assim, as pessoas me atendem melhor fora do que aqui.

DIARINHO - Uma das primeiras coisas que o senhor fez, ao chegar em Itajaí nesta passagem-relâmpago, foi visitar o prefeito Jandir Bellini. O que o senhor queria com ele?

Janílton – Eu saí lá de Floriano quinta-feira, às 11h30; cheguei em São Paulo às 7h30 do outro dia. Aí, peguei o ônibus em São Paulo, ao meio-dia, e ia chegar aqui às 21h30. Peguei o telefone e avisei o Zé que eu estava chegando. Ele disse que ia me colocar no hotel e que depois era pra eu ir até a prefeitura pra falar com o prefeito. Eu fui, mas como da outra vez, em 2012, ele também não me atendeu. Cheguei lá e disseram que ele estava em reunião, mas tenho certeza de que não tinha reunião nenhuma. Eu não queria dinheiro, só o hotel, mas disseram que não tinha. Aí, fui até a secretaria de Esporte, e a mulher disse que eu poderia ir pro albergue de andarilhos. Pô, eu tenho cara de frequentar albergue? Viajo por todo o Brasil e nunca fiquei em albergue, vou ficar na minha cidade? “Ah, mas o senhor tem família”, ela disse. “Mas eu não tenho mais, você sabe que eu me separei”. E a quitinete do meu filho mal cabe a cama dele lá; como é que eu vou dormir? E eu não me dou com meus irmãos. Quando eu voltar dessa viagem, e se Deus quiser vou voltar vivo, eu não vou ficar na casa deles. Eu prefiro ficar em um asilo. Eu não me dou com meus quatro irmãos.

DIARINHO – O senhor já tirou foto com pessoas famosas, como o presidente Lula e o jogador Neymar. Por que o senhor acha que eles querem ser fotografados ao seu lado?

Janílton – Eu mostro antes o álbum [com fotos de Janilton na companhia de outros famosos pelo Brasil], e eles também querem aparecer. O Neymar foi um dos poucos que não quis. Eu entrei no CT dos Santos durante o treino, mas ele não quis tirar foto comigo. Ele não é a pessoa que a gente pensa que é. Mas o resto da turma do Santos, o goleiro Rafael, o Elano, todos me atenderam muito bem. O Elano parou no estacionamento, saiu do carro, tirou uma foto e me deu 50 reais ainda. O único que não me atendeu bem foi o Neymar. O restante quis aparecer no álbum também, porque viu outros famosos, como o Júlio Cesar. Não é “ah, vou atender pra ele ir embora”. Eles tiram porque realmente querem sair na foto. Me perguntaram como eu tenho coragem de andar de bicicleta por aí. Eu disse que em Santos tá cheio de ciclovia. Então, o pessoal não anda de bicicleta porque não quer. Mas eles tiram foto com prazer, sim. Muitos me reconhecem de programas conhecidos, “ah, eu vi ele no Esporte Espetacular. Aquele ali é o cara. É o famoso Ciclista Maluco”. E eu digo: não, famoso é Jesus. Ninguém além dele é famoso, nem Neymar, nem Dilma, nem nada. Com o Lula, foi uma foto muito bonita. Fiquei três dias em Brasília. Ele mandou que o Fritsch [José Fritsch, então secretário de Aquicultura e Pesca] me levasse até o gabinete dele. Era uma sexta-feira, cinco horas da tarde. Eu tava de calça de agasalho, e ele [Lula] perguntou: “Mas vocês não são aventureiros? Quero aqui de bermuda”. O Nivaldo [Manoel Vicente] foi ao banheiro se trocar, e eu só tirei a parte de baixo, a calça de agasalho. [Além de Neymar, outras celebridades também não aceitaram fazer fotos com o senhor?] Tem aquele moreninho, amigo do Diego, o Robinho, que também se negou. Eu, do ladinho dele, e ele não quis. O goleiro Ceni [Rogério Ceni], do São Paulo, também não quis.

DIARINHO- A última decepção desta lista foi a presidenta Dilma Rousseff. Ela perdeu o seu voto?

Janílton – A Dilma vai ter troco, como diz o outro. Perdeu o meu voto e perdeu mais, pois eu vou fazer pressão pra ela perder mais votos. Saiu em vários jornais que eu fui a Brasília só para tirar uma foto com ela. Eu fiz uma grande faixa, tudo bem bonitinho. Ficava das nove até as seis horas da tarde, horário em que ela saía. Jantava todas as noites numa pousada e andava oito quilômetros, todo dia, só pra chegar lá no palácio [do Planalto]. Quando ela tava numa reunião com os marinheiros, viu o pessoal tirando fotos da faixa e, quando eu fiz um sinal pra tirar foto comigo, ela virou as costas e saiu. Mas eu soube que teve um cachorrinho aqui, de Balneário Camboriú, que tirou uma foto com ela lá. Então, ela tirou foto com o cachorrinho e não tirou com o cachorrão aqui. Até falei com o Décio [deputado Décio Lima], e ele argumentou que ela tava cheio de compromissos e tal. E eu disse que o Lula também tava com a agenda cheia, e me recebeu. [Quanto tempo o senhor ficou esperando em frente ao palácio do Planalto pra tirar uma foto com Dilma?] Fiquei 17 dias. Depois disso, o segurança chegou pra mim e disse que a foto não ia sair e que eu tinha que ir embora. Eu não tava perturbando ninguém. Ele pegou o canivete e rasgou a faixa no meio. Quando eu ia pegar da mão dele, já tinha rasgado. Eu chamei a polícia, e eles disseram que o segurança não poderia ter feito aquilo, porque eu tava fora do palácio, do outro lado. O segurança disse: “ah, fiz isso aí porque o coitado tá no sol quente”. Foram 17 dias de muito sol. Eu fui embora, mas fui muito chateado. Eu andei 3700 quilômetros. Fui por Mato Grosso do Sul, saí de Rondonópolis e, depois, cheguei em Brasília. Andei tudo isso pra chegar lá e não sair a foto! Eu não sou o primeiro ciclista com quem ela não tira foto; parece que já foram três.

DIARINHO - O senhor era filiado ao PT e pediu desfiliação em virtude de uma desfeita da então senadora Ideli Salvatti, que não o teria recebido. Ainda guarda alguma mágoa do partido dos Trabalhadores por causa disso?

Janílton – Do partido eu não tenho raiva, tenho é da Ideli. Eu quero frisar que fiquei duas horas sentado na poltrona, fora do gabinete, com aquele cheirinho bom de comida, e não me ofereceram nem um café. Nessa época, ela tava com o braço quebrado. Passou por mim, e eu perguntei: “Ideli, não vai me atender? Tô há duas horas esperando aqui, com fome e cansado”. Ela disse: “Eu tô com pressa”. Depois disso, ficou 10 minutos conversando com um cara no corredor, o que me deixou ainda mais puto. Eu disse: “Ô, asa quebrada, em 2010 vai ter troco”. E ela perdeu a eleição pra governadora, não perdeu? Inclusive, quando teve um evento dela aqui, no [clube] Tiradentes, eu peguei vários adesivos do Colombo [Raimundo Colombo, atual governador do estado e então candidato] e colei no carro dela. A turma do PT disse: “Não faz isso, não faz isso...” O Volnei [deputado Volnei Morastoni] também tava lá. Eu tinha saído do PT, mas voltei pelo Décio, que é boa pessoa e sempre me atende quando eu vou a Brasília.

DIARINHO - Muita gente duvida que o senhor faça de bicicleta esses percursos tão longos Brasil afora. Que método utiliza para provar que, ao contrário do que dizem, não pega carona em suas viagens?

Janílton – As placas. Se eu pegasse carona com um caminhoneiro e pedisse pra ele parar a cada placa, pra eu tirar uma foto dela, tu achas que alguém ia aguentar? Eu fico chateado com algumas pessoas, como o Italiano, da banca Radar, que disse que eu pego carona. Fico mordido mesmo e já briguei com muita gente por isso. Quando eu subo serras, como a de Joinville, que vai pra Curitiba, são oito horas de subida e descida. Saio seis horas da capela da igreja, lá embaixo, e às 10h eu tô no restaurante, onde paro pra almoçar. Enquanto eu subo o morro, subo até chorando às vezes, pensando: “E esses amigos, que se dizem amigos...” Uma vez, parou um rapaz perto de mim, um cara que trabalhava na prefeitura. Parou e disse: “Não, agora a gente sabe que o senhor sobe mesmo de bicicleta”. Porque se pegar carona, não tem graça, meu amigo. Nunca peguei. A única carona que peguei foi da balsa. Eu tava numa cidade a 13 quilômetros de Coxim/MS, tava tomando água, e, de repente, pum. O pneu da bicicleta estourou. Tava muito quente, o asfalto tava muito quente. Eram 11h, e eu calculava que, ao meio-dia, estaria em Coxim. E eu fui empurrando e chorando, com lágrimas na vista. Ali, se eu pegasse um caminhão de frete pra botar a bicicleta, não seria feio. Eu tentei um caminhão vazio, porque tava tudo trumbicado, nem tinha pneu ali. Aliás, pneu tinha; o que não tinha era câmara de ar. Eu levei seis horas empurrando a bicicleta nesses 13 quilômetros. Botei toda a bagagem de trás na frente, pra não ficar pesado e acabar com o aro. Fui devagarzinho, sem água, e tava quente. Encontrei alguns sem-terras, e eles me ofereceram água geladinha. Era suja, mas tomei assim mesmo. Cheguei no primeiro hotel e fiquei. Custava R$ 80 a diária, e era o único naquela redondeza. Quando as pessoas falam que eu pego carona, eu digo: “Se vocês acham, então venham comigo, aí vão ver a carona que eu pego”. Juro por tudo o que mais sagrado, pelos meus sete netos, que eu nunca peguei uma carona. Claro, de balsa eu sou obrigado a pegar. Não vou pegar a Transamazônica de bicicleta. Eu não tenho pressa de chegar; tenho pressa é na volta. O que eu faço é um cicloturismo, é um perigo, mas é o que eu gosto de fazer. Eu sou apaixonado por bicicleta. Prefiro a bicicleta à moto. Eu ainda vou fazer essa viagem até a Guiana Francesa, e ninguém me tira isso. Só Deus pode me tirar. A minha casa, agora, é a estrada. Tu vais me ver aqui, agora, e depois, se ainda estiver vivo, só em 2018. Porque só depois de morto é que botam o corpo em cima de um caminhão de bombeiro. Um deputado amigo meu disse: “Se tu chegares vivo aqui, nós vamos te botar em cima de um caminhão de bombeiros. Não! É depois de morto que se bota”. Eu vou ficar quatro anos e meio na estrada. Eu já tô há um ano, porque tô contando com o que eu já fiquei. Vim pra cá, mas vou ficar só quatro dias aqui. Devo voltar só na próxima copa.

DIARINHO- O senhor e a sua mulher terminaram um casamento de décadas por conta daquele episódio de traição, o qual ela teria descoberto através de fotos. O tempo na rua e a carência o levaram a procurar outras mulheres, ou simplesmente aconteceu?

Janílton – O tempo e a carência ajudam, sim. Eu já tava querendo me separar, porque a gente tava brigando muito. Quando um cansa do outro, não adianta continuar, porque pode dar até morte. Minha ex-mulher é muito nervosa, tem problemas de nervo, e quando briga chega a arranhar a gente todo. Mas aquilo não é nada. Tem muito mais... Na rua, eu sou mais feliz. “Ah, olha o Ciclista Maluco”. Todo mundo quer tirar foto, a mulherada... Quando eu tô na estrada, é só alegria. A mulherada quer tirar foto, ou tu achas que eu vou tirar só foto de homem? Se andar só com foto de homem, vão achar: “Esse homem é bicha.” [E cortou ligação de vez com a ex ou mantém algum contato?] Liguei pra ela semana passada, pra saber do meu filho, que tinha desaparecido há alguns dias, e quando eu ligo, ouço: “o que é, seu demonho?” Não deixei casa pra ela, graças a Deus, e não vou pagar pensão. O que importa é que até 2017, eu quero fazer, pelo menos, 2500 cidades. Nessa viagem agora, eu fiz 250 cidades. No Pará, eu fiz 45 cidades. No Maranhão, umas 30.

DIARINHO - Onde estão as mulheres mais bonitas do Brasil?

Janílton – No Rio de Janeiro, né, cara! Nem se compara... Em São Paulo, também tirei [foto] com uma galega muito bonita. Show de bola aquela galega. Mas no Rio de Janeiro tem mais, com certeza. Se você for à praia de Ipanema, não quer mais sair de lá [risos].

DIARINHO- Qual é a diferença do Sul em relação ao Norte e Nordeste do país?

Janílton – Aqui, no Sul, é diferente. Tem o friozinho, ao passo que no Nordeste é sempre muito quente. Lá eu saio do hotel e em menos de cinco quilômetros já tô todo molhado, encharcado de suor. O meu médico me garantiu que não é questão de saúde, que eu estou bem. Disse que é o vapor do solo que sobe e esquenta. Eu tenho até vergonha de entrar numa prefeitura naquele estado, pois chego pingando mesmo. [Onde as pessoas o recebem melhor?] Lá no Norte, Nordeste. Tem cidade de 20 mil habitantes, como na Serra Pelada/PA, onde nunca passou um ciclista aventureiro como eu. Os caras me viam e perguntavam: “Quem é esse louco aí? De onde ele veio?” Um pessoal de mototáxi veio tirar foto comigo. Lá os mototaxistas não andam em duas pessoas, como aqui, mas em quatro. Vão quatro numa moto! E falaram: “Nós estamos há 40 anos aqui e nunca apareceu um ciclista aqui. Bonitão como o senhor, não”.

DIARINHO - O que ainda o motiva a pedalar?

Janílton – Eu amo pedalar. Aos quatro anos, já tinha uma Monareta. Eu sou apaixonado por bicicleta, e isso ninguém me tira, só quando cair num caixão. Eu gosto de estar na estrada. [O que faria da vida se tivesse que parar de padalar?] Com certeza ficaria doente. Meu pai era um senhor de idade, tava com 70 anos. Quando parou de trabalhar, ficou doente e morreu. Se eu ficar na cidade, vou pensar que, lá fora, viajando, seria mais bem recebido e estaria mais feliz.




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