Itajaí

“Nenhum país rico saiu do atraso sem investir massiva e maciçamente em conhecimento”

“Trinta dias pra entregar a carteira de trabalho é uma vergonha”

Continua depois da publicidade

Já tem cadastro? Clique aqui

Quer ler notícias de graça no DIARINHO?
Faça seu cadastro e tenha
10 acessos mensais

Ou assine o DIARINHO agora
e tenha acesso ilimitado!

Continua depois da publicidade

“Nenhum país rico saiu do atraso sem investir massiva e maciçamente no conhecimento”

Continua depois da publicidade

“O suicídio foi a única forma que Getúlio Vargas teve para não ser destituído”

“Vamos despejar, com recursos do pré-sal, nos próximos 10 anos, mais de R$ 500 bilhões na educação. As gerações futuras estão garantidas”

“A única forma de o Brizola ter sido presidente da República era ter sentado para “negociar”. E ele não negociava”

Raio X

Continua depois da publicidade

Nome: Manoel Dias

Idade: 76 anos

Estado Civil: casado

Filhos: dois

Naturalidade: Içara/SC

Continua depois da publicidade

Formação escolar: formado em Direito pela universidade Federal de Santa Catarina

Experiência profissional: Líder estudantil, foi eleito vereador em 1962 pelo antigo PTB. Preso político, teve o seu mandato cassado pelo golpe militar de 1964. Em 1967, foi eleito deputado estadual, mas foi novamente cassado e perdeu os direitos políticos por 10 anos. Ingressou na Receita Federal do Brasil, através de concurso público, para o cargo de auditor fiscal. Em 1979, convidado por Leonel Brizola, ajudou a fundar o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Integrou o conselho político da campanha de Dilma Rousseff à presidência. Este ano, assumiu o Ministério do Trabalho e Emprego.

DIARINHO – Ministro, o senhor é um dos fundadores do PDT e, consequentemente, do trabalhismo. O que ficou deste legado?

Ministro Manoel Dias – O PDT é herdeiro da história mais longa e bonita do país. Nós nascemos com Vargas [ex-presidente Getúlio Vargas, que governou o país em dois períodos: de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954], que é, até hoje, reconhecido como o maior estadista brasileiro em qualquer pesquisa que você faça, e que governou o país durante alguns anos como resultado da Revolução de 30 [movimento armado, liderado pelos estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, que culminou com o golpe de Estado que depôs o então presidente da República Washington Luís] e depois ele foi eleito pelo povo em 1950. Getúlio fez as grandes transformações do país: transformou o Brasil rural em Brasil industrial e construiu as políticas industriais que temos até hoje e também as de infraestrutura. Todo o plano diretor, rodoviário e ferroviário ainda é do tempo de Vargas. E fez as grandes mudanças sociais: criando a Previdência Social, a Justiça do Trabalho, a CLT - as leis da consolidação do trabalho. Foi um presidente que marcou a história e teve gestos importantes: o maior deles foi o seu suicídio [Vargas se matou com um tiro no coração, em seu quarto, no Palácio do Catete, na cidade do Rio de Janeiro, então capital federal]. Naquela época já faziam com ele o que fazem hoje com a presidenta Dilma [Rousseff (PT)]. Diziam que o governo era um mar de lama, mas isso porque ele representava uma postura nacionalista, em defesa do patrimônio nacional. [O historiador Lira Neto, autor da biografia de Vargas, disse em agosto que a morte dele adiou por 10 anos o golpe militar...] O suicídio foi a única forma que ele teve para não ser destituído. Aquela população que cercou o Palácio do Catete não era para aplaudir o Vargas. Era para protestar. Manipulados, já na época, pela rádio Globo e pelo jornal O Globo... Mas quando Vargas deu o tiro no coração, aquela gente se perguntou: “Por que ele deu um tiro no coração?”. Saíram dali e foram quebrar a rádio e o jornal O Globo. As pessoas se sentiram manipuladas, enganadas pela imprensa. E o golpe militar que se anunciava foi inviabilizado naquele momento. Eles tiveram que aceitar e não mais dar o golpe. Mas tentaram novamente na renúncia do Jânio [Quadros, em 25 de agosto de 1961. Quem assumiu a presidência, por 14 dias, foi o então presidente da Câmara dos Deputados, Pascoal Ranieri Mazzilli, já que o vice de Jânio, João Goulart, estava em visita oficial à China]. Naquela época, havia uma votação para presidente da República e outra para vice. O Jango [João Goulart] era vice do Marechal Teixeira Lott [Henrique Teixeira Lott], que perdeu para o Jânio a eleição. E o Jango ganhou fazendo mais voto do que o Jânio Quadros para presidente. E quando Jânio renunciou, os militares [muitos em cargos de ministros] voltaram; os golpistas voltaram. ‘Sim, agora é a vez. Ele [Jango] não pode assumir porque está na China e é comunista’. E deram o golpe. Tanto que o Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, declarou vaga a presidência, dizendo: ‘o presidente da República abandonou o país e declaro vaga a presidência da República’. Só não confirmaram o golpe, que foi frustrado, porque o Brizola [Leonel de Moura Brizola foi prefeito de Porto Alegre, deputado estadual e governador do Rio Grande do Sul, deputado federal pelo Rio Grande do Sul e pelo extinto estado da Guanabara, e duas vezes governador do Rio de Janeiro], então governador do Rio Grande do Sul, começou a campanha da legalidade. Pegou uma rádio Farroupilha, requisitou o estúdio e colocou no porão do Palácio Piratini [sede do governo gaúcho, no centro de Porto Alegre] e começou a defender a legalidade, ou seja, que o vice assumisse o cargo. Não tinha televisão. Com uma rádio, ele conseguiu emocionar a nação inteira. Os três ministros militares mandaram o 3º Exército bombardear o palácio, mas o comando postergou a medida. E o Brizola começou a crescer e o comandante do 3º Exército [general Machado Lopes], declarou-se solidário à campanha do Brizola, que foi crescendo. E culminou com outro golpe: o parlamentarismo. Então, para os militares que já tinham dado o golpe, seria uma humilhação extrema deixar o Jango voltar a ser presidente como ele queria. Aí, veio o Tancredo Neves, que tinha sido ministro de Getúlio, e representou um grande atraso histórico da política brasileira, de novo, fazendo conchavos e trazendo a proposta de parlamentarismo. O Jango aceitou o acordo do parlamentarismo. O Jango estava em Montevidéu [capital do Uruguai]. O Tancredo ligou para o Brizola e disse: ‘governador, estou passando aí de avião para te buscar e a gente ir buscar o Jango lá’. O Brizola arquitetou um plano de prender todo mundo em Porto Alegre. Não falou para ninguém. Na hora marcada, foi para o aeroporto, mas o avião só sobrevoou e não aterrissou. ‘É um perigo descer aqui’, deve ter pensado o velho Tancredo...

Continua depois da publicidade

DIARINHO – Ministro, o senhor estava falando do Leonel Brizola. O senhor esteve próximo dos governos dele, tanto no Rio Grande do Sul como no Rio de Janeiro. Ele dava especial atenção à criança, ao estudante, enfim, à educação de modo geral. O senhor acha que os governos petistas que administraram o Brasil também deram atenção à causa?

Ministro – Infelizmente, no Brasil, o único governante que fez escola, de fato, foi o Brizola. Ano passado, ele recebeu um prêmio pós-morte da ONU como governante que mais fez escolas. Ele fez 6700 escolas no Rio Grande do Sul e 504 Cieps [centros Integrados de Educação Pública] no Rio de Janeiro. Lá, ele colocava 500 mil crianças das 6h às 18h. Recebiam informação, formação, todo tipo de alimentação, saúde. E terminado o governo dele, o substituto [Nilo Batista], acabou com tudo. Voltaram as escolinhas de quatro horas. Quinhentas mil crianças foram para a rua. Agora tem que fazer mais cadeia! Isso é um equívoco. Não foi o Brizola que desenvolveu, que descobriu a fórmula. Escola de país rico já é assim. Nenhum país rico saiu do atraso sem investir massiva e maciçamente no conhecimento. Infelizmente os governos não têm dado, nunca deram importância... Primeiro é a elite que não tem interesse que o pobre estude. Historicamente, sempre foi assim. Nós todos, quando éramos crianças, quando falávamos em estudar, nossos pais diziam: ‘Não, filho, isso não é para ti, é para filho do mais rico da cidade’. É uma cultura de dominação que não dá oportunidade para que eu dispute um espaço que é do filho da classe dominante. [Mas ministro, por que os governos do Lula e da Dilma também não investiram nisso?] Cresceu bastante! Você tem que reconhecer que o governo Lula [Luiz Inácio Lula da Silva (PT) governou o país de janeiro de 2003 a dezembro de 2010] e o governo Dilma [atual governo] construíram mais de 500 escolas técnicas no Brasil. O governo da presidenta Dilma tem cinco ou seis milhões de crianças estudando em escolas de tempo integral. Ela está anunciando que esse governo que começa no próximo ano [se eleita no segundo turno no próximo dia 26], terá como prioridade a educação de tempo integral. Há um esforço enorme e o mais importante, agora, vem aí um projeto do nosso partido [PDT]. Conseguimos liderar um movimento na Câmara Federal para que todos os recursos do pré-sal sejam destinados à educação. Educação é dinheiro. Escolas de qualidade, professores bem remunerados, preparados. Então, com a aprovação de todos os recursos do pré-sal, nós vamos despejar, nos próximos 10 anos, mais de R$ 500 bilhões na educação. Então, essas gerações futuras estão garantidas. E vão ter condições de ter uma educação como se deve ter. Nos governos Lula e Dilma, eu acho que poderia ter sido feito mais porque nosso líder [Brizola] fez. Mas é inegável e a própria presidenta Dilma tem enfatizado a sua prioridade na escola de tempo integral. O Brasil está vivendo, hoje, o melhor momento da sua história. O desafio maior agora é dar aos trabalhadores acesso ao conhecimento. Só o conhecimento e a educação resolvem todos os problemas.

DIARINHO – Por que o Brizola nunca chegou à presidência?

Ministro – As elites brasileiras não admitiam que ele pudesse governar o Brasil. A única forma de ele ser presidente da República era ter sentado para “negociar”. E ele não aceitava. Brizola tinha uma virtude e outros diziam que era defeito. Ele era reto demais, defendia suas posições, não era intransigente, não era obcecado, não era radical. Era conciliador, ouvia muito, mas ele não negociava causas, não negociava suas posições. Se ele tivesse sentado à mesa com o sistema financeiro, que é o sistema dominante, e negociado, ele teria chegado à presidência. Eu acho que ele deveria ter feito, até porque tinha que chegar ao poder e ter oportunidade de colocar em prática as suas políticas, aquilo que ele defendia. Mas é inquestionável que o Brasil tem um tempo antes e depois de Brizola. Depois de Brizola, ninguém mais discutiu política. Os grandes temas deixaram de ser abordados, de ser discutidos. Ele questionava e tinha uma coisa que eu considero a mais importante em um líder, que era a coragem pessoal. O Brizola não tinha medo de discutir contigo, comigo, com o presidente da República, com o presidente dos Estados Unidos, o papa. Ele era um homem de coragem pessoal, fundamental para um líder, porque tem que enfrentar interesses muito grandes.

DIARINHO – O senhor acha que ele morreu frustrado por não ter chegado à presidência?

Ministro – Não. Ele morreu triste e rebelde, inconformado com um país tão potente, tão rico e com uma riqueza tão mal distribuída. Ele era, aos 82 anos, mais rebelde do que o mais jovem rebelde do Brasil. Ele não se conformava com essas coisas. Agora, não frustrou-se porque ele cumpriu uma meta. Ele lutou até a morte e dizia: ‘Eu vou morrer na cancha, não vou morrer na cama’. [Ministro, se ele estivesse vivo, o senhor acha que ele estaria neste governo Dilma ou no governo Lula?] Ele tinha profundas divergências e mostrou publicamente isso. No primeiro governo Lula nós [PDT] não participamos. Apoiamos o Lula em todas as eleições, ou no primeiro ou no segundo turno. O Brizola tinha perfeita noção de pátria, de compromisso, de responsabilidade. Quando ele perdeu a eleição para presidente da República [1989], o segundo turno foi entre Lula e Collor [Fernando Collor de Mello venceu o segundo turno e governou de 15 de março de 1990 a 29 de dezembro 1992, quando renunciou ao cargo após denúncias de um esquema de corrupção em seu governo]. Naquele segundo turno, nós fomos nos reunir no Rio de Janeiro, no Riocentro, com cinco mil companheiros do Brasil inteiro. [Brizola] defendia o apoio ao Lula. Claro que todo nosso pessoal não queria, nós tínhamos sido derrotados pelo Lula no primeiro turno. Então, o Brizola começou a falar às nove horas da manhã, e a cada vez que ele falava no Lula era uma vaia geral. E ele foi falando até o meio-dia, quando disse: ‘Olha, companheiros, eu sou brasileiro, eu tenho noção de responsabilidade, de amor à pátria. Eu reconheço tudo o que vocês se queixam do PT, eu dou a mão à palmatória para todos vocês, mas a pátria está acima de nós e nós não podemos transigir num momento em que a pátria está numa disputa bem clara, entre o filhote da ditadura e o sapo barbudo’. E ele disse: ‘Eu fico com o sapo barbudo’ [risos]. E convenceu todo mundo. Hoje, ele estaria apoiando a Dilma neste segundo turno, embora discordando profundamente.... Ele saberia que estamos vivendo de novo um momento muito claro entre duas tendências bem definidas.

DIARINHO – O ex-presidente Lula deu uma entrevista à revista Carta Capital esta semana falando que não é o PSDB contra o PT e não é a Dilma contra o Aécio, mas são dois projetos distintos de Brasil. Explicando para o leitor comum, que não está envolvido com política, quais são esses projetos?

Ministro – O governo da Dilma defende a inserção popular, políticas públicas de resgate da cidadania e de compromisso com os trabalhadores. Dilma tem reiterado que jamais vai sancionar qualquer lei que implique em precarização do trabalho. E nem que a vaca tussa ela vai mudar quaisquer benefícios que têm os trabalhadores brasileiros. De outro lado, é um modelo neoliberal que nós vivemos já aqui no Brasil [no passado]. Os governos neoliberais levam à redução do aumento salarial, ao desemprego, à recessão e à crise. É o que está vivendo a Europa hoje. Então, é bem clara a posição. Não é que eles queiram o mal do povo, é que os interesses se conflitam com os interesses do povo. Não tem como objetivo distribuir renda, mas sim, concentrar renda, que foi o grande discurso também na ditadura: fazer o bolo, crescer o bolo para depois dividir. Mas ninguém quer dividir o bolo, né?

DIARINHO - Ministro, há 10 anos se falava em um risco de apagão da mão de obra no Brasil, que acabou não acontecendo. Por quê? O Brasil já tinha força de trabalho suficientemente e qualificada pra cobrir os postos de trabalhos que vieram com o crescimento econômico? Ou os trabalhadores brasileiros e os empresários correram atrás do prejuízo?

Ministro - No governo Fernando Henrique Cardoso [de 1º de janeiro de 1995 a 31 de dezembro de 2002] a taxa de desemprego era de 15%. Só no governo do presidente Lula foi criado o dobro de empregos do que no governo Fernando Henrique. Só no governo da presidenta Dilma criou-se mais empregos do que no governo Fernando Henrique. Então, o Brasil vivia um momento de desemprego. A política não era pra estimular o fortalecimento de empregos. Aí é que está a grande diferença: o Lula tinha como primeira prioridade o emprego. O Lula não se esqueceu de onde veio. Os outros presidentes atendiam aos interesses das classes dominantes e depois, se sobrasse, davam alguma coisa. A partir desse modelo que o Lula criou, priorizando o emprego, nós criamos um novo sistema. É um modelo sustentado no emprego, no qual tudo é feito em razão do emprego. Hoje tem esse mundo de gente com carro na rua, não tem carro velho. Gente viajando, gente comprando, gente consumindo. Os serviços gerando milhões de empregos, porque as pessoas que ascendem econômico-socialmente, começam a exigir melhores serviços, melhor cabeleireiro, melhor restaurante, melhor prestação de serviço. Então, acho que mudou radicalmente. [Mas esse pessoal que ascendeu pra classe C, classe B, classe A, está com mais de 50% do seu orçamento nas mãos dos bancos. Endividados com financiamentos... A gente não corre o risco de essas pessoas não pagarem as suas contas e estourar uma crise no sistema?] Não é verdade. Tanto que mesmo essa mídia que está aí diz que o Brasil tem diminuído o endividamento pessoal. As pessoas devem, mas estão pagando as contas. Não tem bolha nenhuma. Até porque houve um aumento real da renda. [E se com a crise as pessoas pararem de pagar os bancos?] Estão pagando, tanto que tem diminuído o índice de inadimplência. O Brasil não está com crise nenhuma, não tem perigo de bolha como teve nos Estados Unidos [crise de 2008]. Até porque nós somos um país ainda em crescimento. Está tudo crescendo, tudo se desenvolvendo. Os investimentos que estão sendo feitos são fabulosos. Há muita circulação de dinheiro, há muito emprego ainda pra ser preenchido. Então, não há risco nenhum de que a economia esteja em risco. Nas reuniões do G20 [grupo formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das maiores economias do mundo] o Brasil é modelo. O próprio Obama [Barack Obama, presidente norte-americano] na reunião dos chefes de estado em São Petersburgo [na Rússia], disse no discurso: ‘olha, os países do mundo devem olhar o Brasil’. Por que o Brasil conseguiu superar a crise? Nós não temos um envolvimento grande com a crise mundial que está atingindo a maioria dos países. Nós estamos vivendo um momento ímpar. Mas isso tem irritado a elite que não está mandando no país.

DIARINHO – A CLT já tem 70 anos. Criada na era Vargas, foi justamente entre os anos 30 e 50 que se começou o processo de institucionalização dos direitos trabalhistas. A lei não estaria ultrapassada?

Ministro – Pelo contrário, é uma menina [risos]. Uma jovem anciã. É o principal marco regulatório do trabalho no Brasil. Um exemplo: a Europa, com toda essa crise que teve, começou a pensar em acabar com os direitos dos trabalhadores, modernizar. Esse discurso é para retirar ganhos dos trabalhadores, subtrair direitos. A Europa acabou com os direitos trabalhistas. E vive uma crise violenta, até porque tem que ter um marco regulatório. Como fica a segurança jurídica, tanto do patrão, quanto do trabalhador? Tem que atualizar? Tem. Ela foi instituída quando a máquina de escrever era de dois dedos. Ela tem que se atualizar permanentemente, mas nós estamos permanentemente atualizando as normas regulatórias. Representação dos trabalhadores, empregadores e governo devem discutir todos os dias. Todos os dias eu recebo várias pessoas pra discutir modificações, adequações, modernizações da CLT. Mas ela é um grande instrumento de segurança jurídica e social. Já pensou se não tivesse a CLT? Estariam todos se matando aí. Como é que iam tirar as dúvidas de patrão e empregado? Vocês [jornalistas], por exemplo, se não tivessem uma CLT? Vocês iam se basear em quê pra ter uma relação de emprego?

DIARINHO – Uma dessas questões que o senhor cita é a jornada de trabalho. Foi fixada em 44 horas semanais e hoje cogita-se reduzir para 40 horas. O que impede essa mudança?

Ministro – É um processo. No Brasil, nós já temos categorias que têm menos de 40 horas. Resultado de acordos. Eu defendo a redução porque o homem não foi feito pra carregar pedra, tanto que dá problema de coluna [risos]. Pra isso existe a tecnologia e o conhecimento. O homem foi feito para viver. [Como se convence as empresas?] A Europa toda já é assim. Foi resultado de muita negociação. Não dá para impor. [Mas o senhor acredita que as empresas estão dispostas a sentar à mesa pra discutir com o governo?] Uma discussão com os trabalhadores e empregadores. Concessão. Um cede aqui, outro cede ali. A luta de classes não acabou. Só que ela se dá num outro campo hoje. Na hora que você coloca na mesa a discussão, as coisas avançam, não retrocedem. Vamos chegar nesse lugar, trabalhadores e empregadores vão concluir. Vão ter contrapartidas, vão ter acertos. Não adianta impor só de um lado. Os empregadores, daqui a pouco, podem ter alguns benefícios que vão permitir que os trabalhadores tenham a redução da jornada de trabalho. Isso, não sei quando, mas vai avançar e vai ser resultado da organização dos trabalhadores. Nós já temos no Brasil a maioria dos trabalhadores na classe média. O Brasil está mudando. Não é mais aquele país de anos atrás.

DIARINHO – A certidão eletrônica de débitos trabalhistas já está em uso? Existe algum balanço desse primeiro momento?

Ministro – Nós estamos implantando no Ministério, desde que eu assumi [em março de 2013], 20 ações de modernização. O grande problema do Brasil ainda é a burocracia dos serviços públicos. Nós precisamos fazer uma profunda reforma administrativa. Fazer a profissionalização do serviço. E no Ministério nós temos medidas que podem ser tomadas. As tecnologias estão aí para serem usadas. Dentre elas têm a certidão eletrônica. Veja só, é um ato simples. Antes, para se conseguir uma certidão, o empregador ia até o Ministério do Trabalho, requeria, protocolava, juntava documentos, demorava até 20 dias e ocupava 50% da mão de obra dos funcionários daquele setor. Aí, tinha que pedir de novo, vencia aquela, pedia outra. Hoje, você acessa a internet, requer e pega eletronicamente. Não tem mais prazo de validade, não tem que ir até o ministério, não tem que apresentar documento nenhum. Está lá. Isso implica não somente num resultado prático. É a cultura que muda. Faz uns 15 dias que nós lançamos também a carteira online. Ainda tem alguns lugares que ainda fazem manualmente a carteira, 30 dias pra entregar uma carteira de trabalho. Isso é uma vergonha, o principal símbolo do trabalhador num país que tem aí a tecnologia à disposição. Então, já lançamos online. O trabalhador chega ao Ministério e 10 minutos depois ele recebe a carteira pronta. É o único documento de graça no Brasil. Antes ele tinha que levar a fotografia, agora nem fotografia precisa mais, porque é digitalizada. Fizemos também a fiscalização eletrônica, que muda radicalmente tudo. O auditor tinha que vir aqui na empresa fazer a ação fiscal. Ele não precisa mais vir aqui. Ele vai acessar a internet, vai falar com vocês e orientar. Nós não somos um ministério punitivo. Somos parceiros. O agendamento eletrônico também já está sendo feito pra acabar com as filas. Temos muitas ações pra que, até o final do ano, 90% das nossas ações sejam todas digitais.

DIARINHO – Santa Catarina tem uma das menores taxas de desemprego do Brasil, junto com o Rio de Janeiro. Por que mesmo assim a presidenta Dilma perdeu as eleições no primeiro turno e, ao que indicam as pesquisas, vai perder novamente, aqui, no segundo turno?

Ministro – Historicamente, o PT sempre perdeu em Santa Catarina. Lula perdeu por um milhão de votos; a Dilma perdeu por 500 mil votos. É um estado conservador. Há uma campanha muito grande contra o PT. Mas também tem que se levar em conta que cada um cuidou da sua campanha [no primeiro turno]. Os governadores, deputados, senadores. Cada um fez a sua campanha. Agora, o governador [Raimundo] Colombo assumiu a campanha. [Ele tá pedindo voto pra Dilma?] Ele já tem percorrido o estado, esteve em Laguna, Criciúma, Chapecó. Ele está correndo todo o estado, chamando todos os partidários, os prefeitos e defendendo o governo da Dilma como o melhor parceiro que a história de Santa Catarina já teve.

DIARINHO - O PDT vai participar do governo de Raimundo Colombo em Santa Catarina?

Ministro – Nós fazemos parte da base de apoio da sua campanha. Elegemos deputados e nós devemos participar do governo. Mas não temos nenhum entendimento prévio, não discutimos nada ainda com relação a essa participação. [E o senhor segue ministro se a presidenta Dilma for reeleita?] Eu não tenho mandato, e acabei ministro. Então, como o Maneca pode ser ministro? Eu sou resultado da fidelidade partidária, da coerência política. Desde que nasci, sou trabalhista. Fui vereador, deputado, fui tudo na vida, mas nunca mudei um milímetro das minhas defesas ideológicas. Fui construindo e acumulando relações políticas, que culminaram com a indicação unânime do partido na bancada do congresso, pra eu ser ministro do Trabalho. Sou um produto partidário. O cargo é da presidenta da República, ela aceitou a indicação, me convidou pra ser ministro e eu estou procurando ser um bom ministro. Pelo menos, trabalhando muito, tentando recuperar o protagonismo que o Ministério do Trabalho sempre teve. Agora, pro futuro, vamos aguardar as eleições. Vencidas pela presidenta Dilma, o partido vai se reunir pra discutir. O Ministério do Trabalho tem tudo a ver com a gente. Foi criado pelo Getúlio e ali já estiveram as mais importantes lideranças do trabalhismo brasileiro, a exemplo do próprio presidente João Goulart [foi ministro entre 1953 e 54]. Vamos aguardar. É outro governo, é outra realidade, o partido vai ter outras reivindicações. Nós queremos um governo que seja, ainda mais do que já é, comprometido com os movimentos sociais. Vamos sentar à mesa e discutir. [E se o Aécio ganhar, vocês estão prontos para ser oposição?] Nós estamos prontos, não temos problema. O partido vai se reunir. Terminado o segundo turno, vamos fazer um grande retiro político para discussão. O Brasil precisa de uma nova proposta no campo ideológico. Uma das grandes causas da apatia popular nas eleições é a falta de clareza ideológica dos partidos. O trabalhismo perdeu muito da identidade ideológica e precisamos recuperá-la. Nós somos o movimento político que mais tem condições de fazer uma formulação. O PDT tem credibilidade, tem respeito, porque nós temos uma história que nos sustenta. Se quisermos ser líderes partidários, precisamos honrar isso, temos que resgatar essa história. E nós vamos fazer isso através da nossa universidade Leonel Brizola, através da fundação Leonel Brizola. Nós vamos investir muito na formação de quadros, na recuperação ideológica, política e doutrinária do PDT.




Conteúdo Patrocinado



Comentários:

Somente usuários cadastrados podem postar comentários.

Clique aqui para fazer o seu cadastro.

Se você já é cadastrado, faça login para comentar.

WhatsAPP DIARINHO

Envie seu recado

Através deste formuário, você pode entrar em contato com a redação do DIARINHO.

×






216.73.216.118

TV DIARINHO


🩺🔄 MUDANÇA À VISTA! A gestão do hospital Ruth Cardoso, de Balneário Camboriú, passará do município para ...





Especiais

Mendonça relativiza combate a mentiras e propõe autorregulação das redes sociais

REDES SOCIAIS EM PAUTA

Mendonça relativiza combate a mentiras e propõe autorregulação das redes sociais

Comando Vermelho usa o WhatsApp para vender de tudo

Armas, drogas, carros e macacos

Comando Vermelho usa o WhatsApp para vender de tudo

Reconhecimento facial racista: prisão virou mercadoria para empresas, diz pesquisador

TECNOLOGIA

Reconhecimento facial racista: prisão virou mercadoria para empresas, diz pesquisador

Prefeitura barrou atuação de coletivos na Cracolândia dias antes de região ser esvaziada

SÃO PAULO

Prefeitura barrou atuação de coletivos na Cracolândia dias antes de região ser esvaziada

“Ao menos 50 crianças”: as acusações de estupro contra Padre Bernardino dos Santos

IGREJA CATÓLICA

“Ao menos 50 crianças”: as acusações de estupro contra Padre Bernardino dos Santos



Blogs

A ozonioterapia medicinal para tratamento da saúde

Espaço Saúde

A ozonioterapia medicinal para tratamento da saúde

Empresa Federal

Blog do JC

Empresa Federal



Diz aí

Senador Jorge Seif participa do “Diz aí!” desta segunda-feira

AO VIVO

Senador Jorge Seif participa do “Diz aí!” desta segunda-feira

"A ideia é que o parque também tenha acesso pela Praia Brava”

Diz aí, Maria Heloisa!

"A ideia é que o parque também tenha acesso pela Praia Brava”

Diretora do Inis participa do “Diz aí!” no DIARINHO

AO VIVO

Diretora do Inis participa do “Diz aí!” no DIARINHO

“O online não vai superar nunca o físico. A gente é de relação. A relação humana está sempre acima de tudo”

Diz aí, Michael Domingues!

“O online não vai superar nunca o físico. A gente é de relação. A relação humana está sempre acima de tudo”

Superintendente do Itajaí Shopping é o convidado do “Diz aí” desta quarta-feira

ENTREVISTA AO VIVO

Superintendente do Itajaí Shopping é o convidado do “Diz aí” desta quarta-feira



Hoje nas bancas

Capa de hoje
Folheie o jornal aqui ❯






Jornal Diarinho ©2025 - Todos os direitos reservados.