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Crer ou não crer? Eis a questão


Crer ou não crer? Eis a questão

Por Márcio de Jagun (@marciodejagun | contato@ori.net.br )

A indagação antológica de Hamlet, formulada por Shakespeare, serve-nos bem para o debate sobre as nuances da religiosidade no Brasil. Vivemos em uma sociedade polarizada, na qual os extremos, além de antagônicos, ainda querem impor suas verdades aos outros, esperando que mudem suas opiniões.

No ambiente acadêmico, ciência e religião não são bem vistas juntas. Aliás, desde o movimento Iluminista, iniciado na Europa durante o século XVII, ambas tornaram-se inimigas.

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A indagação antológica de Hamlet, formulada por Shakespeare, serve-nos bem para o debate sobre as nuances da religiosidade no Brasil. Vivemos em uma sociedade polarizada, na qual os extremos, além de antagônicos, ainda querem impor suas verdades aos outros, esperando que mudem suas opiniões.

No ambiente acadêmico, ciência e religião não são bem vistas juntas. Aliás, desde o movimento Iluminista, iniciado na Europa durante o século XVII, ambas tornaram-se inimigas.

No entanto, para o povo iorubá, o conflito entre fé e inovação jamais existiu, como se observa no culto a Ògún. Este, entre suas regências, tem domínio na forja, na caça, na agricultura, na guerra e, sobretudo, na tecnologia. Não por acaso, suas celebrações o enaltecem como o grande desbravador, daí seu título de Osíwájú. Assim, para os iorubás, a ciência está no altar: recebe cultos e oferendas; com ela se canta e dança, em busca de um futuro capaz de atender a todos.

Observar essas percepções diferentes a partir de outras culturas é praticar o exercício da descolonização. Pensadores como Nelson Maldonado-Torres, Walter Mignolo, Aníbal Quijano, entre outros, destacam que nossas noções de ser, saber e poder ainda são balizadas pelo modelo trazido pelo colonizador. As dificuldades que temos em reconhecer que a palavra "ciência" não pode ser pronunciada no singular é uma prova disso. Nem ao menos aprendemos a cogitar que saberes não formais (para o Ocidente) também possuem métodos, avaliações, conclusões e resultados. Logo, há ciência do outro lado do Atlântico.

O mesmo ocorre com a espiritualidade. O conflito entre corpo e espírito, decantado desde o pensamento socrático-platônico, reforçado em diversas passagens bíblicas e referendado por teólogos como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, não existe no sistema filosófico iorubá. Para esses africanos, corpo e espírito são um só. Entendemos isso ao descortinarmos o conceito de Orí: a divindade pessoal do discernimento e da autocondução pelo trajeto de vida.

Os iorubás compreendiam Orí a partir de duas dimensões: Orí Òde (a Cabeça Material — caixa craniana) e Orí Inú (a Cabeça Imaterial — a Alma/Personalidade). Assim, o físico e o metafísico se encontram no mesmo corpo-altar.
Ampliar as perspectivas sobre os saberes africanos é descolonizar o pensamento. Independentemente de convencimento ou conversão, esse movimento auxilia na disseminação de informações e na quebra de preconceitos e intolerâncias.

A questão é que, ao longo dos séculos, as sociedades se organizaram a partir de suas crenças. Migrações, rotas de comércio, a construção de cidades e inúmeras guerras tiveram as religiões como pano de fundo. O tema em tela envolve não apenas convicções pessoais, mas histórias, culturas, interesses políticos e econômicos.

Apesar das incontáveis tentativas de se impor uma versão hegemônica de religião, isso jamais será razoável, tampouco possível, por uma simples e clara razão: somos diversos.
Por isso, inspirado em Plutarco, diria: navegar é preciso, e descolonizar é ainda mais preciso.

 


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