Ataques à democracia
Marginais destroem o STF, o Palácio do Planalto e Congresso
Prédios foram vandalizados por milhares de invasores golpistas e extremistas
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
O Brasil viveu neste domingo momentos jamais vistos e que já entraram negativamente para a história do país. Marginais invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), as sedes dos três Poderes da República, para causar destruição. Os vândalos são apoiadores extremistas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Segundo o Ministro da Justiça, Flávio Dino, 40 ônibus foram apreendidos e 170 pessoas foram presas depois dos ataques que destruíram vidraças, paredes, móveis, objetos de arte, documentos e objetos de valor histórico. O ministro informou que todos os ônibus que levaram os golpistas a Brasília foram identificados e que justiça irá atrás de quem financiou os atos.
A invasão começou na tarde de domingo. O Congresso Nacional foi o primeiro a ser invadido, com os manifestantes ocupando a rampa e soltando foguetes para invadir o prédio. Eles quebraram o vidro do Salão Negro do Congresso e danificando o plenário da Casa.
Após a depredação no Congresso, eles invadiram o Palácio do Planalto chegando até os gabinetes do andar da presidência da República. Já no STF, quebraram vidros, móveis e obras de arte. Um rastro de destruição foi deixado no interior dos prédios que simbolizam a República e a democracia.
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e sua esposa, Janja Silva, não estavam em Brasília. O casal viajou para a cidade de Araraquara, no interior de São Paulo, que foi devastada pelas chuvas.
O secretário de Estado de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres, foi exonerado por falta de ação para impedir a invasão, já que há denúncias de que a polícia militar não impediu o avanço dos vândalos que já ameaçavam a invasão durante a última semana.
A tropa de choque foi acionada tardiamente para conter as cerca de quatro mil pessoas que invadiam o local. Anderson Torres é ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro e foi exonenerado no final do dia. Ele estava nos Estados Unidos na tarde de domingo.
Intervenção na segurança
O presidente Lula publicou um decreto que prevê a intervenção na área de segurança pública do Distrito Federal. A intervenção vai até 31 de janeiro. “Essa intervenção está limitada à área de segurança pública, com o objetivo de conter o grave comprometimento da ordem pública no DF, marcado pela violência contra prédios públicos”, disse Lula.
A intervenção será comandada pelo secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, subordinado diretamente à Presidência da República. “Essa gente tem de ser punida, inclusive vamos descobrir quem são os financiadores desses vândalos que foram a Brasília, e todos eles pagarão com a força da lei pelo gesto de irresponsabilidade, esse gesto antidemocrático e esse gesto de vândalos e de fascistas”, declarou o presidente, que classificou de barbárie a invasão das sedes dos Três Poderes.
Vândalos fecharam BR 101 por duas vezes em Itajaí
Duas interdições criminosas foram feitas no quilômetro 117 da BR 101, em frente ao posto Santa Rosa, em Itajaí, até o fechamento desta edição, na noite de domingo. Os vândalos colocaram fogo em pneus por volta das 17h30. Eles bloquearam a rodovia federal após a invasão de extremistas aos prédios da República em Brasília.
Segundo a Polícia Militar, pessoas desconhecidas atearam fogo em pneus. A PM, bombeiros e PRF foram acionados e deram fim ao bloqueio. “O fogo foi controlado e o fluxo de veículos foi reestabelecido normalmente. Não há informação de pessoas presas”, disse o tenente Joubert, da PM de Itajaí, por volta das 18h30 de domingo.
Por volta das 22h, no fechamento desta edição, os vândalos voltaram a fechar a rodovia federal no mesmo ponto, agora com o uso de caminhões. O novo bloqueio deixou filas nos dois sentidos da BR. Os veículos estavam sendo desviados para a via marginal no fechamento desta edição.
Presidente do PL considera uma vergonha a invasão
O presidente nacional do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, considerou uma vergonha a invasão em Brasília. “Esse movimento de Brasília hoje é uma vergonha para todos nós e não representa o nosso partido, não representa o Bolsonaro”, declarou Valdemar Costa Neto. Ele disse que “a polícia e os setores de segurança têm que fazer a sua parte’ e enfatizou que não apoia qualquer ato de vandalismo.
O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello, do PL, também falou sobre o caso. “Precisamos trabalhar pelo país, de olho nos valores que acreditamos e defendemos, mas jamais com o uso da violência. É preciso lembrar os comportamentos que tanto criticamos e agir diferente. Manifestações são legítimas quando são pacíficas”, disse.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do mesmo partido e que esteve em Santa Catarina neste final de semana, foi mais claro no repúdio aos crimes. “Para que o Brasil possa caminhar, o debate deve ser o de ideias e a oposição deve ser responsável, apontando direções. Manifestações perdem a legitimidade e a razão a partir do momento em que há violência, depredação ou cerceamento de direitos. Não admitiremos isso!”, disse o governador de São Paulo.
O governador de Minas, Romeu Zema (Novo), foi no mesmo sentido. “A liberdade de expressão não pode se misturar com depredação de órgãos públicos. É inaceitável o vandalismo ocorrido hoje em Brasília. No final, quem pagará seremos todos nós”, disse Zema.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), disse que "as cenas criminosas que vimos em Brasília (...) são absolutamente inaceitáveis em nossa democracia. No RS estamos com as forças de segurança prontas para resposta firme e imediata diante de qualquer tentativa de subversão da ordem", falou Eduardo Leite.
Catarinenses se manifestam
Além de Jorginho Mello, o deputado federal Jorge Goetten, eleito pelo PL, repudiou as cenas de violência. “Me posiciono contra, sou contra, é lamentável. Me sinto envergonhado por esses atos de vandalismo, de desordem, de violência, sem respeitar leis. O ex-presidente sempre pregou respeito às leis. Esse pessoal está fazendo isso em nome da direita, do ex-presidente, em nome da oposição, esses caras não pertencem à oposição. São vândalos! Lamentável. Não tem o meu apoio e nunca terão o meu apoio esses atos de violência e desordem”, disse.
Já o senador Jorge Seif, do PL e apoiador de Bolsonaro, ainda não se manifestou sobre o ataque em Brasília.
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