Fazendo a feira!
Vegetais apresentam diferença de preço de até 238,87% nos sacolões
A maior variação rolou no preço do quilo do inhame: de R$ 2,98 a R$ 9,89
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Por Renata Rosa
Especial para o DIARINHO
Reservar uma tarde para pesquisar preços nos sacolões da cidade pode resultar numa economia considerável, já que cada bairro atende a um perfil de consumidor, que tem hábitos de consumo próprios. Por isso alguns vegetais apresentam grande variação de preço, como é o caso do inhame (238,87%). O tubérculo é muito usado em preparações veganas em substituição aos laticínios para dar cremosidade aos pratos, e também faz parte do cardápio de imigrantes nordestinos, que residem no bairro São Vicente, onde fica o Sacolão Provesi.
O segundo lugar ficou com o tomate italiano, aquele que tem mais polpa, ideal para um bom molho. O fruto estava custando R$ 2,99 no Direto do Campo e R$ 6,94 no Hortifruti Cunha, diferença de 132,10%. Em seguida vem o tomate cereja (128,32%), estreladas saladas, que estava mais barato no Provesi (R$ 6,99), que vende a granel e mais caro no Hortifruti do Colono (R$ 15,96), que vende em embalagens de 200g. No comparativo, as quantidades foram convertidas em quilo para não apresentar distorções.
Outros produtos que apresentaram grande variação de preço de um estabelecimento para o outro foram a abobrinha (100,67%), o salsão (100,25%) e o maço de manjericão (100%). A abobrinha estava com preço campeão no Provesi (R$ 1,49), que também tinha o salsão mais em conta (R$ 3,99 a unidade). O sacolão do São Vicente foi o que mais apresentou itens baratos (28), seguido do sacolão Cunha, da Vila Operária (14), que se destacou na parte de ervas, como o manjericão (R$ 1,50), que perfuma molhos e pizzas.
Tendência
Legumes e verduras ganham destaque na mesa do brasileiro por causa do aumento de vegetarianos e veganos
Bater perna atrás de ofertas de hortifruti deixou de ser tarefa de donos de restaurantes ou quem se descobriu cozinheiro para garantir uma fonte de renda. A diversidade dos produtos in natura enche os olhos dos apaixonados por alimentação saudável ou a nova geração que não come carne animal de jeito nenhum. Para que esta paixão seja sustentável, o DIARINHO foi atrás do melhor preço de 45 itens em quatro sacolões de Itajaí.
Desta vez, o foco da pesquisa foi nos legumes, verduras, raízes e ervas frescas. Esta categoria de alimentos tem ganhado protagonismo com o aumento de vegetarianos e veganos, principalmente entre os jovens da geração Z, de 18 a 25 anos, e esta realidade é percebida na maior oferta e variedade dos frutos da terra no mercado. Em 2018, uma pesquisa realizada pelo Ipespe, 14% dos entrevistados se declarou vegetariano. As principais motivações foram a preocupação com o meio ambiente e a empatia por animais. Em relação a 2012, houve aumento de 75% no número de vegetarianos, somando quase 30 milhões de brasileiros.
Para atender à esta demanda crescente, restaurantes e a indústria tem adaptado seus produtos com um número cada vez maior de produtos baseado em plantas. Para se ter uma ideia, a companhia aérea Emirates, que levou a comitiva de vários países para a Cúpula do Clima, que está sendo realizada no Egito, tem em seu cardápio 180 pratos veganos. Até porque algumas regiões da Ásia já tinham parcela da população vegetariana, como Índia e Taiwan. E por falar em Cúpula do Clima, a comitiva que representa o Brasil já mostra a guinada na agenda ambiental, que foi esvaziada nos últimos anos com o desmonte dos órgãos de fiscalização e flexibilização das leis ambientais para a liberação de agricultura, pecuária e garimpo em reservas. Marina Silva, que foi ministra do Meio Ambiente da primeira gestão do presidente Lula, foi na frente com duas indígenas eleitas deputadas federais – Sonia Guajajara e Célia Xakriaba. Em pauta a volta à adesão ao Acordo de Paris (2015) para reduzir a emissão de gases na atmosfera, o combate ao desmatamento e a proteção aos povos originários, que são os guardiões das florestas, responsáveis por deixar o clima mais ameno.
O alto consumo de carne é apontado como um grande vilão do aquecimento global porque a pecuária é uma das atividades que mais emitem gás metano. Por isso, mesmo quem não é vegetariano está instituindo um ou dois dias da semana sem carne. Quem ganha com este ganho de consciência sobre o que se come e as repercussões na natureza é o planeta Terra.
Paixão pela preservação ambiental virou negócio
Separar o lixo seco para reciclagem já se tornou um hábito de boa parte dos catarinenses, mas o que fazer com os resíduos resultante do preparo das refeições, como cascas de legumes e frutas, além da borra do café nosso de cada dia? O material orgânico pode ser convertido em adubo, mas se misturado ao lixo comum, vai parar nos aterros sanitários, que já estão no limite da capacidade. Pensando numa forma de otimizar a utilização deste resíduo e, de quebra, garantir o sustento, Arthur Rancatti criou, em 2018, o Reliqua, uma empresa que coleta lixo orgânico em Joinville e transforma em composto para adubar canteiros.
“Estes resíduos são ricos em nitrogênio, potássio, cálcio e outros minerais, que acabam sendo desperdiçados quando vão para o lixo comum. A ideia era criar um sistema que transformasse o que vai fora em algo de valor, devolvendo à terra o que ela nos oferece”, explica o itajaiense de 33 anos, que atualmente mora em Floripa. Além da Reliqua, ele é sócio da Rastro, uma empresa de consultoria ambiental e também trabalha como coordenador de Segurança Alimentar e Nutricional da Secretaria do Desenvolvimento Social de Santa Catarina.
Tudo começou quando ele se mudou para Joinville em 2013, onde se tornou voluntário do Coletivo Lixo Zero. Arthur conta que todo ano, a cidade realiza um grande evento durante uma semana para engajar o povo na tarefa de reduzir o lixo. Na última edição, 500 voluntários foram divididos em 17 grupos e participaram de 120 atividades, desde palestras, oficinas de compostagem a mutirões de limpeza. Desta experiência surgiu a ideia de abrir uma empresa com um amigo para prestar consultorias a empresas. “Mas o negócio só deslanchou mesmo alguns anos depois, quando passou a ser exigido o certificado de sustentabilidade ESG”, revela.
O certificado faz parte de ações do Pacto Global, lançado no limiar do novo milênio, na ONU, para melhorar a vida urbana nas cidades através de uma relação colaborativa entre as empresas, o governo e a sociedade civil. Em 2005, o Pacto Global desenvolveu uma nova governança empresarial com objetivos mais concretos, entre eles, a necessidade de dar destinação correta aos resíduos e o fim dos lixões. “Santa Catarina é o único estado que cumpriu a meta, mas como muitos não conseguiram, foi prorrogado para 2024”, destaca.
Só 2% do lixo é reciclado
Após o sucesso da primeira empreitada, Arthur ousou mais uma vez ao criar uma empresa que desse destinação ao lixo orgânico, cuja coleta ainda é bem incipiente. Ele conta que Joinville recolhe 400 toneladas de lixo por dia e que 98% ainda vai direto para o aterro sanitário. “Cerca de 50% deste lixo poderia ser reciclado e outros 40% de lixo orgânico transformado em adubo. Apenas 10% deveria ir para aterros sanitários porque não são recicláveis, como lixo do banheiro, chiclete e fita adesiva”, exemplifica.
O custo para coletar o lixo orgânico é de R$ 54,90 mensais. Caso o cliente leve em um dos cinco ecopontos da cidade, o valor cai para R$ 35,90. Mas como o serviço não está disponível em Itajaí, uma forma de dar destinação correta a estes resíduos é ter uma composteira, onde cascas de vegetais, cascas de ovos e café são intercalados com serragem ou folha e grama seca. Em três meses, as minhocas transformam o material em um excelente fertilizante.