Resultado das urnas
Lula vence Bolsonaro e é eleito presidente pela terceira vez
Disputa foi a mais apertada desde a redemocratização, com pouco mais de dois milhões de votos de diferença
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
Na eleição mais apertada da história desde 1989, com cerca de dois milhões de votos de diferença, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito presidente do Brasil, vencendo a disputa contra Jair Bolsonaro (PL). Com 99,99% das seções apuradas até às 22h21 ele venceu com 50,9% dos votos, contra 49,1% de Bolsonaro.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrou mais de 124 milhões de votantes, sendo 118 milhões de votos válidos, dos quais mais de 60 milhões foram dados para Lula. A abstenção foi de menos de 20%, ou seja mais de 32 milhões de eleitores. O ex-presidente teve cerca de três milhões de votos a mais em relação ao primeiro turno. Já Bolsonaro conquistou 7 milhões de votos a mais que no primeiro turno, mas não superou o adversário. É o primeiro presidente a não se reeleger no país.
Eleito em 2002 e reeleito em 2006, Lula comandará o país pela terceira vez. Com 77 anos, será o presidente mais velho a assumir o cargo. O novo vice-presidente será o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB). Em discurso de vitória em São Paulo (SP), o presidente eleito destacou não existir “dois Brasis” e que vai governar para todos os brasileiros.
“A partir de 1º de janeiro de 2023, vou governar para 215 milhões de brasileiros e brasileiras, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis, somos um único país, um único povo, uma grande nação”, afirmou Lula. Ele destacou que o momento é de “restabelecer a paz entre os divergentes”, defendendo a convivência harmônica e democrática.
“Estou aqui para governar esse país numa situação muito difícil. Mas tenho fé que com a ajuda do povo, nós vamos encontrar uma saída para que esse país volte a viver democraticamente, harmonicamente. E que a gente possa inclusive restabelecer a paz entre as famílias, os divergentes, para que a gente possa construir o mundo que nós precisamos, e o Brasil”, completou.
Lula reafirmou as propostas de campanha, como o combate à fome e à miséria, que será o “compromisso número 1” quando assumir. Também ressaltou a retomada do programa Minha Casa Minha Vida e a meta de reduzir o desmatamento da Amazônia. “Também vamos restabelecer o diálogo entre governo, empresários, trabalhadores e sociedade civil organizada”, afirmou.
Em Santa Catarina, Lula teve votos da minoria do eleitorado, conquistando 30% dos votos, cerca de 1,3 milhão de votos. Bolsonaro alcançou quase 70% do eleitorado, com três milhões de votos, melhorando o desempenho em relação ao primeiro turno, quando recebeu 62% dos votos, contra 29% do petista.
Lira e Pacheco parabenizam Lula; Bolsonaro fez silêncio
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), destacou após a eleição de Lula (PT) que a decisão dos brasileiros “jamais deverá ser contestada”. Segundo o líder congressista, o Brasil deu mais uma demonstração da vitalidade da força de suas instituições.
“Ao presidente eleito, a Câmara dos Deputados lhe dá os parabéns e reafirma o compromisso com o Brasil, sempre com muito debate, diálogo e transparência. É preciso ouvir a voz de todos, mesmo divergentes, e trabalhar para atender as aspirações mais amplas”, discursou.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também parabenizou Lula em discurso, esperando que o mandato seja exercido com “dignidade, êxito e espírito democrático”, ajudando na solução de “problemas reais” do país.
Questionado sobre a postura de Bolsonaro, que até a entrevista de Pacheco não havia se manifestado sobre o resultado, o senador disse que o presidente reconheceria as eleições que são “inquestionáveis”, acreditando numa transição “pacífica”. Até por volta das 22h30, Bolsonaro não se pronunciou oficialmente.
Metalúrgico e do nordeste
Nascido em Garanhuns (PE), Luiz Inácio Lula da Silva se mudou ainda criança para o estado de São Paulo. Durante a adolescência, completou um curso de torneiro mecânico em uma unidade do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e, posteriormente, passou a trabalhar como metalúrgico na cidade de São Bernardo do Campo, quando também começou a se envolver com a atividade sindical.
No final dos anos 1970 e 1980, Lula liderou grandes greves de metalúrgicos da região do ABC paulista. Junto a outros sindicalistas, intelectuais e militantes de movimentos sociais, fundou o Partido dos Trabalhadores (PT). Pela legenda, se tornou deputado da Assembleia Constituinte que aprovou a Constituição de 1988 e foi derrotado nas eleições presidenciais de 1989, de 1994 e de 1998.
Chegou à presidência em 2002, tendo sido reeleito em 2006. Deixou o cargo em 2010, sendo sucedido por sua então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que venceu as eleições com o seu apoio. Em 2017, Lula foi condenado a nove anos e seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.
Em 2018, teve a prisão decretada pelo então juiz Sergio Moro. As condenações foram anuladas em 2021 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou que a 13ª Vara Federal em Curitiba não tinha competência legal para julgar as acusações. O STF também considerou posteriormente que Moro agiu de maneira parcial no processo.