nova vida
Alex renasceu com transição de gênero e vocação a makes
A excelência de suas maquiagens já o levaram a cruzar o país para maquiar uma noiva
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Por baixo de uma boa maquiagem há várias camadas de produtos que juntos realçam traços e revelam a beleza interior. Mas ser capaz desta sutil alquimia não é tarefa fácil, por isso o maquiador Leonardo Barbosa ficou tão impressionado com Alex Iohan, um rapaz tímido de beleza andrógina que participava de seu curso, em julho de 2019. Quando montou o próprio espaço, hoje um dos mais concorridos de Balneário, não pensou duas vezes e trouxe Alex para dar conta de maquiar a galera que queria brilhar tanto quanto os fogos da virada do ano.
“Começamos às 8h e fomos até a meia-noite. Só paramos para ver 2020 chegar na praia”, recorda Alex, de 22 anos, cuja vida tinha virado do avesso um ano antes, quando iniciou o processo de transição de gênero. A primeira aplicação de testosterona aconteceu pelas mãos do próprio pai, respaldado pela experiência adquirida em anos trabalhando em farmácia. “Eu fiz questão que ele participasse do processo e ele não deixou ninguém aplicar em mim, pois é preciso fazer num local preciso para não atingir nervos ou veias”, revela.
Mas até o pai de Alex aceitar a mudança de gênero foi um caminho árduo e doloroso. A ficha só caiu de vez quando o jovem tentou tirar a própria vida e teve que ficar dois meses internado numa clínica no Paraná, onde entendeu que poderia existir sendo quem era. “Foi como um renascimento. Raspei a cabeça e, através da terapia com o psiquiatra especialista em sexualidade, finalmente fiz as pazes comigo mesmo. Logo fui saindo daquela depressão crônica e passei a ajudar outros pacientes, alguns com esquizofrenia”, relata.
O ato desesperado aconteceu durante um curso de maquiagem quando, por falta de modelo, teve que maquiar a si mesmo. Quando viu a reação positiva das pessoas com seu rosto de feições femininas realçado pelos cosméticos, entrou em parafuso. Ele já tinha se dado conta de que era um homem trans desde que passou a assistir aos vídeos do youtuber Ariel Modara, que mostrou sua transição. Até terminou um relacionamento depois disso. Mas percebia o quanto sua condição magoava seus pais, e o conflito tinha chegado a um nível insustentável.
“A gente se sente muito aliviado quando nos tornamos quem realmente somos, mas quem vive junto sofre demais porque é como se tivessem que viver o luto da perda para que pudessem me acolher como um novo filho”, explica. Para sanar estas feridas, e após um longo período em que o silêncio reinava absoluto, Alex pediu para que o pai escolhesse seu novo nome. Já a mãe passou a integrar o grupo Mães pela Diversidade. O processo judicial de mudança de nome durou dois meses. Alex Iohan Gaiguer Pittarelo veio oficialmente ao mundo aos 19 anos.
EVOLUÇÃO
“O engraçado foi passar novamente pela puberdade. A testosterona começa a fazer efeito. Logo a cara encheu de espinhas e o pelo foi se espalhando pelos braços, peito, rosto, como um menino de 13 anos”, revela. Aliás, foi nesta idade que ele afirmou para uma amiga que gostaria de morrer e nascer em corpo masculino. Mal sabia ele que o sonho era possível e nesta mesma encarnação. “Eu não nego o meu passado, nem joguei minhas fotos fora pois foram parte de quem eu sou. Minha sorte foi ter o apoio da família e encontrar um trabalho em que eu pudesse crescer sem abrir mão da minha identidade”, explica.
Dois anos e meio depois da primeira missão bem-sucedida, Alex se tornou um dos maquiadores mais disputados no Espaço Da Vinci, cuja agenda de 2023 já está quase lotada. Seu trabalho é tão notável que ele já cruzou o país para maquiar uma noiva no Pará. Mas o sucesso está longe de subir à cabeça do jovem amante dos gatos, de sushi e da banda Gorillaz. “Durante muito tempo não sabia quem eu era, quanto mais que profissão seguir. Estou apenas começando e ainda tenho muito a aprender”, conclui.
A gente se sente muito aliviado quando nos tornamos quem realmente somos"
Alex Pittarelo, Maquiador