Desde a Grécia Antiga, a humanidade nutre o desejo de ganhar os céus, como descreve o mito de Ícaro, aquele que implantou asas nas costas para escapar da prisão. Primeiro foram criadas máquinas de metal que transportam as pessoas através do globo de forma veloz e eficiente. E, nas últimas décadas, se tornaram populares equipamentos leves como o parapente, que proporcionam voos contemplativos. Um dos entusiastas do esporte é o publicitário Anderson Vargas Peirão, de 43 anos, que já levou mais de duas mil pessoas para compartilhar a experiência inesquecível de admirar as belezas da região planando sobre o mar e as montanhas.

“O que muitos afirmam acontecer durante a meditação, como viver o momento ao mesmo tempo que esvazia a mente, sinto ao voar. E minha maior satisfação é fazer com que cada vez mais pessoas tenham esta experiência e superem seus medos”, afirma. Anderson realiza até oito voos duplos por dia a partir do Morro do Careca, na praia dos Amores, considerado ideal para a atividade. “É um verdadeiro paraíso para o voo porque tem vista para quatro quadrantes: norte, nordeste, leste e sudeste, além da paisagem que é incrível”, complementa.

Anderson começou a voar em 2011, quando fez o curso de instrutor. Três anos depois, num hiato do emprego na área de marketing, abriu a empresa Summit Adventures. Nesses oito anos de atividade, Anderson vivenciou momentos impactantes, como realizar o último desejo de um jovem com câncer, a vontade de voar de uma criança autista e o desejo de liberdade de um cadeirante, que se emocionou ao perceber que lá em cima ter pernas não faz diferença. E teve ainda uma senhora de 78 anos que sempre desejou voar, mas não sabia que era possível. “Voar de parapente é menos complicado do que andar de bicicleta e muito seguro”, garante.

A vontade de democratizar ainda mais a prática fez os instrutores que saltam do Morro do Careca se unirem no projeto social “Asas de brinquedo”, realizado todo mês de setembro, desde 2016. Em um fim de semana, quem levar uma cesta básica e um brinquedo ganha um voo de parapente. No último evento, foram realizados 160 saltos. “Além de ser uma chance única para quem não tem recursos, ajuda as entidades e fortalece a união da galera”, revela.

Anderson conta que, por causa da pandemia, desde o verão de 2021 tem aumentado o interesse por esportes ao ar livre e sem aglomerações. O voo panorâmico leva de 15 a 20 minutos e custa R$ 350 mais R$ 50 por fotos e filmagem, afinal, quem não gostaria de eternizar aquele momento sublime, de integração com a natureza?

Quem estiver interessado em realizar o sonho de Ícaro pode fazer o agendamento com 48h de antecedência  e torcer por condições favoráveis do clima, de modo que o voo seja feito em segurança. “A melhor época do ano para voar é de setembro a março, quando o vento é mais constante, nem fraco nem forte, entre 10 km e 20 km/hora. As frentes frias deixam o clima muito instável”, explica.

"O Morro do Careca é um verdadeiro paraíso para o voo"

Anderson Peirão, piloto de parapente