Trânsito
Deslocamentos colocam em xeque a eficiência dos binários
Especialista considera que mudanças não estão concluídas e que o projeto carece de transporte coletivo regional
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
A mobilidade urbana é definida como qualquer tipo de movimento [a pé, de carro, ônibus, bicicleta, skate, cadeira de rodas, trem ou metrô] que tenha como finalidade o deslocamento de um ponto a outro da cidade. Um dos grandes desafios do nosso tempo é a concentração de pessoas em áreas urbanas. A ocupação e o grande número de automóveis saturaram as vias e tornaram o deslocamento mais demorado.
“O problema dos deslocamentos é uma das grandes aflições das cidades brasileiras. As cidades cresceram exponencialmente nas últimas décadas e esse crescimento se deu, em sua maior parte, de forma horizontal, ocupando novos espaços do território, quase sempre sem contar com planejamento viário prévio”, destaca o arquiteto e urbanista Dalmo Vieira Filho, que foi coordenador do processo de revisão do Plano Diretor de Itajaí.
O resultado disso, explica Dalmo, foi a saturação das vias, com a lentidão nos deslocamentos e a falta de vagas de estacionamento. “Paralela e contraditoriamente, por uma série de razões, especialmente nas cidades médias, as formas de transporte coletivo perderam espaço, priorizando-se as opções de transportes individuais, enquanto na maioria dos países do mundo os automóveis estão em xeque”, destaca Dalmo.
O itajaiense Janderson Maçaneiro, 42 anos, conhece bem a realidade de dirigir na cidade. “Criaram uma série de binários, interligaram algumas ruas, mas são poucos retornos e saídas, o que gera uma total falta de gestão do trânsito. As descargas dos binários ocorrem praticamente nos mesmos pontos”, opina.
Há relatos de motoristas que levam até 30 minutos para percorrer um trecho de pouco mais de cinco quilômetros, entre o bairro Fazenda e o centro de Itajaí, nos congestionamentos nos horários de pico.
O representante comercial Cláudio Cunha, 36, analisa que o motorista entra em um ciclo vicioso pelos poucos retornos que os binários oferecem.
Mais mudanças
As mudanças no trânsito de Itajaí iniciaram em janeiro do ano passado e envolvem mais de 10 binários implementados ou em fase de implantação. O objetivo das mudanças no transito da cidade, inclusive com a interligação de algumas ruas e avenidas, é dar fluidez ao trânsito.
O engenheiro civil e assessor do gabinete do prefeito Volnei Morastoni (MDB), Auri Pavoni, admite que os binários podem não agradar motoristas que tiveram seus trajetos ampliados em algumas quadras, mas diz que o novo projeto de mobilidade está apenas com 1/3 implementado. “Muitas outras mudanças ainda serão feitas e um projeto dessa magnitude não vai agradar 100% da população”, pondera.
Como coordenador do processo de revisão do Plano Diretor de Itajaí, o urbanista Dalmo Vieira Filho diz que a proposta foi fazer um teste de adaptabilidade dos binários. “A avaliação precisa ser cuidadosa, já que não é apenas o fluxo de automóveis que deve contar nas decisões finais”, diz. Dalmo ainda explica que o projeto está inserido em uma ampla proposta de mobilidade urbana regional. “Há uma previsão de vias exclusivas para transportes coletivos, conectados a toda a região metropolitana de Itajaí,” completa Dalmo.
Faltam vagas, sobram carros
Em Balneário Camboriú, os principais problemas de mobilidade estão na falta de vagas de estacionamento e na baixa fluidez do trânsito. “Sem contar que o portador de necessidades especiais não é respeitado”, observa a psicóloga Maria Raquel, que dirige um carro adaptado.
“Vivemos numa cidade turística, que vende qualidade de vida. Não vejo problemas na estrutura viária de Balneário Camboriú, mas é preciso melhorar o fluxo”, opina o empresário e morador Fernando Baum. Para ele, o principal problema é o comportamento do motorista. “O condutor só pensa em si, o que acaba impactando no trânsito como um todo”, arremata.
Segundo o diretor-presidente do BC Trânsito, Ricieri Ribas Morais, o sistema viário da cidade não foi planejado e isso tem refletido nos problemas atuais do trânsito. “Balneário Camboriú tem seu sistema viário limitado pelo crescimento acentuado que teve ao longo dos seus mais de 50 anos. Boa parte das vias não foi projetada, e fica difícil desenhar um novo cenário viário”, reconhece.
Ricieri explica que criar novas avenidas na região central gera um impacto muito grande, quase que impossível, devido aos altos custos de indenização de imóveis. “O uso do transporte coletivo e do alternativo, em vez do automóvel, é uma das soluções para minimizar a falta de vagas de estacionamento”, aponta.
Ricieri destaca ainda a necessidade da realização de estudos para a implementação de prédios-garagem em Balneário Camboriú. “Mas a melhor alternativa é a utilização de outros modais de deslocamento: transporte coletivo e modais limpos, como a bicicleta, motociclos elétricos, patinetes”, finaliza.