Nos idos anos de 1980, quando a atividade turística e a construção civil mudaram radicalmente o perfil de Balneário Camboriú [que deixou de ser uma cidade apenas de veraneio e começou a ter vida própria], era comum ouvir-se o termo “Balneário Camboriú é terra de ninguém” de forma, digamos, pejorativa. Era o modo encontrado pelos moradores dos municípios vizinhos, mais conservadores, para se referirem ao jovem município [emancipado em 20 de julho de 1964] como uma terra de forasteiros, sem passado e sem história. Ledo engano!

A história de um município não começa a partir de seu desmembramento. Está intrínseca nos costumes e nas tradições de seus habitantes, que herdaram de seus antepassados e trouxeram para o presente. Costumes estes que ainda presentes em muitas regiões do município, seja em atividades como a pesca e a aquicultura, seja na gastronomia típica e em hábitos antigos preservados em localidades como a Barra ou nas praias agrestes, que guardam reminiscências da arquitetura trazida pelos colonizadores. 

Muitos costumes também foram absorvidos pelos que aqui chegaram, se apaixonaram e adotaram o município. Empreendedores que se uniram aos nativos de Balneário Camboriú e alavancaram as indústrias ligadas às áreas turística, da construção civil, do comércio e de prestação de serviços. Portanto, o município nunca foi “terra de ninguém”. Pelo contrário: a hospitalidade do nativo fez com que Balneário Camboriú se transformasse em “terra de todos”.

A cidade se transformou num ponto de convergência de pessoas que migraram de lugares diversos [de dentro e de fora do estado de Santa Catarina] e até de países vizinhos. Um local democrático, que representou e ainda representa esperança, tolerância e convivência. Fato que impacta nos perfis demográfico, social e econômico da cidade, que hoje é vista como um ponto fora da curva.

Balneário Camboriú é cosmopolita, com altos indicadores de desenvolvimento econômico, humano e social e em constante ebulição. A cidade se reinventa a cada momento [nos mesmos moldes das metrópoles], é inclusiva, moderna, conectada. No entanto, em meio aos gigantescos arranha-céus [que colocam o município entre os mais evoluídos com relação à tecnologia construtiva] e na vanguarda das indústrias da gastronomia e do entretenimento, Balneário Camboriú traz em suas entranhas a garra, a pujança e a resiliência de um povo que jamais deixa de lutar. Coragem e esperança que temos o privilégio de ver nas faces suadas e marcadas pelo sol daqueles que, mesmo em meio aos gigantes de concreto, ainda proporcionam o espetáculo de puxar um belo lanço de tainha.