Matérias | Entrevistão


Itajaí

Mylene Lavado

Diretora Clínica do Marieta

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

https://vimeo.com/454922268

RAIO X

NOME: Mylene Martins Lavado

NATURAL: Foz de Iguaçu (PR)



IDADE: 50 anos

ESTADO CIVIL: Solteira

FILHOS: Um


FORMAÇÃO: formada em Medicina pela Universidade Federal do Paraná; Especialista em Ultrassonografia em Ginecologia e Obstetrícia; Especialista em Ginecologia e Obstetrícia; Fellow em Medicina Materno Fetal na Universidade de Manitoba – Canadá; Atua na área de Gestação de Alto Risco, Medicina Fetal e Infertilidade; Coordenadora da Disciplina de Ginecologia, Obstetrícia e Medicina Fetal do Curso de Medicina da Univali.

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL: atua há 27 anos na saúde da mulher e bebês, é há 17 anos médica em Itajaí; trabalhou no King Faisal Specialist Hospital and Research Center em Riade, atua no pré-natal de Altíssimo Risco Gestacional para a gestante ou para o bebê; fundou juntamente com a secretaria de Saúde de Itajaí o pré-Natal de Alto Risco no centro de Referência da Saúde e da Mulher (CRESCEM); desde 2003 é professora de Obstetrícia e Medicina Fetal da Univali; secretária da comissão Nacional de Gestação de Alto Risco da federação Brasileira de Gineco e Obstetrícia (FEBRASGO) e foi eleita Diretora Clínica do hospital Marieta Konder Bornhausen.

A gestão [geral]  do Marieta não faz essa administração compartilhada. É uma administração extremamente autoritária” 

A ginecologista e obstetra Mylene Lavado atua em Itajaí há 17 anos. Há cerca de um mês ela foi eleita, através de votação direta, diretora clínica do hospital Marieta Konder Bornhausen, e nas suas manifestações públicas deixou transparecer que há um posicionamento distinto entre o corpo clínico e a direção geral do hospital. E o Marieta veio ao centro do debate depois que o Conselho Regional de Medicina afastou do exercício da medicina o médico Gustavo Deboni, acusado pelo ministério Público de abreviar a vida de pacientes internados no hospital. Mylene afirmou que Gustavo nunca fez parte do corpo clínico, e classificou como “informações inverídicas” as afirmações da direção geral do hospital. À jornalista Franciele Marcon, a médica explicou a diferença entre a contratação direta feita pelo hospital Marieta e os 200 médicos que fazem parte de fato do corpo clínico. Falou, também, sobre a perda do credenciamento para residência em ginecologia, do afastamento arbitrário do médico que denunciou as condutas suspeitas de Gustavo Deboni e do que chama de “autoritarismo” da atual gestão do Marieta. Ela também não deixou de opinar sobre as mortes em partos na maternidade do hospital e nem sobre o movimento social que garantiu a volta dos acompanhantes às mamães na hora do parto.  As fotos são de Fabrício Pitella.

 


DIARINHO – A senhora foi eleita diretora do corpo clínico do hospital Marieta Konder Bornhausen recentemente. Para que nossos leitores entendam: quais são as atribuições e os poderes do corpo clínico?

Mylene: O corpo clínico é um grupo de médicos, que já é formado há 60 anos no hospital, e esse grupo de médicos preenche toda a demanda do hospital em relação a prestação de serviço médico diretamente à população. É praticamente um corpo de médicos que presta serviço à população. [Contratado pelo Marieta?] O corpo clínico não é contratado pelo hospital Marieta. Ele é um órgão à parte da administração do hospital. A entrada dos membros nesse corpo clínico é feita através de solicitação e análise pelos membros do corpo clínico e de uma comissão de credenciais pra que esse médico faça parte do corpo clínico. Na maioria das vezes o corpo clínico consegue suprir todas as necessidades de atendimento do hospital. Quando isso não ocorre, o hospital pode contratar um médico externo. Nesse contrato externo os cuidados, a supervisão e a fiscalização do serviço é feita pela administração do hospital. Já quando o médico pertence ao corpo clínico a fiscalização é feita pelo corpo clínico.

DIARINHO – Causou preocupação o alto índice de letalidade dos pacientes de covid que se internaram no hospital Marieta. Os dados dessas internações não foram divulgados de maneira transparente quando houve questionamento e a natural comparação com os números de outros hospitais. Qual a explicação para essa letalidade alta e porque esses números não são divulgados à sociedade?

Mylene: Isso teria que ser diretamente respondido pela direção do hospital. Porque essa letalidade ocorreu em serviços que são as UTIs de Covid, que o corpo clínico não tem acesso. Esses dados que não foram transparentes à sociedade também não foram transparentes para nós.


DIARINHO – O cirurgião Gustavo Deboni, até recentemente gerente médico do hospital Marieta, foi afastado preventivamente pelo CRM e responde a uma ação civil pública do MP acusado de “abreviar” a vida de pacientes do hospital. Seria possível ele cometer esses atos sem que a direção do hospital tomasse conhecimento ou sem que sua conduta fosse fiscalizada  por um imediato superior?

Mylene: Isso é possível. Mas não deveria ocorrer. Porque o hospital tem uma Comissão de Óbitos. Essa comissão faz parte da contratualização do hospital, ela é obrigatória. Essa Comissão de Óbitos tem que investigar todos os óbitos que ocorreram. Geralmente essa comissão é composta por dois membros nomeados pela administração do hospital. São cargos de confiança. Todo óbito deve ser revisado nessa comissão. Inclusive existe uma ficha técnica que você preenche na revisão desse óbito. Quando a comissão percebe que o óbito poderia ter sido irregular... Essa comissão tem que notificar imediatamente à administração do hospital e também tem que notificar à secretaria de Saúde. Depois que é feita essa notificação, essa investigação é amplificada e é tomada a conduta dentro da linha que seria evitável, por exemplo. [...] Porque essa comissão talvez não detectou alguma irregularidade, se é que houve irregularidade, isso vai ser, a seu tempo, esclarecido. Porque que não houve essa detecção, não sei te dizer. Mas existem meios e existem caminhos para que isso não ocorresse.

A maioria desses médicos que presta serviço hoje na obstetrícia é recém-formada. Saídos da residência médica, e querendo ou não, a qualidade técnica fica deficitária”

DIARINHO – As práticas investigadas, segundo a apuração do MP, aconteceram na clínica Padre Pio e, segundo a ação civil, houve inclusive a denúncia de adulteração de prontuários ? É possível adulterar os prontuários dos pacientes?

Mylene: Adulterar um prontuário é possível. É difícil acontecer, principalmente agora que temos prontuários eletrônicos, mas é possível. Principalmente na época que o prontuário era escrito. Mas também existe a Comissão de Prontuários. Essa Comissão não revisa todos os prontuários. Os prontuários são sorteados de modo aleatório. Porque você imagina, uma instituição que interna de 700 a 1000 pessoas por mês, não teria como revisar todos. Mas eles são sorteados. A gente revisa em torno de 100 por mês. Nessa revisão, se tiver um prontuário mal preenchido, se tiver suspeita de adulteração de prontuário, essa comissão também tem que notificar à administração imediatamente.

DIARINHO – A denúncia do MP cita que a direção geral do hospital daria plenos poderes ao médico Gustavo. Ele foi contrato pelo corpo clínico? O que faz um gerente médico no hospital? O cargo dele era de gerência e também na linha de frente da emergência?


Mylene: A primeira contratação do doutor foi para trabalhar na emergência, posteriormente na UTI.  Ele não foi contratado pelo corpo clínico. Em 2018 ele foi convidado para ser gerente médico do hospital. Tudo o que ele faz dentro do hospital como médico contratado, por não fazer parte do corpo clínico, é de responsabilidade e fiscalização da direção técnica. A direção técnica é um médico, que também é nomeado pelo hospital, que deve fiscalizar os contratos com terceiros. E se ele notar alguma irregularidade, deve imediatamente comunicar à administração do hospital também. A fiscalização da atuação, como a do doutor Deboni, deveria ser da direção técnica. A fiscalização dele como gerente médico seria da administração geral e da administração executiva do hospital.

DIARINHO – Como são contratados os médicos que atuam no hospital? Há denúncias de que a direção administrativa do Marieta está contratando médicos com salários abaixo do valor de mercado. Isso é verdade?

Mylene: A contratação do hospital deveria ser excepcional. Ela deveria ocorrer quando o corpo clínico não tem condições de suprir aquela demanda. Por exemplo, aconteceu com a emergência, quando demandou de um número maior de médicos para fazer plantão na emergência, o corpo clínico se absteve, ele não quis o compromisso com a emergência. E isso possibilitou que o hospital contratasse uma equipe para prestar serviços na emergência médica, que não fizessem parte do corpo clínico. Isso aconteceu já há vários anos. Mas até 2015, essas divergências e esses pontos de vista diferentes, entre o corpo clínico e a administração, eles eram conversados, existia muito diálogo. Existia um cuidado muito grande da administração e do corpo jurídico do hospital em contratar realmente aquilo que era necessário. De 2015 pra cá, a política do hospital mudou, e nos causa bastante estranheza isso. Por que isso está acontecendo? Não sabemos porque não nos é justificado. Vou dar o exemplo da infectologia, médicos que prestavam serviço há mais de 10 anos. Médicos, alguns deles com duas residências médicas, residências médicas em locais renomados do país, com expertise no assunto, serem substituídos, no meio de uma pandemia, com número crescente de óbitos no hospital, números alarmantes na região. Eles serem substituídos por uma médica com pouco tempo de formada na residência médica, com pouca experiência no hospital, sem passar pelo crivo do corpo clínico, sem nenhum tipo de justificativa... Por que essa equipe está sendo substituída quando a gente demanda de muitos infectologistas e está passando para assistência só de uma pessoa?! Isso nos causa bastante estranheza. Porque não houve nenhuma justificativa, do ponto de vista técnico, para a mudança. Isso tem ocorrido em vários setores do hospital. Acaba que houve nesse meio tempo uma divergência entre o hospital e o corpo clínico. Porque o corpo clínico se posicionou contra. A gente quer saber o porquê dessas substituições. E o hospital não nos dá explicação, a administração do hospital não nos dá. Nossa posição mostrou-se contra essas substituições mais frequentes e sem justificativa. Isso nos causa estranheza e traz uma certa insegurança até na autonomia do cuidado médico. Porque o corpo clínico passa por um crivo, dentro da instituição, pra ele ser absorvido nesse corpo clínico. Se essa pessoa tem problemas éticos, traz inúmeros problemas, a gente tem uma certa cautela para introduzir no corpo clínico. Inclusive agora saiu uma nova resolução do Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina, é de 2019, pra dar oportunidade de mais médicos contratados entrarem no corpo clínico. A gente está mudando o nosso regimento para dar oportunidade desses médicos contratados entrarem no corpo clínico, que é o que vai ser feito. Mas isso é feito com muita cautela e com muito critério técnico. A gente não vê o mesmo critério nas contratações do hospital. Isso causa uma certa insatisfação dentro do corpo clínico, até um desânimo. Muitas pessoas acabam se desligando do corpo clínico por esse desânimo em trabalhar na instituição dessa forma. O corpo clínico tem esse zelo na sua construção porque o nosso objetivo principal é dar a melhor assistência possível. Inclusive com critérios técnicos de taxa de mortalidade e a gente sempre está tentando incrementar, trazendo a residência médica para corroborar com essa melhoria, com a expansão da qualidade do corpo clínico. E a gente vê que nas contratações esse critério técnico fica deficitário. Quando você contrata uma pessoa única para prestar um serviço tão complexo quanto a infectologia, isso nos causa estranheza. Porque você tem que ter um número maior de médicos ali fazendo esse serviço. A mesma coisa aconteceu com a obstetrícia, que a equipe foi mudada também, onde se contratou apenas um médico e esse médico contratou os outros. A maioria desses médicos que presta serviço hoje na obstetrícia é  recém-formada. Saídos da residência médica, e, querendo ou não, a qualidade técnica fica deficitária. E isso indiretamente, ou diretamente também, poderia acarretar num prejuízo da assistência da saúde da população. [O hospital perdeu a residência médica em ginecologia?] Sim, houve várias denúncias, no ano passado, tanto dos médicos residentes quanto na comissão estadual de residência médica, e teve denúncias também de pacientes no ministério Público. Isso obrigou o ministério da Educação a encaminhar uma vistoria, uma auditoria dentro do centro obstétrico, pra avaliar a qualidade de ensino. E essa auditória, que foi da comissão estadual de residência médica, ela acabou desqualificando a qualidade do serviço e dizendo que realmente havia muitas dificuldades ali em termos de ensino. Mesmo pela experiência dos médicos que prestavam serviços. No grupo anterior, a gente tinha médicos com doutorado, com mestrado, vários professores da Univali. Agora são médicos que acabaram de sair da residência médica. Eles viram que havia déficit no ensino e eles acabaram fechando a residência médica do hospital Marieta. Esses médicos residentes que estavam no serviço foram transferidos pra outros hospitais de Santa Catarina. [O que aconteceu em 2015 que houve essa mudança?] Houve uma mudança na administração do hospital. Veio uma nova equipe administrativa. Essa equipe tem um jeito de encarar o processo gestor com mais autoritarismo. Não é uma gestão compartilhada com funcionários, ou com o próprio corpo clínico. Porque, querendo ou não, o corpo clínico é um órgão fiscalizador. O médico do corpo clínico fiscaliza a parte assistencial do hospital, a parte de maquinários. “Olha, irmã, esse maquinário aqui não tá bom, vamos trocar isso, não dá pra trabalhar assim”. Essa gestão não faz essa administração compartilhada. É uma administração extremamente autoritária: “é desse ponto de vista, vai ser feito do meu jeito”. E isso causou bastante desconforto dentro do corpo clínico, dentro do corpo de funcionários.

A gente quer que o médico do corpo clínico tenha autonomia pra atender todos os convênios, inclusive o SUS”

DIARINHO – As últimas semanas sugerem que é um racha entre o corpo clínico do hospital e a direção geral. Isso é real? Há um desacordo entre os médicos do próprio hospital?

Mylene: Esse desacordo é sobre tudo o que eu falei. Essa troca do corpo clínico sem uma justificativa. Recentemente, essa semana agora, veio à tona a nota do ministério Público, um médico do corpo clínico que foi um denunciante na nota, no dia seguinte que a nota veio a público, ele foi afastado sem nenhuma justificativa técnica, nenhuma reclamação contra o médico. Ele foi afastado da UTI do hospital. No dia seguinte recebeu um telefonema que ele não fazia mais parte da escala. Isso nos causa estranheza, porque ele foi afastado, mas sempre prestou um bom serviço. Isso acaba causando um desconforto dentro do próprio corpo clínico. Esse desconforto é crônico, não é de agora, é um desconforto dos últimos quatro anos, só que agora veio à tona. A gente quer assegurar que se tenha autonomia pra atender os pacientes, inclusive do SUS, pacientes de convênios, pacientes particulares. Nos é impedido de atender paciente do SUS. Por exemplo, se eu hoje quiser fazer uma cesariana pelo SUS no centro obstétrico, eu não posso fazer, porque eu não faço parte da equipe de médicos contratados. O hospital obriga o atendimento do SUS a ser exclusivo dos médicos contratados. Na infectologia a mesma coisa, se eu quiser hoje pedir pro doutor Cleyton [Gregory Silva] ver um paciente do SUS na infectologia, ele não tem essa permissão.

DIARINHO – O hospital Marieta divulgou uma nota pública acusando o corpo clínico de estar irregular: “claramente a Diretoria Clínica pretende garantir vantagens e direitos não compatíveis com as atividades desenvolvidas no Hospital, inexistindo qualquer obrigação a atender os pacientes do Sistema Único de Saúde ou de outros Contratos, ou seja, nenhum dever é imposto aos integrantes do Corpo Clínico”. Como o corpo clínico explica essas afirmações?

Mylene: Isso não é verdade! O hospital está equivocado nessa afirmação. Não sei quem mandou essa nota, porque ela não é assinada, não tem o nome de ninguém nessa nota. A outra coisa que é uma inverdade e que eles colocaram na nota é que o doutor Gustavo Deboni é do corpo clínico e que sua atuação como médico dentro do hospital é de total responsabilidade do corpo clínico. Isso também é uma inverdade. Houve uma comissão que avaliou se esse médico era ou não do corpo clínico no ano passado. Essa comissão participou de uma reunião extraordinária em que declarou que o médico não é do corpo clínico. Não existe nenhuma ata em que ele foi admitido no corpo clínico. E tanto isso é verdade que no dia 24 de março de 2020 ele manda um documento pra direção clínica solicitando seu ingresso no corpo clínico. Se ele mandou esse documento é porque ele não faz parte do corpo clínico. Esse documento tá escrito a próprio punho e assinado pelo médico. A nota da administração foi bastante infeliz porque acabou tentando jogar a culpa, ou jogar a responsabilidade da fiscalização desse médico, para outros. [Porque o corpo clínico não pode atender pelo SUS?]. Não sei, eles não conseguem justificar. Inclusive no regimento interno do corpo clínico está escrito que o corpo clínico pode prestar serviço a todos os convênios a que o hospital atenda. O SUS é um convênio. Isso também partiu de uma decisão da administração geral ,mas sem consulta ao corpo clínico. A gente não sabe dizer o porquê.

DIARINHO – Desde sempre o hospital Marieta é administrado por uma organização religiosa, mas é mantido por verbas públicas. Como se dá essa administração?

Mylene: Essa administração é feita por uma concessão do Governo Estadual pro Instituto das Pequenas Missionárias. Esse instituto que impõe quem vai ser a administradora geral, o administrador executivo, todos esses cargos de administração, departamento jurídico, é tudo com contração através da nomeação do instituto. Mas como isso é gerido em termos de contratualização eu não saberia te dizer especificamente. O que a gente sabe é que tem um contrato com o Estado pra fazer a alta complexidade e com o município pra fazer a baixa e média complexidade. Dentro dessa contratualização, inclusive, está determinado que o corpo clínico vai fornecer assistência aos pacientes dessa contratualização, que é SUS, 100% SUS, essa contratualização. O hospital recebe uma verba mensal para pagar os custos. Os gastos do hospital são imensos, muitas vezes maior do que eles recebem. Só de folha de pagamento é um gasto muito grande, luz, água, tudo isso, medicações, insumos. É muito difícil hoje você manter a alta qualidade em assistência à saúde com uma verba,  às vezes, muito restrita. Dentro disso a gente tem feito o esforço possível.

DIARINHO – É verdade que existem dois padrões de atendimento no hospital Marieta? Pacientes que podem pagar tem um atendimento de excelência, mas os do SUS se submetem a riscos e a outro padrão de atendimento?

Mylene: Na teoria não deveria haver. Há uma coisa que é bem evidente, há uma diferença na hotelaria, mas isso é próprio do que chega pra pagamento. Você não pode dar a mesma hotelaria pra um paciente que paga e pra um paciente do SUS, que vai receber um décimo do que o paciente paga. Na hotelaria isso é permitido, desde que haja higiene adequada, um quarto confortável, você pode fazer uma enfermaria com mais leitos no paciente do SUS. Hoje, por exemplo, vou dar exemplo da obstetrícia, que é uma enfermaria com quatro leitos. Isso não é antiético, isso não é inadequado. Quanto a assistência médica, não deveria ocorrer. A mesma medicação que você usa pra um paciente do SUS, você usa pra um paciente particular ou de convênio. Isso eu tenho certeza que não ocorre diferença. Porque a maior parte dos serviços prestados é pelo corpo clínico. [O jornal costuma noticiar com certa frequência mortes de bebês em partos realizados no Marieta através do SUS. As famílias acusam o hospital de negligência, demora pra decidir pela cesariana. Como a senhora analisa essas mortes?] Houve um incremento em relação a equipe anterior, que era uma equipe do corpo clínico. Eu já não fazia mais plantão, mas era uma equipe do corpo clínico que prestava assistência, com protocolos muito bem estabelecidos, tinha residência médica, tudo isso acaba sendo um fator determinante para a diminuição de mortalidade. Sempre vai haver mortalidade, é impossível não haver, mas houve um incremento. Inclusive os próprios residentes denunciaram a prática inadequada pra Comissão Nacional de Residência. Teve denúncias dos pacientes que foram vítimas desses óbitos. Se houve negligência, imprudência, isso não tenho como julgar. Porque não tenho acesso e não tenho capacidade técnica para julgamento. A gente até percebeu em termos de números de partos, diminuíram bastante, porque as pacientes acabaram indo para outros hospitais. O Ruth Cardoso, o de Blumenau, mostraram um aumento no número de partos em comparação a antes dessa nova equipe. Os pacientes acabaram tendo essa atitude de procurar outros hospitais [...] [Também chamou atenção durante a pandemia que o Marieta proibiu acompanhante nos partos, desrespeitando a lei nacional do acompanhante. A direção voltou atrás há algumas semanas. Realmente era perigoso ter um acompanhante no parto?] Em nenhum momento o ministério da Saúde ou a própria secretaria Estadual de Saúde proibiu o acompanhante no parto. Tanto é que da região toda, o Marieta era o único hospital que não permitia. Se o hospital não tem condições físicas de receber esse acompanhante, de manter esse distanciamento, isso não é culpa da paciente e nem do acompanhante. O hospital vai ter que se adequar de alguma forma para poder ter o acompanhante. A restrição por espaço físico, eu não acredito nela. Porque no pós-parto são quatro pacientes num quarto, o espaço é o mesmo ou até menor que no centro obstétrico e ali poderia ter acompanhante. É uma coisa que não faz sentido. Houve um movimento social muito grande, representado por vários órgãos da sociedade, enfermeiras obstétricas, doulas, exigindo a volta do acompanhante. Eu acho que o mérito dessa volta é da população. Isso mostra que a população que tem que exigir os seus direitos e inclusive sua assistência médica adequada.

 

 

 
 




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