Itajaí
Anjos que navegam
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
A instituição Anjos do Mar existe há quatro anos em Itajaí. Com jet ski e caminhonetes 4x4, eles buscam ajudar as pessoas que precisam de apoio no mar. Na primeira semana de setembro, eles restringiram o foco e atuaram apenas no salvamento de pessoas necessitadas por conta de mais uma enchente que atingia Itajaí. Porém, os três mosqueteiros, líderes do grupo, gostariam de ter feito muito mais do que fizeram e você já vai entender o porquê.
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No dia 6 de setembro, primeira terça-feira do mês, eles confirmaram uma previsão de chuvas fortes que resultaria numa enchente. No mesmo dia, mantiveram contato com a defesa civil de Itajaí para ...
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No dia 6 de setembro, primeira terça-feira do mês, eles confirmaram uma previsão de chuvas fortes que resultaria numa enchente. No mesmo dia, mantiveram contato com a defesa civil de Itajaí para planejar a atuação e deixar as embarcações abastecidas e cadastradas. O espanto, segundo o presidente e instrutor de segurança náutica, Marcelo Ulyssea, 37 anos, veio quando recebeu a informação de que o apoio não seria necessário. Mesmo diante da negativa da defesa civil, deixei todo mundo em alerta. Acionamos cerca de 20 voluntários, recorda Marcelo.
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Na quinta-feira, depois de três dias de chuva, os voluntários da instituição começaram, por conta, o patrulhamento no rio Itajaí-açu, onde havia embarcações quase à deriva devido à forte correnteza do rio e a sujeira trazida do Alto Vale. Constatando que realmente uma nova enchente chegaria à cidade e que algumas áreas ribeirinhas já estavam alagadas, o grupo recebeu da associação Náutica de Itajaí (ANI) seis bateiras para ajudar em caso de urgência e mais voluntários com carros 4x4 foram acionados.
No mesmo dia, o Anjos do Mar já estava fazendo o seu primeiro resgate. Uma senhora de idade tava ilhada no Imaruí. Ela não acreditou que o rio iria subir, ficou ilhada em casa e precisou ser resgatada, conta Marcelo. Ele ouviu da senhora que todos já estavam falando que seria uma enchente igual a 2008, mas ela não acreditou, por isso precisou do resgate.
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Após o primeiro salvamento, o grupo não parou. Foram 36 horas trabalhando direto, agora já com o apoio da defesa civil, para resgatar, transportar pessoas e levar mantimentos aos atingidos. O resgate mais difícil feito pelo grupo foi de um neném que estava ilhado com a mãe, no Bambuzal, no São Vicente.
A criança estava com diarreia e vômito e a família não conseguia contato com os números 199, da defesa civil, e 193, dos bombeiros.
Uma pessoa da ANI que ligou para a gente pedindo para ir resgatá-la, que era grave, conta Marcelo, que encontrou mãe, o bebê e os avós no segundo andar na casa, sendo que a água já estava na altura do peito de um adulto. Quando chegamos, a mãe falava: Graças a Deus, moço. A gente não conseguia a ligação, moço, descreve Marcelo. Além desses, foram vários resgates, pessoas ilhadas, famílias com gêmeos dentro de água, um rapaz se afogando no loteamento Portal 2, no Espinheiros. Tantos salvados que Marcelo, Carlos Wei, 48, gerente de vendas, e a engenheira civil Marcela Silvestro, 36, ainda guardam na memória.
O momento mais difícil, segundo o trio, foi o resgate da draga. Eles ouviram no rádio, na frequência da defesa civil, que a draga estava descendo o rio desgovernada. O risco era que ela batesse nos barcos atracados nos píeres da cooperativa Brasileira de Pesca, onde tinham famílias que abandonaram suas casas alagadas para dormir nas embarcações. Também havia um temor que a draga acertasse o ferry boat, que continuava fazendo a travessia entre Itajaí e Navegantes.
Estávamos perto da posição da draga, acima da Femepe, e descemos com o jet ski no parque Náutico dos Cordeiros. Consegui passar o companheiro pra cima da draga, mas ele não conseguia jogar âncora. Então ela bateu no deque de concreto do parque e arrancou parte dele fora. Eu peguei o cabresto de popa e tentava mantê-la no centro do rio até conseguir ancorá-la, conta Marcelo, revivendo os momentos de terror.
Para os voluntários da Anjos do Mar a sensação, após mais uma enchente, é de missão cumprida. De ter colaborado um pouquinho, agora fica aquela sugestões para tentar fazer a nossa defesa civil mais forte. Melhorou muito de 2008 para cá, o circo estava armado, a comunicação fluindo, todo mundo dando entrevista, mas a comunicação com o voluntário que estava na ponta, não estava fluindo, critica. Marcelo acredita que se tivesse mais comunicação com eles, com a ANI, o Jeep Clube, entre outras instituições que ajudaram na cheia, eles poderiam ter ajudado mais.
Pro Anjos do Mar faltou planejamento das pessoas que estavam no comando. Marcelo conta que teve que ir numa reunião no centreventos, chutar a porta e perguntar o que estava acontecendo. O grupo estava com voluntários em carros, embarcações na água, o pessoal molhado na ponta, e os mantimentos não eram liberados. Então eu perguntei qual era a prioridade? É por nome de bairro, por colégio eleitoral ou é por quem está realmente precisando e está mais afetado, ilhados?! Daí liberaram, revela.
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Marcelo acredita que nestes momentos de tragédia, o ego militar precisa ficar de lado e uma comunicação direta com os voluntários civis deve ser feita. Os militares têm que estar no comando, eles têm a técnica, têm os meios, mas precisam se comunicar. Não podem negar algumas sugestões. Não pode ser assim, não estamos mais na ditadura militar, essa fase já passou, cutuca.
Para tentar fortalecer a defesa civil da cidade e as entidades que ajudam sempre na enchente, Marcelo está propondo conversas entre as instituições, buscando dar voz ativa a esse grupo que está disposto a trabalhar e precisa ser levado em consideração pelo poder público.
IMAGEM DA ENCHENTE:
Estávamos perto da posição da draga, acima da Femepe, e descemos com o jet ski no parque Náutico dos Cordeiros. Consegui passar o companheiro pra cima da draga, mas ele não conseguia jogar âncora. Então ela bateu no deque de concreto do parque e arrancou parte dele fora. Eu peguei o cabresto de popa e tentava mantê-la no centro do rio até conseguir ancorá-la
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LIÇÃO DA CHEIA:
A lição que fica para Marcelo Ulyssea, após mais um evento climático, é que as pessoas repensem a ocupação urbana, principalmente em planície de inundação