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Itajaí

De volta a Itajaí, Smykalla só quer uma coisa: continuar pintando

O velho pintor que popularizou as artes plásticas na região e que vivia abandonado num cortiço em Taubaté é o mais novo morador do asilo Dom Bosco, de Itajaí

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

Por Sandro Silva

sando@diarinho.com.br

Com extrema dificuldade para andar, sem amigos ou familiares para ampará-lo, vivendo em condições subumanas, o artista se despiu da liberdade que vestiu durante décadas. Aos 72 anos, Walter Smykalla ...

 

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sando@diarinho.com.br

Com extrema dificuldade para andar, sem amigos ou familiares para ampará-lo, vivendo em condições subumanas, o artista se despiu da liberdade que vestiu durante décadas. Aos 72 anos, Walter Smykalla deixou o quartinho fétido e infestado de baratas em que vivia, no centro velho de Taubaté, norte de São Paulo, e voltou pra Itajaí. O velho pintor, que popularizou as artes plásticas na região, desde sábado, é o mais novo hóspede do asilo Dom Bosco. Smykalla, que queria uma vida fora das convenções sociais para poder criar, percebeu que esta mesma liberdade lhe dava amarras e o estava impedindo de produzir. “Que bom que eu tô aqui”, admitiu, de mãos postas como se estivesse em louvação, alguns minutos antes de chegar à casa de repouso. “Eu tô ansioso”, confessou.



Desde que voltou pra Taubaté, em fins de maio, depois de passar alguns dias em Itajaí a convite do DIARINHO, Smykalla viu sua vida ficar ainda pior que já era. Em apenas um mês, baixou o hospital três vezes. Mal conseguia sair do quarto atulhado do que os vizinhos de infortúnio chamam de lixo e que, pra ele eram materiais pra produzir sua arte.

Na quarta-feira da semana passada, Smykalla caiu mais uma vez numa das calçadas da rua Newton Câmara Leal Barros, a menos de 10 metros do portão de acesso ao corredor que leva até o cortiço onde morava. “Ele ficou um tempão sentado aqui. A gente chamou um táxi, mas eles não quiseram vir porque era pra levar um doente. Tinha quer se o atendimento (ambulância do pronto socorro)”, relatou um comerciante da rua, sobre um dos últimos dramas do pintor.

Do pouco que caminha, Smykalla o faz se escorando pelas paredes. Caiu por conta da pressão baixa e da fraqueza. Talvez isso tenha sido melhor para ele. Passou de quarta até sexta-feira pela manhã recebendo soro, alimentação e medicamentos. “Ele chegou aqui com a pressão muito baixa e também com baixa glicose, com pouco açúcar no sangue”, explicou o médico Marcelo Machado, plantonista do pronto socorro municipal de Taubaté.


Foi num dos leitos da emergência daquele pronto socorro que o DIARINHO reencontrou Smykalla. “Que bom que vocês vieram. Se vocês não viessem me buscar, eu não sabia mais pra onde ir. Ali não tinha mais condições de eu ficar”, disparou, referindo-se ao cortiço que alugava e antes mesmo de qualquer cumprimento. Os olhinhos de um azul intenso exibiam um brilho infantil. O rosto todo recebia pinceladas de alegria.

Estava vivendo entre baratas, mosquitos, mofo e urina

“Isso aqui não é humano”. A frase saiu como um espanto da boca de uma pequena comerciante do entorno do mercado público de Taubaté, ao botar o rosto pra dentro do quartinho onde Walter Smykalla estava morando – e retirar logo em seguida com o semblante carregado de asco. O que pintor foi acumulando durante os cerca de dois anos em que estava morando lá ajudou a transformar o quarto num ambiente sem condições de habitação.

Para entrar no cubículo, foi preciso usar luva de borracha e máscara. Mesmo assim, era insuportável ficar muito tempo lá dentro. Quando a porta foi aberta, uma nuvem de insetos voou e se dissipou no pequeno ambiente fétido. Os cheiros se misturavam: comida podre, mofo, urina. Impossível não ter o mesmo sentimento de asco da comerciante curiosa que foi ver como “aquele velhinho que costuma cair na calçada” morava.


Não demorou para as baratas se desentocarem. E eram muitas. Uma infestação percebida logo que os primeiros pertences do artista foram colocados no úmido corredor do cortiço: dois quadros, uma bolsa e uma caixa de violino. Dezenas delas correram para um ralo, para o quarto de um vizinho ou de volta ao ninho de onde foram tiradas. Outras continuavam pelo corredor, perdidas.

As baratas serviram para tomar uma decisão: era impossível levar muita coisa de lá. Somente mesmo o que Walter Smykalla considerava de extrema importância para ele e que poderia caber no Fiat Uno de volta a Itajaí. Vieram quatro quadros com moldura, duas lonas de propaganda com versos pintados, dois violinos (cada qual com sua caixa), um livro de astronomia, uma pequena máquina fotográfica digital, duas camisas (que ganhou quando estava em Itajaí e nunca usou), um sapatênis surrado, esboços inéditos em lápis sobre papel. E claro, sua inseparável pasta de mão, onde o que resta de seus documentos pessoais dividia espaço com um sanduíche mofado, uma maçã e uma banana.

“Ele estava realmente numa condição subumana”, avalia assistente social


A assistente social Sara Regina de Souza, 31 anos, da prefeitura de Taubaté, ficou espantada como Walter Smykalla estava vivendo. “Ele estava realmente numa condição subumana”, avaliou. Sara soube do artista na semana passada através do DIARINHO e foi duas vezes ao cortiço onde ele estava morando. “Não consegui entrar no quartinho, mas da porta o vi ali deitado, no ninho. Ele não tinha capacidade de ficar ali”, narrou.

Pra assistente social, não há dúvidas de que Smykalla estará melhor em Itajaí. E não somente porque estará abrigado numa casa de repouso, mas porque terá amigos e conhecidos por perto. “Fiquei perplexa com a história que eu li dele, dos amigos que o respeitam, das pessoas que reconhecem o trabalho dele. Por isso, aí em Itajaí, ele terá muito mais qualidade de vida”, afirmou.

O caos em que Smykalla vivia lhe tirou um bem precioso, a saúde. E isso o impedia de trabalhar, de produzir. Por isso, por um sentido prático, resolveu abdicar da vida onde sempre prezou o desapego material e a liberdade de fugir de convenções sociais e aceitou o convite do DIARINHO para morar no asilo Dom Bosco. “Pelo fato de ter uma lucidez, de ter um entendimento da situação em que estava vivendo, ele mesmo falou pra mim: ‘eu não posso mais ficar assim’”, contou Sara.

Pintor já recomeçou a produzir

Ontem, Smykalla tentava se adaptar à nova vida, ao novo ambiente, às pessoas que agora são vizinhos de quarto e aos profissionais do asilo que serão seus cuidadores. Por estar fraco demais, passa a maior parte do tempo deitado. Mas tem plena consciência de que está melhor, bem melhor do que se estivesse em Taubaté. “Nossa, tô ótimo, aqui. Olha a diferença que deu”, afirmou, apontando para si.


Mas Smykalla não se descuida da sua essência de artista. Tirando uma pequena preocupação sobre se vai ter ou não frutas para alimentá-lo por lá, sua inquietação estava voltada para outra dimensão de sua vida, para um aspecto que lhe é mais importante. “E onde eu vou poder pintar? Pode ser aqui mesmo no quarto. Fica mais perto pra mim, né!?”, questionava.

A pergunta foi feita no sábado, assim que chegou ao asilo. Ontem, mesmo ainda sem ter uma resposta, Smykalla já havia produzido. Traçou, sobre uma folha de papel cerca de 20 figuras, em nu masculino. “É influência Greco-romana. Olha a musculatura. É prática de anatomia que já fica um quadro, né!?”, disse, emendando sempre a inocente pergunta no final. “A arte, o meu trabalho, é que dá sentido pra minha vida”, fez questão de dizer durante a viagem pra Itajaí.

Como visitar Smykalla

Smykalla agora está de volta. O homem que pintou telas, muros e paredes de igrejas sem cobrar nada ou recebendo apenas muito pouco pelo seu trabalho de artista, hoje tem onde morar dignamente, tem alimentação saudável e agora poderá comer todos os dias. No asilo Dom Bosco, Smykalla está sob os cuidados de profissionais da saúde física e mental. E, quem sabe, até terá o carinho das pessoas que o cercam. Itajaí deve isso a ele.

Se você quer revê-lo ou conhecer essa figura ímpar, pode visitá-lo. O asilo permite as visitas de terças-feiras a domingo, entre 15h30 e 17h. Se quiser ajudar a instituição, pode levar sabonetes, pastas de dente ou pentes e escovas, além de fraldas geriátricas. Só leve comida depois de falar com a nutricionista.




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