Ele chamou a gente de filho da puta, mandou a gente vazar daqui, que não tinha dinheiro pra nós. Aí, pegou um taco de pau e veio pra cima de mim e começou a me arranhar. Dei nele também. Ele disse que vai atrás de mim pra me matar, conta Edivaldo, com o boletim de ocorrência em mãos, que havia acabado de registrar. A pancadaria rolou ontem à tarde entre o funcionário e o presidente da Tagartha, Claudemir Felicio. Edivaldo e o primo Jaison Trajan da Silva, 21, também soldador da empresa, tinham ido atrás do pagamento, mas foram enxotados.
O clima de tensão tá rolando desde segunda-feira, quando os 45 soldadores e montadores cruzaram os braços até que o dindim caísse na conta, como o DIARINHO noticiou na edição de ontem. Uma reunião entre o presidente do sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas, Material Elétrico e de Construção Naval de Itajaí, Oscar João da Cunha, e a empresa previa que a Tagartha faria o pagamento até às 16h. Na esperança de resolver o perrengue, os funcionários foram trabalhar normalmente ontem de manhã, mas foram embora às 11h30 porque não viram nem a sombra do dindim.
Pra receber é uma briga. Mês passado, chamaram a polícia pra prender nós aqui, nunca vi funcionário trabalhar e no dia de receber chamarem a polícia. Eles alegaram que a gente riscou os carros, conta o soldador Jhonatan Alex, 27.
Ele e outros funcionários foram pra empresa cedinho com a promessa de que até as 11h30 estariam com a grana na mão, mas a promessa não se cumpriu. Aí, como não ficou nada decidido, todo mundo parou a obra, aí ficou nessa, se vai pagar ou não vai, e ninguém deu uma posição pra nós, diz.
Enquanto isso, tem peão correndo risco de ser despejado. A gente tem que pagar aluguel, tem família pra sustentar, e se roubar somos ladrão, mas se o cara trabalha e não recebe, como é que fica?, reclama Jhonatan. Eles dizem que vão tentar resolver, mas por que não resolvem antes do quinto dia útil? questiona o montador Joni Packer, 22, que trampa há cinco meses na Tagartha.
Sindicato diz que estaleiro chileno Detroit tem responsa na treta
Pra ver a cor do salário, o pessoal promete abrir o berreiro novamente em frente à empresa, que fica na rua Cesar Augusto Dalçóquio, no bairro Salseiros. A manifestação deve rolar a partir das 7h30 de hoje com a presença de todos os funcionários e membros do sindicato.
O presidente da entidade, Oscar João da Cunha, não quis se manifestar sobre o que será feito. Primeiro quero ver o que as empresas (Detroit e Targatha) vão fazer. Vamos levar nosso advogado pra tentar resolver a situação, explica. Oscar diz que, provavelmente, o advogado do sindicato irá representar os trabalhadores numa ação trabalhista contra a Tagartha e o Detroit. Apesar da carteira de trabalho dos funcionários estar assinada pela Tagartha, ela presta serviços diretamente pra Detroit, que judicialmente, argumenta Oscar, tem a obrigação solidária de pagar os peões.
Eu é que fui agredido, diz presidente da empresa
Ontem, no fim da tarde, o DIARINHO conversou com o presidente da Tagartha, Claudemir Felicio. Ele garantiu que os funcionários partiram primeiro pra porrada. Na verdade, eu fui agredido. Segundo ele, três empregados foram até o escritório da empresa e riscaram quatro carros com uma faca, quebraram a porta e fizeram mó algazarra. Eu mandei eles irem embora, mas não foram. Nem querendo eu teria batido neles, sou empresário, justifica.
Claudemir garantiu, mais uma vez, que o pagamento deve sair hoje, até o fim do dia. O cara continua dizendo que a culpa pelo atraso é do estaleiro chileno Detroit. Mas atraso de dois dias no pagamento não justifica vandalismo, completa.
A Edimara, chefe do departamento de Recursos Humanos do estaleiro Detroit, não quis saber de papo. Ela disse pros peões sintenderem com a Tagartha.