Água encanada, energia elétrica instalada e esgoto em uma casa que não corra o risco de deslizar junto com o morro durante a chuva. Para quem nunca precisou de rabicho para ligar a geladeira pode parecer pouco, mas para a aposentada Sandra Regina Linhares, 54 anos, é um sonho que não vê a hora de realizar. Ela faz parte das 300 famílias que receberão uma moradia no conjunto habitacional Nossa Senhora das Graças, que vai ser erguido do lado do campinho de futebol do bairro que leva o mesmo nome, mas é conhecido mesmo por Matadouro.
A promessa é antiga. De acordo com Sandra, os moradores do morro ouvem essa história há mais de três anos. O secretário de Habitação da city peixeira, Laudelino Lamim, garante que agora o projeto ...
A promessa é antiga. De acordo com Sandra, os moradores do morro ouvem essa história há mais de três anos. O secretário de Habitação da city peixeira, Laudelino Lamim, garante que agora o projeto vai para frente e espera começar a obra até janeiro do próximo ano. Ele explica que o primeiro projeto não deu certo porque a pedreira que fica no meio do terreno emperrou a construção. Para driblar o problema, o projeto foi alterado e serão construídos sobradinhos de dois pisos.
Deu para gente adequar. Essa área vai ficar como área verde. Além disso, no projeto anterior eram 100 casas e 120 apartamentos. Agora, serão 300 unidades habitacionais, gaba-se. Serão contempladas famílias com renda de até R$ 1600 e a prioridade é atender as que moram em áreas altas do morro do Matadouro. Cada apartamento vai custar 60 mil reales. As parcelas vão custar, no máximo, 5% do rendimento da família, detalha.
Segundo o bagrão, serão 300 unidades habitacionais de 41,40 metros quadrados, com cozinha e sala integradas, dois quartos e banheiro. Terão medidores individuais de luz, água e gás, porque, pela nossa experiência, isso é o mais indicado a essas situações, explica Lamim.
Lamim garante que todos os projetos já foram aprovados pelo ministério das Cidades e pela Caixa Econômica Federal, que vai financiar a obra. Na quarta-feira passada, 25, foi escolhida a empreiteira que vai erguer os sobradinhos. A construtora FMM, de Curitiba, ganhou a licitação e vai receber cerca de R$ 18 milhões pelo trampo. Em contrapartida, a prefa doou o terreno de 67 mil metros quadrados.
O secretário não se arrisca a dar um prazo para o início dos trabalhos, mas explica que falta apenas a aprovação dos projetos pela prefa. Agora, depende só de nós mesmos e da construtora, mas vontade é o que não falta. Espero estar com tudo aprovado até janeiro, diz. Ontem, dois técnicos faziam o levantamento topográfico do terreno.
Depois que as famílias forem retiradas das áreas de risco, o local vai ser cercado e fiscalizado pela equipe do projeto Vidas, para evitar novas invasões. Vamos plantar árvores e deixar aquilo ali bonito, completa.
Moradores não veem a hora de se mandar
No barraco de Sandra tudo é organizado, limpo e improvisado. O chão limpinho dentro de casa e os móveis sem nenhuma poeira contrastam com o esgoto que corre a céu aberto morro abaixo. Como na maioria das casas vizinhas, a luz e a água chegam na baia graças às instalações improvisadas, os chamados gatos. É muito ruim morar aqui. Para subir é ruim, sou doente e é difícil, desabafa.
A aposentada comprou o barraco por dois mil reales há mais de cinco anos, quando veio de mudança da praia Brava. Lá não dava para colocar nem luz e nem água. Daí a gente cedeu para um catador e viemos embora, conta, referindo-se ao marido, também catador de papelão, Nelson de Almeida, 46.
Quando chove, diz que nem dorme, preocupada com a possibilidade de vir a moradia abaixo junto com a lama que escorre do morro. No final de julho, um incêndio detonou todos os móveis do casal. Com ajuda da assistência social do município, do projeto Ombro Amigo, e de vizinhos, o casal conseguiu novos móveis. Viramos as tábuas do chão para aproveitar a madeira, conta.
Mesmo com todo o capricho, os dois não veem a hora de sair de lá. Da janela do barraco é possível ver o terreno onde os sobradinhos serão erguidos. Ela conta que já ouve a promessa há mais de três anos, mesmo assim confia que um dia sai do morro.
Seria um sonho, diz emocionada. Tanto ela quanto o marido dizem que não vão sentir saudades do barraco depois da mudança. A primeira coisa que vou fazer vai ser agradecer a Deus, fala.