A voz embargada pela revolta, já à beira do sussurro, saía com dificuldade. Inquieta, a dona de casa Thatiana da Silva, 24 anos, era a imagem do desespero na terça-feira à tarde. O filho, Igor, de sete aninhos, tinha um inchaço do lado direito da cabeça e aguardava na fila de espera do hospital Pequeno Anjo. Esperava inutilmente, já que, desde 1º de outubro, o pronto-socorro da unidade foi temporariamente fechado.
Em nota publicada na terça-feira, a fundação Univali, que mantém o hospital desde 2002, alega falta de médicos. Tal medida tem caráter temporário e se justifica diante da dificuldade de manutenção ...
Em nota publicada na terça-feira, a fundação Univali, que mantém o hospital desde 2002, alega falta de médicos. Tal medida tem caráter temporário e se justifica diante da dificuldade de manutenção de equipe médica pediátrica para atendimento de pronto-socorro, diz o comunicado.
A nota acrescenta que a unidade fará apenas atendimentos de emergência pra pacientes encaminhados pra internação pelo Samu, corpo de Bombeiros e Autopista Litoral Sul.
Thatiana já havia lido o comunicado nos jornais quando saiu de casa, por volta das 17h, mas uma ligação da escola Adventista, onde o menino estuda, a deixou desorientada e sem opção. Me ligaram dizendo que ele tinha batido a cabeça brincando. Eu peguei ele na escola e vim direito pra cá. Pra onde mais eu iria?, questiona Thatiana, que mora no Promorar com Igor e o marido, o operador de empilhadeiras Fábio da Silva, 35.
Nem a aflição da mãe quebrou o protocolo do hospital. De acordo com Thatiana, outros dois meninos com ferimentos preocupantes não foram atendidos pelo mesmo motivo. Tinha um com o corpinho todo queimado e outro com um corte profundo no queixo. Eles tiveram que ir pro PA do São Vicente, lembra.
Inconformada, Thatiana bateu um fio pro 190. A justificativa era de que os fardados deveriam fechar o hospital. Se é pra não atender, por que então deixam a porta aberta? Então fechem a porta de uma vez, desabafa. Policiais militares foram até o local, mas não registraram boletim de ocorrência.
Universidade procura pediatras
O professor Mário César dos Santos, reitor da Univali, garante que a paralisação do pronto-socorro é temporária. A previsão é que o atendimento volte ao normal na segunda quinzena de outubro. Segundo ele, a universidade já tá atrás de profissionais que possam fazer os plantões do pronto-socorro.
Estamos contatando várias equipes médicas daqui e de fora. É bem provável que consigamos encontrar aqui na região mesmo, acredita.
O reitor justifica que a decisão de paralisar o atendimento do pronto-socorro foi uma medida de urgência. Não adianta atendermos sem uma estrutura médica adequada, argumenta. A unidade de Terapia Intensiva (UTI) e a enfermaria do Pequeno Anjo atendem normalmente. O hospital conta com 11 pediatras.